❦Chapter XXV - Where it all goes wrong again
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Capítulo Vinte e Cinco: ONDE TUDO DA ERRADO, DE NOVO
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Beatrice
Atualmente
O LOCAL ERA TÃO GRANDE QUANTO UMA CATEDRAL, com teto alto e abobadado coberto de prata. Equipamentos de televisão flutuavam pelo ar — câmeras, luzes, objetos de cenário. E não havia chão. Leo quase caiu no abismo antes que Jason o puxasse.
— Caramba...! — disse Leo, engolindo em seco. — Mellie, que tal um pequeno aviso da próxima vez?
Um enorme poço circular o faria despencar em direção ao coração da montanha. Deveria ter mais ou menos um quilômetro de profundidade, repleto de cavidades, como favos de mel. Alguns dos túneis provavelmente levavam para o lado de fora. lembrava-me de ter notado ventos saírem deles quando estavam em Pikes Peak. Outras cavidades estavam fechadas com material cintilante, como vidro ou cera. A caverna estava repleta de harpias, auras e aviõezinhos de papel, mas para quem não podia voar seria uma queda longa e fatal
— Ah... — disse Mellie—, sinto muito. — E pegou um comunicador em algum lugar dentro de sua roupa, dizendo: — Olá, cenário? Nuggets? Oi, Nuggets. Será que você poderia colocar um chão no estúdio principal, por favor? Sim, algo sólido. Obrigada.
Poucos segundos mais tarde, um exército de harpias surgiu do buraco — mais ou menos três dezenas de senhoras-galinhas demoníacas, todas carregando vários tipos de materiais de construção. E começaram a trabalhar, martelando e colando — e usando muitos metros de fita isolante, o que não deixou me muito tranqüilo. Em pouco tempo estava montado o piso provisório. Construído com compensado, blocos de mármore, pedaços de tapetes e grama... havia de tudo por ali.
— Isso não pode ser seguro — disse Jason.
— Ah, claro que é — assegurou Mellie. — As harpias são muito boas nisso.
Para ela era fácil dizer, pois flutuava.
Como eu sabia que Jason teria mais condições de sobreviver, por saber voar, o empurrei para ser primeiro a pisar, ignorando seu olhar incrédulo. Incrivelmente, o chão suportou-o.
Piper agarrou a mão dele e o seguiu.
— Se eu cair, você me salva.
Revirei os olhos e peguei a mão de Leo, que me encarou surpreso.
— Vamos tentar não morrer.
— Você vai me salvar também, se eu cair?
Mordi o lábio inferior para não rir da pequena provocação de Leo.
— Óbvio, adoro salvar meninos bonitos.
Leo corou.
Mellie nos levou em direção ao centro do estúdio, onde uma esfera feita de telas planas de vídeo flutuava como se fosse um centro de controle. Um homem pairava lá dentro, checando os monitores e lendo mensagens enviadas em aviõezinhos de papel. Ele não notou que a gente entravam, com Mellie à frente.
Ela tirou uma tela Sony de 42 polegadas do meio do caminho e levou-os à zona de controle. Leo assobiou
— Preciso conseguir uma sala assim.
As telas flutuantes estampavam todos os tipos de programas de televisão. Alguns deles eu reconhecia: telejornais, principalmente. Mas outros eram um pouco mais estranhos: lutas de gladiadores, semideuses enfrentando monstros. Talvez fossem filmes, mas pareciam reality shows.
Do outro lado da esfera havia um fundo de seda azul que parecia uma tela de cinema, com câmeras e luzes de estúdio flutuando ao redor.
O homem no centro falava num fone de ouvido. Tinha um controle remoto em cada mão e os apontava para várias telas, aparentemente de modo aleatório.
