Capítulo 23 - Tapa na cara
Meu pai não apareceu.
Eu esperei até o último segundo por uma aparição e nada. O lugar ao lado da minha mãe permaneceu vazio durante toda a cerimônia de colação. Acho que minha mãe também ficou esperando por uma aparição especial – caso contrário, por que guardaria o lugar até o final?
Mesmo com essa frustração, continuei sorrindo. Afinal, não queria sair horrível nas fotos. Minha mãe já tinha comprado o pacote. Mantive a pose mesmo quando, do palco, avistei Caio na plateia. Meu coração parou por um segundo, no qual eu cogitei que ele estava ali por mim. Logo depois a realidade me acometeu e eu lembrei que era óbvio que ele estaria na plateia, já que sua irmã também estava se formando. Espero que ninguém tenha tirado foto desse momento de desilusão.
A cerimônia correu em relativa paz. Todos pareciam orgulhosos e, o mais importante, ninguém caiu. Aposto que a equipe de filmagem ficou desapontada. As quedas devem ser o ponto alto do trabalho deles.
Quando descemos do palco, devidamente colados, depois da experiência vergonhosa de assistirmos o vídeo de formatura (que continua algumas fotos minhas nas quais eu estava jogada no sofá da coordenação), a primeira pessoa que correu para me abraçar não foi minha mãe...
Foi Regina.
— Parabéns, Kate! Estou tão orgulhosa – ela disse, me apertando entre seus braços. – E sem nenhuma prova final!
— Obrigada, Regina!
— Desejo muito sucesso para você, Katerine. Você merece muito ser feliz.
É muito ridículo dizer que meus olhos se encheram d'água? Talvez, mas eles realmente se encheram. Eu culpo a emoção da formatura, mas existe uma pequena pulga atrás da orelha que levanta a suspeita que parte de mim duvida da minha capacidade de ser feliz. Será que minhas ações poderiam estar, de alguma forma, boicotando minha felicidade?
— Espero que você tenha sucesso nos SATs, querida – ela disse. – Adoraria saber que foi morar nos Estados Unidos!
— Hehe, tomara, Regina – eu respondi, mais na brincadeira. Mal sabia ela que nem meus pais sabiam que eu tinha feito essa prova. E que só existia uma possibilidade deu realmente fazer faculdade fora: BOLSA.
E essa possibilidade era absurdamente remota.
— Ai, minha Lady Gaga! – Só pelo grito eu já sabia que Igor se aproximava.
Regina aproveitou o momento para sair de fininho e Igor apareceu na minha frente, pulando feito um idiota.
— A viagem é AMANHÃ, você sabia disso? Amanhã!!!
— Eu sei, Igor. O embarque é o que, nove horas?
— Alô, menina, como você não sabe a hora do embarque? Eu programei 16 despertadores só para ter certeza que não vamos perdê-lo de forma alguma – ele me repreendeu.
— Ótimo, fico feliz. Não programei nenhum e vou depender dos seus – respondi.
— Ah, olha que cena... – Igor apontou para algo atrás de mim. – Não sei se suspiro ou vomito.
Olhei por cima do ombro para ver qual era a cena em questão. Arrependi-me. Era Roberto, entregando um buquê de rosas vermelhas para Mariana, que estava rindo com a mão na frente da boca, metade constrangida e metade encantada.
— A melhor parte da cena é o irmão dela – Igor comentou.
Só então reparei que Caio estava há alguns passos de distância, encarando a cena com uma expressão de ódio similar àquela do dia da revelação, no corredor de sua casa. Por sorte não existiam paredes por perto para serem socadas. Eu achei que ele estava melhor com a situação. Já fazia um tempo que os dois estavam juntos e até eu estava bem com isso, pelo amor de Lady Gaga.
Aparentemente Caio não. Aparentemente Caio ainda queria decepar a cabeça de Roberto fora. Ou outras partes do corpo dele.
