Capítulo bônus - Música tema (por Alexander)
E pensar que eu fui dormir me sentindo mal por não ter cumprido minha promessa de ir visitar Katerine naquele dia. Trocamos inúmeras mensagens antes de dormir – algumas de cunho extremamente particular. Deitei morrendo de saudades dela. Contando as horas para que pudéssemos nos ver de novo.
Acordei com um jornal sendo arremessado no meu rosto. Gostaria de nunca ter acordado. Meus sonhos eram muito melhores do que a realidade ao qual seria submetido a partir do momento que abrisse os olhos.
— Olha a merda que sua namoradinha fez – foi o que Sarah disse, após jogar o jornal.
— O que você está fazendo aqui? – eu consegui dizer, me ajeitando na cama.
Sarah estava proibida de subir até meu apartamento sem autorização e todos os porteiros já sabiam disso. Como ela tinha conseguido subir no meu único recanto restante de paz e sossego?
— Seus porteiros estão todos surtando, pois não sabem o que fazer com a quantidade ridícula de paparazzi que tem na porta desse edifício – ela explicou.
— Por que tem uma quantidade ridícula de paparazzi aqui? – tateei pelo jornal.
A foto me respondeu sozinha. Podia ter sido tirado há cinco minutos, pela Sarah. Eu provavelmente não estava em posição muito diferente quando ela desbravou meu recanto de paz e sossego. A única diferença é que no momento eu usava uma calça de moletom de pijama. Havia sido uma noite fria. A foto não tinha sido tirado há cinco minutos, pela Sarah. Afinal, estava na capa do jornal.
Só conseguia pensar na minha mãe acordando para mais um belo dia de trabalho e dando de cara com seu filho seminu na capa do jornal mais tradicional de Londres.
— De onde veio essa foto? – Eu perguntei sem conseguir parar de olhar.
— Há! – Sarah riu. – Eu pensei que você fosse saber me responder.
— Claro que não, não faço ideia de quem tirou – eu disse, levantando da cama e deixando um rastro de edredom para trás.
— Não tem mesmo? – Sarah perguntou. Dava para sentir o sarcasmo pingando de sua voz.
— O que você está querendo dizer? – Eu espetei, vestindo a blusa do meu pijama.
— Tenho fontes bastante confiáveis de quem mandou essa foto para a mídia foi sua namorada secreta, nem tão secreta assim – Sarah disse, apoiando-se no beiral da minha cama.
Eu tive vontade de socá-la. Contive. Não podia socar minha própria agente. Sinceramente, quem ela pensava que era para atacar Katerine dessa forma?
— Claro que você não acredita – ela disse, dando de ombros. – Ora, veja você mesmo.
Ela lançou um papel em cima da minha cama e eu tive que contar até três para tentar manter a calma e não voar em cima dele, como se fosse meu resquício de sanidade. Andei lentamente, sentei-me na beirada da cama e me estiquei para pegar o papel. Era uma cópia de um e-mail, escrito em inglês:
Para: [email protected]
Assunto: Picture
Querida Sarah,
Eu com certeza não deveria estar de dizendo isso, mas como nos conhecemos há muitos anos e sei que você está agenciando esse menino Alexander Rodder, sinto-me na obrigação de te contar.
A foto que vamos publicar amanhã foi recebida por nossa equipe pela namorada atual de Alexander, Katerine. Também ouvi aqui pela equipe que ela recebeu uma pequena fortuna em libras pela liberação da imagem.
Lamento o ocorrido e desejo sorte na reparação de danos.
Abraços,
Rachel.
Tinha alguma coisa se aglomerando na ponta dos meus olhos e essa coisa, para meu total horror, eram lágrimas. Eu pisquei rapidamente, torcendo para que elas se dissipassem. Devolvi o papel para Sarah, sem dar uma palavra.
— Só acredita com provas, né Alex? – Sarah revirou os olhos.
Eu balancei a cabeça, desanimado. Não conseguia acreditar no que havia lido. Meu relacionamento todo com Katerine tinha sido trocado por uma pequena fortuna em libras. Todos os nossos momentos juntos. Paris. Cambridge. Quando ela disse que me amava. Era tudo uma mentira. Talvez ela nem estivesse bêbada. Ela nunca repetiu. Era tudo uma mentira.
