Capítulo 40 - Sim, por favor
— Alexander – eu chamei, quando já era um novo ano e nossos lábios descolaram.
Mas eu tenho certeza que meu chamado saiu mais como um suspiro.
Eu tentei racionalizar a situação, mas era difícil com Alex me encarando daquela forma.
— Feliz ano novo, Katerine.
— Feliz ano novo – me forcei a repetir.
Olhei em volta, um pouco nervosa com a quantidade de pessoas que poderia ter visto nosso beijo. Alex, percebendo meu pânico, segurou meu braço e me puxou mais para perto.
— Estavam todos entretidos com a virada do ano – ele disse. – Ninguém viu.
— Como assim ninguém viu? – a voz de Caio ressoou, atrás de Alex. – EU vi.
Alex levou a mão às têmporas, como se o simples fato de ouvir a voz de Caio já lhe desse princípio de enxaqueca. Quando ele virou para encará-lo, fiquei com medo. Alex era grande, claro. Tão grande que seu abraço me engolia. Eu também não era um parâmetro tão bom assim, também – minha altura é ridícula. No entanto, Caio é maior que Alex. Mais alto e mais robusto. Se houvesse uma briga, Alex poderia se machucar e a cota de pessoas engessadas nesse 'relacionamento' já tinha atingido sua cota, muito obrigada.
No entanto, quando Alex se virou, ele não deu um soco na cara de Caio – como eu achei que ele faria.
— Vá embora da minha casa – Alex disse.
— Eu fui convidado – Caio retrucou.
— Essa é a minha bloody house e você não foi convidado por mim. Now get the hell out.
Como Caio não se mexeu, Alex se virou por cima do ombro para me perguntar:
— Como se diz isso em português, Katerine? Eu acho que esse otário não entende inglês.
— Eu não entendo é esse seu sotaque ridículo – Caio respondeu, dando um empurrão no ombro de Alex.
Eu morri de vontade de socar a cara de Caio, mas Alex nem se mexeu.
Ele simplesmente olhou para baixo, para onde a mão de Caio tinha tocado, com uma expressão que só pode ser definida como profundo desprezo.
— Dá o fora daqui, Caio – eu entrei na discussão. – Você não é bem-vindo. Nem aqui, nem na minha vida.
— Eu pareci muito bem-vindo na sua vida muitas vezes, Kate – Caio disse, com um daqueles sorrisos que antes faziam meus joelhos fraquejarem e hoje, me davam vontade de chutá-lo.
Eu segurei a mão de Alex, que parecia prestes a jogar Caio pela sacada. Se sua imagem já estava aparentemente ruim, jogar um homem pela janela não faria nada bem para ela. Acho que Sarah o mataria. E provavelmente a mim também.
— Apenas vá de uma vez – eu pedi.
Alex grunhiu alguma coisa, em concordância.
Caio fez uma daquelas expressões, ligeiramente magoadas. Era uma daquelas raras expressões nas quais eu ainda via um pouco do Caio que eu conheci e me apaixonei. Parecia outra realidade, um passado longínquo, mas aquele olhar me fazia lembrar... E me fazia também lembrar da dor.
Ele foi embora, interceptando Gabriella no caminho. Ela começou a reclamar – eu podia perceber mesmo à distância – mas ele a convenceu mesmo assim. Alex apertou minha mão, mas Caio nem sequer se inclinou na direção de Gabriella para dizer qualquer coisa. Ela saiu do salão sem nem olhar para trás.
— Você acha que ele vai contar para ela? – Eu perguntei.
— Você tem alguma dúvida? – Ele respondeu com uma nova pergunta, cheio de ódio.
— Eu ainda acho que ele tem seu lado bom, Alexander – eu respondi.
— Pois acho que está achando errado, Katerine – Alex disse, emburrado.
Eu estiquei minha mão até seu ombro para tentar, de certa forma, nos aproximar novamente. Eu queria falar do beijo mas, mais importante do que isso, eu queria beijá-lo de novo. Infinitas vezes mais.
— Você quer dançar, Katerine? – Ele disse, com um daqueles pequenos sorrisos. – Mas Gabriella e Caio são palavras proibidas.
— Para mim, esse é o melhor tipo de dança – brinquei, virando-me na direção da pista.
Nós dançamos até meus pés começarem a doer.
No início, eu estava um pouco constrangida. Alex me puxou pelo braço, me fazendo girar.
— Ei, vou me estatelar e quebrar a perna de novo – eu reclamei, mas estava rindo.
— Eu te seguro, Katerine – ele sorriu de volta, esticando o braço para me fazer rodar novamente. – Você só se quebrou toda naquele dia porque eu não estava por perto para te segurar.