Usava um terno que parecia o céu — em grande parte azul, mas com algumas nuvens que mudavam de tamanho e escureciam, movendo-se pelo tecido. Ele parecia ter sessenta anos, mais ou menos, com cabelos brancos, mas usava muita maquiagem e seu rosto parecia ter sofrido muitas operações plásticas. Ou seja, não parecia velho nem novo, mas errado... Como um boneco Ken que tivesse sido colocado no micro-ondas. Seus olhos moviam-se de tela em tela, tentando absorver tudo de uma vez. Murmurava coisas no fone, sua boca não parava de se mexer. Estava admirado ou era louco, ou as duas coisas ao mesmo tempo.
Mellie flutuou na direção dele.
— Ah, senhor... Sr. Éolo, estes semideuses...
— Espere! — Ele levantou uma das mãos para silenciá-la, depois apontou para uma das telas. — Veja isso!
Era um desses programas sobre gente que caça tempestades, com motoristas loucos correndo atrás de tornados. Enquanto eu olhava, um jipe entrou numa nuvem afunilada e foi sugado para o céu.
Éolo adorava o que via.
— O Canal dos Desastres. As pessoas fazem isso de propósito! — disse, virando-se para Jason com um sorriso maldoso. — Não é incrível? Vamos ver de novo.
— Ah, senhor — disse Mellie. — Este é Jason, filho de...
— Sim, claro, eu lembro dele e da garota ali — disse Éolo. — Vocês voltaram. Como foi?
Troquei um rápido olhar com Jason, me sentindo um pouco em pânico, já que aparentemente, Éolo já nos conhecia, mesmo que a gente não tivesse nenhuma memória dele.
A receita perfeita para um desastre.
Jason hesitou.
— Sinto muito, mas acho que o senhor está me confundindo...
— Não, não, Jason Grace e Beatrice di Ângelo, certo? Foi... quando... ano passado? Vocês estavam indo lutar contra um monstro marinho, eu acho. Junto com a outra garota, Primrose Stuart, ah, aquela pirralha insolente.
Primrose?
— Eu... eu não lembro.
Éolo sorriu.
— Não deve ter sido um monstro muito bom... Mas eu me lembro de todos os heróis que vêm pedir minha ajuda. Odisseu... esse ficou na minha ilha por um mês! Pelo menos você ficou apenas alguns dias. Mas veja este vídeo. Esses patos são sugados por um...
— Senhor — interrompeu Mellie. — Dois minutos para entrar no ar.
— Ar! — gritou Éolo. — Eu adoro o ar. Como estou? Maquiagem!
Imediatamente, um pequeno tornado de blushes, cremes e pincéis desceu até Éolo. Dançaram no seu rosto, deixando sua cor ainda mais estranha que antes. O vento passou por seu cabelo e o deixou como se fosse uma árvore de Natal congelada.
— Sr. Éolo — disse Jason, tirando a mochila dourada das costas. — Trouxemos esses espíritos da tempestade arruaceiros para o senhor.
— Sério? — perguntou Éolo, olhando para a mochila como se fosse o presente de um fã... algo que na verdade não queria. — Ah, que bom.
Leo deu uma cotovelada e Jason ofereceu-lhe a mochila.
— Bóreas nos enviou para capturá-los para o senhor. Espero que os aceite e deixe... o senhor sabe... de ordenar a morte de semideuses.
Éolo gargalhou, olhando para Mellie, incrédulo.
— Morte de semideuses? Eu ordenei isso?
Mellie checou seu computador.
— Sim, senhor. Dia quinze de setembro. "Espíritos da tempestade soltos pela morte de Tifão, semideuses devem ser responsabilizados" etc. Sim, uma ordem geral para que todos fossem mortos.
— Ah, droga — disse Éolo. — Eu estava muito ranzinza. Retire essa ordem, Mellie, e... quem está de guarda? Teriyaki?...Teri, leve esses espíritos da tempestade à cela 14E, por favor.
Uma harpia surgiu do nada, pegou a mochila dourada e sumiu no abismo.
Éolo sorriu para Jason.
