05
Henry inspirou profundamente e resolveu esquecer a Charlotte daquela terra e seu pessimismo quase contagiante. Olhou para os lados novamente e notando que ninguém apareceria, subiu em cima da lixeira e apoiou as mãos no topo do muro se preparando para pular, mas antes puxou o ar com força para seus pulmões, pelo visto aquele Henry não tinha muita condição física já que ele estava cansado com uma simples escalada.
Não foi tão simples passar para o outro lado, apesar de seus anos de prática a aterrissagem do lado de dentro do muro foi recebida com o ar entrando rarefeito e seus pulmões ardendo com a falta dele. Ficou abaixado e notou que estava no fim de um quintal cheio de árvores, o silêncio era quase assustador, se moveu devagar entre as árvores até chegar perto da casa. Permaneceu escondido atrás de uma árvore, já com o fôlego mais recuperado, enquanto via uma figura se mover para fora da enorme mansão e sentar em uma cadeira de sol ao lado da piscina, estreitou os olhos para enxergar melhor e reconheceu o homem baixinho e mais barrigudo que estava deitado de barriga para baixo. Pelo o que conseguia ver aquele Schwoz tinha cabelo, mas parecia tão artificial que claramente poderia ser uma peruca.
Esperou mais alguns minutos para sair de seu esconderijo, estava ansioso para ir embora, mas não sabia como convencer o homem e não tinha como não deixar que a sensação ruim que tentava bloquear desde que pulara o muro se apossasse dele. Conseguia até ouvir a voz de Charlotte o alertando que a falta de segurança era muito estranha, mas resolveu que aquela talvez fosse sua única chance de resolver a situação. Com cuidado se afastou da árvore e começou a caminhar devagar até o homem, ao chegar parou atrás dele a uma distância segura, ainda tinha a leve impressão de ele não ter a mesma personalidade do seu amigo.
- Hei! - gritou, ainda receoso.
Aquele Schwoz se sentou rapidamente e virou-se para ele, o encarando desconfiado.
- Quem é você?
Henry resolveu que deveria começar a tentar.
- Eu sei que vai parecer loucura, mas eu vim de outra terra em outro universo e eu preciso voltar pra casa agora!
Esperou alguns eternos segundos trocando olhares com o homem que ainda estava parado no mesmo lugar.
- Mitch! Quem deixou outro maluco entrar?!
O grito estridente dele o indignou.
- Eu não sou maluco! Só preciso que você me escute um minuto, por favor Schwoz! - tentou, se aproximando um pouco dele que pulou da cadeira e começou a se afastar.
- Não, não chegue perto de mim! Mitch!
Ele definitivamente estava dificultando as coisas ainda mais para Henry.
- Em outra terra somos amigos, melhores amigos! Eu sei que você tem uma coleção de rochas de estimação.
- Todos sabem! - afirmou, deixando o garoto ainda mais desesperado por algo que o fizesse confiar nele.
- A sua preferida se chama Florência por conta da sua tia avó que morreu engasgada com uma flor.
- Isso está na minha biografia! - disse, não se convencendo.
Henry só tinha mais uma informação e torcia para que pelo menos uma parte daquele universo fosse tão anormal quanto o dele, ou que aquele Schwoz também fosse um pouco insano.
- Quando você tinha três anos você foi sequestrado por homens toupeiras e a partir daí ficou amigo deles. Só que ninguém acredita em você porque eles não são desse mundo e você não tem como provar, ou tinha. - disse, apontando para si mesmo. - Sei que também está na sua biografia, porque eu li ela para ver se você também era um pouco parecido com o Schwoz que eu conheço, e sim, pelo visto você é.
Esperou impaciente sentindo os olhos analíticos dele sobre si. Não sabia mais o que fazer ou como provar que ele estava falando a verdade.
- Você não é mesmo daqui, é?
O tom curioso de Schwoz o fez soltar um suspiro de alívio, talvez tivesse uma chance afinal.
- Não, não sou. E preciso muito da sua ajuda para voltar pra casa.
- Senhor Schwoz. - um homem alto e forte apareceu naquele momento, ele atravessou as portas da mansão e parou ao lado do dono da casa que o encarou com desdém.
- Agora não preciso mais de você. Vá pular na piscina, mas antes chame o Digor para preparar meu laboratório. - ordenou, ignorando o olhar afiado que o segurança o lançou e ainda com a atenção fixa em Henry.
- Claro, senhor.
O Hart observou a grande figura voltar para dentro da mansão, mas não sem antes lançar mais um olhar assustador para o pequeno homem que nem ligava.
- Eu não sei, posso estar errado, mas acho que esse cara te odeia.
Schwoz somente abanou a mão como se não fosse nada e começou a caminhar para dentro da casa.
- Ele é um idiota, todos os idiotas me odeiam. Agora vamos, tenho muitas perguntas a fazer para você.
□ □ □ □ □
- Muito bem, preciso que se concentrem e tentem entender.
Charlotte silenciou a todos que discutiam sobre algo irrelevante. Ela puxou uma lousa branca que usaria para explicar melhor suas descobertas, se colocou à frente dela e se preparou para reclamações que como sempre vieram.
- Ah não, você não me disse que ia ser uma aula!
Ray gritou indignado em um tom acima dos outros, mas foi calado por um soco vindo de Piper.
