Capítulo 34 - Visita Surpresa
Sabe quando você demora uma eternidade para enquadrar a foto da maneira perfeita? Aquela foto que consegue fielmente fazer jus aquilo que você está vendo e não parecer uma versão distorcida da sua realidade? Então. Eu estava com uma desse tipo, próxima ao enquadramento perfeito, quando o celular vibrou em minhas mãos.
OI.
Por um segundo, eu cogitei não responder, não querendo perder minha foto. Aquele tipo de enquadramento perfeito era quase impossível e mais difícil ainda quando você tem uma mão imobilizada. Foi Alex mesmo que decidiu se eu responderia ou não, fazendo o celular vibrar novamente:
ENTÃO, JÁ VAZOU ESSE MEU NÚMERO PARA QUANTOS VEÍCULOS MIDIÁTICOS?
Eu dei uma gargalhada e virei o celular para responder, perdendo todo meu minucioso trabalho de enquadramento em segundos. Ah, tudo bem, a paisagem sempre estaria lá.
HMM, DEIXE-ME PENSAR... UNS 52.
Alex respondeu na mesma hora:
BLOODY HELL, VOCÊ FOI MAIS RÁPIDA DO QUE O RESTO DAS MINHAS ADMIRADORAS QUE TIVERAM ACESSO A ESSE NÚMERO.
Admiradoras?
E que história é essa? Por acaso ele fica mandando esse número para todo mundo?! Digitei a resposta velozmente. Ou o mais velozmente que conseguia, com meu braço imobilizado daquela forma.
ACHEI QUE ESTAVA FAZENDO ALGO INOVADOR, MAS APARENTEMENTE SÓ COPIEI UM BANDO DE TIETES.
Estava prestes a desligar a tela do celular e jogá-lo longe quando ele vibrou novamente:
ISSO É CIÚME, KATERINE? ESTOU SENTINDO ELE DAQUI DE LONGE.
Ciúmes?!
Ora, ME POUPE!
Em nossos momentos distantes tive mais tempo para racionalizar a situação e meus sentimentos. O que acontecera na casa de vidro simplesmente não era para ter acontecido. Não havia, também, a menor necessidade de que eu me lembrasse disso ou especulasse sobre o acontecimento...
Não era para ter acontecido. Aconteceu. Agora, vida que segue. Não é como se fosse acontecer de novo, não é mesmo? Claramente foi um erro...
E, além de tudo isso, em pouco menos de um mês eu estaria voltando para casa.
ACHO MELHOR VOCÊ APURAR SEU OLFATO, ALEXANDER :p
Mas isso não me impediria de flertar, só um pouquinho. Era mais forte do que eu.
E DESDE QUANDO CIÚMES TEM CHEIRO, KATERINE?
Eu ri, me apressando para responder.
E DESDE QUANDO NÃO TEM?
Era fácil brincar dessa forma com Alex e era esquisita a forma como eu me sentia confortável. Confortável até lembrar que ele não era simplesmente Alexander. Era Alex Rodder. ALEX RODDER. Talvez eu devesse tatuar isso na minha mão.
ESCUTA, ESTÁ TUDO ATRASADO POR AQUI. ACHO QUE NÃO VOU CONSEGUIR TE VER HOJE. VOCÊ VAI SOBREVIVER?
Há! Ele pensa que é quem, esse menino??? O número 1 da lista de mais bonitos de todas as revistas do mundo?
Ah, espera. Pior que ele é.
OH, NÃO SEI... PASSAREI O DIA TODO DEVASTADA, JOGADA PELOS CANTOS DA CASA E CHORAMINGANDO PARA MARIANA. MAS, NO FIM, VOU SOBREVIVER.
Eu quase conseguia ouvir a risada dele, enquanto lia essa mensagem.
VOCÊ QUE DEVERIA SER A ATRIZ AQUI, KATERINE... OLHA TODO ESSE DRAMA.
Eu sentei no sofá, sorridente.
CLARAMENTE A ACADEMIA DO CINEMA ESTÁ ME PERDENDO. MAS, SINCERAMENTE, ALEX, VOCÊ NÃO PRECISA SE JUSTIFICAR, VOCÊ SABE, NÉ? TUDO BEM SE VOCÊ NÃO VIER.
Ele claramente estava muito entediado, pois as respostas vinham imediatamente:
ACHO QUE EU DEVERIA ME SENTIR OFENDIDO POR ESSA RESPOSTA, JÁ QUE VOCÊ CLARAMENTE NÃO QUER MINHA COMPANHIA...
