3 | Outono e menta
CAPÍTULO TRÊS
"Você pisou na bola, irmão."
Nasci pela primeira vez em 1844, como apenas um bebê que estava alheio ao seu mundo. Nunca pensei muito no inatural da vida, fui criado para arquitetar, fazer ação, ser o melhor.
Modéstia à parte, não poderia estar mais orgulhoso de mim mesmo. Consegui entrar no Exército Confederado com apenas 17 anos, alegando ter vinte. "Forte demais" eles alegaram, acreditando. "Bom demais" disseram ao ver-me em ação. "Precisamos dele acima" foi o que indagaram antes de me dar o cargo de Major.
Nasci para um campo de batalha, para treinar, enviar ordens e criar talentos; não foi apenas meu superior que percebeu isso.
Chamei a atenção de muitas pessoas e acabei caindo nos ouvidos da jovem mulher mais atraente da região; Maria. Dois anos depois, com 19 anos para mim e 22 para a minha identidade falsa, eu renasci. Virei uma outra... coisa.
Algo mais rápido, com os instintos mais apurados, com talentos recém descobertos.
Ajudei Maria por muitos anos. Ajudei a criar seu exército, a treiná-los, descarta-los quando não chegasse à altura desejado. Maria me fez testemunhar a morte de perto, me fez ser a morte; fez-me encarar aqueles... recém-criados que só estavam com medo e queriam uma família; como eu.
Mas há uma diferença quando está se jogando. Você pode sentir, mas a partir do momento em que demonstra, você já perdeu antes mesmo de começar e eu, como um perito em sentimentos, domei o jogo ao meu favor.
Com ajuda de meus dois amigos, ganhei a minha liberdade. Apesar de estar pronto para destruir Maria e todo aquele seu plano maligno, não pude resistir à fugir quando Peter e Charlotte — recém-criados que eu havia permitido a fuga uma vez — voltaram por mim, para me dizer que os vampiros podiam coexistir ao Norte.
Foi onde eu me encontrei com Alice e o seu companheiro, Micah O'Hara. Eles me apresentaram à uma família; os Cullen.
Tornei-me irmão de todos, mas principalmente de Rosalie e Micah, pela semelhança dos cabelos e olhos — que todos os outros tinham.
Desde então, somos uma família. Confio neles à minha vida; mas a minha vida acabou de ser desconcertada e não era mais a minha questão, era ela, apenas ela.
Eu confiava em todos eles com a minha existência, mas podia confiar com a minha mais nova vida?
— Não seja melodramático — disse Edward, saindo do carro e parando em minha frente com sua velocidade vampírica.
— Melodramático? — repeti, controlando a raiva prestes a explodir em meu peito. — Sabe, irmãozinho, para quem gosta de ditar as regras, você acabou de estragar tudo.
— Queria que eu a deixasse lá? — seu cenho se franziu com sua raiva e confusão. — Pra morrer?
— Queria que você fosse um pouco mais esperto, Edward — corrigi, me afastando pele para subir as escadas que daria pra sala, onde todos já estavam nos esperando.
De longe, as piores horas dos meus dias era quando eu estava na escola. Ser um adolescente sem problema sobrenatural, sem sentir o que os outros sentem, já é difícil no Ensino Médio; agora, ser obrigado a ser um adolescente para sempre, ter problemas sobrenaturais e sentir tudo o que eles sentem, é mil vezes pior.
Não há um dia de paz para mim, nem mesmo um segundo onde não estou sendo sufocado pelos sentimentos daqueles jovens hormonais — e olha que eu nem preciso mais respirar.
E então, vem a parte do sangue. O maldito sangue que pulsa naquelas veias sem parar, onde eu consigo ouvir até mesmo o bombardeio de suas vértebras. É insuportável e doloroso estar naquela escola.
Mas essa semana foi diferente.
Começou com Alice totalmente estranha, tentando esconder uma de suas visões da gente. Ela precisa bem animada com o dia de aula e dirigi para a escola do mesmo jeito que fui todos os outros dias, emburrado e querendo ir embora o mais rápido possível.