- Cala a boca, porque eu já estou atrasada pro aniversário da Danna! - ele se encolheu emburrado e nenhum dos outros ousou abrir a boca. - Continue, Charlotte.
- Obrigada, Piper. Para começar, e quem der um pio vai se arrepender. - ameaçou séria assim que viu bocas abrirem para protestar. - Bom, muito bom. - elogiou falsamente quando percebeu que ninguém iria falar mais. - Agora, como vocês já sabem a consciência dos Henry's foram trocadas e o que procuramos é uma forma de destrocar elas.
- Mas por que a consciência deles é tão importante? - Jasper perguntou confuso.
- Nossa consciência é um conjunto do que somos, nossas ações, pensamentos, sentimentos. A estamos construindo a cada dia, é ela quem contém nosso ser, quando eles trocaram de consciência acabaram trocando a sua essência, se podemos dizer assim, mas não seus corpos. De acordo com alguns pesquisadores e teóricos, a consciência fica localizada no córtex pré-frontal, ainda não se tem muitos estudos que provam seu reconhecimento, mas em minhas análises eu descobri que ela emite ondas próprias. E a partir de todos os testes e exames que Schwoz e eu já fizemos no Henry, poderemos captar essas ondas.
Observou seus amigos tentarem absorver todas as informações e apostaria que parte deles haviam se desligado assim que ela falou córtex.
- Mas por que vocês não só abrem um portal como fizeram para aqueles cavaleiros?
Iria responder a Piper, mas Schwoz se adiantou.
- Porque eles estavam em um mundo paralelo do nosso universo, já o Henry está em outro.
- Não sabemos quantos existem e nem em que proximidade ele está de nós, por isso precisamos localiza-lo antes de abrir um portal. - Charlotte afirmou, percebendo com alívio que realmente a estavam ouvindo.
- Só que existe um porém. - o tom alegre de Schwoz em nada condizia com a informação.
- Que porém? - Ray perguntou alerta, os poréns do cientista nunca eram fáceis.
- Eles não podem se encontrar, não sabemos o que causará o encontro sendo que eles são de universos diferentes. - respondeu, ainda animado. A verdade era que ele iria adorar saber o que aconteceria, mas Charlotte nunca iria apoia-lo.
- Mas nunca deu problema em Flash.
- Não deu porque é uma série! - Piper gritou com Jasper que a encarou indignado.
- Mas precisamos encontrar Henry, colocar esse pequeno aparelho nele para que possamos trocar a consciência deles sem que seja necessário trazê-lo para cá. - Charlotte retomou o foco para ela.
- E o que é isso? - Jasper indagou, se aproximando dela que estava com a palma da mão aberta onde dois pequenos fones sem fio de prata se encontravam.
- Vocês realmente querem a explicação?
- Nop.
- Não precisa.
- Eu não ia escutar mesmo.
- Eu quero.
- Foi você que inventou, Schwoz! - o lembrou impaciente.
O homenzinho somente deu de ombros, o que a fez escolher ignora-lo. Charlotte iria começar uma rápida explicação quando o Outro Henry entrou pela porta lateral e se aproximou da pequena roda que eles haviam feito, era tudo o que ela menos precisava no momento.
- Espero que esse plano funcione, mas tenho uma dúvida. - ele falou, puxando toda a atenção para si.
- Argh! O que foi agora?! - Piper perguntou impaciente, o que Charlotte estranhou foi que seu tom estava mais impaciente do que quando falava com Henry.
- Será que dá pra você não gritar? Ninguém aqui é surdo. - e pela resposta do Outro Henry, ela percebeu que a manhã que passaram juntos não deve ter sido a melhor.
- Para de me dizer pra calar a boca! Eu grito o tanto que eu quiser quando eu quiser!
- Eu não sei como seu irmão te aguenta! Você é insuportável, garota.
Piper abriu a boca indignada e se jogou para cima dele, mas foi parada por Ray que a segurou antes que ela fizesse algo. Jasper começou a conversar com o Outro Henry tentando acalma-lo e pela forma diplomática que adotou deu a parecer que já estava ficando acostumado com aquilo. Charlotte inspirou profundamente e esperou que todos se acalmassem para continuar com o plano.
- O que eu quero saber é quem vai para a minha terra!
- Não precisa gritar, ninguém aqui é surdo. - a Hart mais nova desdenhou, sorrindo satisfeita pela expressão de raiva que tomou conta do outro.
- Provavelmente a Charlotte, qualquer um de nós vai ferrar com tudo.
- Ei!
- Estou mentindo, Ray? - Jasper perguntou para o chefe que concordou meio a contra gosto.
A garota se preparou novamente para explicar o que iria fazer, já que com toda a certeza ela era a melhor indicada para consertar toda a confusão, mas ao notar o olhar insistente que o Outro Henry a enviava, ela soube que a loucura dele estava de volta. Aprendeu o suficiente por algumas horas para saber que ele deveria ser louco por qualquer Charlotte e consequentemente se sentia responsável por elas.
- Você não vai.
O tom definitivo dele a irritou profundamente e antes que abrisse a boca para discordar, seus amigos se afastaram dois passos, eles a conheciam bem para saber que ela acabaria com ele se fosse necessário.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro