Eu, contrariando todos os meus receios, não estava nos tabloide nos dias que sucederam meus dias em Paris. Alexander também não. Fazia pouco mais de uma semana de nosso retorno quando os jornais estamparam dois rostos conhecidos.

Estava na casa de Alex quando aconteceu. Nós dois enrolados no sofá, assistindo uma maratona de The Librarians – uma série bastante nerd e igualmente incrível. Alexander começou a ficar irrequieto, sacudindo-se no sofá como se pressentisse algo ruim. Como ele já tinha visto a primeira temporada toda da série e estava repetindo para me acompanhar, achei que sua inquietação tivesse a ver com algum acontecimento na série.

― Não me diga que ela vai morrer - choraminguei. – É por isso seu desconforto?

― Não – ele levantou do sofá. – Não tem nada a ver com a série.

Assisti Alexander se enrolar nas compridas cortinas que adornavam suas janelas. De uma forma muito estranha, o vi se esgueirar para espiar lá embaixo. Depois começou a xingar em inglês. Uma série de palavras que não estava em meu escasso vocabulário.

Um segundo mais tarde Alex estava andando pela casa feito uma barata tonta, fechando janelas e cortinas. Ele até acionou algum dispositivo no elevador e empurrou a mesinha que fica no lobby até a porta da escada.

― Alexander? – Eu perguntei, ligeiramente preocupada. – Está tudo bem?

― Não sei – ele disse, se empoleirando atrás do computador. – Vamos ver.

Eu saí correndo para ver também, já imaginando diversas fotos comprometedoras de nós dois, rolando pela gelada grama parisiense.

Todavia, na tela do computador o que me recebeu foi a seguinte manchete:

Quem é o novo affair da Gabriella?

Casal foi visto jantando junto, trocando carinho e muitos beijos.

― Esse é o Caio – eu murmurei.

Alex continuou fazendo sua serenata de palavrões.

― É por isso que eles estão aqui – ele finalmente disse algo compreensível.

Quer dizer, mais ou menos.

― Quem?

― Aquela corja lá embaixo – Alex disse, entre dentes.

Eu me aproximei da janela. Estava prestes a abrir a cortina quando Alex me puxou.

― A não ser que você queira ser a próxima manchete, aconselho você a deixar essa cortina fechada.

― O que eles estão fazendo aqui? – perguntei. Afinal, não era ele que estava na foto ou manchetes.

― Ela é minha ex-namorada. Provavelmente querem ver minha reação, na esperança que eu dê uma de desesperado, arrependido por ter perdido o grande amor da minha vida – ele revirou os olhos.

― Mas e agora? – Perguntei, alterando o olhar entre ele e a janela.

― Agora estamos presos aqui.

― Não foi bem isso que eu perguntei, mas como assim presos?

― Eu fechei tudo para evitar que eles apareçam aqui em cima. Não podemos sair até que eles vão embora. Você, em especial. Está presa aqui – ele disse, dando um sorrisinho.

― Tem alguma chance deles aparecerem aqui em cima? – Questionei.

― Não seria a primeira vez – ele provavelmente viu meu olhar horrorizado, pois continuou. – Mas eu fechei tudo, estamos seguros.

Eu pisquei vagarosamente, me sentindo ligeiramente claustrofóbica. O que era uma sensação ridícula em um apartamento tão grande.

― Mas o que você quis dizer?

― Hein? – Eu quase relinchei.

― Quando perguntou "e agora?" – Alex explicou.

― Ah! – Eu retomei o foco. – E agora o que faremos com relação a isso?

Nós dois encaramos a foto, em silêncio.

― Não sei – Alexander respondeu, dando de ombros. – Você o conhece better (melhor) que eu.

― E você conhece Gabriella, ué – eu interrompi, gesticulando. – Inclusive muito melhor do que eu conheço Caio.

― Você acha que isso pode nos afetar? – Alex perguntou.

― Acho que existe uma alta probabilidade, Alexander. É a sua ex e o meu... – Pausei. Meu o que? Até hoje não sabia dizer. – Meu quase-ex.

― Quanto tempo até eles conectarem os pontos? – Ele perguntou.

― Eles quem? – Eu perguntei.

Alexander apontou para baixo.

― Não é tão óbvio assim. Temos fugido muito bem dos paparazzi, eles não tem fotos de nós dois, nem como fazer essa conexão tão rapidamente. Acho que a principal questão é outra – eu ponderei.

― Qual? – Ele perguntou.

― Quanto tempo até um deles dar com a língua nos dentes?

Alex esbugalhou os olhos, como se eu estivesse dando uma perspectiva totalmente diferente. Para mim, esse era o nosso risco mais óbvio. Se Gabriella fazia tudo pela promoção como Alex disse que ela fazia, não duvidaria que ela usasse nossa história a seu favor em algum momento.

Ficamos discutindo as possibilidades e Alex até cogitou atender uma das milhares de ligações de Sara. O celular dele não parava de tocar em cima da pia e nós sempre parávamos a discussão para observar os primeiros toques. Logo em seguida retomávamos. Alexander esticou a mão para atender e eu segurei:

― Você vai falar de mim? – Perguntei.

Ele me olhou, sem entender nada. O celular vibrando embaixo de seus dedos.

― Sara não pode ajudar a corrigir uma crise sem saber a dimensão dela – eu expliquei. – O problema maior aqui não é o fato de Gabriella ter um novo namorado. Se é que eles são namorados, porque pelo o que eu conheço de Cai...

― Spare me (Poupe-me), Katerine – ele levantou a mão, me interrompendo.

― O problema maior aqui – eu retomei. – É o fato desse novo "namorado" ser Caio. E Caio estar conectado comigo. E eu ser um segredo.

― Então o problema é você ser um segredo? – Ele perguntou, na lata.

― Eu não sei – eu respondi, para ganhar tempo.

O silêncio reinou por diversos minutos... Só foi interrompido quando Alex apontou para a imagem, dizendo:

― Eles são bastante ridículos – ele desceu a tela, para ver mais fotos dos dois juntos. – Olha só isso.

Eu padeci um pouco de vergonha alheia vendo as diversas fotos dos dois. Eles estavam quase fazendo pose, como se de fato soubessem das fotografias. Nós transformamos, ainda que por pouco tempo, nossas discussões e preocupações em gargalhadas.

― Acho que eu vou lá embaixo fazer uma declaração, então. De repente eles se dão por saciados e simplesmente vão embora – Alex finalmente disse, fechando a tampa do laptop.

― Uma declaração? – Eu indaguei, me apoiando na bancada. – Com que conteúdo?

― Fico muito feliz pelo casal e desejo felicidades? – Ele perguntou, sacudindo a mão na frente do rosto, como se fosse um poeta erudito.

Contive minha risada.

― E se eles te perguntarem sobre Caio? – Perguntei.

― Vou falar que I've never seen him before (nunca o vi antes).

Eu neguei com a cabeça. Para quem estava a tanto tempo nesse mundo, Alex às vezes era muito inocente.

― E aí eles vão olhar as fotos e descobrir que ele estava na sua festa de Ano Novo – pontuei.

Alexander me encarou com os olhos esbugalhados novamente.

― Eu não tinha pensado nisso – ele disse, embasbacado. – Se eu demitir Sara, por acaso você aceitaria ser minha assessora?

Eu ri. Ele não.

― Não sei nada sobre esse mundo, Alexander.

― Eu te ensino – ele sorriu convidativamente.

― Mas eu... – Comecei.

― Quer trabalhar com música, eu já sei – ele respondeu, baixando os olhos. – E o que você quer fazer?

― Da vida ou agora? – brinquei.

― Agora – ele respondeu. – Se eu não descer, eles ficarão aí embaixo por tempo indeterminado. Estamos presos indeed (de fato).

Eu dei um sorrisinho malandro.

― Katerine... – Alex grunhiu. Já conhecia meus sorrisinhos malandros, aparentemente.

Eu me aproximei, usando as barras de apoio do banco para me içar e, antes que ele reclamasse, sentei em seu colo. Meus cabelos caíram no meu rosto, o que foi bom para cobri-lo, que queimava de vergonha e desejo.

Alex esticou as mãos para tirá-lo da frente. Segurou todo meu cabelo entre os dedos, atrás da minha cabeça.

― Que bela foto que nós dois daríamos agora, hun? – Ele disse, com os de seus sorrisos arrebatadores.

― Que pena que não tem nenhum fotógrafo por perto, então – eu brinquei, me inclinando na sua direção.

― Que bom, Katerine. Que bom – Alex corrigiu, antes de me beijar.

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Oi, gente! Tô cumprindo a risca o objetivo de postar toda terça-feira!! Espero que vocês gostem do capítulo - estou aguardando comentários!

Lembrando que hoje também tem a penúltima parte do conto que eu estou postando no livro NOSSOS 12 meses, no perfil nralives! Espero vocês por lá também, para conhecerem e acompanharem a história da Lontrinha.

Até mais, então. E OBRIGADA.

PS: não é nesse capítulo que vocês vão descobrir o que tem no gesso, rs.