— Sinto muito sobre essa história das mortes. Mas, deuses, eu estava zangado de verdade, certo? — E seu rosto ficou sombrio de repente, assim como o seu terno, cujas lapelas estampavam raios. — Você sabe... eu lembro agora. Era como se uma voz me desse o comando para essa ordem. Uma pequena voz gélida na minha nuca.
Jason ficou tenso ao meu lado. Um arrepio gélido na nuca... Por que isso soa familiar?
— Uma... voz na sua cabeça, senhor?
— Sim. Que estranho. Mellie, deveríamos matá-los?
— Não, senhor — ela respondeu, paciente. — Eles acabam de trazer espíritos da tempestade, está tudo bem.
Olhei para Leo, que assim como eu, parecia pensar que o cara era louco. Arregalei os olhos quando percebi que nossas mãos ainda estavam juntas e dei um passo para o lado, sentindo meu rosto esquentar.
— Claro — disse Éolo, sorrindo. — Sinto muito. Mellie, vamos dar algo bom aos semideuses. Uma caixa de chocolates, talvez.
— Uma caixa de chocolates para cada semideus do mundo, senhor?
— Não, isso vai ser muito caro. Esqueça. Espere, está na hora. Estou no ar!
Eolo voou em direção ao fundo azul enquanto a música anunciando o programa de notícias começava a soar.
Jason nos encarou, parecendo confuso.
— Mellie — disse Jason —, ele é sempre assim?
Ela sorriu, calma.
— Você sabe o que costumam dizer? Se você não está gostando do humor de Éolo, espere cinco minutos. A expressão "ver para onde sopra o vento" nasceu com ele.
— Parece um emprego de merda.
Meu sussurro aparentemente não foi tão baixo, pois Piper me encarou.
— E essa história de monstro marinho? — perguntou Jason. — Beatrice e eu estivemos aqui antes?
Mellie ficou corada.
— Sinto muito, eu não me lembro. Sou a nova assistente do sr. Éolo. Já estou com ele há mais tempo que a maioria... mas nem tanto.
— Quanto tempo costumam durar as assistentes? — perguntou Piper.
— Ah... — Mellie pensou por um momento. — Eu estou fazendo isso há... doze horas?
Uma voz saiu dos alto-falantes flutuantes.
— E agora, o tempo a cada doze minutos! Eis o nosso homem do tempo do Canal do Tempo Olimpiano: Éolo!
As luzes se acenderam sobre Éolo, que estava na frente do fundo azul. Seu sorriso era branco, nada natural, e ele parecia ter tomado tanta cafeína que seu rosto estava a ponto de explodir.
— Olá, olimpianos! Sou Éolo, Senhor dos Ventos, com o tempo a cada doze minutos! Teremos um sistema de baixa pressão movendo-se sobre a Flórida, então esperem temperaturas amenas, pois Deméter quer ajudar os plantadores de frutas cítricas! — Ele fez um gesto em direção ao fundo azul. Quando olhei os monitores, vi que uma imagem digital estava sendo projetada por trás de Éolo, e ele parecia estar à frente de um mapa dos Estados Unidos, com sóis sorridentes e nuvens com o cenho franzido. — Ao longo da Costa Leste... ah, esperem. — E arrumou o aparelho que usava no ouvido. — Sinto muito, pessoal! Poseidon está chateado com Miami hoje, então parece que o frio voltará à Flórida! Sinto muito, Deméter. No Meio-oeste... não sei exatamente o que St. Louis fez para chatear Zeus, mas esperem tempestades de inverno! O próprio Bóreas está sendo chamado para punir a área com muito gelo. Más notícias, Missouri! Não, esperem. Hefesto está com pena do Missouri central, então vocês terão temperaturas moderadas e céu azul.
Éolo seguiu em frente... dando a previsão para cada área do país e mudando as previsões duas ou três vezes ao receber mensagens pelo fone de ouvido... Os deuses aparentemente davam ordens de novos ventos e temperaturas.
— Isso não pode estar certo — murmurou Jason. — O tempo não se comporta assim tão aleatoriamente.
