13| Aniversário
CAPÍTULO TREZE
"Pense bem sobre as suas companhias, Billie, todos nós estaremos aqui quando tomar a sua decisão."
Uma vez alguém disse que os filósofos e os imbecís tem o mesmo destino. Eu não sei se eu deixo de acreditar nisso, apesar de querer sempre refutar o que um filósofo diz, o que é essa frase, senão a verdade?
Porque não importa como você nasceu, o que você fez no caminho de sua vida, no final, a única coisa constante é a morte. Eu me agarro a isso produtivamente, vivendo todos os dias como se fosse o último e tendo certeza que não me arrependerei de deixar de fazer nada.
Nunca pensei muito sobre a morte, sobre o envelhecimento... Acho que é uma coisa que está por fora do meu controle e não gosto de me irritar com algo que eu não posso controlar.
Eu acredito muito em ciclos e sei a vida é apenas um deles. Não estou preparada para morrer hoje, se alguém me perguntar.
Estou pronta para viver e desfrutar, sem encarar o passado, pois ele só dá coisas ruins pra você lembrar.
Estou vivendo dia após dia, melhorando, adequando-me à tudo.
— As mãos! — ordena, me atacando no lugar que não estou defendendo por falta de atenção. Faço o que ele pede, mas sou facilmente desarmada e presa ao chão. — Ta bom, já chega por hoje.
— O quê? — surpreendo-me, me colocando de joelhos para me levantar. — Não treinamos nem por uma hora!
Observo a estrutura de Kurt sem camisa e um short de malha se aproximando da mesa onde além de algumas armas, tinha duas garrafas de água. Ele pega as duas e me joga uma.
As coisas mudaram desde o baile, principalmente depois. Kurt me encurralou em um lugar bem público, como a escola, quando eu estava com os Cullen.
Ele descobriu antes mesmo que eu pudesse contar e,
prevendo uma possível briga que acabaria com a sua morte, decidi que não iria mais adiar a nossa conversa.
Expliquei tudo o que tinha que explicar, sobre como o nosso relacionamento com os vampiros aflorou, como eles não se alimentam de sangue humano, que eles são bons.
Kurt ouviu e decretou, no final, que eles ainda assim eram monstros que precisavam de sangue para sobreviver; que eu não podia deixar minha irmã viver perto deles.
Ele queria atacá-los naquela noite e só recuou quando eu lhe ofereci um acordo. Eu voltaria aos treinos, sem atrasos, sem corpo mole.
Não era um grande sacrifício, eu já estava pensando nisso desde que o lance com James aconteceu. Me senti uma idiota que não sabia se proteger, queria saber e, dessa vez, de verdade.
Kurt relutou, mas abaixou a guarda quando eu contei a história sobre James e que se não fosse pelos Cullen, nem eu e nem minha irmã estaríamos aqui.
Foi assim que acabei nessa situação. Venho para a cabana todos os dias, às 03h da manhã, o treino acaba às cinco, Kurt me deixa na rua de casa, eu escalo a minha janela, Bella me "acorda", eu tomo um banho e vou para a escola.
Agora era quatro da manhã e ele queria me dispensar.
— Sem treinos hoje. É seu aniversário, aproveita.
— Mas...-
— Você não quer que eu mude de ideia e faça você ficar aqui até o almoço, quer? — indicou, as sobrancelhas indo ao alto. — Foi o que eu pensei. Agora vá.
Giro meus olhos e recolho minha mochila no canto da sala, fazendo meus passos irem até a saída.
— Billie? — Kurt me chama e eu o encaro sobre os meus ombros. — Feliz aniversário.
— Cadê o meu presente? — sorrio sapeca, claramente brincando.
— Os sanguinários é o seu presente — faz uma careta de desgosto. — Avise se eles colocarem as presas em você.
— Eles não vão — cantarolo e saio da cabana.
Como acabou mais cedo, dava tempo de eu chegar em casa estando a pé, era um ótimo treino para controlar minha respiração.
Assim que faço todo o processo dos outros dias e estou em minha cama, sem minha roupa de treinamento — que se consiste em uma calça legging e top —, e sim com um pijama, não demora muito para que a porta se abra e papai se revele com as mãos com dois embrulhos.
Faço a minha melhor cara de sono — o que não é muito difícil, se considerando que eu não estou dormindo muito bem esses dias — e o sentencio com o meu bom dia.
— Feliz aniversário, Lily — Charlie se inclina para selar minha testa enquanto coloca os dois embrulhos na cama. — Um deles é de sua mãe. Espero que goste.
— Tenho certeza que vou amar, papai. Obrigada!