Cheguei na escola, preparado pro desejo de sangue e pros sentimentos horripilantes, mas fui presenteado por um cheiro que me lembrava o outono com um pouquinho de menta, era o melhor cheiro que eu havia sentido em toda a minha vida. Me fazia lembrar do Texas, onde eu nasci e vivi.
Pensei que só podia ser coisa da minha cabeça, até passar por aquele corredor e sentir meu corpo sendo arrebatado do chão. Uma raiva consumiu-me antes mesmo que eu pisasse os pés dentro, mas... diferente das outras vezes, senti uma certa... necessidade para controlar aqueles sentimentos.
Nunca controlei nenhum sentimento destas pessoas apenas por querer, eu me sentia encurralado apenas em pensar em focar neles para altera-los, mas lá estava ela.
Eu não sabia quem era ou o que podia significar para mim, mas lhe enviei o máximo de calma e paz que habitava em meu corpo; ela recebeu bem, ela suspirou e foi como músicas para os meus ouvidos.
Entrei no refeitório junto ao meu irmão e aquele cheiro impregnou-se em mim pelo resto do dia. A pessoa estava ali e era a mesma pessoa que eu controlei os sentimentos; eu só não... sabia quem era. E estava com medo de sair olhando as pessoas por aí e não me controlar.
Passei a semana inteira tentando desvendar de quem era aquele cheiro, eu queria conhecer a pessoa, queria me aproximar dela, sorrir e agradecer; pois, não importava quem fosse, mudou os meus dias naquela escola.
O sangue não me incomodava mais, de ninguém. Eu ainda podia ouvir suas veias pulsando, mas a única coisa em que eu estava focado era naquele cheiro e no sentimento de ansiedade que estava me proporcionando.
Até chegar sexta-feira. Não foi a minha primeira aula de história, aliás, nem era para eu estar aqui, meus horários são mais cedo, mas Alice me enviou e aqui estou eu — por livre e espontânea pressão de Micah que queria deixar sua companheira feliz.
— Sr. Hale, levante sua mão — o professor pediu e eu pensei em refutar, pois, os próximos minutos seriam um inferno se eu tivesse que sentar perto de algum humano.
Mas eu terminei por levantar quando ouvi Alice sussurrar no andar de cima:
— Levante logo, Jasper Hale!
Emmett riu na sala ao lado e eu soltei um muxoxo, erguendo a palma da minha mão e ouvindo seus passos se aproximando de mim.
Eu não estava respirando, mas o cheiro simplesmente invadiu o meu olfato e me fez fechar os olhos com pressão. Não era sangue que eu sentia, era algo confortável, calorento, que me lembrava música country e um leve momento confortável sentado na varanda de casa.
Era a minha primeira vida.
A pessoa se sentou ao meu lado e eu senti que eu, um vampiro morto, iria infartar. Meus olhos tremiam para encara-lá, para sentir seu cheiro mais de perto, para que ela me olhasse.
— Irmão, não! — esbravejou Rosalie em algum canto dessa escola, mas eu já estava a olhando.
A garota de cabelos tão negros quanto a noite estava de cabeça baixa, o lápis rabiscando a folha de seu caderno. Eu precisava que ela me olhasse. Agora, sem dúvidas, o cheiro era dela.
Ela tinha cheiro da minha vida antiga; da minha vida humana.
— Olá — eu soltei sem pensar, tão inerte nela que não me dei ao trabalho de esconder o meu sotaque. — Me chamo Jasper Hale.
E, ainda com a cabeça baixa e os fios escuros caindo pelo rosto, ela levantou seus olhos. Se eu ainda fosse vivo e pudesse realizar tal feitio, perderia o ar. Eram os olhos mais bonitos que eu vi em toda a minha vida.
Não apenas os olhos, eu completei quando percebi que ela estava me estudando e eu tinha tempo para fazer a mesma coisa. Seus lábios finos e hidratados eram tão convidativos que eu tive que me segurar na cadeira para não avançar, para não desfrutar do que tinha em minha frente; do que eu não podia.
E tinha suas sobrancelhas que crispavam quando ela estava presa em algum mundo que ia além das nossas compreensões. Ela era linda.
Tudo nela. Seus detalhes continuaram chegando aos meus olhos, cada pedaço de seu rosto virava uma obra de arte diante a minha análise, mas então... ela reivindicou meus olhos para os dela.