— Melhor irmos até lá, você não acha? – Igor disse, me empurrando pelos ombros.
Tropecei nos meus pés com o susto e o empurrão, mas endireitei meu corpo e segui em frente na direção da cena. Não sei porquê. Eu não tenho NADA A VER com os acessos de raiva do Caio. Aliás, não poderia estar menos interessad...
— Oi, Kate – o próprio Caio interrompeu meu pensamento.
— Bom dia – respondi. Não ia ser mal-educada.
— Parabéns pela formatura.
Acenei com a cabeça e dei um pequeno sorriso em agradecimento. Bom dia já era mais do que suficiente como prova de educação. Um silêncio constrangedor se instaurou. Mariana e Roberto estavam tão entretidos em suas juras de amor eterno que ainda não haviam se dado conta de nossas presenças. Caio dividia suas atenções entre o casal e eu. Igor parecia estar prestes a puxar um saco de pipoca da manga e comer animadamente, ansiando por um barraco.
Como se a situação não estivesse ruim o suficiente, escutei vozes se aproximando. Eram três. Uma de homem e duas de mulher. Eles estavam conversando animadamente e se aproximavam cada vez mais. Até que:
— Uma pena que não tenha dado certo entre eles dois, mas ele parece feliz com Mariana – uma voz de mulher comentou.
— Ele está feliz mesmo, eu acho – a outra concordou. – Até conseguiu se formar sem ficar em prova final, acredita? Acho que desde a época que ele namorava Katerine foi a primeira vez...
Virei para encarar a realidade: era realmente minha mãe. Conversando com os pais de... Roberto.
— Aí está ela! – a mãe dele com um sorriso. – Estávamos falando mesmo de você, querida.
— Oooi – a minha voz falhou na garganta. Tinha como esse dia ficar mais esquisito?
— Parabéns pela formatura, Katerine. Não fique triste porque não tem um namorado, você vai arrumar um muito melhor do que o meu filho, ha ha ha – o pai dele tentou fazer piada e provou que sim, era possível que o dia ficasse ainda mais esquisito.
— Katerine é uma mulher independente que não precisa de homens em sua vida – Caio interrompeu a conversa.
— EXATAMENTE – eu respondi, antes de processar se era uma boa ideia. – Especialmente se esses homens não agregam nada e só sabem fazer cobranças indevidas e irreais.
Até Mariana e Roberto saíram do transe para encarar a situação e nós todos partilhamos mais um silêncio constrangedor. Igor parecia estar prestes a gargalhar.
— Mãe, já podemos ir? Estou cansada, preciso terminar minhas malas e mais tarde ainda teremos a festa – eu disse, irritada.
— Claro filha, podemos sim – ela veio em meu resgate, se despediu de todos e me empurrou pelos ombros até nosso carro.
Eu entrei muda e saí calada do carro. Quando cruzei a porta da nossa casa, vi que no meio da sala minha mãe tinha pendurado um banner escrito "Parabéns, Katerine! Te amamos!". Eu comecei a rir, sentindo uma onda de alegria e gratidão. Minha mãe correu até o quarto antes que eu pudesse reparar e voltou com o laptop – com meu pai na tela. Nós três sentamos juntos – ou o mais juntos que é possível quando meu pai está no oceano – e tivemos um belo almoço em família.
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Tem uma coisa que eu sempre achei incrível na lua: o fato dela ser a mesma em todos os lugares. É claro que os lugares a modificam um pouco, dependendo do ângulo, da luminosidade e das construções - naturais ou não - ao seu redor. No entanto, é a mesma lua. O mesmo emaranhado de crateras, o mesmo queijo furadinho, o mesmo dragão e mesmo São Jorge.
Sempre gostei um pouco das coisas que são sempre as mesmas. Acho que é reconfortante saber que sempre haverá algo igual, independente de quem você seja ou de onde você esteja.
Quando contei isso para Mariana, ela disse que era realmente poético. E que, se fosse para pensar assim, ela preferia pensar que aquele era o mesmo corpo celeste que Alex também olha antes de dormir. Assim, mesmo sem que ele tenha consciência, os dois estávamos compartilhando um pouco da vida.
Tenho certeza que não era nisso que ela estava pensando quando passamos pela noite iluminada pela lua antes de entrar no salão de festas para nossa festa de formatura. Ela provavelmente estava deslumbrada com as luzes da decoração, que me deixavam desnorteada. Era necessário ser muito atenta para perceber a luz da lua no meio daquela confusão, mas óbvio que eu percebi.
Mariana estava de braços dados com Roberto, apontando para todo lado da decoração. Nós estávamos passando por um grande tapete vermelho, da entrada do salão até o salão propriamente dito. Ele era cercado por altos castiçais, com diversas velas. Comecei a ficar em dúvida sobre qual era o tema novamente. Socorro, era Las Vegas ou Europa Medieval?
Foi só quando chegamos ao salão que ficou claro que o tema era Las Vegas. Tinham cartas penduras para todo lado, as mesas dos convidados imitavam mesas de cassinos e, para completar a situação, existiam várias mulheres seminuas dançando em cima de uns pequenos palcos que Mariana chamou de queijos.
— Que absurdo – eu disse.
Eu ia completar que era um absurdo a comissão ter pagado para ter mulheres dançando em cima de SUPOSTOS QUEIJOS, mas Igor me interrompeu.
— Eu sei! – Igor concordou. – Onde estão os homens dançando também?
Mariana achou a colocação de Igor muito melhor que a minha (que nem tive a oportunidade de fazer) e os dois entraram numa discussão sobre como seria se Alex Rodder estivesse em cima de um queijo (não me conformo com esse nome, sério. Aquilo nem parece um queijo de verdade), dançando sensualmente.
— Nossa, eu voaria nele com certeza! – Igor comentou.
— Não se eu pudesse impedir! – Mariana respondeu.
— Alô, estou bem aqui – Roberto disse.
— Se eu pudesse impedir e... – Mariana parou, ponderando o que poderia falar para sanar a besteira que tinha falado. – Impedir e mandar Kate, claro. Não impediria Igor para voar no lugar dele, imagina Roberto... Que ideia.
— Sei.
— E onde é que tá o álcool dessa festa? – Igor perguntou.
— Na área VIP de formandos tem vários tipos liberados o dia todo – Roberto explicou.
— Mas eu não sou formando – Igor comentou.
— E eu não quero beber – eu disse. – Tem alguma outra coisa especial lá dentro?
— Acho que não – Roberto respondeu. – Eles cogitaram colocar sorvete de graça, mas a maior parte das pessoas votou para colocar mais álcool.
— Que ótimo – eu disse. – Onde eu estava que não respondi nenhuma dessas questões? Só paguei a festa.
— Provavelmente na coordenação com ele – Igor pontuou, apontando para Roberto com o dedão.
— Provavelmente – Roberto concordou.
— Mas Igor, se você quiser ficar com a minha pulseira, então, tudo bem – eu disse, fazendo menção de tirá-la do pulso.
— Aceito, mas espere passar o brinde dos formandos – Igor respondeu. – Caso contrário não vão te reconhecer como formanda e você não vai participar.
— Ok, então.
— Vamos aproveitar a música, vamos? – Mariana disse, se sacudindo parada. – Daqui a pouco teremos as atrações especiais e as músicas normais vão parar de tocar.
— Como assim atrações especiais? – questionei.
— Você está por fora mesmo, hein Kate – Roberto respondeu. – A comissão contratou Dennis DJ e a Bateria da Unidos da Tijuca para tocar na festa.
— Nessa ordem – Mariana acrescentou.