Ele fica meio sem jeito com a forma que eu o chamo e sorri daquela forma que Bella faz. As vezes eu me assusto com o quão parecido eles são.
Charlie sai do quarto e eu abro os presentes. Mamãe optou em me dar um caderno de desenhos e um estojo com diversas cores. Ela ainda não havia superado que eu não desenhava mais.
Solto um suspiro pequeno e faço uma nota mental de, apesar de tudo, agradecê-la.
O embrulho de papai era menor, uma caixinha aveludada. Tinha uma chave ali dentro. Pulei da cama muito rápido e busquei algum automóvel, mas não tinha nada além do seu carro de polícia e a lataria alaranjada de Bels.
— Belindaaa — cantarolo mais tarde, invadindo o seu quarto, abrindo as persianas. — Hora de acordar. O dia é nosso!
— Billie... — ela geme, se contorcendo para se esconder do sol.
— Acorda, vai! — não lhe dou muita opção quando retiro suas cobertas e pulo por cima dela. — O dia amanheceu. É nosso aniversário! Não é maravilhoso?
Bels me empurra de cima dela e eu quase caio, se não fosse por minhas mãos que procuram um lugar para se apoiar na cama.
— Não, não é.
— Credo, que mal humor é esse?
Eu sabia bem o que era. Bella nunca gostou tanto dos nossos aniversários, de presentes e tudo que envolve atenção. Agora, que simboliza ela ficando mais velha, ela odeia muito mais.
Também não gosto de atenção, mas adoro presentes. Se eu pudesse, receberia presentes todos os dias e jamais me cansaria de me surpreender e agradecer. Mas sei que tenho que me contentar apenas no dia do meu aniversário.
— Quer uma carona? — Bels me pergunta ao me ver descendo as escadas, a mochila na bolsa.
— Jasper está aí — aviso rapidamente, bebendo uma água e ignorando o leve bufar de papai. — A gente se vê na escola. Feliz aniversário, Bel!
— Feliz aniversário, Lil.
Assim que saio pela porta principal, visualizo o loiro encostado na porta do passageiro do seu carro. Ele sorri para mim ao ver-me se aproximar e quando paro em sua frente, há três passos, Jasper fecha o espaço entre a gente, puxando-me pela cintura com ternura e selando meus lábios com os seus.
Apesar de ser apenas um selinho que rapidamente chega ao fim por ele, estou sorrindo feito uma boba enquanto minhas mãos tocam o seu antebraço.
— Isso foi meu presente, Sr. Hale? — mexo minhas sobrancelhas sugestivamente e mordo os lábios enquanto cruzo meus braços atrás de seu pescoço. — Porque se foi... acho que você está propício a me dar mais.
— Estou? — ele pergunta, um sorriso malicioso no canto da boca, uma de suas mãos adentrando de leve a barra da minha camisa. — Mas não, esse não é o seu presente — prendo um gemido de insatisfação quando ele se afasta e pega algo no seu bolso. — Esse é.
Ele estende no ar uma pequena e fina pulseira. Ela brilha, mesmo sem sol. Seus pingentes de borboletas balançam no ar.
— Jasper, é... lindo.
— Borboletas significam liberdade — ele explica baixinho enquanto enrola a pulseira no meu pulso. — Quero que se lembre de mim toda vez que olhar para ela, pois você me livrou de toda aquela tempestade que minha vida era antes de tê-la
ao meu lado.
Sorrio feito uma boba enquanto ele alisa minha pele com seus dedos. Encaramos a pulseira juntos. Seus olhos escurecem quando percebe a cicatriz da mordida. Mas é rápido em mudar a expressão e abrir a porta do carro para mim.
Quando chegamos no estacionamento da escola, tentamos ignorar todos os olhares enquanto Jasper me conduz até o resto de seus irmãos.
Micah é o primeiro a se manifestar e confesso que até me assustar quando simplesmente me estende uma caixa preta.
— Feliz aniversário, Biz — reviro os olhos de uma forma divertida pelo apelido, mas ainda estou tentando identificar o que é aquela caixa em suas mãos. — Abre aí!
Recuo meus olhos para Jasper que dá de ombros. Abrindo o que parece ser a tampa, me impressiono com o tanto de chocolate em forma de coração, estrelas e... presas?
Micah acompanha a minha risada, mas ainda está muito empolgado quando me pede para puxar as gavetas. No plural. Essas que revelam mais chocolates com formas fofas e engraçadas.
— Você deixou ele fazer isso? — apontei pra caixa na direção de Jasper. — Seu irmão está querendo me estufar de comida!
— Sabe o que é melhor? — Micah fecha a caixa e coloca nos meus braços. — Eu mesmo fiz — levanta o queixo orgulho. — Passei três dias fazendo isso e devo dizer, nunca mais!