Nossas íris se conectaram, sua pupila completou a minha e eu estava olhando para a sua alma que cheirava à vida, definitivamente outono e o refrescante de mentas.
Ela cheirava a minha vida; ela era a minha vida. E tudo se resumiu a ela tão, mas tão rápido que ter forças para sorrir foi a maior luta que eu contrabati em minha vida.
— Sou Billie — ela se apresentou, alheia a mudança que estava acontecendo em meu coração, em minhas importâncias. — Muito prazer, Sr. Hale.
Meu coração soltou um espasmo e pensei que a qualquer momento, o gelo iria se quebrar e ele voltaria a bater, como o dela, porque o coração dela agora era o meu e sua vida era a minha vida.
— Puta que pariu, irmãozinho — resmungou Emmett quando Micah explicou o que havia acontecido. O vampiro recebeu uma repreensão da esposa pelo palavriado, mas ainda assim, continuou: — Parabéns, Jasper!
— Ela é uma humana — rosnou Rosalie, irada pela situação. — Isso não pode começar, irmão.
Franzi meu cenho enquanto ainda encarava Billie, a mais pura das pessoas, a mais linda de todas. Por que não podia começar? perguntou o meu coração morto, mas então meus olhos recaíram no seu pescoço e, apesar de não sentir um mínimo de vontade de atacá-la, ela era humana.
— Jasper... — sussurrou Alice, mal pelos meus sentimentos.
Confusão sendo o ponto principal da minha mente, recolhi minhas coisas e fugi deixando a minha companheira para trás.
O final de semana chegou e Edward tinha voltado; estávamos esperando ele para conversarmos sobre a minha situação. Sobre a minha companheira ser uma humana.
Edward tinha fugido para o Alasca no começo da semana, quando conheceu uma das garotas novas, eu nem faço ideia de quem seja ela, nem mesmo prestei a devida atenção. Mas era a La Cantante de meu irmão e isso destruiu ele.
Quando ele voltou, nos reunimos na sala e começamos a discutir. Eles começaram a discutir.
Eu não estava disposto a ficar longe de Billie, todo o meu ser se revirava para correr até ela agora mesmo, dizer toda a verdade e prometer a eternidade mais feliz da sua vida.
— Ela é humana, irmão! — Edward, o leitor de mentes, jogou em minha cara naquela tarde de sábado. — Vai fazer o que? Transformá-la?
— Isso nunca aconteceu antes — Carlisle quem murmurou quando viu meus olhos perdidos na nova indagação. — Vamos dar um jeito.
— O jeito é se afastar — rebateu Edward, mais uma vez. Meu interior se revirou, se contorceu de uma forma tão dolorosa que eu quis gritar de frustração. — Não podemos nos aproximar das gêmeas Swan, irmão.
E tudo, exatamente tudo dentro de mim queria apenas pular encima dele e quebrar seu pescoço apenas por dar-me essa sua opinião de merda. Mas aí eu encarei a minha família, a família que me ajudou, que cuidou de mim desde sempre.
Eu não podia ser egoísta, sabia bem o que podia nos resultar se isso chegasse nos ouvidos dos Volturi. Seríamos caçados, minha companheira seria esquartejada.
Meu corpo treme com o pensamento. Eu não posso ser egoísta em me aproximar dela, sabendo que tem tudo para dar errado.
— Vamos fazer uma votação — propôs Carlisle, vendo a luta interna dentro do meu peito. — Jazz, quer votar?
Trinquei meus dentes, virando minha cabeça para a vidraça em forma de parede que me entregava a vista da floresta que uma vez foi tão linda e acesa; agora eu só podia pensar que olhar para Billie era muito mais satisfatório.
Eu neguei a oportunidade de começar. Eu não podia tomar uma decisão assim.
— Eu voto "não" — Edward tomou a dianteira e meus olhos rodaram até ele. — Sinto muito, irmão.
— Eu voto "sim" — retrucou Alice, o nariz em pé. — Nosso irmão merece ser feliz, Ed.
Micah concordou com sua companheira. Rosalie, como previsto, votou "não", ela entendia o perigo que nos proporcionava. Esme e Emmett votaram "sim" e Carlisle me encarou antes de se anunciar.