Mellie sorriu, afetada.
— E quantas vezes os mortais acertam a previsão do tempo? Falam sobre frentes, pressão do ar e umidade, mas o tempo os surpreende sempre. Pelo menos Éolo nos explica por que tudo é tão imprevisível. Um trabalho duro, pois ele tenta ouvir todos os deuses ao mesmo tempo. Pode deixar qualquer um...
Ela parou, mas eu sabia o que estava a ponto de dizer: louco. Éolo estava completamente louco.
— E esta é a previsão do tempo — concluiu Éolo. — Vejo vocês em doze minutos, pois tenho certeza de que tudo mudará!
As luzes se apagaram, os monitores de vídeo voltaram a cobrir vários canais ao mesmo tempo e, por um momento, o rosto de Éolo parecia vencido pelo cansaço. Mas logo lembrou-se dos convidados e abriu um sorriso de novo.
— Então vocês me trouxeram espíritos da tempestade — disse Éolo. — Imagino que... obrigado! E querem algo mais? Creio que sim. Semideuses sempre querem algo mais.
Mellie disse:
— Senhor, este é o filho de Zeus.
— Ah, sim. Eu sei disso. Já disse que me lembrava de outra visita.
— Mas, senhor, eles estão aqui pelo Olimpo.
Éolo pareceu assustado. Depois riu tão abruptamente que Jason quase se atirou no abismo.
— Você quer dizer que desta vez está aqui em nome de seu pai? Finalmente! Eu sabia que ele enviaria alguém para renegociar meu contrato!
— O quê? — perguntou Jason.
— Ah, graças à deusa! — disse Éolo, suspirando aliviado. — Estou esperando há... trezentos anos, desde que Zeus me nomeou senhor dos ventos. Não que não esteja agradecido, claro que estou! Mas realmente... o meu contrato é tão vago. Sou imortal, mas... "senhor dos ventos". O que isso significa? Sou um espírito da natureza? Um semideus? Um deus? Quero ser o deus dos ventos, pois os benefícios são bem maiores. Podemos começar por aí?
Jason olhou para nós, perdido.
— Cara — disse Leo —, você acha que estamos aqui para oferecer uma promoção?
— Acho — disse Éolo, sorrindo, e seu terno ficou completamente azul, sem nenhuma nuvem. — Maravilha! Quer dizer, acho que eu já fiz muito pelo Canal do Tempo, certo? E é claro que estou na imprensa o tempo todo. Tantos livros foram escritos sobre mim: E o vento levou..., por exemplo.
— Eu não tenho tanta certeza de que esse livro seja sobre o senhor — disse Jason, antes de notar que Mellie balançava a cabeça.
— Isso não faz sentido — disse Éolo. — Mellie, são biografias minhas, certo?
— Claro, senhor — ela respondeu, estridente.
— Estão vendo? Eu não leio. Quem tem tempo? Mas os mortais me amam, isso é óbvio. Então, vamos alterar meu título oficial para deus dos ventos. Depois conversaremos sobre salário e pessoal...
— Senhor — disse Jason —, não somos do Olimpo.
— Mas... — disse Éolo, piscando.
— Sou filho de Zeus, sim, mas não estamos aqui para renegociar seu contrato. Estamos numa missão e precisamos da sua ajuda.
A expressão de Éolo endureceu.
— Como da última vez? Como todos os heróis que aparecem por aqui? Semideuses! Sempre preocupados consigo mesmos, certo?
— Senhor, por favor, eu não me lembro da última vez, mas se me ajudou antes...
— Estou sempre ajudando! Bem, algumas vezes destruo, mas normalmente ajudo, e certas vezes sou chamado para fazer as duas coisas ao mesmo tempo! Porque Enéias, o primeiro da sua espécie...
— Minha espécie? — perguntou Jason. — Um semideus, o senhor quer dizer?