— Obrigada, Micah. Seu pai vai saber o seu nome quando eu parar no hospital pela diabete — Micah gira os olhos pelo meu drama que é deixado de lado quando eu permito que a verdade venha a tona: — Eu adorei, sério. Não precisava ter todo esse trabalho.
Abraçado com Alice, Micah corta o ar com as mãos, dizendo que não foi nada e que Esme o ajudou.
— Seu presente está em casa. Você receberá hoje na festa — Alice informa, arregalando os olhos ao apontar para mim com dúvida. — Você vai, certo? E arraste sua irmã! O que você prefere, doces ou salgados?
— Tá bom, Alice — interrompe Jasper, circulando a minha cintura com a sua mão. — Estamos indo.
— Jasper! Espera aí...-
Fugimos da fadinha bem a tempo do sinal tocar. Minha primeira aula era de espanhol, tal matéria que Jasper e eu não fazíamos juntos, então tivemos que nos separar depois que ele me acompanhou até a sala de aula.
Evitamos muito contato na escola e isso não me incomoda, apesar de senti-lo lamentando sempre por não conseguir me tocar.
Eu o entendo, as pessoas já tomam conta de sua vida todas as horas daquele interminável inferno, ser como o seu irmão e aparecer junto à mim, parece algo que acorrentaria mais olhares.
E, Jasper, com toda aquela aparência angelical, voz sexy e postura perfeita, odiava atenção.
Meu segundo horário é com Bella, que busca sentar longe de mim para eu não acabar soltando que é nosso aniversário para a turma inteira. Mas ela não consegue escapar de mim pelos corredores.
— Feliz aniversário! — abraço seus ombros.
— Feliz aniversário — ela repetiu mesmo sem querer.
Tínhamos esse pequeno costume no nosso aniversário. Não era grande coisa, mas... quando completamos nove anos, tivemos que ficar separadas na escola porque... bem, eu meio que fui expulsa. Mas foi injustamente!
Enfim, história para uma outra hora.
O que estou tentando explicar é que dos nossos 9 anos até os 13, ficávamos separadas no aniversário, já que ela estudava de manhã e eu à tarde.
Então toda vez que nos víamos no dia do nosso aniversário, cantarolávamos "feliz aniversário" uma para a outra. Isso costumava ser de manhã, no almoço e na janta.
Mesmo estudando na mesma escola depois dos nossos 14 anos, virou um hábito. Mas parece que esse ano a princesinha está frustrada.
Encontramos Edward — ele nos encontra — depois que saímos dos nossos armários. Tento dar espaço para eles que conversam sobre algo de Jacob dar presentes a Bella e o namorado não.
Tentei não ficar ofendida em saber que Jacob não fez questão de me ver quando estava por aqui. O sentimento simplesmente foi chutado pra longe quando Alice pulou a barra de apoio da escada e parou na nossa frente.
Micah se aproximava conversando com Jasper que me encarou e jogou a cabeça um pouco para o lado, me chamando para perto dele.
— Está pronto para a aula de química, Sir Hale? — brinco com um sorriso enorme no rosto ao vê-lo revirar os olhos teatralmente.
— Vai usar hoje à noite — volto minha atenção para Alice que indicava o presente na mão de Bels. — Na nossa casa. Billie já confirmou a presença dela — encolho meus ombros ao receber o olhar de minha irmã. — Ah, qual é? Por favor!
Micah limpa a garganta e apoia-se nos ombros firmes de Jasper, seus olhos fixos em minha irmã que aceita o convite. Micah se separa de Jasper e recebe a fadinha em seus braços.
— Jasper! — minha irma rosna quando fazemos menção de ir embora. — Não é justo manipular as emoções das pessoas.
O empata levanta suas duas mãos, retirando a culpa de seus ombros. Minha irma fuzila Micah que mexe os dedos de uma forma teatral e diz:
— Desculpe, Bella. Feliz... — Jasper empurra o irmão em repreensão e Micah ri alto. — Deixa para lá, então.
Arqueio minhas sobrancelhas bem no topo e não consigo segurar uma gargalhada. Jasper me encara, seguindo a minha felicidade com um sorriso pequeno no rosto.
— Vem — ele sussurra, me assustando ao recolher nossas mãos e entrelaçando.
— Jasper...
Ele parece perceber o que fez e me solta de forma rápida. Tento não parecer decepcionada quando contorço meus lábios para mostrar-lhe um sorriso compreensivo.
— Lírio...
— Tudo bem — dou de ombros.
Eu realmente o compreendia, mas não deixava de doer. Quero dizer... Edward também não gosta de atenção, certo? E ainda assim... Não! Billie, não pense essas coisas. Jasper não é Edward e eu não devo ficar enchendo minha cabeça com isso.