— Sempre vou ser a favor da sua felicidade, filho — ele me disse e como as outras vezes, senti o amor incondicional que ele tinha por mim, por todos nós. Mas isso só serviu para eu me sentisse mais culpado. — Se quiser arriscar, vou apoiá-lo sempre. Mas agora, minha resposta é "não."
De todos que responderam que concordavam com o meu afastamento de Billie, Carlisle foi o que eu entendi. Ele era o líder desta família, ele tinha que ver o que era o melhor para todos nós.
— Jasper, você vai votar? — questionou Alice, gentil e com um sorriso mínimo nos lábios. — Não precisa, se não quiser. O "sim" tá ganhando.
E ela estava certa. Estava 4 contra 3, o meu voto poderia apenas consolidar o que eu queria ou empatar o meu coração.
Eu amava todos daqui, faria de tudo por eles e por mais de estarem pedindo além do que eu e minha alma pode realmente dar, eu não posso culpá-los. Afinal, qual seria o meu futuro? E se ela não aceitasse o que somos? E se ela não quisesse passar a eternidade ao meu lado?
Valia a pena amá-la apenas para perdê-la tão rápido? Valia a pena colocar todos que eu amo em perigo por ela, que parece tão feliz em ser humana, em ser viva?
Olhei para todos ali e tomei a minha decisão. Eu não podia me aproximar de Billie Swan. Eu não poderia me aproximar de minha companheira.
Foi naquela tarde que meu coração morreu pela segunda vez. A dor era insuportável, era incrustante, mas eu tinha tomado a minha decisão.
Até hoje.
— Meninos, o que aconteceu? — perguntou Esme, bem calma no meio da sala, nos esperando com os outros.
— Edward se revelou para a humana — rosnou Rosalie.
— Eu não podia deixá-la morrer!
— Tomamos uma decisão, Edward — Rosalie foi firme ao dar um passo na nossa direção. — Elas não entrariam na nossas vidas.
— E elas não vão entrar.
Soltei um riso nasalado e a atenção de todos veio para mim. Fixei-me em Edward.
— Sabe o quão injusto você está sendo? — declarei, por fim. — Pediu para que eu me afastasse da minha companheira e na primeira oportunidade, você está salvando a sua La cantante.
— Você também se revelou, Jasper! — ele rosnou, apontando o dedo na minha cara. Mantive a compostura, rosto sem expressão, braços atrás das costas. — Impediu que Billie entrasse na frente de Bella.
Foi um resquício de desespero. Billie não conseguiria chegar em sua irmã a tempo, eu sabia disso. Bella iria morrer.
Mas Edward entrou na jogada, com sua velocidade sobrenatural e eu sabia que ele iria parar o carro com a mão. A probabilidade dele acertar aquele carro com mais força do que o desejado e ele terminar de deslizar pelo gelo era enorme e se Billie continuasse a correr daquele jeito na direção deles, iria ser acertada.
É duro, mas eu escolhi a minha família ao não pensar em salvar a irmã de minha companheira. Mas Edward não escolheu e me fez saltar pelo estacionamento para segurar Billie; para que ela não se aproximasse.
Encarei Edward, sabendo que não precisava colocar nada daquilo em palavras, ele estava lendo a minha mente, estava sentindo raiva de mim pelo o que eu estava disposto a fazer. Ele sentia algo pela sua La Cantante.
— Não vou continuar nisso — murmurei por fim, recuando de seu olhar mortal.
— Pra onde você vai, querido? — perguntou a doce Esme, não gostando de nada dos seus filhos brigando deste jeito.
— Deixei Billie no hospital com a irmã, vou ver se ela está bem — continuei a falar enquanto subia para o meu quarto, sabendo que todos ouviriam.
— Jazz... — resmungou Rosalie, mas Esme interrompeu antes que ela pudesse soletrar o quão ruim poderia ser aquilo. — Eu vou com você — ela decidiu, por fim e apesar de saber que era para me controlar, eu não a refutei.
— Você pisou na bola, irmão — foi a última coisa que eu ouvi de Emmett antes dele saltar pro meu carro e eu dar partida, atingindo o limite de velocidade para chegar.
