Capítulo 58 - Terminal
Maré de sorte? Tsunami de azar. Por um pequeno período de tempo esqueci esse trágico, porém verdadeiro ditado. Voltei a me lembrar dele quando me vi soterrada por microfones, ao pisar para fora do hotel. Estava tão absorta em meus próprios pensamentos depressivos que nem ao menos ouvi o grito estridente de Igor, tentando me avisar para não cruzar as portas de vidro. Os gritos em inglês me fizeram retornar a realidade:
— Uma foto, por favor!
— Como você se sente sabendo que Alex já está seguindo em frente, ou melhor, para trás, retomando os laços com Gabriella?
— Como foi compartilhar a cama com Alex, Katerine?
— Em que momento aquela foto foi tirada?
— Você se arrepende?
Eu sacudi a cabeça para um lado e para o outro, atordoada. Não conseguia dar um passo para frente, atordoada pela confusão de gritos, microfones e flashes. Estagnei, me sentindo derrotada. As perguntas vinham como facas na minha direção. Pela primeira vez meu temperamento explosivo não foi o suficiente para dar um berro e me livrar da situação. Pela primeira vez eu estava tão triste que só queria sentar no chão e começar a chorar.
— Vambora, criatura! Lady Gaga nos proteja – Igor disse, agarrando meus ombros.
— Não é o melhor lugar para ficar estagnada e refletir sobre a vida – Mariana disse do meu outro lado.
Os dois abriram caminho no meio daquela horda de filhotes do demônio. Não sei como conseguiram empurrá-los para longe, me assessorar e, ainda por cima, carregar suas malas. Considerando a quantidade de compras que aqueles dois fizeram, as malas não eram poucas e nem pequenas. Igor foi o responsável por nos conseguir um táxi. Entramos na parte de trás dele totalmente embolados, passando por cima de nossas malas e sentando quase um no colo do outro.
— Tudo bem aí? – o motorista disse.
— Tá moço, só anda, pelo amor de Gaga! – Igor gritou.
O motorista partiu. Nenhum de nós conseguia se mover. Minha cara estava colada em uma das malas, o pé de Mariana estava perigosamente perto dos meus seios e a cabeça do Igor estava quase do lado da do motorista. Tudo bem que os táxis londrinos eram gigantescos, mas nós estávamos muito mal acomodados.
— Vou parar ali na frente para vocês se ajeitarem, tudo bem? – o taxista tentou ser solicito.
— Ali na frente não moço, bem mais lá na frente – eu disse, achatada pela mala. – O senhor não sabe como esses paparazzi podem ser ruins.
Paramos muito tempo depois, quando minhas pernas já estavam dormentes e Mariana estava prestes a desmaiar de dor com o joelho de Igor apertando suas costelas. O motorista nos ajudou a organizar tudo e colocou alguns volumes no porta-malas. Ele não teceu comentários, não fez perguntas e nem sequer perguntou nossos nomes. Simplesmente terminou de organizar tudo e seguiu viagem, como se resgatar pessoas das lentes dos paparazzi fosse seu trabalho principal e o táxi fosse só um hobby.
— Obrigada – eu disse.
— De nada, bebê – Igor disse, apertando minhas bochechas. – Imagina deixar essa carinha de choro sair na mídia até do Japão! Não comigo por perto.
— De nada, Kate – Mariana disse.
Seu tom era manso. Eu não conseguia me lembrar da última vez que a ouvi tão serena. Nossas conversas normalmente eram discussões e Mariana era extremamente intempestiva – ainda que muito reticente com o uso de palavrões.
— Mas nos conte – Igor interrompeu o momento. – Foi você?
— Igor! – Mariana gritou.
— O que? – Ele se fez de desentendido. – Tenho certeza que você quer saber também.
— Igor! – Ela tentou novamente.
— Ah, me poupe! – Igor revirou os olhos. – Foi bom para caramba, não foi Katerine? Alex tem muita cara de quem é ótimo na cama...
— Igor! – Mariana gritou novamente. Sua bochecha foi rosando, ficando quase da cor do seu cabelo. – Você é um paparazzi disfarçado, por acaso?
Eu olhei pela janela. Por sorte, na arrumação, tinha ficado ao lado de uma. Deixei os dois discutindo, tentando não prestar muita atenção no teor da conversa, mas ouvindo palavras como "cueca", "fotografia", "cama" e "gostoso" o tempo inteiro. Em defesa de Mariana, a maior parte delas saía da boca do Igor. Mari só parecia incomodada demais para sequer pensar no que Igor sugeria.
Foi uma longa viagem até o aeroporto e não só porque ele era muito longe, mas porque eu estava me sentindo quase claustrofóbica naquele táxi com os dois. Nos escassos momentos de silêncio, podia sentir o olhar dos dois na minha direção. Igor, inquisitivo. Mariana, com pena.
— É melhor você nos deixar no desembarque e andamos por dentro do aeroporto – Igor comentou com o motorista. – Aposto que na zona de embarque seremos recebidos por uma horda ainda maior do que os da porta do hotel.
