Minha maratona de filmes com a Mariana só aconteceu duas semanas mais tarde, no sábado dia 19 de Outubro, quando havia motivos reais para fazer uma maratona comemorativa: era aniversário de Alex Rodder.

Nós duas nos empoleiramos no sofá de minha casa com um grande estoque de pipoca, biscoitos e chocolate para assistir todos os DVDs dela de filmes com ele. Claro que eu não estava tão feliz com isso quanto ela, mas eu já estava acostumada. Já era o quarto ano que ela me fazia passar por isso. Desde que Mariana "conheceu" Alex, essa sessão comemorativa em seu aniversário virou tradição.

Apesar de eu não gostar de Alex tanto quanto ela, nós duas tínhamos um passatempo em comum no que dizia respeito a essa maratona: falar mal de seu par romântico no filme que lhe deu a fama. Na verdade, era uma saga de aventura. Uma trilogia cujo último filme ia lançar em breve. Gabriella, a atriz que interpretava seu par romântico, era insuportável não só em seu papel, mas também na vida real.

Claro que Mariana achar isso pode ter relação com o fato de que os dois namoraram pelos quatro anos que duraram os primeiros dois filmes e terminaram posteriormente, há alguns meses. Contudo, EU não tenho esses mesmos motivos para achar isso e acho mesmo assim. Ela é realmente nojenta. Caio, por outro lado, a tem na "TOP 5 mais gatas de Hollywood" dele. Claro que isso simplesmente não importa porque ele não participa de nossas sessões-Alex-de-cinema, o que nós dá plena liberdade para xingá-la. Quer dizer, não xingá-la de verdade. Mariana não aprovaria. Normalmente só fazíamos uma coletânea de insultos que se repetem, tais quais: feia, falsa, cabelo horroroso, ridícula, péssima atriz...

Nós sempre terminamos a maratona de filmes com um filme que não é com o Alex Rodder, mas é um dos preferidos da Mariana, pois é, como ela mesma diz, sobre como "ela se sente sobre ele": Um Lugar Chamado Notting Hill. A verdade é que Mariana assiste este filme pelo menos uma vez por mês (a maior parte delas na minha companhia) e já sabe todas as falas de cor (e fica falando junto com o filme). E ela também tem a péssima mania de ficar apontando as partes do filme e falando coisas como: "Nossa, imagina eu e o Alex aí?" e "Ai, isso é tão a cara do Alex".

No final do dia, nós duas estávamos exaustas de tanto comer, rir e gritar besteiras. Nós alternávamos as casas a cada ano e a maratona deste ano era na minha. Minha mãe apareceu diversas vezes para ver se precisamos de alguma coisa, mas tenho certeza que ela só estava indo checar se não estávamos brigando devido aos xingamentos. Arrumamos tudo, lavamos nossa louça e ela empilhou seus DVDs para ir embora. Ainda estávamos rindo de alguma piada sobre Gabriella quando a levei até a porta e houve um daqueles momentos.

Subitamente paramos de rir e ficamos nos encarando. Ela, já do lado de fora, parcialmente escondida por uma pilha de DVDs e eu ainda dentro de casa. Ela olhou para seus pés e depois sorriu, dizendo:

— Obrigada pela tarde, Kate. Sei que você não aguenta mais ouvir nada sobre Alex Rodder e aguentar essas maratonas significa muito pra mim.

— Faço o sacrifício por você - respondi, dando de ombros.

Ela também deu de ombros, desviando o olhar. Cogitei que talvez ela estivesse prestes a chorar. Se ela chorasse eu também ia chorar e aí íamos começar a soluçar até minha mãe e Caio correrem para ver o que estava acontecendo e aí ia ser horrível. Dei um passo pra frente e a puxei para um abraço. Desviando da pilha de DVDs.

— Você sabe que eu te amo, certo? - disse controlando minhas lágrimas. - Independente de suas escolhas, independente do que aconteça.

— Eu também - ela respondeu. - Obrigada.

Então soltamos nosso abraço e voltamos a nos encarar em silêncio. Ela abriu e fechou a boca algumas vezes, como eu tinha feito tantas vezes nas últimas semanas tentando falar com ela. No final, sacudiu a cabeça como se estivesse dizendo que aquele não era o momento, então disse:

— Vejo você amanhã - e virou as costas para caminhar para sua casa.