Katerine era uma farsa.
— O que fazemos agora? - Eu finalmente juntei forças para dizer.
— Você não vai fazer nada – ela disse, levantando um dedo em forma de ordem. – Eu cuido da contenção dos danos. Você fica na moita, escondido até a poeira baixar, está bem?
Eu assenti, ainda monossílabo. Sarah saiu da minha casa da mesma forma intempestiva que entrou e me deixou para trás, com o exemplar do The Guardian estendido na minha cama. Eu empurrei-o para fora da cama e voltei a deitar, preso em meus péssimos pensamentos.
Eu havia levado Katerine para conhecer meus pais, pelo amor de Deus! No que eu estava pensando? Eu deveria ter ouvido Sophie. Bem que ela tentou me avisar diversas vezes que me envolver dessa maneira como uma fã não era prudente. Katerine dizia que não era uma fã. Talvez não fosse mesmo. Uma fã de verdade não venderia uma foto de seu ídolo seminu para os jornais. Guardaria para si mesma, como uma relíquia rara, que ninguém mais tem. Nosso relacionamento era uma mentira. Eu a levei no lugar mais especial do mundo, minha casa de vidro, e ela estava fingindo o tempo todo.
Eu não conseguia acreditar. Era doloroso demais. Não havia chance de ser totalmente verdade. Pelo menos alguma parte de Katerine deve ter gostado de mim, em algum momento. Ninguém consegue mentir tão bem por tanto tempo... Espera, tanto tempo? Parecia uma eternidade, mas era pouco mais de um mês... Creio que seja possível mentir por mais ou menos um mês... Eu tentava achar motivos para acreditar que a foto não era de Katerine, mas quanto mais refletia, mas tudo me levava a crer que era.
A única coisa que me impedia de assumir que era de autoria dela, era simplesmente que eu não queria acreditar nessa realidade.
Ignorei absolutamente tudo que Sarah disse. Eu sempre fazia isso, de todo modo. Vesti uma roupa normal, enrolei o jornal na mão e saí do apartamento, intempestivo como ela fizera. Antes que pudesse me dar conta do que estava fazendo, já estava na porta do quarto de Katerine, batendo com ódio. Tinha sido um caminho difícil. Tive que desviar de diversos grupos de paparazzi e de fãs, que já tinham a foto impressa, no jornal e até em banner promocional de algumas revistas e queriam que eu "autografasse na minha barriga deliciosa". Eu preferiria morrer.
Ela abriu a porta.
Sua simples visão foi uma facada no meu já dolorido coração.
Eu não disse nada. Simplesmente entrei naquele quarto ridiculamente grande, dei a volta na mesa e joguei o jornal em cima dela. A mesa daquele quarto de hotel estava cheia de revistas e jornal com matérias sobre mim, ou sobre eu e Katerine, há alguns dias. Eu deveria ter suspeitado de que havia algo errado, mas confiei cegamente nela quando disse que era coisa de Igor e Mariana.
Talvez esse tenha sido meu erro. Confiar cegamente nela. A ponto de querer que ela ficasse comigo. Aqui. De abrir minha vida a ponto de deixa-la confortável para bagunçar tudo.
Eu não podia olhar para ela. Talvez ela me enfeitiçasse mais uma vez com seus belos e grandes olhos e me fizesse acreditar que era tudo uma mentira. Não nosso relacionamento, mas as acusações dela ser a autora da foto.
— Não fui eu, Alexander – a ouvi dizer, fracamente.
Soltei uma pequena risada. Talvez ela fosse mesmo alguma espécie de feiticeira ou leitora de mentes. Como sabia exatamente o que eu estava pensando? Sua voz saiu igual na minha mente e na vida real. Eu precisava me fortalecer. Não podia deixa-la achar que conseguiria me desarmar e me convencer que éramos vitimas de alguém muito ruim.
— Não, Katerine? – Eu disse irônico. – Aposto que foi um gnomo, então.
— Não fui eu, Alexander – ela repetiu. – Não acredito que você está me acusando disso.
Seu tom foi tão seguro que eu cometi o erro de levantar os olhos para encará-la. Seus lábios estavam franzidos em uma espécie de bico, como se ela estivesse, de fato, irritada com minha acusação. Seus olhos, todavia, tinham aquele fundo de tristeza profunda. Eu poderia mergulhar neles. Eu sempre mergulhava, quando estávamos juntos. Não podia me dar a esse luxo agora. Eu tinha mergulhado e me afogado. Era hora de ficar longe.