Jasper tem direito a...-
— Aqui está você! — fomos interceptados no meio do caminho por Emmett e Rosalie. — Um ano mais velha. Como está se sentindo? — faço um biquinho enquanto dou de ombros e retribuo o abraço do grandão. — Ok, eu sei que o idiota do Micah te deu um presente de tirar o fôlego, mas... O meu vai ser o melhor.
— Eles vivem competindo por isso — surpreendo-me com a voz de Rosalie sendo direcionada a mim. Ela me estende uma caixinha. — Feliz aniversário, Billie.
Meus lábios entreabrem e encaro Jasper que me encara com um sorrisinho cúmplice. Ao abrir a caixa, observo o conjunto de brincos de pérola, revestido em volta por...-
— Ok, isso é ouro — apontou Emmett inclinando a cabeça. — Mas o meu vai ser melhor.
Pisco na direção de Emmett com escárnio e volto-me para agradecer Rosalie.
— Eu adorei. Obrigada.
Ela assente com a cabeça, seus lábios sendo repuxados minimamente. Meus olhos se arregalam.
— Você acabou de sorrir pra mim? Emm, você viu isso? Ela sorriu pra mim? — aponto de forma exagerada para Rosalie que revira os olhos e deixa seus dentes aparecer. — Jasper, acho que já posso deixá-lo.
Jasper toca o seu peito com falsa indignação e rimos mais uma vez.
— Então, o que acha da gente te levar pra almoçar em Port Angeles? — Emmett dá a ideia com um sorriso contido. — E de lá, já pode ir pra nossa casa. Fica pra festa.
— Bem que eu queria — indago fechando a caixinha e dando para Jasper que guarda para mim em seu bolso. — Mas Billy Black quer me apresentar para umas pessoas na reserva hoje a tarde.
Emmett fecha o sorriso, Rosalie fecha a cara e Jasper tenta não demonstrar o seu incômodo, mas consigo ver a forma como ele desliza as mãos pelos fios do cabelo.
— Não sei porque vai ver aqueles lo...-
— Rosalie! — Jasper a interrompe, me encarando assustado, mas eu não mudo a minha expressão.
O casal se afasta quando o sinal bate.
— Você também sabe sobre os lobos? — Jasper pontua sabiamente. — Certo, quando você vai me falar como sabe de tudo isso?
Dou de ombros, começando a andar com ele em meu encalço.
— Talvez devêssemos colocar na caixinha do "assuntos não discutidos".
Ele pega rápido a indireta.
— Billie...
— Temos química agora.
Ele se mantém calado.
Sei que ele sabe que estou falando sobre a marca de cicatriz em meu pulso. Tentei o entender nas primeiras semana depois do que houve, principalmente porque ele parecia ter se afetado muito com a minha mordida.
Mas então, Jasper nunca mais optou por começar esse assunto e ficou agindo de forma estranha sempre que eu estava perto de Carlisle, me retirando de perto dele e mudando de assunto.
Não seria um problema se eu pensasse que não tinha nada haver comigo. Mas eu tenho quase certeza que tem e Jasper está escondendo.
Eu só espero que ele confie em mim algum dia pra contar.
(...) Reserva
— Billy, seu filho é muito mal agradecido! Será que ele lembra quem foi que o fez descobrir que é alérgico a camarão?
O Sr. Black estava me ouvindo reclamar de Jacob que não havia me dado nenhum presente e, acredite, o problema não é ele não ter dado nada, é ele ter dado um para Bels e nenhum pra mim. Ele nem fez questão de estar em sua casa quando eu vim.
— É o amor, criança — o mais velho na cadeira de rodas dizia. — Você é a Swan errada.
— Aí?!
Ele ri da minha falsa ofensa e eu continuo a empurrar sua cadeira pela reserva até a gente chegar no destino. Era uma cabana, afastada como qualquer casa por aqui.
Um homem acompanhado de uma mulher já estava nos esperando.
— Lily, esses são Sam e a esposa, Emily — o Sr. Black apresenta quando eu paro sua cadeira em frente ao casal e fico ao seu lado.
Reconheço o tal de Sam imediatamente. Ele foi o cara que puxou o amigo, Paul, para fora do meu quarto hospitalar naquele dia.
— É um prazer te conhecer, Billie — Sam diz cordialmente, sua mão na cintura da mulher. — Billy falou muito sobre você.
Retribuo o sorriso de cumprimento e me viro para a mulher. Sua beleza era... diferente. Sua pele bronzeada combinava com seus cabelos negros e lisos. Sua face, do lado direito, tinha marcas de... garras? Meus olhos se voltaram para Sam que se mexeu desconfortável quando percebeu no que eu reparei.