Eu já sabia que ela estava sentindo alguma coisa pelo Roberto. Não agiria dessa maneira se não estivesse. Então, não fiquei surpresa quando ouvi um celular tocar como se estivesse recebendo mensagem num tom diferente do meu. Não demorou muito para eu achar o telefone da Mariana enfiado no sofá, com o visor todo iluminado acusando nova mensagem, por cima do rosto de Alex Rodder:

Beto: saudades da minha professora preferida <3

Eu nem sequer me dignei a mexer no celular. Assim, quando Mariana apareceu 5 minutos depois, fingi total surpresa quando ela disse que tinha esquecido o celular. Ela o achou e foi embora sem grandes pausas dramáticas. A vontade de chorar, agora, era unicamente minha.

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Os resultados das provas começaram a chegar na terceira semana de outubro, logo depois do aniversário de Alex. Para minha surpresa e deleite, só havia ficado com uma nova abaixo da média, em Química Inorgânica. Eu nunca ia entender aquela nomeação dos compostos químicos. De todo modo, foi muito melhor do que eu pensava. Nós já estávamos no último bimestre e eu faria tudo que fosse possível para me livrar do meu último ano escolar sem ter que enfrentar provas finais. Ou, pelo menos, faria o possível para enfrentar somente uma prova final, a de Química.

Não fui expulsa nenhuma vez durante todo mês de Outubro. Culpem o ENEM, a pressão para ser adulta, o discurso da Mariana sobre como até o Roberto está endireitando a vida ou até mesmo a positividade de Regina. Até Caio estava orgulhoso de mim por eu nunca mais ter pedido para ele assinar nada.

— Seus pais finalmente descobriram? - perguntou ele quando resolveu perguntar onde estavam as advertências do mês e eu respondi dando língua.

Meu pai esteve em casa nos últimos quinze dias do mês de Outubro. Teoricamente ele deveria passar quinze dias embarcado e quinze dias em casa, mas como ele já é gerente, superintendente, ou sei lá o que, ele acaba passando muito mais tempo embarcado pois precisa "supervisionar", seja lá o que tenha para ser supervisionado. São sempre tempos felizes quando meu pai está em casa, porque minha mãe fica feliz e nós fazemos um monte de programas em família... Até que ele vai embora de novo e mamãe passa dois dias muda, sofrendo por dentro, mas tentando se manter forte pra mim.

Eu não ligo. Digo, claro que sinto muita falta do meu pai, mas sempre foi assim. Desde que eu me lembro meu pai passa mais tempo fora de casa do que dentro dela e quando eu era criança até pensei que talvez ele tivesse outra família, até que ele me levou para conhecer seu trabalho e eu passei uma semana com ele no meio da plataforma. Pra minha mãe é pior. Deve realmente ser difícil só ter a cama completa metade do mês (quando temos sorte, porque na maior parte das vezes é menos tempo).

Na sexta-feira, último dia de Outubro, Regina fez um comunicado pela caixa de som da escola no lugar da diretora:

— Queridos alunos, lembramos que hoje é o último dia para inscrição no Show de Talentos do mês que vem! Então todos aqueles que ainda não se inscreveram, mas querem participar devem se apressar!

Ela não disse, mas juro que ouvi sua voz na minha cabeça dizendo: "Estou falando de você, Kate. Precisa deixar para fazer tudo sempre no último minuto?". Enquanto eu sorria pensando nisso, Mariana se inclinou na minha direção, dizendo:

— Eu já me inscrevi e você vai se inscrever nem que eu tenha que te arrastar pela orelha até lá depois da aula.

Foi assim que me vi preenchendo uma ficha de inscrição e entregando na mão de uma Regina muito contente sobre os olhares de aprovação de Mariana. Sério, no que eu estava pensando?!

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Ainda faltava um mês para o show de talentos, mas eu ficava em pânico toda vez que lembrava da existência dele. Tentei convencer Regina a excluir minha inscrição pelo menos cinco vezes em uma semana, mas ela nem sequer me ouvia. Mariana estava ocupada ensaiando seu número com Igor, Caio estava sumido (provavelmente ocupado com suas Pris) e eu passei toda primeira semana de Novembro desesperada por ter sido convencida a fazer algo tão estúpido.