— Na verdade, eu só me quebrei toda naquele dia porque você estava por perto – eu brinquei.
Ele parou de rodar na hora.
— Eu já pedi desculpas.
— Alexander... – eu tropecei nos meus pés com a parada repentina. – É uma piada.
Ele lançou a cabeça para trás e soltou uma enorme gargalhada.
Em poucos minutos nossa pequena dança já tinha triplicado de tamanho. Ryan era, claramente, o mais animado dos agregados. Ele estava com dois copos de bebida para mão, no centro da roda, dançando e apontando elas para o céu, mas derrubando a bebida em cima de si mesmo no processo. Eu não conseguia parar de rir.
A maior parte dos nossos colegas de dança estava, claramente, bêbada. Era Ano Novo, afinal. Talvez até Alex estivesse bêbado. Não que eu tivesse sentido o mínimo gosto de álcool no beijo... E eu tenho expertise em sentir gosto de álcool, tendo beijado Caio tantas vezes nessa situação.
Mesmo assim... Era provável que ele estivesse bêbado e tivesse se utilizado de algum artificio para encobrir o cheiro. Por que ele teria me beijado se não houvesse um conteúdo alcóolico na equação? E como explicar ele dançando desse jeito? Era claramente uma brincadeira da vida com meu autocontrole.
Alexander dançando não era uma visão que qualquer um aguentava. Isso explicava, provavelmente, porque os lugares em volta dele na nossa roda estavam sendo tomados e disputados pelo sexo feminino. Algumas delas se distraíam no caminho com as peripécias de Ryan, mas Alex dançando era – claro – um imã. E como culpá-las, sinceramente? Era o número 1 da lista dos 25 com menos de 25 mais bonitos do entretenimento requebrando sensualmente, como se seu único objetivo fosse destruir todos os corações femininos do planeta.
Ou, pelo menos, o meu. E de todas aquelas meninas em volta dele também, pelo jeito.
Eu preferia não pensar que toda essa análise era simplesmente pelo fato deu estar morta de ciúmes.
— Não estou vendo muito empenho nessa dança – Alexander disse, em algumas das vezes em que vinha dançando na minha direção e permanecia por perto, até que nós dois acabávamos nos separando de novo.
— Você sabe como é, acabei de tirar o gesso da perna, não quero me esforçar demais...
— Há – ele apontou para mim, dando uma risada. – É uma piada.
— É – eu ri.
— Mas da minha parte não é – ele respondeu. – Cadê esse gingado brasileiro, Katerine? Que vergonha para terra da minha mãe.
— Acho que esse meu gene veio com defeito – eu dei de ombros. – Já em você, pelo jeito, ele veio até em excesso.
— Eu nunca danço – ele pareceu minimamente constrangido.
— Não parece – eu respondi.
Em algum momento da madrugada, as coisas começaram a se complicar. Alex começou a ser chamado por todo canto da sala em "emergências", que basicamente se resumiam a pessoas bêbadas fazendo todo tipo de besteira e vomitando por todo lado. Ele começou a correr de um lado para o outro, ajeitando o caos e colocando os bêbados em táxis. Nos intervalos, ele ainda voltava para dançar. Porém, ele tinha acabado de fazer sua primeira saída quando Mariana apareceu, se jogando em cima de mim. Ainda que seus cabelos e maquiagem estivessem intocados, ela já estava com os sapatos na mão e bem bêbada.
— Kate, eu sinto muuuuuuuuuuuito – eu nem precisava ver seu rosto para saber que ela estava bêbada. – Sou uma péssima amiga.
— É mesmo – Igor apareceu logo atrás dela, bebendo alguma coisa pelo canudinho.
— Para, Igoooooooo – Mariana choramingou, ainda nos meus braços.
— Mari, depois conversamos sobre isso, tudo bem? – Eu pedi, tentando desgarrá-la.
— Não! – Ela disse, se afastando só um pouco. – Eu quero conversar agora.
Eu levei Mariana até um sofá, um pouco mais distante da pista e a sentei lá. Igor tomou o outro lugar do sofá sem que eu o oferecesse. Eu fiquei de pé, olhando para aqueles dois sem saber o que dizer. Mariana estava se debulhando em lágrimas e Igor sugando o final da bebida pelo canudinho, com cara da criança inocente de cinco anos que ele nunca deve ter sido.
