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04

Charlotte tentava entender todos os cálculos que Schwoz havia feito. Aparentemente, e como ela já havia previsto, as consciências dos dois Henry's haviam trocado de corpo. Isso significava que novos cálculos deveriam ser feitos e todo um estudo que duraria horas atrás das explicações mais plausíveis deveriam ser lidos, restando somente ela e Schwoz para o trabalho.

O outro Henry estava em casa com Jasper, Charlotte havia pedido para o amigo levá-lo para descansar e consequentemente ficar longe dela, não aguentaria ficar mais um minuto ao lado dele. Era tudo tão estranho e irritante, ela nunca o viu daquela forma, e tinha a plena certeza de que nunca veria. Eles dois juntos como namorados não iria funcionar naquela realidade e o Outro Henry a tratando como se ela fosse o sol na terra não a ajudaria a encontrar uma solução para levá-lo de volta. A atenção exagerada dele, suas perguntas descrentes e sua insistência em acompanhar cada passo dela permitiam que ela até sentisse falta do seu Henry idiota, com quem ela pelo menos daria boas gargalhadas.

- Você está com aquela expressão assassina no rosto de novo. - Schwoz a avisou de forma receosa a fazendo voltar a atenção para os cálculos à sua frente.

- Só estou preocupada. - respondeu em tom neutro, balançando a cabeça para afastar os pensamentos indesejados.

- Oh, mas você não parecia preocupada e sim irritada. - ele insistiu, saltando da cadeira alta em que estava sentado e correndo para ficar ao lado dela nos monitores.

Charlotte o ignorou, sabia o quão irritante ele ficava quando entrava no modo fofoca e não queria dar munição que ele distorceria à seu favor.

- Não, somente estou preocupada em como vamos conseguir trocar as consciências deles de volta.

- Não, pode até ser que você esteja preocupada, mas também está irritada.

- Pode apostar que eu ainda não estou irritada.

- Acho que sei o motivo! - afirmou alegre, saindo de perto dela e começando a caminhar em círculos de forma animada.

Charlotte nem se deu ao trabalho de se virar e continuou a tentar encontrar um sentido nos dados que estava analisando.

- Por mais que eu não queira, sei que você vai-

- Aposto que é por causa da outra Charlotte.

- E começou.

- Você deve estar irritada porque na outra terra tem uma versão sua que a essa hora deve estar aos beijos com o nosso Henry.

- Totalmente errado.

- E você se sente culpada porque também queria estar fazendo o mesmo com esse Henry que chegou.

- Não poderia estar mais longe da verdade.

- Mas tecnicamente você estaria beijando o nosso Henry, só que só o corpo dele já que a consciência deve estar há milhares de universos daqui e-

- É isso! - gritou animada, se virando rapidamente para ele com um sorriso radiante.

- Eu estou certo, não estou? - perguntou feliz, parando de andar e pulando até ela.

- Definitivamente não! - deixou claro ao se levantar para ficar de frente para ele. - Mas me deu uma ideia. - declarou, sem conter o sorriso esperançoso.

□ □ □ □ □

- Não sei porque concordei com essa ideia inconsequente.

- Porque você nunca me deixaria vim sozinho. - Henry falou baixo, enquanto os dois tentavam andar em silêncio encostados em um muro alto que dava acesso a uma enorme mansão.

Não foi difícil encontrar o outro Schwoz, ele havia voltado das suas férias na floresta amazônica e agora deveria estar jogando críquete no enorme quintal de sua mansão. O que foi quase impossível era conseguir convencer aquela Charlotte a entrar escondido na casa já que o Schwoz daquela terra odiava visitas. A sua Charlotte teria um ótimo plano para entrar, mas como aquela claramente não queria colaborar e o chamava de idiota inconsequente a cada cinco segundos, ele teve que elaborar sozinho um plano que estava cheio de falhas, mas que talvez funcionasse.

- E agora? - ela perguntou, assim que chegaram em uma parte mais baixa do muro. - Só pulamos e corremos até ele pedindo ajuda psiquiátrica pra você?

- Vou ignorar o seu sarcasmo e tentar pensar.

- Você me arrastou até aqui sem um mísero plano que preste?!

- Eu estou tentando!

- Ser irresponsável pelo visto! Você nunca foi tão imprudente assim, pode ter a plena certeza de que fica mais fácil acreditar que algo aconteceu com você quando você não pensa nem por dois segundos nas consequências dos seus planos idiotas!

- Eu. Estou. Tentando. - soltou um grito abafado por seu próprio punho para conter a frustação que corria em seu corpo.

Ele nunca sentiu tanta saudade de Charlotte antes, ela saberia lidar com aquela versão reclamona e pessimista dela.

- Como eu não pensei nisso antes? - indagou para si mesmo, soltando uma risada que fez a outra Charlotte se afastar um pouco. - Sou muito idiota mesmo.

- Bom, nisso podemos concordar. - ela soltou, cruzando os braços e o encarando descrente.

Henry continuou a ignorar ela e começou a falar calmamente consigo mesmo.

- O que ela faria? O que ela faria?

- Ela quem?

- Charlotte.

- Que tal perguntar para ela mesma já que eu estou aqui?

- Não você, a minha Charlotte.

- Eu, quer saber, enlouqueça sozinho e só me procure quando tiver algum mínimo de juízo. - disse, dando as costas para ele e refazendo seu caminho de volta.

- Cara, tenho pena desse Henry quando ele voltar. - falou receoso quando a outra Charlotte, completamente irritada, sumiu de vista ao dobrar a esquina. - Agora, o que ela faria?

Recomeçou a se perguntar olhando para todos os lados. Ele estava perto de latas de lixo, não havia vizinhos naquela parte, o muro não tinha cerca elétrica, ele facilmente poderia pular, mas como ter certeza de que não havia armadilhas do outro lado?

- Aqui não é Swellview.

A realização veio simples, ali não havia grandes armadilhas, vilões com armas mortais ou heróis com bolhas incríveis, ali era um mundo normal e no mundo normal ele teria uma vantagem. Afinal, ele pensava além, pensava como um super-herói.

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