A partir daí, tentei não ser mal educada, principalmente depois que Emily me chamou para entrar em sua casa, dizendo que havia preparado uns bolinhos de chocolate para mim.
Mesmo mal a conhecendo, simpatizei muito com ela e adentramos em uma conversa saudável sobre a fórmula que ela usa para aquelas belezuras. Era muito, mas muito bom.
Emily era uma mulher muito fácil de se lidar e muito simpática também. Enquanto Billy e Sam ficaram conversando no que parecia ser a sala ao lado, Emily e eu estávamos na cozinha, sentadas à mesa, falando sobre coisas banais como por exemplo...
— Não, é sério, você precisa me passar a receita, minha irmã...-
Fui interrompida quando dois corpos passaram soltando risos e empurrões um para o outro enquanto entravam. Era Jared e Paul.
Jared continuou andando até a gente quando nos viu, sorriu para mim enquanto jogava sua cabeça como em um cumprimento e roubava um bolinho da bandeja, sendo repreendido por Emily por não ter lavado as mãos antes.
Sorri com a interação deles e voltei-me para o outro que literalmente paralisou quando me reconheceu sentada.
Seu sorriso, antes preenchendo toda a sua face, foi se fechando aos poucos. Sua pele bronzeada brilhou até mim e seus olhos castanhos simpatizou com os meus quando ele simplesmente não desviou.
Querendo muito que a nossa futura conversa não seja como a última onde ele apenas ficou me encarando daquele jeito e depois virou as costas, me coloquei de pé e me aproximei.
— Olá, Paul, não é? — apontei enquanto jogava minha cabeça para o lado e estendia minha mão para ele. — Sou Billie. A gente se encontrou no hospital no outro dia.
Ele pisca, parecendo sair do seu transe. Seus olhos recuam por um único segundo para algo atrás de mim antes dele coçar a garganta e assentir, levantando sua mão para me cumprimentar.
Mas sua mão nunca toca a minha, pois ele para o gesto assim que seus olhos sobem da minha mão para o meu pulso, ou melhor, para a cicatriz em meu pulso.
Paul mal me encara quando seus ombros tremem por algum sentimento que eu não consigo distinguir antes que ele vire as costas para mim. Outra vez.
Encaro suas costas confusa e com uma raiva crescendo em meu peito. O que ele tem contra mim, afinal? Eu sei que o abandonei em uma floresta naquela vez em que ele estava bêbado, mas o que ele esperava que eu fizesse? Ele não pode agir assim comigo sem nem me conhecer.
Determinada a saber qual era o seu problema comigo, bato os pés no chão e sigo-o.
— Billie, eu acho melhor você não...- — Jared começa a falar, mas eu o ignoro quando saio da cabana e grito por Paul que estava quase que correndo até a floresta. — Sam!
— Pode me falar qual é o seu problema comigo? — encaro-o de frente, ele me olha de cima, minha autoconfiança se esvaindo quando eu encaro seus olhos que brilham de ódio e seu corpo que aumenta a intensidade. — Paul?
— Paul! — viro-me para ver Sam disparar em nossa direção. Ele passa por mim, empurrando o amigo pelos ombros. — Se acalme. Jared!
O garoto pega em meu antebraço com delicadeza e me puxa para trás. Sua mão queima a minha pele pelo grau de quentura.
— Paul, se acalme agora! — Sam continuava a gritar, empurrando o amigo para se afastar cada vez mais. — Você não quer fazer isso.
Jared sussurra um palavrão exasperado bem na hora em que Paul explode em uma bola de pelos, fazendo Sam recuar para a nossa direção, os braços esticados protetoramente.
— Jared, não fica aí parado! — manda Billy Black enquanto se aproxima empurrando sua cadeira de rodas. — Leve Lily daqui.
E eu simplesmente não tenho reação enquanto Jared me puxa com delicadeza para recuar até um carro. Meus olhos continuam no lobo que rosna para a nossa direção; para a minha.
Eu sabia que eles eram lobos, não estou surpresa por isso. Mas... todo aquele ódio nas íris de Paul. Algo dentro de mim se revirou e sei que não foi por medo, mas também não consegui reconhecer o que podia ser.
— Olha, não leve ele a mal — Jared fala comigo pela primeira vez desde que eu entrei nesse carro. Ele tinha acabado de virar a rua para a minha casa.
— Seu amigo acabou de virar uma bola de pelos gigante e você me fala para não levá-lo a mal? — indico sem acreditar, soltando um risada nervosa no final. — Uau.
Ele estaciona seu carro em frente a minha casa. Vira o rosto para me encarar.