— Ah, por favor! — disse Éolo. — Da sua linhagem de semideuses, eu quero dizer. Você sabe, Enéias, filho de Vênus... o único herói sobrevivente de Tróia. Quando os gregos queimaram sua cidade, ele escapou para a Itália, onde fundou o reino que eventualmente se transformaria em Roma, blá-blá-blá. É isso o que eu quero dizer.
— Não entendo — admitiu Jason.
Éolo revirou os olhos.
— A história é a seguinte: eu fui atirado no meio do conflito! Juno clamou: "Ah, Éolo, destrua os barcos de Enéias por mim. Eu não gosto dele." Então Netuno disse: "Não, não faça isso! Esse território é meu. Acalme os ventos." E Juno replicou: "Não, acabe com os barcos, ou direi a Júpiter que você não coopera!" Você acha fácil estar entre pedidos desse calibre?
— Não — disse Jason — imagino que não seja nada fácil.
— Sem falar em Amélia Earhart! Eu ainda recebo chamadas raivosas do Olimpo por ter chutado ela do céu!
— Só queremos informações — disse Piper, com o tom de voz mais calmo que pôde empregar. — Disseram-nos que você sabe de tudo.
Éolo arrumou sua lapela e parecia um pouco mais calmo.
— Bem... isso é verdade, claro. Aliás, sei que essa história que temos aqui... — disse, apontando para os três. — Esse esquema enlouquecido de Juno para reuni-los, provavelmente terminará em um banho de sangue. Quanto a você, Piper McLean, sei que seu pai está com sérios problemas.
Ele estendeu a mão, pegando um papel que flutuava por perto. Era uma foto de Piper com um homem que deveria ser o seu pai. Aquele rosto parecia familiar. Eu tinha certeza de que já o vira em algum filme.
Piper pegou a foto. Suas mãos tremiam.
— Esta foto... estava na carteira dele.
— É verdade — disse Éolo. — Tudo o que se perde no vento em algum momento chega aqui. A foto saiu voando quando um Nascido da Terra o capturou.
— O quê? — perguntou Piper.
Eolo fez um sinal de "esqueça" com a mão e estreitou os olhos na direção de Leo.
— Agora você, filho de Hefesto... Sim, eu vejo o seu futuro. — E outro papel caiu nas mãos do deus... um antigo desenho feito com canetinhas.
Leo olhou para o desenho como se estivesse envenenado. E deu um passo para trás.
— Leo? — disse Jason. — O que é isso?
— Algo que eu... que eu desenhei quando criança — disse, dobrando rapidamente o papel e guardando-o no casaco. — Não... não é nada.
Éolo sorriu.
— Tem certeza? Trata-se simplesmente da chave do seu sucesso! Agora, você, Beatrice... Acho que isso lhe pertence.
Ele me entregou uma pequena foto, rapidamente me reconheci, abraçada a um garoto loiro que sorria como se fosse o dia mais feliz da sua vida, era Luke. Virei a foto, vendo uma caligrafia bonita ali.
"Juntos para sempre".
— Eu...
— Falam muito de você, sabia? Poderosa demais, temperamental... Existem apostas para saber quanto tempo vai demorar para você se revoltar contra os deuses, deve ser por isso que Juno roubou a sua memória.
— Eu nunca me revoltaria contra os deuses!
Ele sorriu sarcástico.
— O seu namoradinho falou isso uma vez e olha o que aconteceu, não é mesmo? Mas onde estávamos? Ah, sim, vocês queriam uma informação. Têm certeza disso? Algumas vezes uma informação pode ser algo perigoso.
Ele sorriu para Jason, como se o desafiasse. Atrás dele, Mellie balançou a cabeça, num aviso.
— Sim — disse Jason. — Precisamos encontrar o covil de Encélado.
O sorriso de Éolo desapareceu.
— O gigante? Por que querem ir até lá? Ele é horrível! E não assiste a meu programa!
Piper pegou a foto.
— Éolo, ele está com o meu pai. Precisamos resgatá-lo e encontrar Hera, que também está presa.
