
2.
A festa já tinha terminado e era hora de voltarem para casa. Ricardo e Will convenceram Alicia a voltar caminhando com eles, pois a chuva tinha passado e quem estivesse na rua naquele momento não acreditaria que poucas horas antes havia despencado um enorme temporal. A garota não se sentia confortável na presença do melhor amigo de seu irmão que ela sequer tinha ciência da existência, mas ele era brincalhão e simpático, o que chamava atenção dela. Por todo caminho estiveram conversando, Will caminhando lado a lado com Alicia, sempre perguntando sobre ela, com uma curiosidade genuína. Ela também queria saber algumas coisas à respeito daquele rapaz instigante, mas aprendera a pouco tempo que é melhor ouvir mais e falar menos quando o assunto é relacionado a garotos. Quando estavam se aproximando da casa de Alicia, ela abraçou o irmão para despedir-se e tencionou fazer o mesmo com Will, mas ele rejeitou.
- Por que ela não vem com a gente? - Ele quis saber.
- Se ela quiser, pode vir. - Ricardo deu de ombros.
- Vamos comemorar o aniversário do seu irmão amanhã em um show na praia. - Will esclareceu, já que Ricardo não se deu ao trabalho. - Quer vir conosco?
- Tenho que pedir autorização para minha mãe antes. - Ela informou. - Não sei se ela vai deixar, talvez se o Ricardo pedisse...
Os olhos atentos de Will brilharam em expectativa e ele pulou em cima do Ricardo para convencê-lo a falar com a mãe de Alicia sobre a festa na praia.
- Tudo bem, mas vocês terão que se comportar.
- Eu sempre me comporto! - Ela esbravejou.
- Mas eu não... - Will falou e beijou o rosto da garota ruidosamente.
Alicia se afastou dele entre risadas e ligou para sua mãe do celular. Não demorou muito para Ricardo tomar a frente e dar as explicações necessárias para Diana, mãe da jovem, e assumir a responsabilidade por seu bem estar. O plano era simples: Alicia dormiria na casa da vovó Beth naquela noite de sexta-feira, iria com os meninos para a festa na praia na noite de sábado, e voltaria para casa sã e salva no domingo. Diana concordou e o grupo de jovens seguiu seu caminho satisfeito.
- Você tem namorado? - Will quis saber.
- Não. - Ela respondeu. - E você?
- Já faz algum tempo que estou sozinho. Namorei por dois anos e meio.
Alicia não disse nada, apenas assentiu com a cabeça.
- Você já beijou na boca? - Ele insistiu.
- Que pergunta é essa? - A jovem sentiu as bochechas ruborizarem.
- Uma pergunta simples. - Ele gesticulou com a mão enquanto respondia. - Quero saber se você ainda é BV.
- Já namorei antes, Will. - Ela disse com impaciência. - Sei muito bem o que é beijar na boca.
- Não sei se acredito em você. - Ele provocou e pegou uma mecha de cabelo da garota entre os dedos. - Parece que você é muito certinha.
- Talvez eu seja certinha. - Ela se afastou sutilmente.
- Sim. - Will deu uma risada que chamou atenção do Ricardo e de outros garotos que estavam caminhando com eles, amigos que os encontraram no meio do caminho. - Mas eu quero saber mais a seu respeito.
- De repente você ficou curioso sobre mim?
- Você tem o que? - Ele especulou. - Treze? Quatorze?
- Tenho quinze anos. - Ela corrigiu. - Completo dezesseis em Novembro.
Ele a encarou com visível desdém no olhar, mas o sorriso metálico continuava no rosto.
- É muito nova para mim.
- É mesmo? - Ela devolveu o olhar zombeteiro. - Não sabia que estava interessado.
- Não estou. - Ele rebateu. - Mas estou curioso, já disse.
Já estavam na esquina da casa de vovó Beth, e Will seguiria para a casa dele, deixando Ricardo e Alicia por ali mesmo. O irmão da garota parou um pouco mais adiante, ainda conversando com alguns amigos enquanto Alicia e Will permaneciam parados na esquina.
- A curiosidade matou um gato. - Ela disse e começou a caminhar na direção do irmão, mas Will a segurou pela mão. - O que é?
- Fiquei curioso para saber se você sabe mesmo beijar.
- Talvez um dia você descubra se eu sei ou não. - Ela respondeu em desafio com o nariz levemente arrebitado.
- Pra que deixar para amanhã o que pode ser feito hoje?
- E pra que fazer hoje de qualquer jeito o que pode ser feito amanhã de um jeito muito melhor? - Ela tinha um brilho no olhar de quem sabia que estava certa.
- Dessa vez vou deixar passar... - Ele respondeu e soltou a mão dela. - Não vai ter próxima vez.
- Somos jovens, o mundo não está acabando. - Ela justificou. - Vamos para o mesmo lugar, não é? A não ser que você tenha algum compromisso, acho que estaremos juntos por algumas horas.
Will considerou as palavras de Alicia por um tempo.
- Você está certa.
- Ninguém vai morrer amanhã, ou tão cedo. - Ela disse. - Temos tempo.
- Será? - Will deixou a pergunta no ar antes de beijar a bochecha de Alicia e despedir-se do melhor amigo com um abraço.
- Amanhã! Você fez uma promessa! - Ele gritou enquanto se afastava.
- Não te prometi nada! - Ela gritou de volta e alcançou o irmão que já estava caminhando de volta para casa.
Foi difícil para Alicia conter a ansiedade naquela noite, ou manter segredo a respeito da conversa nada convencional que tivera com Will. A garota já tinha namorado uma vez e beijado alguns garotos na vida, mas nunca tinha encontrado um rapaz que tivesse o magnetismo que aquele desconhecido emanava. Ele era divertido, misterioso e um pouco arrogante. A confiança que ele demonstrava em si mesmo era um pouco irritante para Alicia, mas acabou despertando seu interesse. Ela não se julgava uma profunda conhecedora da mente masculina, mas, apesar da pouca idade, já havia aprendido um ou duas coisinhas a respeito do universo dos rapazes e sabia como lidar com certas situações. Will não teria nada que fosse diferente ou especial, ele era apenas mais um cara com excesso de confiança e pouca sensibilidade. Lidar com ele seria muito fácil, Alicia poderia fazer aquilo de olhos vendados e uma mão atada às costas. Não havia nada com que se preocupar. Esses pensamentos rondavam a mente da jovem até que ela foi vencida pelo sono.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro