
CAPÍTULO 9 - ANIVERSÁRIO DE REGINA
07/09/1981 (segunda-feira)
Na segunda-feira, apesar de ser feriado, Roberto retornou ao hospital para o plantão, mas sentia-se totalmente diferente. A certeza de um futuro maravilhoso com Regina o fazia enxergar uma magia no ar. Seguia como que flutuando. As enfermeiras e até os pacientes perceberam seu estado de espírito.
Na hora do almoço, Walter apareceu na sua sala para comunicar que dia trinta de setembro Regina faria vinte e dois anos e eles convidariam alguns amigos para comemorar no clube no sábado à noite.
Aquela notícia o pegou de surpresa. No mesmo instante, percebeu que seria uma ótima oportunidade para oficializar o noivado. Walter aprovou a ideia e pediu para ele acertar os detalhes com sua secretária, que incluiria os nomes dos familiares dele na lista de convidados.
Roberto ligou para sua mãe para contar a novidade. Ela não ficou muito entusiasmada em sair da fazenda para participar da festa, mas ele insistiu e a convenceu de quão importante seria ter sua presença nesse momento.
Precisava comprar um anel. Queria algo que combinasse com a Regina.
À noite, seu irmão Eduardo ligou para se certificar das novidades que a mãe comentou. No seu papel de irmão mais velho, tentou fazê-lo enxergar que tudo estava indo rápido demais e que eles poderiam esperar mais tempo. Enquanto Roberto ouvia o irmão falar, pensava que se ele soubesse de toda a história, veria que já esperara uma eternidade para tê-la consigo. Eduardo desistiu de tentar convencê-lo a mudar de ideia e o parabenizou, desejando felicidade. Para troçar, avisou que antes do casamento, ele precisava fazer um teste com Regina para dar seu aval. Roberto dispensou o irmão com um palavrão e desligou o telefone rindo. Esse Edu era um palhaço.
Na quarta-feira à tarde, foi visitar as joalherias. Como todas ficavam relativamente próximas, deixou o carro estacionado e resolveu ir a pé. No caminho uma vitrine lhe chamou a atenção, pois tinha peças bem bonitas expostas ali. Decidiu entrar e o próprio dono do estabelecimento o atendeu. Explicou o que estava procurando e o joalheiro lhe apresentou uma gaveta de anéis. Imediatamente, Roberto soube que encontrara o que procurava. Era uma joia delicada de ouro com diamantes que adornavam o símbolo do infinito entrelaçado a um coração. Ali estava representada toda a história de amor deles. Informou ao comerciante o tamanho do dedo da noiva para que o anel fosse ajustado. Saiu da loja satisfeito, apesar de ter gasto um valor astronômico. Mas era tudo o que Regina merecia, o melhor.
A mãe, seus irmãos e sobrinhos chegariam dois dias antes da festa para poderem comprar roupas adequadas para a festa. Ele marcou hora em um salão de beleza para as mulheres, pois queria que elas se sentissem bonitas e arrumadas adequadamente para o evento. Apesar de sua família ter uma situação financeira bastante confortável, não estava acostumada ao luxo dos lugares que a alta sociedade de Goiânia frequentava.
Regina fez questão de ficar no apartamento de Roberto na quinta-feira para receber seus familiares e acompanhá-los às compras, enquanto Roberto estava no consultório. No final de tarde, quando Roberto retornou do trabalho, encontrou todos à vontade conversando na cozinha.
Regina comentou que passara a tarde ouvindo histórias da infância dele e que achou muito interessante. Ele podia imaginar as "histórias" que Eduardo contara. Rosângela estava na sala vendo TV e como sempre, alheia a tudo e a todos.
A expectativa para a festa fazia os olhos de Regina brilharem ainda mais. Ela estava feliz e isso era o que mais importava. Após o jantar, Roberto a levou para casa. No caminho foram conversando sobre suas travessuras quando criança, sobre em como o destino os unira e sobre como todas as experiências de vida, boas e ruins, os prepararam para viver esse amor. Ele estacionou o carro em frente à casa dela e a puxou para si. Tinha necessidade de tocá-la, abraçá-la, beijá-la como se sua sobrevivência dependesse disso.
- Você sabe o tamanho do amor que sinto por você, Re?
- Não pode ser maior que o meu, respondeu acariciando o rosto do amado.
- Obrigada por seu carinho e ajuda com minha família.
- Agora é "nossa família". Adoro estar com eles.
Ficaram quase uma hora conversando, entremeando beijos e abraços, até que Walter apareceu para avisar que Gilberto havia telefonado, pois D. Rosinha estava preocupada com a demora dele para voltar para casa.
Os três começaram a rir com o inusitado da situação e Roberto decidiu deixar Regina e voltar para casa. Cada despedida era como se arrancassem um pedaço dele.
Ao chegar ao seu apartamento, encontrou a mãe ajoelhada rezando, com os olhos cheios de lágrimas, agradecendo a Deus por ele estar bem. Ele se sentiu como se tivesse quinze anos. Não sabia o que dizer, então abraçou a mãe bem apertado e a levou até seu quarto. Já passara bem da hora que ela costumava dormir.
Na sexta-feira, Roberto saiu cedo para o hospital para atender a uma emergência, mas deixou um bilhete para a família avisando onde estaria. Informou que voltaria assim que possível. Regina arranjou um tempo para passar no apartamento dele e verificar se estava tudo bem, mesmo com tantos compromissos que ela tinha. Sônia e Andréia a acompanharam nessa visita e a família de Roberto pode conhecê-las antes da festa. A mãe de Regina era uma pessoa fina, elegante e culta, mas de uma simplicidade impressionante. Ela e D. Rosinha se entenderam de imediato e passaram a tarde falando dos filhos e trocando receitas. Andréia gostou muito de conhecer a família do "pai" e os parentes de Roberto ficaram comovidos por ela chamá-lo assim em tão pouco tempo de convívio. Como eles poderiam imaginar que ambos já se conheciam de outras vidas? Rosângela foi a única pessoa de quem Andréia não se aproximou. A menina a observava de longe, como se sentisse receio.
Roberto saiu do hospital junto com o sogro e foram para o apartamento. Assim Walter também teria oportunidade de conhecer seus familiares. Quando entraram na sala, estavam todos sentados em volta da pequena mesa de jantar, experimentando as delícias que sua mãe preparara. Walter foi apresentado a todos e não se fez de rogado; puxou uma cadeira e aceitou o prato que lhe ofereceram.
Regina já havia saído para seu compromisso semanal no clube.
Após o jantar, Walter convidou a todos para verem Regina cantar. As mulheres agradeceram, mas preferiam descansar para o dia seguinte. Walter passou em sua casa para deixar Sônia e Andréia e depois seguiu para o clube. Edu e Giba ficaram impressionados com o local e boquiabertos com a cunhada cantora.
No sábado, Roberto acordou bem cedo com a movimentação incomum no apartamento. Todos já estavam arrumados, tomando café da manhã. As mulheres tinham salão agendado à tarde, então Roberto sugeriu passearem um pouco pela cidade, já que sua família raramente saía da fazenda.
Foram para a Praça Cívica, que foi a primeira praça de Goiânia, inaugurada em 1933, considerada o marco inicial da construção da cidade, oficialmente batizada de Praça Cívica Doutor Pedro Ludovico Teixeira. Nela, eles puderam ver o Palácio das Esmeraldas, todo em "art déco", residência oficial do governador de Goiás. Visitaram também o Jardim Zoológico que foi criado em 1946, localizado no Setor Oeste da cidade. Lá havia cinco canais, além de numerosos lagos com mamíferos, pássaros e répteis. Os sobrinhos de Roberto ficaram encantados.
Retornaram para o apartamento pouco depois do meio-dia para almoçarem. Roberto precisava aparar o cabelo. Já tinha pego seu smoking na lavanderia e deixado tudo organizado, incluindo o anel que estava no bolso do paletó.
Quando Roberto retornou da barbearia e entrou no seu quarto, seus olhos se depararam com uma mancha no paletó do smoking. Ele empalideceu, pois não tinha ideia de como aquilo teria acontecido. Chamou Eduardo para mostrar o ocorrido. Edu acalmou o irmão ao se lembrar que o local onde comprara seu terno ficaria aberto até às 19h. Não perderam tempo e correram para lá. Por sorte, na loja havia outro paletó preto que combinava com a calça que Roberto já tinha e o conjunto ficou perfeito. Era até mais elegante do que o manchado. Ele agradeceu aos céus e ao irmão por ajudá-lo nessa enrascada.
Conforme combinado, Roberto foi buscar as mulheres da família no salão de cabeleireiro. Ele já estava arrumado, pois tinha que chegar mais cedo ao local do evento. Notou que Rosângela o olhou com surpresa, meio boquiaberta. Talvez, pensou ele, por nunca o ter visto tão elegante.
Deixou-as em frente ao prédio e foi direto para o clube. Walter já havia chegado e foram tomar um drink. Regina chegaria mais tarde com mãe e Andréia. Um nervosismo começou a consumir Roberto e ele não via a hora de tudo acabar. Só queria ficar a sós com Regina.
Quando o evento começou, a agitação o distraiu. Teve que cumprimentar os convidados, dar atenção a seus familiares para deixá-los à vontade, entreter Andréia e suas adoráveis maluquices de criança e acompanhar Regina, a estrela da festa. Ela usava um vestido azul rendado, de corte reto e elegante. Os saltos eram altíssimos e seu cabelo estava preso num coque no topo da cabeça, adornado por uma tiara. Tiraria o brilho de qualquer nobre princesa. Todos a aplaudiram em sua entrada. Sua primeira dança foi com o pai. Roberto não conseguia parar de admirá-la e revivia seu mantra "ela vai ser minha para sempre". Só uma hora e meia depois que ela chegou, Roberto pode tê-la em seus braços. Dançaram uma música lenta com seus olhares fixos um no outro o tempo todo. Ela estava deslumbrante.
Foi combinado que ele pediria a mão de Regina um pouco antes de cantarem os parabéns. Já havia conferido umas dez vezes se o anel estava no bolso. Aquela expectativa o estava enervando. Regina percebeu seu estado de espírito e saiu com ele do salão. Foram ao jardim próximo da piscina. Ela o olhou com ternura e perguntou sorrindo:
- Está arrependido de sua decisão? Ainda dá tempo de desistir.
- Nem por um milhão de dólares. Só essa expectativa é que me deixa nervoso. Sou um cara simples e não estou acostumado a tanto glamour e badalação.
- Não se preocupe. Você está se saindo muito bem. E logo, logo estaremos só eu e você. - Ela o beijou e aquele beijo teve o poder de acalmá-lo. Estava mesmo acontecendo, ela iria ser sua.
No horário marcado, Walter pediu ao cantor que interrompesse a música e lhe emprestasse o microfone, pedindo atenção de todos. Sônia e Regina estavam ao seu lado.
- Hoje é um dia muito especial. Minha filha, linda e talentosa, um ser humano iluminado, completa vinte e dois anos. Desde que nasceu, ela só nos trouxe alegrias e nos deu muito orgulho. Mas hoje o dia é ainda mais especial, porque um rapaz, a quem admiro muito, vai nos dizer algumas palavras. Por favor, Dr. Roberto Toledo.
Roberto, acompanhado de sua mãe, se aproximou de Walter, que lhe passou o microfone.
- Boa noite a todos novamente. Não sou muito bom em discursos. - Risadas foram ouvidas e assim que possível ele continuou. - Neste dia festivo, é com muita alegria que me dirijo ao Dr. Walter Smith para pedir a mão de sua filha Regina em casamento. - Houve um alarido ainda maior no salão, com palmas, assobios e brincadeiras. Walter pediu um minuto de silêncio, ao que foi prontamente atendido.
- É com muita felicidade que recebo esse pedido. É incontestável que vocês foram feitos um para o outro e você sabe disso tanto quanto eu. Portanto, sem mais delongas, venha cá meu futuro genro e me dê um abraço antes de você beijar sua noiva. Vocês têm a minha benção para essa união.
O salão explodiu em palmas, todos emocionados. Regina segurava as lágrimas para não borrar a maquiagem. Roberto percebeu que ela estava gelada quando segurou sua mão. Ele pegou o microfone novamente e olhando para a mulher que amava, ajoelhou-se em sua frente, com a caixinha do anel aberta na palma da mão.
- Regina, aceita ser minha companheira por toda a eternidade?
Ela não conseguiu balbuciar um som. Só balançou a cabeça afirmativamente com as lágrimas descendo pelo seu rosto. Roberto colocou o anel em seu dedo e se levantou para beijá-la. Eles esqueceram que estavam em frente a uma plateia de mais de cinquenta pessoas. Só voltaram a realidade quando o cantor entoou o "Parabéns a Você" e o garçom chegou perto deles com um carrinho onde estava um bolo imenso com vinte e duas velas dispostas em forma de coração. Roberto enxugou rapidamente as lágrimas do rosto de Regina, tentando ajeitar os danos na maquiagem, para que ela pudesse apagar as velinhas.
D. Rosinha beijou o filho e a futura nora. Agradeceu a Deus por permitir estar presente nesse momento tão lindo e lamentou não ter seu marido ali com ela.
Passava da meia-noite quando o último convidado se despediu. Regina tirou seus sapatos e pediu ao cantor somente mais uma música. Ela puxou Roberto para a pista nos primeiros acordes da canção de Tom Jobim, "Eu sei que vou te amar". Enquanto dançavam, ela beijou o anel de noivado, mostrando a ele o quanto significava para ela.
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