— Eu achei que você era dif... – ela começou a dizer, mas não conseguiu completar.
Seus olhos, meu local preferido para mergulho, se encheram de lágrimas. Eu amoleci, temporariamente. Tive que me concentrar para conseguir continuar a conversa e não atravessar a sala e apertá-la entre meus braços. Quem deveria estar chorando era eu, que estou estampado em tudo quanto é lugar usando quase nada de roupa. Desviei os olhos, arrasado.
— Você não precisa mentir – eu disse, tentando permanecer monotônico. – Algo assim nunca tinha acontecido antes e foi só você se aparecer para...
— Argh, Alexander! – Ela me interrompeu meu raciocínio.
Não aguentava ouvir meu nome sair naquele tom da boca dela. Era como se ele estivesse se desmanchando em pedacinhos, evaporando na tristeza. Quantas vezes eu tinha ouvido Katerine me chamar de Alexander em tons muito mais alegres. Agora eram lembranças tristes. Eram tons alegres, tornando-se terríveis. Como um casal que nunca mais consegue ouvir a música preferida dos dois depois que terminam. A forma como ela chamava meu nome talvez fosse nossa música tema.
— O que você queria que eu pensasse, Kate? – Eu levantei os olhos para encará-la. Tomei cuidado para não chama-la de Katerine. Não podia embalar nossa música tema. – Você não é deste mundo... Eu até entendo, mas...
— Você entende? Ah, que bom que você entende! – Ela disse, irônica. – Você não entende nada. Absolutamente nada.
Eu abri os olhos, assustado com a sua reação. Em algum lugar, meu cérebro conectava aquela frase às vezes que eu lhe disse que ela não sabia de nada. Às vezes em forma de piada, mas, muitas vezes, porque ela não sabia de nada mesmo. Acho que, por incrível que pareça, quem não sabia de nada era eu.
— Eu não sou deste mundo, é verdade. Parte de você também não é. Então, eu pensei que, para ficar com esta sua parte, eu teria que ceder uma parte minha para este mundo. – Ela disse num rompante. Eu dei um passo para trás, sabendo que seria difícil aguentar o restante. – E eu cedi. E, pior, eu cedi feliz. – Meu coração descompassado, enquanto ela continuava com o que eu não queria ouvir. – Eu me apaixonei por você, então achei que valia a pena me expor dessa forma e entrar no seu mundo...
— Não vale — eu interrompi.
Não queria ouvir sua declaração de amor. A primeira e única sóbria. A que comprovava que o que eu tinha ouvido em Cambridge, depois do melhor sexo da minha vida, não era fruto da minha imaginação ou pura loucura. Eu não podia ouvir essa declaração. Era mentira. Como todas as outras mentiras que ela vinha me contando. Ela era mais uma das groupies, que só queriam estar comigo pelos holofotes e dinheiro.
— Isso nunca daria certo — eu desabafei, sem encarar.
Katerine deu um tapa na mesa. Eu levantei os olhos, alarmado.
— Saia — ela disse, sem me encarar. — Saia agora desta porra de suíte rica idiota!
Eu dei mais um passo para trás, sem saber o que fazer. Katerine passou zunindo por mim, deixando um rastro de seu perfume no ar. Abriu a porta e apontou o caminho com o braço.
— Vá embora, Alex — eu parei meu passo no ar, ao ouvi-la me chamar de Alex. Nossa música tinha saído das playlists. — Suma daqui. Suma da minha vida.
Eu caminhei cabisbaixo até a porta. É claro que sabia que nossa conversa terminaria assim, mas parte de mim estava muito triste. Parei de andar quando cheguei ao beiral da porta, onde Katerine também estava. Levantei a cabeça para olhá-la nos olhos. Talvez fosse a última vez. Meu último mergulho. Se eu avançasse mais alguns centímetros, poderia tocar seus lábios com os meus. Eu queria poder tocar seus lábios com os meus. Eu queria que nosso relacionamento fosse verdade. Eu queria que a autoria da foto fosse de outra pessoa. Eu queria que tudo fosse diferente.