— Eles vão começar a tocar logo depois do brinde dos formandos – Roberto comentou. – Deve ser perto de uma da manhã...
— Uma da manhã? Até que horas vai a festa mesmo?
— Cinco – Mariana respondeu.
— CINCO da manhã? Eu paguei por isso?
— Sim – Roberto respondeu, prendendo o riso. – A festa começou dez da noite e terminará as cinco.
— Vamos dançar ou não vamos? – Igor perguntou, pegando um copo de um garçom que passava. – Daqui a pouco eu sei que vai tocar Gaga e eu quero estar devidamente preparado para essa situação.
Realmente, logo depois o DJ tocou Gaga, e muitas outras coisas. Beyoncé, Rihanna, Nick Minaj, Katy Perry, Sia, Daft Punk, Tove Lo, Avicii, Taylor Swift, Dami Lovato, Calvin Harris, Justin Bieber, One Direction, Jesse J, M.I.A., Ariana Grande, Iggy Azalea, Britney 5 Seconds of Summer e várias outras coisas que, mesmo trabalhando numa loja de música, eu não reconheci. Sem contar na infinidade de remixes e mash-ups. Nós dançamos bastante. Eu e Igor basicamente, na verdade. Mariana e Roberto alternavam danças e sessões de agarramento. Eu e Igor empurrávamos os dois para longe com danças da bundinha quando eles começavam com essa história. O DJ também nos deu uma bela cota de músicas nacionais e mais antigas, mas essas faixas não duraram muito tempo. Logo depois ele foi interrompido pelo anúncio do convite para o brinde dos formandos.
Todo mundo se reuniu em baixo do palco e os demais convidados abriram um semicírculo em volta de nós. Amigos, familiares e sabe lá Deus mais quem. Eu enxerguei os pais de Mariana acenando animadamente da multidão. Meus pais não estavam presentes, mas eu já estava ciente. Meu pai ainda estava embarcado e minha mãe optou por não vir sozinha. Fiquei inclusive grata. Me sentiria vigiada e não dançaria tudo que gostaria. Eu estava levantando a taça com champanhe e sorrindo para foto quando vi Caio na multidão.
Quase deixei cair todo líquido no chão, mas me estabilizei no último segundo. Talvez não tenha ficado muito bem na foto. Será que ainda tem como cancelar esse pacote de fotos? Ou eu poderia mandar a conta pro Caio, né não?
Quando a sessão de fotos acabou, bem como o líquido borbulhante de todas as taças, Dennis DJ subiu no palco gritando alguma coisa ligeiramente obscena. Igor correu na minha direção, descolou minha pulseira e saiu correndo para a área VIP dos formandos. Na confusão do final da foto, perdi Mariana e Roberto de vista. Não que eles fizessem muita falta. Ora, e daí? Eu fui dançar mesmo assim.
Funk não era nem de longe meu estilo de música favorito, mas isso não significava que eu não ia dançá-lo. Inclusive, convenhamos, é um som altamente dançável. Não demorou muito para alguns outros colegas de escola me convidarem para a rodinha deles (devem ter ficado com pena da pobre menina dançando sozinha). Nós dançamos, rimos e empurramos um ao outro para o meio da roda para uma dança solo. Já tinha dançado várias músicas quando percebi que Caio estava na minha diagonal, atrás da roda. Fingi que não vi. Continuei dançando. Para ser sincera, dancei ainda mais empolgada. Colando as costas com outros meninos e seguindo o ritmo.
Mas quando o Dj mandar / Menina você desce, desce, oh desce / Se concentra na batida/ O resto tu esquece, esquece, esquece.
Caio tentou me puxar pelo braço algumas vezes, mas eu fui pulando lugares na roda para fugir dele enquanto pude. Evitei ao máximo olhar na cara dele. Porém, quando a música acabou e o Dennis começou a fazer a introdução para próxima, fui fraca e olhei. Meu coração se apertou de uma maneira que achei que seria melhor se eu fosse logo ver o que raios ele queria comigo.