— Não, isso é impossível — disse Éolo. — Nem eu posso ver isso, e tentei, juro. Há uma magia cobrindo o lugar onde está Hera... algo muito forte, impossível de localizar.
— Ela está num lugar chamado Casa do Lobo — disse Jason.
— Espere! — Éolo pôs a mão na testa e fechou os olhos. — Estou vendo algo! Sim, ela está num lugar chamado Casa do Lobo! Infelizmente, não sei onde fica isso.
— Encélado sabe — disse Piper. — Se nos ajudar a encontrá-lo, podemos descobrir a localização da deusa...
— É verdade — disse Leo, entrando na conversa. — E se a salvarmos, ela será muito grata a você...
— E Zeus poderá promovê-lo — disse Jason.
Éolo arregalou os olhos.
— Uma promoção... E tudo o que vocês querem saber é a localização do gigante?
— Bem... se pudesse nos levar até lá — disse Jason. — Seria ótimo.
Mellie bateu palmas, animada.
— Ah, ele poderia fazer isso! Ele sempre envia ventos favoráveis...
— Mellie, quieta! — disse Éolo. — Estou quase despedindo você por deixar esse pessoal ter falsas esperanças.
— Sim, senhor. Sinto muito, senhor — desculpou-se ela, pálida.
— Não foi culpa dela — disse Jason. — Mas sobre essa ajuda...
Éolo inclinou a cabeça, como se estivesse pensando. Depois eu notei que ele estava ouvindo vozes em seu fone.
— Bem... Zeus aprova — murmurou Éolo. — Mas ele diz... que seria melhor se vocês pudessem evitar salvá-la até o final de semana, pois ele tem uma grande festa planejada... Ai! Afrodite chamando, gritando com Zeus, lembrando que o solstício começa ao anoitecer. Ela diz que eu deveria ajudá-los. E Hefesto... Sim. Sei... Que estranho, ele concorda com tudo... Até mesmo Hades... Esperem...
Jason sorriu para nós. Finalmente estamos tendo sorte. Nossos pais, deuses, os ajudavam. Eu ouvi o som de uma campainha. O treinador Hedge entrava pelo hall, cheio de grama na cara.
Mellie o viu e ficou sem fôlego.
— O que é isso?
Jason segurou um acesso de tosse e eu desviei o olhar, tentando não rir.
— Isso? É apenas o treinador Hedge. Quer dizer... Gleeson Hedge. Ele é o nosso... Guia.
— Ele é tão bode — murmurou Mellie.
Atrás dela, Piper fingia vomitar.
— E aí, pessoal? — perguntou Hedge. — Nossa, que lugar legal. Ah! Grama.
— Treinador, você acabou de comer — disse Jason. — E estamos usando essa grama como chão. Essa é... Mellie...
— Uma aura! — disse Hedge, sorrindo. — Linda como uma brisa de verão.
Mellie ficou corada.
— E Éolo está a ponto de nos ajudar — disse Jason.
— Sim — murmurou o Senhor dos Ventos. -— É o que parece. Vocês encontrarão Encélado no Monte Diablo.
— Montanha do diabo? — perguntou Leo. — Isso não soa nada bem.
— Eu me lembro desse lugar — disse Piper. — Estive lá uma vez com o meu pai. Fica a leste da baía de São Francisco.
— Bay Area mais uma vez? — perguntou o treinador, balançando a cabeça. — Nada bom. Nada bom mesmo.
— Agora... — Éolo começou a sorrir. — Quanto a chegarem lá...
De repente, seu rosto ficou carrancudo. Ele se curvou e colocou as mãos nos fones de ouvido, como se não estivessem funcionando bem. Quando se esticou novamente, seus olhos estavam endiabrados. Mesmo com a maquiagem, ele parecia um homem velho — um homem velho e muito assustado.
— Ela não falava comigo havia séculos. Não posso... sim, sim, eu entendo.
E engoliu em seco, olhando para Jason como se ele, de repente, tivesse se transformado numa barata gigante.