Eu ri, levantando a perna quebrada para repousá-la esticada no sofá.
QUEM É O DRAMÁTICO AGORA?
MAS EU JÁ SOU ATOR. PRECISO IR AGORA, MINHA AGENTE ESTÁ ME CHAMANDO. ATÉ MAIS, KATERINE.
ATÉ, ALEXANDER.
A conversa terminou por aí. Ou melhor, a primeira parte dela. Alex continuou me mandando mensagens pelo resto do dia, nos intervalos que ele conseguia entre um compromisso e outro. Mariana e Igor passaram o dia fora, passeando pela cidade com mais calma, agora que tínhamos vários dias para matar. Eu mal via a hora de tirar meu gesso da perna. Assim, também poderia andar com eles. Eu dizia que não tinha problema e que eles podiam (e deviam) ir, mas ficava meio sentida por não poder participar.
De todo modo, não posso reclamar. Tive um dia tranquilo, largada no sofá, pedindo serviço de quarto e assistindo Netflix até quase acabar a minha lista de selecionados. Eu estava digitando uma mensagem para Alex, sobre um filme que ele tinha me recomendado assistir, quando Mariana e Igor chegaram de volta. Eu provavelmente estava sorrindo, porque a primeira coisa que Mariana disse foi:
— Que sorrisinho bobo é esse aí?
Eu pulei no sofá, com o susto, e contive o ímpeto de esconder meu celular atrás de mim.
— Ah, nada não...
— Sei – Igor respondeu, fechando a porta atrás de si. – Trouxemos o jantar.
— Kate, você não acha que precisamos falar sobre Alex? – Mariana perguntou, apoiando algumas sacolas na mesa.
— Falar o que sobre Alex? – Eu engasguei.
— Ele vem agindo um pouco estranho, você não acha? – Ela perguntou, apoiando a perna no encosto do sofá.
— Como eu vou saber, Mari? Só conheço o menino há, sei lá, cinco dias. Não tenho parâmetro anterior para comparação – respondi.
— Mas vocês dois tem agido como melhores amigos... – Igor pontuou, jogando a discórdia enquanto abria os sacos que Mari tinha colocado na mesa.
— Eu só tenho agido como mim mesma. E, para ser sincera, acho que ele também. Já te ocorreu, Mariana, que a versão do Alex pela qual você foi platonicamente apaixonada por todos esses anos pode não ser a verdadeira? – Eu pontuei.
— E você, que só conhece Alex faz 5 dias, sabe qual é a verdadeira? – Mariana perguntou, meio grossa.
— Hmm, essa fritadinha de peixe está com um cheiro ma-ra-vi-lho-so. Qual é o nome mesmo, Mari? – Igor intercedeu, depois da lenha colocada.
— Fish and chips. É um prato típico de Londres – ela mal abriu a boca para responder.
— Parece ótimo, Igor – eu disse. – Será que você pode me servir um pedaço?
— Claro, Kate.
— Se vocês me dão licença, eu perdi a fome – Mariana disse e partiu em retirada até seu quarto, dentro do nosso quarto.
Mariana não falou comigo até onze da manhã do dia seguinte. Eu e Igor comemos em silêncio, compartilhando olhares toda vez que um barulho estranho vinha do quarto de Mariana – que estava com a porta fechada. Igor me ajudou a ir para minha cama – mesmo quando eu disse que não precisava - e depois foi embora, dormir em seu hotel. Fiz toda minha locomoção da manhã por conta própria e já estava sentada no sofá quando Mariana saiu do quarto. Ela nem sequer me deu bom dia.
Eu não sei que bicho tinha mordido aquela criatura.
Se era ciúmes de Alex Rodder, eu precisava rir.
Porque aquilo não fazia o menor sentido. Vamos enumerar os motivos? Sim. a) Ela nunca teve mesmo nenhum tipo de relacionamento com Alex, além do platônico; b) Ela sempre me encheu o saco para que eu também fosse apaixonada platonicamente por ele; c) Não tem NADA acontecendo entre eu e Alex para que ela tenha ciúme. Um beijo, um erro e vida que segue; d) Mesmo que tivesse algo acontecendo entre eu e Alex, ela não tinha a menor MORAL para reclamar. Afinal, até onde eu estou ciente, ela namora meu EX-NAMORADO.
E sim, já perdoei.
Mas não esqueci.
Enfim, foi mais ou menos por volta das onze horas que alguém bateu na porta e ela saiu correndo para abrir, dizendo:
— Tomara que seja o Alex Rodder!
Eu não sei se isso qualifica, realmente, como falar comigo, mas eu gosto de pensar que sim.
Todavia, quem estava do lado de fora da porta não era Alex Rodder, para tristeza de Mariana.
A princípio, eu até pensei que fosse. A primeira coisa que eu vi quando a porta abriu foi um enorme ramalhete de flores. Na minha cabeça, não havia a menor possibilidade de ser outra pessoa...
Mas, na vida real, quem estava segurando um buquê e entrando no meu quarto em LONDRES, a muitos quilômetros de distância do Brasil era...
Caio.
Fazia tempo que eu não dedicava mais de dois segundos pensando em Caio mas, naquele momento, meu coração parou pelos mesmos dois segundos. Eu abri a boca, em choque. Um milhão de perguntas passaram pela minha cabeça nesses mesmos dois segundos: O que ele está fazendo aqui? Por que ele está com flores? Essas flores são para mim? Será que ele ficou sabendo do acidente e cruzou o oceano para me ver? Será que ele reconsiderou nosso status e agora está preparado para me namorar? Será que ele descobriu que não consegue viver sem mim, verdadeiramente? Será que ele veio implorar meu perdão?
Foram dois segundos.
Dois segundos, até ele abrir a boca e dizer:
— E aí, qual é a boa?
Ele não disse: Kate, estou desesperadamente apaixonado por você e sinto muito por tudo que fiz.
Ele não disse: Kate, fiquei preocupado demais com seu estado de saúde e resolvi cruzar um oceano para ter certeza que você está bem.
Ele nem sequer disse: Kate, como você está? Está se sentindo melhor?
Não.
Ele disse: E aí, qual é a boa?
Como se isso não fosse o bastante, ele continuou:
— Ouvi dizer que Londres tem várias boates incríveis, vocês já foram em alguma?
— Caio, Kate está engessada, você sabia disso? – Mariana perguntou, horrorizada.
Achei que era um bom sinal para nosso relacionamento.
— Ah é, foi mal aí – ele disse, andando na minha direção. – Melhoras.
Ao dizer melhoras, ele JOGOU as flores em cima de mim. Sei que ele provavelmente teve a melhor das intenções, mas a verdade é que eu fui soterrada pelo buquê.
— O que você está fazendo aqui? – Eu consegui perguntar. Provavelmente soei rude. Não tão rude quanto eu gostaria.
— Seus pais me mandaram. Nossos pais também – ele apontou para Mari. – Falaram que você tinha sofrido um acidente e que teria que ficar aqui até mês que vem. Então, vim cuidar de vocês.
— Cuidar da gente? – Mariana perguntou, ainda mais horrorizada. – Cadê o telefone que eu vou ligar para mamãe AGORA.
— Boa, liga mesmo. Eu esqueci de avisar que cheguei. Avisa, por favor?
Eu não conseguia tirar os olhos dele. Ele estava em LONDRES. No meio do meu quarto de hotel. Quem deixou ele subir?! Ele não deveria estar aqui. Era muito confuso. Meus sentimentos pareciam despertar em ondas e se atropelar pelo caminho. Ele não tinha nem sequer o DIREITO de reaparecer assim, na minha vida.
O telefone do nosso quarto tocou, interrompendo meus pensamentos. Mariana, enfurecida, se esticou para atender. Ela trocou algumas palavras em inglês com quem estava do outro lado, desligou e virou para Caio, esticando o dedo:
— Você simplesmente saiu entrando? Nem parou na portaria para se registrar? Você está achando que está aonde, exatamente? Isso aqui é um lugar sério, Caio. Vai para a me... DROGA da recepção fazer um registro e pegar um passe de visitante AGORA – ela gritou. – Ou melhor, vai embora de volta pro Brasil, porque ninguém te quer aqui.
— Ninguém me quer aqui? – ele repetiu, olhando furtivamente na minha direção.
Eu estava agarrada ao meu buquê, atônita, mas fiz que não com a cabeça. Ninguém te quer aqui.
Cinco minutos depois que Caio saiu, Igor entrou. Ele tinha um passe de visitante, obviamente. Ele entrou no quarto sorrindo e a primeira coisa que disse foi:
— Querida, e essas flores maravilhosas do Alex, hein?
— Não são do Alex – eu respondi.
— Ué, são sim – ele continuou.
— Não – Mariana disse entre dentes. – São do Caio.