— Oi Caio, precisa de alguma coisa? – eu disse, me debruçando para conseguir fazer com que ele me ouvisse.
— Sim – ele respondeu, passando a mão pela minha cintura.
— Do que, exatamente? – perguntei, desviando de seus braços.
— De você.
Eu ri. O que mais eu poderia fazer? Foi a única reação que consegui processar naquele curto espaço e tempo. Saí de perto dele novamente, sem dar uma resposta. Sem conseguir pensar numa resposta. A sensação era que a festa estava começando a me sufocar. Muito barulho, muita gente e muita confusão. Mesmo assim, voltei para minha roda e continuei a dançar. A música falava alguma coisa sobre como era bom ser uma mulher solteira e viver "soltinha que nem arroz". Eu tentei me concentrar na dança e em como essa letra era verdade. Tentei mesmo. Qualquer coisa era melhor que me concentrar no olhar de Caio que queimava no meu pescoço.
Não consegui ficar muito tempo concentrada na música. Novamente, no intervalo entre uma e a outra, Caio me puxou para perto. Eu fui, tropeçando nos meus saltos, sem querer ir.
— Kate, por favor – ele disse, passando suas mãos pelos meus braços. – Por favor.
— Por favor o quê, Caio?
— Eu não sei, me desculpe. Não sei o que fazer. Você sabe que eu gosto de você, que quero ficar com você...
— Mas...? – eu aticei.
Ele não respondeu nada. Ficou me encarando com um olhar vago e perdido. Virei de costas para voltar para minha roda. Ele me puxou novamente. Eu já fui com a mão estendida para dar na cara dele. Não aguentava mais aquilo. Estava me desgastando emocionalmente muito mais do que eu estava preparada para aguentar. Mas não consegui concretizar o tapa. Ele me puxou para perto e encostou a cabeça no meu pescoço. Arquejei quando senti seus lábios depositarem um beijo no meu osso da clavícula. Tentei me soltar, mas ele apertou os braços em volta da minha cintura. Nessa altura, Dennis já estava tocando outra música. Caio começou a dançar, ainda escondido no meu pescoço, me arrastando para dançar com ele.
Era incrivelmente difícil reagir negativamente com ele tão perto. Era injusto, na verdade. Eu gostava do garoto, ele sabia disso e se aproveitava da minha fraqueza. Racionalmente, eu estava possessa. Emocionalmente, eu estava destruída. Meu corpo, por outro lado, estava bastante feliz. Acho que isso explicava porque eu aceitei minha situação, segurando o pescoço dele e me pendurando verdadeiramente em seus braços.
— Gosto de você, Kate. Gosto mesmo, gosto muito...
A voz dele parecia mais alta do que a música, o que era impossível. Era a impressão que dava. Ressoava na minha mente, em um eco eterno. Gosto muito, gosto muito, gosto muito... Lá no fundo, uma outra voz tentava surgir, dizendo "mas...". Eu ignorei essa segunda voz. Poderia ser verdade, não? Dessa vez poderia ser verdade. Fazia muito tempo que não conversávamos, vai ver ele tinha mudado de ideia... Era possível.
A música não tinha nem terminado quando eu parei de virar o rosto e aceitei seu beijo. Meus lábios reconheceram os dele no ato e eu fui invadida por uma onda saudosista que fez mal aos meus joelhos. Sua mão escorregou pelas minhas costas e se enterrou nos meus cabelos, me puxando para mais perto ainda. Uma das minhas mãos escorregou um pouco para dentro da sua camisa, abaixo da sua nuca. A outra agarrou o colarinho de sua blusa social.
Era muita maldade ele usar aquela roupa. Como era possível que eu resistisse?
Não sei quanto tempo ficamos juntos naquela pista de dança, dançando colados e trocando muitos beijos, porém poucas palavras.