— Eu pensei que você fosse diferente, Katerine.
Percebi a forma como essa frase afetou Katerine. Seus olhos se encheram de lágrimas novamente, mas seu rosto se fechou em ódio. Não conseguiria vê-la chorar, então simplesmente saí andando. Apertei o botão do elevador e fiquei encarando os números no visor, como se eles fossem o ponto mais interessante de todo o universo.
— Ei, Alex Rodder, maravilhosooo? — Katerine gritou, num tom muito semelhante aos de minhas fãs quando estavam enlouquecidas. — Já que eu sou só mais uma fã idiota, que vende suas fotos, é melhor eu não ficar com nada seu, não é mesmo? Vai que eu resolvo vender na internet?
Antes que eu entendesse sobre o que ela estava falando, a pulseira que lhe dei atingiu meu rosto. A porta do quarto bateu com força. Segurei a pulseira entre os dedos, sentindo-me despedaçado.
O elevador abriu e eu entrei, tentando juntar meus pedaços. Guardei a pulseira no bolso, no mesmo segundo que senti meu celular vibrar.
Gabriella: Oi, Alex! Fiquei sabendo da situação... Que chato, hein.
Não respondi.
Gabriella: Você quer conversar sobre o assunto? Tenho certeza que eu posso ajudar, como já ajudei tantas vezes antes...
Não respondi. Quanto tempo demorava para esse elevador chegar no térreo, pelo amor de Deus?
Gabriella: Eu realmente acho que posso te ajudar a entender tudo melhor...
Plim. As portas se abriram e eu me arrastei para fora. As vibrações no meu celular não pararam, mesmo depois deu entrar no carro, com ajuda de meu amigo. Ele tinha uma expressão tristonha, de quem sabia que tudo estava errado.
— Fique bem, sim? – Foi o que ele disse, antes deu partir com o carro.
Gabriella: Tenho informações privilegiadas que Caio me forneceu. Acho que você gostaria de ouvir...
Se havia algo no mundo que poderia me dar mais raiva do que toda a que eu já estava sentindo no momento, esse algo era a simples menção ao nome Caio. Não respondi e pisei fundo.
Gabriella: Se você mudar de ideia, estarei no Regency Café, na Regency Street.
Pisei mais fundo ainda, querendo entrar na velocidade da luz e sumir dali.
Gabriella: Estarei sozinha. Caio não quer que eu te conte as informações que ele meu deu...
Não sei o que me fez dirigir até a Regency Street, mas provavelmente eu não poderia passar o restante do dia dirigindo feito um alucinado e quebrando todos os limites de velocidade. Em algum momento os policiais londrinos me encontrariam e meu dia acabaria ainda pior – se é que isso era possível. Se eu atendesse as ligações de Sarah, aposto que ele também pioraria. Estava ignorando todas.
— Oi, Alex – Gabriella disse, levantando-se para me cumprimentar. – Fico feliz que você veio.
Ela estava sentada em uma das mesas da janela, como sempre. A cortina que o restaurante fornecia para dar o mínimo de privacidade aos seus clientes estava completamente escancarada. Não havia nenhum fotografo do lado de fora, todavia. Isso era uma novidade.
— Não vim bater papo, Gabriella – eu disse, sentindo seus lábios tocarem minha bochecha.
— Uma pena, parece que não conversamos há eras – ela comentou, retornando ao seu lugar.
— A contagem de eras continuará depois desse pequeno intervalo – eu disse, apoiando meu cotovelo na mesa para sustentar minha cabeça, entediado antes de sequer começarmos. – Fala.
— Posso anotar seus pedidos? – Uma garçonete apareceu.
— Eu gostaria de uma água mineral Voss, sem gelo – Gabriella pediu.
— Já eu quero uma tequila – eu disse.
— Alex! – Gabriella se horrorizou.
— Dane-se, não quero nada – eu respondi.
— Nós não temos essa água, senhora – a garçonete tentou dizer.
— Traz uma bosta de uma Coca-Cola para ela! – Eu disse, sem paciência.
A garçonete agradeceu e saiu - ciente de não era um bom lugar para estar.
— Vejo que não estamos em um dia bom – Gabriella disse, cruzando os dedos com unhas ridiculamente compridas em cima da mesa. Foi-se o tempo que eu era doutrinado a saber a cor de todos os malditos esmaltes.