— Do CAIO? O que esse traste está fazendo aqui? Mas espera, eu juro por Deus que vi Alex na rua, carregando essas flores. Eu tentei correr para alcançá-lo, mas ele anda muito rápido.
— Tem certeza que eram as mesmas? – Eu perguntei, meio tensa.
— Claro que sim. Você acha que eu confundiria algo que Alex TOCOU? – Ele perguntou, revirando os olhos.
Eu me estiquei para pegar meu celular, sentindo meu sangue gelar.
Alex tinha mandando mensagens:
EU NÃO SEI SE EU DEVERIA ESTAR ADMITINDO ISSO, MAS STALKEEI O IRMÃO DA MARIANA NO FACEBOOK DEPOIS DA NOSSA CONVERSA. ENFIM, NÃO ME ORGULHO DISSO.
A QUESTÃO É QUE O VI, INDO PARA AÍ.
ESPERO QUE VOCÊS TENHAM SE RECONCILIADO, ENTÃO.
Eu senti uma ligeira vontade de chorar, não sei bem porquê. Caio tinha sido assunto de pouquíssimas conversas minhas com Alex mas, de alguma maneira, ele sabia que eu havia gostado de Caio muito mais do que deveria. E provavelmente achava que tudo que eu mais queria na vida, seria me reconciliar com ele...
NÃO TEM NADA PARA RECONCILIAR, ALEXANDER. ESSA HISTÓRIA ACABOU. E ACABOU TARDE.
MAS OBRIGADA PELAS FLORES.
Alex não respondeu. Eu fiquei controlando minha vontade de chorar e ouvindo Mariana gritar com Igor sobre o aparecimento de Caio. Ela já tinha ligado para mãe, para o pai e provavelmente o próximo na lista de ligações era o Papa. Ela parecia disposta a chutar Caio para fora do país, nem que fosse a pontapés.
Passaram-se mais ou menos 10 minutos até alguém bater na porta de novo. Mariana já abriu aos berros, certa de que era Caio.
Não era.
Era Alex.
Ele ficou parado lá, piscando sem entender nada e carregando um pacote de chocolate. Um não, na verdade. Uns dez.
— Er, hi – ele disse. – Tudo bem com vocês?
Nem Mariana, nem Igor disseram nada. Alex se esgueirou para dentro e veio andando na minha direção. Puxou minha perna um pouco para o lado e se sentou no sofá, meio irrequieto.
— Achei que você poderia fazer bom uso de chocolates – ele pontuou, explicando seus pacotes. – Mas eu não sabia exatamente qual tipo você gostava mais, então trouxe todos os que achei na loja...
Eu comecei a rir, sentindo uma estranha necessidade de abraçá-lo. Nem tentei executar a tarefa, já que ele estava longe demais para o alcance de alguém imobilizado e pouco flexível.
— E sabe do que mais? – Ele continuou, aprumando-se melhor no sofá. – Acho que devíamos assistir um bom filme. Que tal Diário da Princesa? Assim posso ver quem é o vocalista do Rooney.
Dessa exata forma, em menos de 3 minutos, meu dia foi de um completo inferno para extrema alegria.
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OLÁ!!!
Gente, eu tinha escrito a primeira parte desse capítulo TODO no trabalho, em um intervalo que tive e ADIVINHA???? Esqueci de copiar o arquivo. Ele ficou no trabalho x.x. Tive que fazer um senhor esforço para me lembrar do que acontecia, mas acho que ficou bom.
Tenho certeza absoluta que diversos forninhos despencaram na cabeça de diversas pessoas e até na minha. Eu sempre soube que esse menino ia aparecer, mas escrever seu aparecimento foi uma experiência e tanto. Tô quicando de ódio do meu próprio personagem. Mas e as shippers de Caio e Kate, tão aí? hahaha. Devem estar bem felizinhas...
Mas Alex, hein <3 Que homem.
Amanhã é feriado no Rio de Janeiro e eu vou tentar organizar melhor tudo da minha vida. Eu sei que todo capítulo eu falo isso, mas espero que vocês saibam que eu realmente tento. Mas sou desse jeitinho cabeça avoada que escreve três páginas e esquece de salvar para trazer para casa, não é mesmo? :)
Atenção: meu celular de escritora voltou a ativa e essa semana também tenho a missão de responder todos os whatsapps perdidos! Ainda estou atacando as inboxes e agora atacarei também a wall. #letsgo. A melhor forma de falar comigo, no momento, é via e-mail, tá bom? Então tá bom.
TÉ MAIS
Quero gritos
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