Eu me escondi no meu capuz antes de deixar o táxi. Igor e Mariana saíram na frente e também se responsabilizaram por arrumar as malas nos carrinhos. Eu me responsabilizei apenas por esconder a maior parte possível do meu rosto. No início, funcionou. Conseguimos fazer check in e despachar as malas sem intervenções. Foi só quando já estávamos caminhando para área de embarque que eu vi o primeiro paparazzi.
Ele estava correndo na minha direção, com a câmera em pinho. Achei que ele era um único, mas na verdade ele era só o início da horda que vinha em seguida. Fiquei totalmente congelada novamente, horrorizada por seu eu o motivo de tanta comoção.
— Por aqui – Igor nos empurrou, abrindo a porta da escada de incêndio.
Puxei Mariana pelo braço e a porta bateu um pouco antes do primeiro enlouquecido chegar. Eu fiquei empurrando a porta, certa de que era meu esforço estava fazendo diferença. Igor riu, apontando para baixo. Ele tinha passado a trava na porta, que sacudia com os baques dos fotógrafos, mas não abria.
— Agora vamos, antes que eles entrem pelo andar de cima ou de baixo – Igor disse.
Nós subimos até o andar de embarque pelas escadas. Mariana foi a primeira a sair, para investigar a região. Quando ela considerou a área livre de flashes, eu e Igor também saímos. Apressamo-nos para a fila, chamando a menor quantidade de atenção que conseguíamos. Passamos pelo raio-x sem nenhum problema e fomos sentar no canto mais escondido do saguão de embarque.
A área de embarque era ligeiramente mais segura. Pelo menos era isso que eu estava dizendo para mim mesma, sentada e sentindo meu coração descompassado. Para algum paparazzi conseguir acessar essa área, precisaria comprar uma passagem. Eu gostava de pensar que o nível de maluquice do universo ainda não tinha chegado nesse ponto.
— Salvei nossas vidas várias vezes hoje, mereço uma salva de palmas – Igor disse, jogando seus cabelos imaginários.
Eu e Mariana batemos palmas de leve, desanimadas.
— Eu não queria voltar – Igor suspirou. – Foi um ótimo período nesse lindo país.
— Foi mesmo – Mariana concordou.
Eu não disse nada.
Foi um ótimo período? Claro que sim. O melhor período de todos. Só que eu não conseguia lembrar os bons momentos sem lembrar o único ruim. Ou melhor, o único ruim depois que eu rolei por cima daquela grade. Eu não conseguia lembrar a alegria, pois ela me remetia ao meu último diálogo com Alex. Fiquei sentada lá, letárgica. Igor e Mariana engataram em uma imensa conversa sobre seus dias incríveis, compras fenomenais e festas sem hora para acabar. Eu me deixei engolir pela tristeza.
Amar alguém e pensar que se ama alguém são coisas muito diferentes. Eu pensava que amava Roberto, mas, no fundo, só amava a ideia de que alguém - algum garoto - podia gostar de mim. Tanto que, no final das contas, nem me importo que ele e Mariana estejam juntos. Só me importo com o fato de não terem sido honestos para me contar. Eu achava que amava Caio, mas foi só vê-lo com Gabriella que tive certeza de que não era amor. Quer dizer, claro que era amor. Ele era um idiota, mas parte de mim sempre o consideraria alguém especial, com quem eu dividi sonhos e alegrias. Haveria perdão, caso ele pedisse. O que nunca poderia existir seria um relacionamento. Nós seriamos um péssimo casal e acho que eu sempre soube disso.
Mas de toda essa confusão, de todas essas desilusões, de todos esses amores e achismos, só uma coisa era uma certeza absoluta: eu amava Alexander. Eu amava seu sorriso, seu carinho e seu cuidado. Amava quando ele perguntava se eu já tinha tomado meus remédios e quando fazia careta na menor menção que eu fazia ao fato de ser um estorvo. Eu amava a sensação de nossas peles juntas e os arrepios surpreendentes de minha pele ao seu toque. Eu amava poder sempre encará-lo nos olhos e sua honestidade. Ou, pelo menos, o que eu considerava ser sua honestidade. Eu amava Alexander e ele era muito melhor do que Alex Rodder, o ator que Mariana pensava que amava. Ele era real, era humano e era acessível.
E por conta disso mesmo era ele tinha o maior potencial para partir meu coração. Eu sempre soube, mas mergulhei de cabeça mesmo assim. Era um amor impossível e desde que me dei conta da situação já sabia que ela ia terminar assim. O que mais era possível fazer? Era o ciclo natural da vida. Eu não pertencia à vida de Alex e ele não pertencia à minha. Eu poderia ficar. Ele poderia voltar comigo. Planos interrompidos por mentiras e descréditos. Da mesma forma que eu sabia que Caio e eu formaríamos um casal horrível, precisava encarar o fato de que eu e Alexander éramos um casal impossível. Afinal, what were the odds, hum? Quais eram as chances, Katerine, quais eram as chances?