— Somos melhores que as pessoas que fizeram isso — seus olhos descem para indicar meu pulso que eu escondo, com vergonha pela marca pela primeira vez. — Pense bem sobre as suas companhias, Billie, todos nós estaremos aqui quando tomar a sua decisão.
(...) Casa dos Swan
Algumas horas depois, eu já estava arrumada para ir pra festa que os Cullen iam fazer pra gente. Descobri por Charlie que Bels já tinha ido, convencida por Alice pra se arrumar lá.
— Toma cuidado — pede papai, quando desço pelas escadas, avisando que minha carona havia chegado. — Você está linda.
— Obrigada, pai. Volto mais tarde.
Deixo um beijo em sua bochecha e corro para sair de casa, entrando no carro chique de Micah. Ele me cumprimenta e me elogia, logo dando partida no carro.
A viagem é tranquila e eu fico admirando a vista enquanto ganho o vento na cara.
Sabia que Jasper não iria vir me pegar, principalmente porque depois daquela nossa mini discussão, eu passei a evitá-lo por toda a escola.
Solto um suspiro, chamando a atenção de Micah. Não queria brigar com Jasper. Odeio fazer isso.
— Sei que não consegue entender agora — Micah começa a dizer, prendendo a minha atenção. — Mas Jasper só quer te proteger. Todos queremos.
— Não se protege a pessoa que você gosta guardando segredos, Micah. Você protege confiando nela.
Ele fica quieto depois. Sua fala apenas serviu para que eu soubesse de certeza que realmente tinha algo rolando e que era algo haver comigo.
Logo a mansão se faz presente e Micah estaciona, abrindo a porta do carro cordialmente para que eu pudesse descer. Entramos juntos e ele avisa que minha irmã está sendo feita de refém por Alice. Solto uma risada curta e dou alguns passos para ir até elas, mas um vulto para em minha frente.
Assusto-me de antemão, perdendo o ar e o soltando ao reconhecer Jasper.
— Ah, oi.
— Olá — ele murmura, seus olhos me queimando de cima a baixo. — A gente pode conversar?
— Eu tava indo ver Bels...
— Por favor — Jasper pede e meu coração derrete. Ainda não tinha a habilidade de ignorar aquele seu olhar e sua voz.
Ele desliza sua mão até a minha, entrelaçando-a e me puxando para subir as escadas. Ele me guia até o seu quarto e abre a porta para que eu pudesse entrar primeiro.
Estava igual a última vez que entrei aqui, a única diferença é que aquele vidro da parede estava aberto, revelando a vista nua e crua e o risco de uma morte certa. Jasper passa por mim e para na ponta da abertura, vendo a minha hesitação de se aproximar dali.
Se eu caísse... morreria antes mesmo de chegar ao chão. Sem contar o meu medo fodido de altura.
Percebendo qual é o meu receio, ele afirma:
— Eu jamais a deixaria cair, querida — meu sorriso se abre antes mesmo que eu pensasse sobre e abaixo a cabeça, tentando esconder a ação enquanto me aproximava aos poucos. — O quê? O que foi?
— Gosto quando me chama assim — admito, aos sussurros. Respiro fundo, permitindo que a minha pose volte enquanto eu coloco minhas mãos no bolso de trás da calça e admiro a vista. — O que queria conversar?
— Sabe o que é uma companheira para um vampiro? — ele é direto.
Pensei um pouco quando o sentimento de familiaridade.
— James falou que você é o meu.
Jasper manejou com a cabeça e passou seus dedos pelo seus cachos dourados.
— É um tipo de... presente para o vampiro. Uma alma gêmea — ele se vira para devolver o meu olhar. Da um passo em minha direção. — A ligação é imediata e irredutível. Um foi feito para o outro. Você é a minha companheira.
Estou de olhos esbugalhados em sua direção, algo borbulhando no meu estômago, um sorriso terno brincando com os meus lábios.
— Meus sentimentos por você são muito mais intensos do que você pode imaginar, Billie.
Gaguejo pra dar uma resposta, mas não consigo chegar a uma solução.
Meu peito se contorce para soltar todos os sentimentos, mas algo prende a minha garganta e quando Jasper faz com que eu sinta todos os seus sentimentos em relação à mim, meus olhos se enchem de lágrimas pela intensidade que me invade.
— Não quero perdê-la. Não posso.
— Jasper... — suspiro o seu nome, subindo minha mão para o seu rosto. Ele sela os olhos brevemente pelo meu toque. — Você só pode me perder, se você quiser.
— Eu não quero.
— Então eu vou estar aqui — afirmo, minhas íris se afundando nos seus olhos negros. — Eu só preciso que você confie em mim tanto quanto eu confio em você.