Eu sabia também que cada dia que passava daquela semana me deixava mais perto do meu aniversário. Ele seria no primeiro sábado de Novembro, dia 5 e eu tinha certeza que Mariana estava armando alguma coisa. Nós sempre comemoramos aniversário juntas, já que ela nasceu dois dias depois de mim, e ela sempre foi a líder na organização das nossas comemorações. Apesar dela não ter me dito nada dessa vez, tenho certeza que vou ser "surpreendida" por uma festa no final de semana.

Não que eu sentisse que tinha muito para comemorar. Ia fazer dezoito anos, sendo que continuava sem ideia do que fazer da minha vida, continuava sem conseguir convencer indiretamente Mariana a me contar a verdade sobre seu relacionamento com Roberto, continuava sem saber quem era Pri e meu pai não viria para meu aniversário novamente.

Mariana também não estava muito contente com estar ficando mais velha. Eu ouvi todos os dias daquela semana o mesmo discurso sobre como fazer dezoito anos era particularmente deprimente porque desde que ela viu Alex Rodder pela primeira vez, colocou em sua cabeça que o melhor momento para conhecê-lo e fazê-lo se apaixonar por ela seria quando ela tivesse dezoito anos. Entre nós duas e Alex Rodder existem quatro anos de diferença. Na cabeça louca dela, a diferença entre 18 e 22 anos parecia menor do que a diferença entre 14 e 18.

Eu tentava lhe dizer que, depois dos 18 anos, não importava. A distância não era realmente o importante. O estranhamento anterior consistia no fato dela ser menor de idade apaixonada por alguém maior. Ainda assim, ela insistia nessa tecla dos 18-22 anos. Se por um lado isso a deixava deprimida, também a deixava esperançosa:

— Se nós dois somos para ser como eu acho que somos, acontecerá um milagre!

Eu nunca disse que ela era sensata. Boa amiga, sim. Engraçada, sim. Meio louca, sim. Sensata? Não, não de verdade.

Naquela semana, todos estavam ocupados com a própria vida e continuaram me renegando, mesmo sendo a semana do meu aniversário. Foi só na quinta feira que Mariana apareceu na minha porta, segurando o laptop na mão e com uma cara terrível.

Qual foi a primeira coisa que eu pensei? Roberto fez alguma besteira.

Qual era a verdade?

— Kate, você acha que eles estão juntos de novo? - ela disse, invadindo minha sala e correndo para o sofá.

— Eles quem, Mari? - respondi, fechando a porta e indo sentar ao seu lado.

Ela apontou para o computador com uma expressão de quem estava prestes a chorar. Eu olhei e vi qual era o problema. A manchete do site oficial de Alex dizia:

"Alex e Gabriella são vistos juntos na première do filme do amigo Ryan, que contracenou com eles na saga Fogo no Telhado - que tem data de estreia do último filme prevista para Dezembro deste ano".

Eu estiquei minha mão para tentar desligar o computador, mas ela não deixou. Ao invés disso, me fez ficar olhando todas as fotos dos dois no tapete vermelho, sorrindo um para o outro como dois idiotas, enquanto dizia sem parar, embolando as palavras:

— É que nem aquele dia do Havaí de novo!

Alex e Gabriella haviam namorado secretamente pelos dois primeiros anos após o primeiro filme. Eu não sei como eles conseguiram, mas durante todo esse tempo ninguém nunca conseguiu uma foto sequer dos dois juntos, se beijando, de mãos dadas ou nada do gênero. Até o dia do Havaí. Como esquecer o dia do Havaí? Acho que nunca vi Mariana chorar tanto na vida, incluindo o dia que seu ramster Bolinha fugiu pelo ralo.

Tudo que os fotógrafos não conseguiram fotografar nos dois primeiros dias de namoro foi entregue de bandeja pelos dois no dia do Havaí. Talvez porque estivessem de férias e pensando que ninguém sabia seu paradeiro, foram pouco cautelosos. E por pouco cautelosos entendam que havia fotos de beijos, de mãos bobas e de Gabriella de topless. Dessa vez não havia nada disso, graças a Deus. Mas mesmo assim, aquele olhar entre os dois parecia o mesmo das fotos do Havaí aos olhos de minha amiga.