A pior parte? Eu faria tudo de novo.
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Muito tempo depois, Mariana mostrou o celular. Nós três estávamos nas páginas de fofoca novamente. Não só nas fotos no aeroporto, tiradas pelo primeiro fotografo, mas também em fotos dentro do taxi, naquelas posições deselegantes – para dizer o mínimo. Então o taxista não era tão gente boa como parecia... Assim como aquelas pessoas no saguão de embarque também não eram. Os celulares delas estavam claramente apontados para mim – especialmente das adolescentes. Acho que inclusive ouvi uma delas sussurrar um palavrão em inglês na minha direção.
— Passageiros do voo 0248, com destino ao Rio de Janeiro, seu embarque está iniciado, no portão C56 – a voz do autofalante disse, num inglês lento e perfeitamente compreensível.
— Ah, finalmente! – Igor disse, se espreguiçando. – Parece que eu estou há horas aqui.
— Você está há horas aqui – Mariana riu.
— Ah, isso explica.
Nós três começamos a caminhar na direção do portão. Era um pouco longe, então me enfiei dentro do meu capuz novamente. Caminhamos rapidamente. Quanto antes eu chegasse ao avião, melhor. Aliás, quanto antes eu chegasse à minha casa melhor. Estávamos quase no portão quando eu ouvi o burburinho. Era um burburinho alguns níveis acima do normal de um aeroporto. Era um burburinho que aos poucos foi encorpado por gritos acalorados. Eu tinha uma sensação do que poderia ser, mas não queria virar para me certificar.
— Kate – foi Mariana que disse, segurando meu braço para me fazer parar.
— Ai, minha Lady Gaga – Igor quase desmaiou ao meu lado.
Eu virei lentamente, sentindo meu coração martelar no meu peito. Congelei no chão. A sensação estava certa. O mundo desacelerou por alguns segundos, quando nossos olhares se cruzaram. Ele também parou de andar, há uns dez metros de distância.
— Alexander – eu tentei dizer, mas minha voz não saiu.
Ele tentou dar um passo para frente. Sua expressão era ligeiramente convidativa. Dava vontade de sair correndo na direção dele. Uma fã apareceu no caminho, segurando um papel. Ele parou o pé no ar e recuou. Eu não precisava enxergar o que tinha naquele papel para saber. Eu conseguia imaginar o que era só pela forma que a expressão no rosto de Alexander desmoronou. Era a foto. A fatídica foto.
Ela não foi a única. Diversas outras meninas surgiram, segurando papéis que provavelmente tinham a mesma imagem. Não é possível! Tinha alguém distribuindo por aí, por acaso? Alexander levantou os olhos novamente. A expressão convidativa se fora. Ele agora me encarava com o mesmo olhar da discussão anterior, na sala de estar do quarto do hotel. Decepção. Tristeza. Angústia. Ele não voltou a andar. Simplesmente congelou lá, como se tivesse se dado conta de que estar ali era uma péssima ideia.
Eu virei de costas e voltei a andar na direção do portão, antes que as lágrimas começassem a cair. Já conseguia imaginar fotos desse momento em todos os portais de fofoca. Não os premiaria com lágrimas.
— Tenha uma boa viagem! – A atendente me desejou, quando eu cruzei o portão para o avião.
Eu agradeci, ainda que duvidasse dessa possibilidade.
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Tô ouvindo os gritos DAQUI. Não me matem, tá bem? Tudo tem seu motivo!!! Espero que vocês tenham gostado do capítulo! Não esqueçam das estrelinhas!! Estamos quase chegando em 500 mil leituras! Estou louca para fazer esse bolo comemorativo, então ajudem!!! Leiam, releiam, indiquem para os amiguinhos...
Meu namorado está mandando um oi para o fandom. Afinal, novamente, foi ele que me incentivou a sentar aqui e escrever esse capítulo para vocês. Tá sendo difícil escrever esses capítulos de sofrimento! Eu quero tanto quanto vocês que eles sejam lindos juntos 4ever.
OBRIGADA AOS LINDOS E LINDAS QUE FORAM ME VER NA BIENAL DE SÃO PAULO!!! Foram dias mega incríveis, com muitos livros, brindes, fotos e amoooooooooor. As fotos estão disponíveis na minha fanpage do facebool (/autoraclarasavelli) e também tem algumas no insta (claraguta). Adorei receber todos vocês! Já estou ansiosa para o reencontro!
Eu achei melhor que o capítulo bônus do Alex viesse depois desse capítulo de hoje, por motivos óbvios de reencontro. Dessa forma, estou me programando para tentar postá-lo nesse final de semana!!! Ei, tive uma ideia! Vamos fazer um desafio! Faz um tempão que não fazemos isso!! Quando o capítulo chegar em 650 estrelinhas, eu posto o bônus. Se não chegar até o fds, posto mesmo assim ;)
Acho que é isso! OBRIGADA POR TUDO, vocês são minha cota de alegria diária! Até breve, eu espero!!!
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