Do nada, daquele jeito intempestivo de sempre, Mariana saiu falando. Eu não entendi nenhuma palavra. Tudo saía enrolado, por causa da bebida e por causa do choro, mas parecia muito comovente. Eu fiquei lá, ouvindo tudo e acenando com a cabeça, como se estivesse entendendo. Acho que ela só precisava de um pouco de conforto. Em certo ponto do discurso, reparei que Igor estava dormindo. Contive uma risada e continuei ouvindo.
Não demorou muito mais tempo para a própria Mariana se aninhar no ombro de Igor e começar a babar também.
— Seu tempo de babá acabou – Alexander disse, surgindo de surpresa. Eu sabia que era ele, mesmo sem virar para vê-lo. – Agora vamos.
Ele enfiou o dedo entre a túnica do vestido e o cinto, na parte de trás da minha roupa, e começou a me puxar para onde ele queria. Eu fiz um esforço para virar na sua direção e seu dedo escorregou pela minha cintura, fazendo a circunferência do cinto.
— Cansou das suas fãs? – Eu brinquei.
— Você é minha fã favorita – ele disse, brincando com os rolinhos do meu cabelo novamente.
— Eu não sou sua fã, Alexander – brinquei.
— Vou entender isso como uma piada, Katerine – ele piscou.
A festa foi diminuindo de tamanho enquanto nós dançávamos enlouquecidamente. Dessa vez, com menos gente na pista e com nós dois mais próximos, ele inventou passos de danças ridículos e engraçados. Dançamos juntos, imitando as idiotices um do outro e rindo da nossa própria animação. Era fácil estar com ele. Com ele, apenas. Com essa versão de Alex que só existia por pouco tempo e raramente.
Em algum ponto, Alex começou com uma nova rodada de táxis. Foi quando eu percebi que a festa tinha realmente acabado. Já eram sete da manhã do dia primeiro do novo ano. Havia poucas pessoas sobrando na casa e Alex parecia estar lidando com elas, indo e voltando pelo elevador. Eu estava exausta, louca para tirar as botas e sacudir os dedinhos e dormir por, sei lá, vinte e quatro horas.
Cogitei ir embora. Só cogitei.
Alex apareceu de novo na sala, parecendo lindo e ao mesmo tempo cansado. Ainda havia alguns grupos de pessoas esperando para se despedir pela sala, além dos comuns bêbados caídos pelo sofá. Inclusive Mariana e Igor, que ainda estavam abraçados no sofá como se fosse a cama mais confortável do mundo.
Resolvi ajudar Alex. Afinal, era o mínimo, não? Depois de ter sido um estorvo durante todas essas semanas e ter sido tratada tão bem, eu tinha que tentar retribuir de alguma forma. Enquanto Alex andava pela grande sala se despedindo e acordando os bêbados para encaminhá-los para taxis, eu fazia meu melhor em jogar tudo fora. Alguém tinha dado um jeito nos vômitos, o que era ótimo, mas ainda havia muito lixo espalhado pela sala.
Não sei quanto tempo se passou até eu finalizar o serviço. Meu braço já estava dolorido de tanto se mover no final, mas a sala estava o mais próximo de limpa possível.
Olhei em volta e percebi que ela estava vazia, não só de copos, mas também de pessoas. Mariana e Igor não estavam mais no sofá. Senti uma pontada no coração. O que aconteceu? Eu perdi os dois de vista! Será que eles tinham saído bêbados noite londrina adentro? Neste momento, Alex retornou para sala, batendo as mãos em sua calça. Ainda que ele parecesse maravilhoso, eu só conseguia pensar onde estaria a Mariana.
— Wow... Gostei do que você fez com a casa. — Ele brincou, apoiando-se na porta, cruzando os braços.
Eu dei um pequeno sorriso, mas não aguentei a pontada:
— Você viu a Mariana e o Igor? Eu deixei ela esperando bem ali. — Apontei para o sofá.
Os olhos dele se arregalaram. Mesmo a distância eu podia ver todo aquele azul em seu esplendor. Meu coração doeu de tão lindo que aquilo era. Ele parado naquela porta, os olhos azuis enormes, a luz do sol recém nascido contornando seu rosto e brilhando no seu cabelo. Eu assisti com atenção quando ele levou uma das mãos à cabeça, batendo-a contra a testa e disse:
— Fuck. Sorry, Katerine. Eu coloquei eles num táxi.
Meu coração palpitou de novo, mas dessa vez em um ligeiro desespero. Ele começou a andar na minha direção. Respirei fundo, antes de perguntar:
— Você ouviu o endereço que eles disseram para o taxista? — O desespero voltou e eu talvez tenha berrado a última parte. — Eles estavam bêbados, sabe?
— Easy, Katerine. Se ela me disse o nome certo, foi para o endereço certo. — Falou, levantando um caderninho preto na minha direção.