— Sinto muito, filho de Júpiter. Novas ordens. Vocês terão que morrer.
Mellie tremeu.
— Mas... mas, senhor! Zeus disse que os ajudasse. Hades, Afrodite, Hefesto...
— Mellie! — gritou Éolo. — Seu trabalho está por um fio. Além do mais, certas ordens transcendem até mesmo os desejos dos deuses, especialmente quando vêm das forças da natureza.
— Ordens de quem? — perguntou Jason. — Saiba que Zeus vai despedir o senhor caso não nos ajude.
— Duvido — disse Éolo, movendo o punho, e à distância uma porta se abriu.
— Até mesmo Zeus entende a ordem das coisas — disse Éolo. — E se ela está acordando... por todos os deuses... ela não pode ser esquecida. Adeus, heróis. Sinto muitíssimo, mas preciso ser rápido nisso. Voltarei ao ar em quatro minutos.
Jason evocou sua espada e eu peguei meu cetro. O treinador Hedge pegou seu bastão. Mellie, a aura, gritou:
— Não!
Ela mergulhou aos pés deles no momento em que os espíritos da tempestade chegaram como um furacão, destruindo o piso, transformando pedaços de carpete, mármore e linóleo no que seriam projéteis letais se o vestido de Mellie não tivesse se aberto como um escudo e absorvido o impacto. Os cinco caíram no poço, e Éolo gritou lá de cima:
— Mellie, você está despedida
— Rápido — disse Mellie. — Filho de Zeus, você tem algum poder sobre o ar?
— Um pouco.
— Então me ajude ou todos vocês morrerão! — disse, pegando sua mão e passando uma descarga elétrica para o corpo de Jason.
Ele entendeu quando ela fez um sinal com a cabeça. Tinham de controlar sua queda e entrar em um dos túneis abertos. Os espíritos da tempestade os seguiam, aproximando-se rapidamente, trazendo uma nuvem de estilhaços mortais.
Jason agarrou a mão de Piper e eu agarrei Leo.
— Todos juntos!
Hedge, Leo e Piper tentaram se unir uns aos outros, agarrando-se a Jason e a Mellie enquanto caíam.
— Isso não é nada bom! — gritou Leo.
— Venham, suas bolas de gás! — gritou Hedge para os espíritos da tempestade. — Vou pulverizar vocês!
— Ele é incrível — disse Mellie, suspirando.
— Concentrada? — perguntou Jason.
— Sim! — ela respondeu.
Eles canalizaram o vento, fazendo sua queda ser bem mais suave em direção ao túnel mais próximo. Ainda assim entraram muito rapidamente e rolaram uns sobre os outros por um buraco de ventilação que não fora desenhado para humanos. E não havia como pararem.
A roupa de Mellie inflou-se em seu corpo. Jason e os outros se agarravam a ela, desesperadamente, e começaram a desacelerar, mas os espíritos da tempestade estavam gritando pelo túnel, vindo atrás deles.
— Não posso... aguentar... por muito tempo — avisou Mellie. — Fiquem juntos! Quando os ventos nos atingirem...
— Você está fazendo tudo muito bem, Mellie — disse o treinador. — Minha mãe era uma aura, sabe? E não poderia ter feito trabalho melhor.
— Uma mensagem de íris para mim? — disse Mellie.
O treinador franziu a testa.
— Vocês poderiam namorar mais tarde? — gritou Piper. — Olhem!
Atrás da gente, o túnel ficava escuro. Jason sentia os ouvidos estalarem com a pressão.
— Não posso detê-los — avisou Mellie. — Mas vou tentar agir como um escudo, conceder a vocês mais um favor.
— Obrigado, Mellie — disse Jason. — Espero que consiga um novo trabalho. Ela sorriu, depois se dissolveu, envolvendo-os em uma brisa suave e quente. Então os ventos de verdade surgiram, atirando-os ao céu a toda velocidade, tanta que Jason desmaiou.
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