— Não é falta de confiança, lírio — confessa, tocando no meu pulso e fazendo um carinho ali. — Eu prometo que as coisas vão ficar mais fáceis. Eu só preciso que você me dê um tempo pra pensar em como vou explicar tudo.
Fico preocupada com o que ele quer falar; com o medo que ele transparece pelo assunto em questão.
— Pode fazer isso por mim? — abaixo meus ombros, permitindo-me confiar nele o suficiente para esperar o seu tempo. Jasper olha para cima, ouvindo além do que tem nesse quarto. — Sua irmã acabou de descer, vamos?
Entrelaço nossos braços e seguimos para descer até a sala que estava toda arrumada com uma mesa cheia de doces, dois bolos e alguns salgadinhos. Tive que me segurar para não atacar aquele lugar antes de passar pela sessão de fotos.
— Feliz aniversário, Billie — Esme me abraça de forma terna, me fazendo quase derreter em seu abraço que exala o calor de uma mãe.
— Ok, eu quero vocês duas lá! — Alice indica a parede mais decorada, segurando a câmera.
Bella e eu ficamos lado a lado na parede indicada e eu sorrio para ela.
— Feliz aniversário, gêmea. Agora sorria.
— Feliz aniversário — diz entre o sorriso e depois tenta não fechar os olhos com o flash que invade nossos olhos.
— Ok. Jasper?
Bels recua para receber os parabéns de Carlisle, Jasper chega ao meu lado com um olhar baixo. Eu sorrio minimamente para ele enquanto mordo o canto dos meus lábios.
A revelação de mais cedo deixou as coisas entre nós mais firmes, ao menos, para mim. Se antes seu toque me queimava, agora eles marcam a minha pele. Se antes seus olhos me analisavam, agora eles lêem cada parte da minha alma.
Se antes, eu tinha alguma dúvida, agora não tenho mais.
Ele circula a minha cintura e encara a câmera rápido o suficiente para Alice nos fotografar.
— Namorando uma mulher mais velha, irmãozinhos— todos viramos para Emmett que estava ao lado de Edward, de braços cruzados. — Sexy!
Jasper entreabre os olhos e sua expressão me diz que se ele fosse humano, suas bochechas estariam avermelhadas.
— Falando nisso... — Emmet aproveita a deixa para circular os ombros de Edward. — Como vocês se sentem namorando garotas com o mesmo rosto, irmãozinhos?
— Meu Deus, ele teve mesmo a coragem! — Micah pontua estupefato.
Emmett se prepara para soltar mais alguma, mas ele é interrompido por Alice que assume a hora de dar os presentes.
Rosalie começa com o seu colar para Bels e toco levemente no brinco de pérola que eu decidi usar hoje.
Sugo o ar entre os dentes ao sentir o meu braço esquerdo dar uma fisgada. Jasper se vira para mim enquanto Bels e Edward tiram uma foto.
— Tudo bem? — aceno levemente, não tendo muita certeza. Peço um momento para usar o banheiro. —Eu vou te acompanhar.
— Não — interrompo-o, minha mão indo até o seu peitoral e fazendo um pequeno carinho ali. — Tá tudo bem. Eu já volto.
Ele parece meio tenso e preocupado, mas seus ombros se abaixam quando eu selo nossos lábios preguiçosamente.
Peço licença para ir ao banheiro e Alice me pede para ficar preparada para os presentes quando eu voltar. Quando chego ao banheiro que tem perto da cozinha, me tranco lá dentro e subo a manga do meu braço esquerdo.
Ele fumaçava. Literalmente. Olho o processo dele ficando meio avermelhado com terror, sentindo ele
esquentar aos poucos enquanto sobe alguma brisa quente da minha pele.
Ligo a torneira e coloco meu braço embaixo, soltando um suspiro de alívio. Que merda está acontecendo?
Estou com minhas mãos apoiadas na pia e minha cabeça entre meus ombros quando ouço o som de vidros estilhaçando-se e Bels gritando. Abaixo a manga com tudo e saio do banheiro, correndo até onde estava toda a bagunça.
Bella é a primeira que eu noto, caída sobre os pedaços de vidros da mesa onde as comidas estavam. Seu braço todo sangrava e ela estava sendo atendida por Carlisle.
Mas então, meus olhos deslizam pra os movimentos excessivos de Jasper, que estava sendo segurado por Emmett, Micah e Alice. Ele se contorcia, seus olhos muito mais negros que antes, suas presas ficando à mostra.
— Jasper? — sussurro.
Todos os seus movimentos param, Bels já tinha sido retirada daqui por Carlisle que iria dar um jeito em todo aquele sangue. Jasper me encara com pesar, com vergonha e horror.