Eu agarrei o caderno. Era um caderno de endereço de todos os convidados. Corri até o M, apreensiva. Mariana estava lá. Estava lá do lado do endereço do nosso hotel. Igor também estava na letra I. Só percebi que estava com os ombros tensos quando senti eles desabarem. Sem pensar muito, fui até o K.
E lá estava novamente.
Kate.
Não Katerine, como ele sempre me chamava.
Kate.
Não Katerine. Não fã maluca. Não menina chata. Não aquela que se acidentou.
Kate.
Fechei o caderno tentando não sorrir de forma idiota, especialmente quando reparei que ele ainda me encarava. E sorria, aquele sorriso pequeno, de quem sabe o que eu estava fazendo. Estendi o caderno de volta, dando de ombros o mais despretensiosamente possível.
— Ryan é um bom organizador de festas – Alex disse, se esticando para pegar o caderno de volta. – Ainda que sua lista de convidados seja questionável.
Eu tentei abrir a boca para dizer que ia pegar um taxi, mas não consegui. Nossos dedos se encostaram quando ele pegou o caderno e de repente era um daqueles momentos. A luz do dia novo ainda contornava seu rosto e era tão bonito que era quase inacreditável que alguém pudesse parecer tão maravilhoso. Estar com ele era inacreditável. Era impossível fazer qualquer coisa se não olhar para ele e duvidar da minha sorte.
Ele deu um passo para frente e esticou uma mão na minha direção. Eu quase quis me encolher com o susto, mas me contive. Seus dedos puxaram com agilidade os grampos de um dos meus coques laterais e meu cabelo caiu quase que em cascata. Ele estava todo enrolado já que passou horas em formato de Princesa Leia.
Talvez fosse o champanhe (afinal, uma taça no ano novo também dava sorte, não é mesmo?) ou a euforia de um novo ano, mas a sensação de seus dedos mexendo em meu cabelo era surreal. Era como se eu sentisse cada mini movimento de seus dedos, inclusive quando ele soltou também o outro lado. Então, puxou meus cabelos recém soltos para trás de minha orelha. Ele se aproximou ainda mais, curvando a cabeça na minha direção. Senti sua respiração quente no meu recém exposto pescoço e, então, seus lábios. Ele trilhou o caminho de meu pescoço ao meu maxilar e o champanhe devia ter um teor alcóolico muito maior do que eu imaginava, pois virei meu rosto para unir nossos lábios.
Alex gemeu com o susto, mas não se afastou. Muito pelo contrário: me puxou pela cintura para mais perto, conectando todo~EO seu corpo ao meu. Minha pele formigou onde sua mão me tocou e eu me surpreendi ao constatar que isto era de fato possível.
Alex interrompeu o beijo e eu queria poder dizer que foi quando um lampejo de razão nos acometeu. Que eu percebi o que estava fazendo não fazia nenhum sentido e que ele concordou que era uma péssima ideia. Só que a verdade era que eu só conseguia pensar por favor, não pare e o que tinha em seus olhos não era razão. Era desejo.
E isso era uma loucura.
Ele deslizou sua mão do meu pescoço pelo meu braço, até alcançar a minha mão. Então, entrelaçando seus dedos nos meus, começou a me puxar pelo corredor, na direção das enormes escadas de madeira. Na direção dos quartos.
E talvez eu devesse ter pensado várias coisas. Por exemplo, que eu não deveria estar fazendo isso ou simplesmente OMG, EU VOU DORMIR COM ALEX RODDER. Só que, de novo, nada disso passou pela minha cabeça. Tudo que eu pensei foi: por favor, SIM.
E essa é a história sobre como eu perdi minha virgindade.
Com Alex Rodder.
Ou bem, quase isso.
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EITA QUE ESSE FINAL É TIRO DE CANHÃO. ABAIXA TODO MUNDO.
Eu passei 28 minutos da terça-feira, MAS ESTÁ AÍ O CAPÍTULO - NÃO QUERO NINGUÉM TRISTE.
Opiniões? Não criem expectativas porque vocês sabem como eu sou e como nem tudo é o que parece ser... Questionem-se até terça sobre o assunto :P
Ei, tem alguém de Belo Horizonte por aí? QUERO AVISAR QUE VOU ESTAR NA BIENAL DE BH! Nos dia 16 e 17 de Abril!!!!! No estande da Editora Ler Editorial. E sim, com Mocassins e All Stars para venda e um monte de marcadores de Acampamento <3
Todo mundo sobreviveu ao capítulo? Espero que sim.
Obrigadinhaaaaaaaa, vocês são tudoooo
Beijoooooooo
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