— Algum dia com você é um dia bom? – Eu realmente estava sem paciência. – Fala logo, Gabriella, assim posso ir embora.
— Sempre foi assim com você – ela deu uma gargalhada, com a mão apoiada no decote. – Imediatista. Egoísta. Só quer saber do que é melhor para você.
Eu dei um sorriso de lado. Quase levantei e deixei aquela garota sozinha. Não teria sido a primeira vez. Ela provavelmente percebeu minha inquietação e começou a falar:
— Caio me disse que Katerine disse para ele que estava com tudo isso premeditado.
Eu encarei, em silêncio.
— Disse também que tem diversas outras fotos suas para vender – ela continuou.
— A Coca-Cola – a garçonete quase jogou a lata e correu.
Eu empurrei para Gabriella. Ela empurrou de volta para mim. Eu abri e bebi no gargalo. Não era um belo dia para pensar em imagem e, se fosse, pelo menos não tinham paparazzi na jane...
Interrompi meu pensamento quando olhei para fora e vi uma horda deles.
É claro.
Inocência minha. Gabriella nunca dava ponto sem nó.
Ela ainda estava falando sobre como Katerine tinha premeditado tudo e como ia vender todas as fotos que tinha de mim. Provavelmente eu estava dormindo em todas, pois não me lembrava dela tirar nenhuma foto minha. Comecei a achar tudo muito estranho.
— Quando Katerine contou isso para Caio? – Questionei.
— Antes, ué. Antes de mim. Quem somos nós para julgarmos o que um homem e uma mulher fazem e falam entre quatro paredes? – Gabriella explicou.
— Entendi – eu disse. – Obrigado pelas informações.
Levantei da mesa, pronto para ir embora.
— Você se lembra do que nós fazíamos e falávamos? – Gabriella perguntou.
Deixei ela para trás. Talvez tenha empurrado um ou dos fotógrafos no caminho para o carro. Meti o pé no acelerador novamente, incerto de para onde iria. Só retornei para casa de madrugada, na esperança de ter menos fotógrafos no caminho. Naquela noite, não dormi. Por motivos muito diferentes daqueles que me mantiveram acordado em Paris. Naquele dia, fiquei acordado por felicidade e êxtase. Hoje, por tristeza profunda.
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Katerine estava em todas as manchetes no dia seguinte. Ela também estava nos canais de televisão. Todos eles estavam falando a mesma coisa: "Ex-namorada de Alex Rodder está saindo de Londres na surdina, após escândalo de divulgação de foto". Ela não estava mais com gesso no braço e ostentava profundas olheiras, do mesmo gênero das que estavam no meu rosto. Em menor escala, meu encontro com Gabriella no dia anterior também estava sendo noticiado. Infelizmente, a foto que escolheram para falar sobre era a dela gargalhando, como se estivéssemos compartilhando um lanche muito agradável.
Para alguém que vazou a foto do cara com quem estava compartilhando a cama sem dó, nem piedade, Katerine parecia acabada. Ela parecia, na verdade, com quem estava arrasada com o final de um relacionamento do qual gostava muito. Eu estava com uma sensação muito estranha desde que havia conversado com Gabriella. Além do fato deu ter certeza absoluta que Caio e Katerine nunca fizeram nada de especial entre quatro paredes, algo mais naquela história toda não parecia certo. Eu não fazia ideia do que era, ou onde estava o erro – se é que havia um.
Eu estava agarrado na esperança de que houvesse.
Foi isso que me fez entrar no carro e dirigir até o Heathrow. Tentei respeitar todos os limites de velocidade, dessa vez. As multas do dia anterior com certeza chegariam e eu precisaria rebolar para não perder minha carteira – se é que ainda tinha chance. Eu não fazia ideia de qual era o voo da Katerine e por mais que eu tentasse ligar para os responsáveis do concurso, que provavelmente reservaram a passagem, ninguém atendia. Seria terrível se eu não conseguisse chegar a tempo. Quer dizer, seria mesmo? O que eu tinha para falar? Respirei fundo e segui em frente. Provavelmente as palavras viriam sozinhas. Dessa vez eu deixaria Katerine tentar se explicar. Eu queria ouvir uma desculpa. Eu queria acreditar nessa desculpa.