— Vamos casar, Kate – ele disse, entre um beijo e outro.
— Casar?
— Com o Elvis, vamos casar – ele repetiu, me puxando para fora da pista.
No caminho me lembrei do que meus amigos tinham dito anteriormente. Na festa haveria alguém vestido de Elvis casando as pessoas de mentirinha. Nós chegamos a capela improvisada, que era aberta e perto da pista de dança. Haviam muitas cadeiras para possíveis convidados e uma fila enorme de casais, esperando pela sua vez de se casar. Eu e Caio nos empoleiramos no final dela, ainda nos agarrando. Eu tentei puxar um ou outro assunto – especialmente sondar para entender o que estava acontecendo – mas ele só sabia dizer que gostava muito de mim e me beijar.
E era cada vez mais difícil impedir que ele me beijasse.
Mesmo que, lá no fundo, ele estivesse com um ligeiro hálito de álcool. Eu achei que estava imaginando, mas com o passar dos beijos fui tendo certeza. Ele claramente havia tentado disfarçar com balas, mas ele continuava lá.
Foi numa dessas interrupções nas quais eu tentava arrancar alguma conversa, quando nós já estávamos há dois casais do Elvis, que eu vi Igor andando de forma bastante esquisita por cima do ombro de Caio. Ele não estava acertando os passos, parecia totalmente aéreo, esbarrando em todos, até que caiu de bunda no chão.
— Caio! – eu chamei, virando-o para encarar a situação. – Aquele não é o Igor?
Caio olha na direção que eu apontei, mas não vê. Não que ele não veja Igor, acho que ele não vê nada. Ele olhou com aquele olhar perdido, que logo reconheço como seu olhar de bastante alcoolizado. O arrependimento começa a bater.
— Peraí, eu já volto – disse para Caio e corri na direção de Igor.
Ele ficou visivelmente aliviado quando me viu e aceitou minha ajuda para se levantar de bom grado. Eu o levei até as cadeiras da capela, preocupada. Pedi água para um garçom que estava passando. Ele não tinha na bandeja, mas prometeu voltar com um copo. Cogitei se deveria levar Igor até a enfermaria. Ele não parecia tão mal.
— Nossa, não lembro a última vez que bebi tanto... Acho que foi em Teresópolis com Ana Júlia...
Por exemplo, essa foi uma frase muito bem construída. Não que tenha feito sentido para mim, mas não parecia totalmente absurda. Tipo gosto muito de você, gosto muito, muito.
Levantei a cabeça para encarar Caio, certa de que ainda ia encontra-lo na fila, aguardando meu retorno.
Mas claro que não.
É isso que eu ganho quando sou idiota.
Meu presente dessa vez foi ver Caio se casar com outra garota. Loira, alta e bonita. Elvis abençoou a união, ela sacudiu o buquê e Caio empurrou-a contra a mesa do altar, debruçando-se para beijá-la.
Tenho certeza que meu coração não podia ser partir, já que ele JÁ ESTAVA PARTIDO, mas a sensação era idêntica. Só que além dela, o ÓDIO também me acometeu com força. O que eu estava fazendo com a MINHA VIDA, me envolvendo com Caio dessa maneira, sabendo que ele não queria nada comigo?
Ele não ia mudar.
Ele não ia mudar.
Quem mudaria seria eu.
— Igor, espera só um minutinho, tá bem? – eu disse, caminhando na direção do casal recém-casado, que ainda estava se agarrando.
Enfiei meus braços entre os dois e empurrei um para cada lado. A menina me encarou chocada, ainda com as costas coladas na mesa de Elvis. Caio demorou para focar a visão e me ver, porque assim que ele se separou da garota, eu lhe dei um belo tapa na cara.
— Não vou nem me dar ao trabalho de fazer um discurso, porque você está alcoolizado demais para lembrar dele amanhã, pelo jeito. Então, foda-se.