— Jasper... — falo com mais firmeza, retirando a surpresa, que foi confundida com medo por ele que simplesmente sumiu. — Jasper!
E ele se foi.
(...)
Jasper desapareceu por um tempo, como toda a sua família. Tentava aconselhar Bels, dizendo que eles só precisavam de um tempo, mas eu não estava conseguindo me convencer depois que o final de semana chegou.
Não sei o que ele acha que eu pensei naquele momento ou o que eu penso agora, mas tenho certeza que é algo totalmente diferente do que eu realmente pensei.
Jasper não é um monstro, como poderia ser? Como eu não o entenderia? Com todo o seu poder de sentir o que os outros sentem.
Ele não tem culpa de ter se descontrolado ao sentir a sede de todos os seus irmãos de uma vez só. Eu não sabia o que ele estava pensando, mas eu acho que descobriria logo.
Bem logo, reafirmo ao entrar no meu quarto às seis da manhã do sábado, depois de um treino cansativo com Kurt.
— Jasper! — anuncio, todo o brilho da minha expressão voltando para o lugar. Eu avanço para abraçá-lo, mas paro quando ele recua. — O que foi?
— Billie... precisamos conversar.
Estreito meus olhos confusa sobre o que estava acontecendo. Do porquê de Jasper se afastar sempre que eu dava um passo em sua direção. Do porquê dele simplesmente usar a sua velocidade sobrenatural para se colocar ao lado da janela quando eu me aproximo dele.
Ou tento.
— Primeiro, quero me desculpar — ele mexe a cabeça e franzo as sobrancelhas ao ver a forma como ele
fala comigo. Frio. — Acabei me descontrolando. Não queria atacar a sua irmã.
— Eu entendo — dispenso suas desculpas. — Não precisa se preocupar, Jasper...-
— Sim, eu preciso — ele leva suas mãos para as costas. — Mas não quero só pedir desculpas. Quero... — ele desvia os olhos, sua expressão se contorcendo em dor. — Quero me despedir.
— Se despedir? — repito com escárnio. — Do que você está falando?
— A decisão foi tomada. Não podemos mais ficar em Forks. As pessoas já estão percebendo que a gente não envelhece e...-
— Estão aqui há dois anos — jogo em sua cara, dispensando. — Não me venha com essa, Jasper. Sei que está se sentindo culpado, mas não precisa ir embora. Bella entende. Todos entendemos.
— Mas eu não! — ele se descontrola e torce o maxilar, me dando as costas. — Eu não podia me descontrolar assim, Billie. Foi um erro e não vou ficar aqui esperando que esse erro aconteça com você.
— Está ouvindo o que você está falando? — avanço com raiva e um pouquinho de desespero também. — Você não pode me machucar. Você não vai.
Tento tocar em suas costas, mas meu corpo se sobressalta quando ele vira bem rápido e segura meus pulsos com firmeza. Meus olhos se conectam aos seus que estão cheios de um líquido que parece impossível de transbordar dos seus globos oculares.
— Eu posso. Eu posso sim te machucar, Billie — ele intensifica o aperto nos pulsos, apenas para soltar descontroladamente. — Por isso que eu tenho que ir. Me desculpa.
— Está me machucando agora — indago à ele assim que Jasper segura a janela para ir embora. — Não pode ir embora, Jasper. Não depois do que me disse no meu aniversário. É algum problema comigo? É sobre o segredo...?
Ele solta um riso nasalado — sem graça alguma — enquanto abaixa a cabeça. Se vira pra mim, enchendo meu peito de esperança.
— Esperei você por 150 anos e, ainda assim, você conseguiu ser melhor do que eu imaginei.
Diferente dos dele, meus olhos sim transbordam o que eu sinto.
— Então fique.
Seus lábios contornam o seu rosto, dando-me a visão de suas covinhas; esperanças.
Mas então ele diz:
— Eu não posso, querida.
Minha expressão cai, algo se revira dentro de mim, minhas mãos formigam quando ele termina de recuar até a janela, uma das pernas sendo colocadas para fora.
— Jasper! — grito, minhas mãos se fechando em punho. Ele me encara. — Se sair... se você for mesmo embora, acabou.
Sua cabeça abaixa para passar pela janela. Meu coração afunda no peito. Jasper me olha de relance uma última vez e não sei o que faz meu coração se despedaçar, se é a sua partida, ou suas últimas palavras:
— Nós nunca tivemos nada.
Se há alguma mãe por aqui, feliz dias das mães!
Não sei se vou conseguir postar amanhã, mas se não conseguir mesmo, eu volto de certeza na segunda.
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