— Ela não é boa o bastante pra ele - Mariana disse, fechando o laptop e me olhando com lágrimas nos olhos. — Ela não pode fazê-lo feliz. Eles precisam continuar separados.

Eu concordei com a cabeça, segurando sua mão. Momentos que envolviam relacionamentos de Alex Rodder eram sempre momentos complicados. Especialmente os que envolviam também Gabriella.

— Sabe, ela não - Mariana continuou dizendo. — Ele pode ficar com várias pessoas que são mais legais. Ele pode ficar comigo.

Eu me encolhi no sofá, esperando a lista chegar. Toda vez que entravamos nesse assunto Mariana começava a enumerar um monte de coincidências que faziam os dois serem pares perfeitos, tais quais:

1- Os dois nasceram próximos. Ele, dia 18 de Outubro e ela dia 7 de Novembro. (até aí eu também, né. Até mais perto, dia 5 de Novembro. Todavia, quando eu argumento isso ela fica meio irritada. Aprendi a ficar quieta).

2- Os quatro anos de diferença entre eles dois são a mesma diferença de idade entre os pais dela (até aí também é a diferença entre eu e Caio e isso não quer dizer nada).

3- A mãe dele é brasileira (Uau! Esse argumento faria ele ser a alma gêmea de todas as brasileiras, não?).

4- Ele assistiu os mesmos animes que ela (E que eu. E que a maior parte das crianças de nossa década).

5- Ele é viciado nas mesmas séries que ela (E que eu, mas ele gosta dos personagens errados. Sabemos disso porque ele tem muitas camisas sobre as séries que gosta).

E a lista não acaba nunca. NUNCA. É composta desses argumentos horríveis que ela acha que são a prova de seu amor ser escrito nas estrelas. Toda vez que ela lê uma reportagem nova, descobre algo sobre ele que não sabia e que se complementa a algo sobre ela. Enfim, eles são "perfeitos um para o outro".

No entanto, a lista não veio. Ela continuou falando quando percebeu minha mudez:

— É sério, Kate. Eu não sou contra ele namorar. Eu só sou contra ele namorar ela. Eu quero que ele ache alguém boa, que o faça feliz. Ele merece ser feliz.

Nestes quatro anos que eu tive que aturar essa paixão desmedida de Mariana, acho que aquela era a primeira vez que ela estava sendo minimamente sensata. Fiquei muito orgulhosa. Depois de alguns minutos encarando o laptop fechado, ela respirou fundo e se levantou. Abraçamo-nos e eu a levei até a porta.

— Obrigada, amiga. Você é a única que tem paciência - ela disse, rindo.

— Ué, e Igor?

— Ele gosta da Gabriella. - ela revirou os olhos. - Poser .

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Olar!

Primeiro de tudo: OBRIGADA! Passamos de 8 mil leituras, gente. Sabe o que isso significa, né? Que em 10k vou fazer bolo. HAHAHAHA #boleira

Eu quero saber uma coisa: vocês são desse estilo Mariana? Que fica agourando o namoro das pessoas famosas que vocês gostam e chora horrores quando eles começam a namorar alguém que você odeia? Eu sou, hahahaha!! Hoje eu não choro mais, mas quando eu era adolescente mesmo, meu Deus, o mundo acabava. Ficava muito mal. Eu não choro mais, mas continuo agourando =^.^=

RECADINHOS:

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8) É A ÚLTIMA, PROMETO. Estou revisando Acampamento e pretendo apresentá-lo para algumas editoras durante a Bienal. Então queria que vocês todas fechassem os olhinhos e fizessem uma oração! E me ajudem também. Vou pensar ainda num modelo de apresentação ~criativo~, mas talvez precise da ajuda de vocês - afinal, vocês são o motivo pelo qual estou procurando publica-lo!

Desculpa pelos avisos gigantes, mas enfim, eu tinha muita coisa pra dizer!

BEIJOS E OBRIGADA!