Virei as costas e comecei a ir embora quando ouvi outro tapa. Olhei por cima do ombro para ver o que tinha acontecido: a noiva também tinha dado um tapa na cara dele. Ele tentou vir atrás de mim, mas alguns noivos que estavam esperando sua vez de casar, obstruíram seu caminho. Eu aproveitei o momento e saí correndo para o banheiro feminino, passando pelo Igor em retirada.
O banheiro feminino de uma festa de formatura tem duas coisas, principalmente: garotas vomitando e garotas chorando. Eu era uma das que estava (quase) chorando. Lavei o rosto antes das minhas lágrimas saírem, respirando fundo várias vezes. Que idiota. Eu era muito idiota mesmo. Não tinha nem palavras para definir tamanha idiotice. Nem para definir o tamanho da minha tristeza. Mas, no meio disso tudo, havia uma pequena quantidade de... Alívio.
Alívio sim, porque eu ainda continuava acreditando que Caio mudaria de ideia sobre mim e sobre relacionamentos. Talvez eu precisasse desse tapa na cara metafórico (afinal, o tapa na cara de verdade quem levou foi ele) para acordar para a realidade: ele não vai mudar de ideia sobre mim.
— Ai, meu Deus, aí está você! – Mariana gritou, ao me ver no banheiro. – Kate, não acredito!
— Ué, como você sabe? – perguntei, horrorizada.
— Igor me achou e me mandou atrás de você. Ele viu a cena.
— Ai, gente, eu achei que ele estava passando mal – comentei.
— Ele está, deixei-o na enfermaria. Pelo jeito tenho que arrastar Caio para lá também.
— Tem como você arrastá-lo para outro planeta? Não quero vê-lo nunca mais.
— Eu não acredito que te deixei sozinha a mercê dele. Kate, eu vi ele com pelo menos outras TRÊS MENINAS. Fora essa do casamento.
— Eu realmente não preciso saber disso, Mariana – respondi, tampando meus ouvidos. – Beijei três garotas por tabela, socorro.
— Você quer ir embora? – Mariana perguntou, tocando meu ombro. – Nós podemos ir embora.
— Não – respondi. - Vamos aproveitar a festa.
Nós voltamos para a pista de dança, onde eu fiquei até o amanhecer e o final da festa. Ao som da bateria da escola de samba, só conseguia pensar em uma coisa: NUNCA MAIS.
Nunca mais vou me deixar ser enganada dessa maneira por nenhum homem.
Nunca mais vou aceitar menos do que mereço.
Nunca mais.
Londres seria um divisor de águas na minha vida.
Mal posso esperar pelo voo.
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SEGUREM ESSE FORNINHO CHAMADO CAIO FAZENDO CAICES. Tá difícil de defender, viu migo.
E Igor e essa capacidade dele de cortar MOMENTOS de todos os casais? E essa menção a Acampamento ali no meio, hein. Quem vimos?
E aí queridox, o que acharam?????? ESTOU MUITO CURIOSA.
1) Esse capítulo é dedicado aos belos e belas do grupo do whatsapp de Leitores (Savelitos e Savelitas). Acho que ainda temos umas 15 vagas no grupo, então se alguém quiser participar, pode mandar mensagem para 21 99193-2650.
2) GENTE! Esqueci de falar que meu livro está em uma promoção ÓTIMA no site da editora, onde eles vão sortear um LAPTOP entre TODOS os compradores dele até o Natal!!!! OLHA QUE PRESENTE DUPLO, HEIN!!! Mais infos em: http://www.editoragarcia.com.br/leitura-premiada (vou deixar o link nos comentários também)
3) GENTE, faltam tipo 15 pessoas para eu chegar a 1000 seguidores no instagram! Tô morta. Me sigam lá, OK??? OK. É claraguta (no snapchat também).
Acho que é isso, entonces.
Até mais ver.
Clara.
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