(...) Forks Community Hospital
Mal precisei aguçar meus ouvidos para saber onde ela estava. Tínhamos acabado de cruzar a recepção quando seus cabelos escuros chamaram a minha atenção, junto de sua voz um tanto alterada:
— Por que eu não posso vê-la? — Billie questionava a recepcionista que tentava travar sua cara friamente. — Sou Billie Swan, irmã dela, dá pra ver — ela apontou pro seu próprio rosto.
Não esperei que Emmett e Rosalie me alcançasse e me aproximei com as mãos nos bolsos. A moça jovem que estava atrás do balcão não demorou para me reconhecer. Eu não vinha muito no trabalho de Carlisle, por razões óbvias.
Mas não era difícil reconhecer um Cullen, principalmente um que é tão parecido com o doutor.
— Sr. Hale? — ela sorriu gentil, transformando seu rosto da expressão que estava entregando para Billie. Essa que se virou para me encarar, seus olhos vagamente vermelhos. — Seu pai está atendendo, quer que eu o chame?
— Acabei de falar com ele — garanti, sem deixar pausas para perguntas. — Vou conduzir a senhorita Swan para ver sua irmã — seus olhos se transformaram e seus sentimentos arderam em raiva e inveja. — Algum problema?
— Nenhum, Sr. Hale — ela garantiu, liberando a nossa entrada com o segurança.
Estendi a mão em frente ao corpo, dando espaço para que ela passasse por mim. Ainda me encarando com dúvida, mas agradecida, Billie respirou fundo e quase voou na direção em que eu falei que sua irmã está.
Temendo perder o controle sem ela muito perto, pareci um carrapato aos seus pés. Quando ela entrou na sala onde as pessoas estavam sendo atendidas, percebi que seria muito melhor se eu ficasse aqui. Não tem o porquê de eu entrar lá.
— Filho? — Carlisle se aproximou de mim, vestindo seu terno e jaleco por cima. — Aconteceu alguma coisa?
— Um acidente — respondi de mal gosto ao ouvir Edward chegando na recepção. — Edward mostrou-se para Bella e eu tive que segurar Billie. Sinto muito.
Apesar de tudo, eu devia muito ao Carlisle e a Esme, saber que a qualquer momento o meu relacionamento com Billie e a coisa estranha que Edward tem com Bella poderia vir a ser um problema, me deixava muito mal.
Eu não queria ser a ruína dessa família.
— Está tudo bem — Carlisle garantiu, apertando o meu ombro. — Você fez a coisa certa. Salvou ela, Jasper.
E se não? Eu estava em uma briga interna entre meu cérebro e meu coração e estava sendo uma das fortes.
Não julgo Edward por salvar a humana, não mesmo. Se fosse Billie... eu não pensaria duas vezes antes de entrar na frente daquele carro e jogá-lo em direção à floresta. E eu não sou um lentor de mentes como ele, mas consigo muito bem sacar seus sentimentos e meu irmão não está nem um pouco afim de manter-se afastado de Bella Swan.
Apesar das circunstâncias, este também não é o problema; se eu pudesse, viveria lado a lado de Billie, todos os dias, horas, minutos e segundos.
Mas a partir do momento em que ele quer decidir algo por mim, empunhando-me a se afastar de minha companheira, por que ele não está se forçando a fazer o mesmo?
Passei essa semana inteira me remoendo enquanto ele estava tirando férias no Alasca, com a nossa outra família, os Demetri. Sei que deve ser difícil para ele, Bella Swan é sua La Cantante, o sangue dela foi feito para ele.
Mas ele me colocou em uma saia justa ao ter que me fazer escolher entre minha companheira e minha família e quando eu finalmente tomo a minha decisão, ele simplesmente joga tudo pelos ares? Porque enquanto ele estava no Alasca, eu poderia muito bem ter se aproximado de Billie.
É o que eu mais quero fazer. Ouvi-la até que perca a voz, sorrindo até que suas bochechas se desmontem. Sorrindo para mim.
Reivindiquei disso a semana inteira por consideração a ele e a nossa família, agora ele simplesmente joga tudo isto pro ar.
— Queria mesmo que eu a deixasse pra morrer? — ele corta o corredor, voltando a se aproximar de mim, um olhar mais neutro. — Ela é a irmã de sua companheira. Isso não te faz mal?