Passei desapercebido pela área comum do aeroporto. Os fotógrafos estavam correndo aglomerados de um canto para outro, tentando arrumar uma forma de entrar na área de embarque. A conta do Twitter KATEX4EVER (sim, alguém tinha criado uma conta no Twitter que falava sobre o nosso relacionamento e torcia para que ficássemos juntos. Provavelmente era uma única pessoa, em todo o universo. As contas com nomes de KATERINEVACA e EU_ODEIO_KATE eram muito mais frequentes) me indicava que Katerine já estava na área de embarque, com Igor e Mariana.
Eu não tinha um bilhete, pelo amor de Deus. Corri até o balcão de voos domésticos da primeira companhia que encontrei.
— Oi, preciso de um bilhete – eu disse.
— Para onde? – A atendente perguntou.
— Para qualquer lugar, só vá logo! – Eu disse, jogando minha identidade na direção dela. Só depois me lembrei de ser educado. – Por favor.
Esse foi o meu erro. Quer dizer, não o fato de não ter sido educado desde o inicio. Mas o fato de ter pedido uma passagem para qualquer lugar, o mais rápido possível e dado minha identidade verdadeira provavelmente foi que fez a atenção dos fotógrafos se virarem para mim.
KATEX4EVER foi ao delírio quando a primeira foto minha vazou na internet. Todos os seus twittes, que antes eram tristes e desmotivados com a separação, começaram a ser em CAPS LOCK e a conter expressões em português que eu desconhecia, como CLOSE CERTO e LACRE.
Ultrapassei a área de embarque o mais rápido que pude, mas tive que voltar no raio-X três vezes. Sempre me esquecia de tirar algo que apitava: o cinto, o sapato e as chaves do carro, por exemplo. Eu nem sequer sabia para onde era a minha passagem.
Cheguei ao hall de embarque quando o voo dela começou a ser chamado. Corri na direção do portão. Encontrei-a no meio do caminho. Fui deixando um rastro de gente gritando para trás. Provável que também tenham tirado fotos. O burburinho foi crescendo, crescendo, crescendo... Mariana me viu primeiro. Os três já estavam de costas, mas Mariana puxou Katerine pelo braço. Igor deu um berro.
Parei de andar. O tempo congelou ali, bem naquele momento. Nada poderia nos atingir naqueles 10 metros de distancia entre nós dois. Poderia ser o fim, na minha opinião. Eu poderia ignorar tudo ao nosso redor. Eu poderia cortar aqueles dez metros em segundos e beijá-la novamente. Eu queria muito esquecer o resto do mundo... Mas o resto do mundo não me esquecia.
Cópias e mais cópias da foto vazada começaram a aparecer na minha frente, nas mãos de fãs calorosas. Elas estavam puxando meus braços e me impedindo de andar. Olhei para frente, com tristeza. A lembrança da foto me acometendo com força e meu ímpeto de correr até Katerine diminuindo. Ela também desanimou, olhando para baixo como se estivesse desolada.
Antes que eu conseguisse me decidir sobre o que fazer, Katerine virou de costas e passou pelo portão de embarque. Entrou no avião, para desespero de KATEX4EVER.
Para meu desespero também.
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OLÁ PESSOAS! Eu sei que eu disse que ia tentar postar o capítulo de manhã, mas OLHA O TAMANHO DESSE CAPÍTULO. Estou escrevendo essa mensagem diretamente do chão, onde me encontro morta depois de escrever tantas páginas de dor e sofrimento. Dessa forma, espero que vocês perdoem o atraso. E VAMOS AOS GRITOS
PORQUE VOCÊS CHEGARAM ALÉM DO QUE EU PEDI EM BEM MENOS DE 48HRS. TIVE QUE ME VIRAR PARA ESCREVER O CAPÍTULO!!! VOCÊS, HEIN! :P
Agora... QUERO ESTRELAS RETROATIVAS!!! Como assim chegamos a mais de 700 estrelinhas no capítulo anterior e temos capítulos aqui no livro com um pouquinho mais de 500?? Quero meu céu estreladinho <3
Espero que vocês gostem do capítulo, ainda que também sofram um pouquinho! Aguardando estrelinhas e comentários, me despeço!
Beijos e ótima leitura!!!
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