Ele estava certo. Bella é irmã gêmea de Billie e, caso a garota morresse... eu não quero nem imaginar o quão seria difícil para minha companheira.
Odeio Edward mais um pouco agora, por me fazer pensar em agradece-lo por evitar este sofrimento em Billie. Ele sorri, sabendo o que se passa em minha cabeça.
— Ainda assim, foi arriscado.
— Ele tem razão — Carlisle se aproxima junto à Rosalie. — Foi perigoso se mostrar assim, para a escola inteira.
— Eles não viram nada — afirmou ele, sabendo bem se isso era mentira ou não.
Pouco a pouco, Bella Swan se aproximou e mesmo querendo saber onde estava a sua irmã, aceitei caminhar com Rosalie e Carlisle para fora daquele corredor, deixando Edward para trás pra conversar com a garota.
É a primeira vez que eu noto ela. Seu rosto é simetricamente igual ao de Billie, mas sua pele é mais branca, seus olhos são castanhos e seu cabelo é mais claro.
— Como vai ser agora, Carlisle? — Rosalie quis saber quando chegamos em seu escritório. Eu estava encostado no canto, me concentrando para reconhecer as batidas do coração de Billie nesse hospital. — A humana está desconfiada.
— Não podemos fazer mais nada. Filho, como Edward, está livre para se aproximar — algo parecido com um peso de um caminhão foi retirado do meu peito e colocado no de Rosalie. — Se você quiser.
— Mas os Volturi... — tentei murmurar, um último resquício de dever. — S-se eles...
— Vamos superar, caso eles venham — Carlisle sorriu para mim e ele parecia tão... paternal, tão orgulhoso e esperançoso. — Está na hora de ser feliz, Jasper Whitlock.
Ainda estava pensando sobre isso quando parti pelas portas do hospital, em busca do meu carro. Mas eu sabia, bem no fundo, que eu não tinha corrido tanto na velocidade humana para chegar em meu carro e ir embora, pois vim tão rápido que cheguei primeiro que ela e me encostei no Jeep.
Emmett e Rosalie já estavam dentro, a minha irmã se remoendo para irmos logo, mas seus passos estavam tão perto... seu cheiro... As portas do hospital são abertas novamente e sua risada chega antes mesmo de seu corpo.
Billie está com o braço em volta do ombro de sua irmã e está gargalhando com ela, alheia as outras pessoas que paravam apenas para encara-lá, desfrutar da sua felicidade.
Seu tom gargalhando era como emissões que chegavam na ponta do meu estômago e me fazia querer gargalhar junto.
Billie nem me notou até estar perto do carro de polícia do seu pai. Ela ajudou a irmã a entrar e como se soubesse exatamente a intensidade dos meus olhos em cada partícula que lhe compõe, ela vira para a minha direção e olha nos meus olhos.
Billie não tem medo de contato visual, ela enfrenta o que for e isso até mesmo diverte ela e eu nem sei o porquê. Ela é perfeita.
— Obrigada — ela sussurrou, seus olhos ainda presos no meu, do outro lado do estacionamento do hospital.
Duvido muito que ela saiba que eu ouvi, talvez apenas pense que eu li seus lábios por estar tão focados neles. Eu sorri, um sorriso singelo sem mostrar os dentes, e acenei uma vez com a cabeça.
E a próxima coisa que aconteceu foi o suficiente para que minha existência fizesse sentido, para que se tornasse o meu melhor momento ao seu lado até agora;
Billie sorriu para mim e naquele momento, percebi o quão errado eu estava no começo.
Não havia nada, nada mesmo que eu não faria para estar ao seu lado. Tudo valia a pena, de repente. Valia a pena amá-la e não importa se era pela eternidade ou apenas por segundos como este. Valia a pena lutar contra qualquer dos Volturi apenas para que no final ela me devolva aquele sorriso.
— Jasper está apaixonadinho — cantarolou Emmett, na volta pra casa.
E, sinceramente, apesar de ter feito pouco caso de sua fala com um tom de desdém, ele não poderia estar mais certo.
Ali, naquele final de tarde da segunda-feira, percebi que a Ira dos Volturi nunca chegaria nem aos pés da minha vontade de ficar ao lado dela.
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