Pungente Verdade
De janelas abertas, Johnny teve suas lágrimas secas pela brisa que adentrava o carro. A face apreensiva não possuía intenção de se desfazer tão cedo e o jovem personal trainer nem ao menos ligava para como estava se apresentando naquele momento. Assim que estacionou perto da praça e conseguiu reconhecer Sea sentada no banco de frente ao parque infantil, Johnny tomou ar e expirou lentamente como se sua vida estivesse escorrendo por entre seus lábios.
Tocou levemente o ombro da garota de cabelos castanhos revelando sua presença.
ㅡ Ah, é você...! ㅡ ela sorriu um tanto nervosa ㅡ Me assustou.
Ele sorriu mesmo que não quisesse e se sentou ao lado dela. Depois de todos aqueles anos pensando sobre eles, seu tempo juntos, sem poder entrar em contato, Johnny imaginou que as fortes emoções do passado o acertariam o coração. No entanto não teve magia, saudade ou qualquer outro sentimento. Ele até mesmo estranharia, contudo o vazio que sentia era forte demais para ele se questionar.
ㅡ Sinto muito te chamar assim do nada.
ㅡ Tudo bem, eu queria me encontrar com você também só precisava de um empurrão. ㅡ riu baixo.
Johnny então desviou seu olhar para o escorregador alguns metros a frente parecendo distante.
ㅡ Aconteceu alguma coisa? ㅡ Sea analisava suas expressões.
Ele permaneceu em silêncio. Imaginava como responderia a essa pergunta com tanto ocorrendo em sua vida.
ㅡ Parece abatido... O que houve...? Foi sua mãe outra vez?
Levemente os olhos de Johnny caminharam novamente de encontro com os de Sea.
ㅡ Claro... ㅡ ela suspirou ㅡ É sempre ela.
ㅡ Muita coisa aconteceu desde a última vez que nos vimos. Sinto muito não ter me despedido de você, por ter simplesmente desaparecido.
ㅡ Não há nada em que precise se desculpar... Eu sei que foi sua mãe que nos afastou, que te obrigou a ir embora.
Por muito tempo Johnny alimentou seu rancor pelas escolhas da mãe, entretanto com Sea falando daquela forma as lágrimas e palavras da senhora Seo vinham nítidas em sua memória. Seu peito doía, não era mais raiva. Ele estava triste.
ㅡ Eu senti muito a sua falta. ㅡ ela confessou ㅡ Estou tão feliz por ter te encontrado novamente... Não importa o que digam, o que sinto por você se tornou verdadeiro.
ㅡ Se tornou verdadeiro... ㅡ Johnny juntou as sobrancelhas franzindo o cenho ㅡ O quê?
Sea se calou por alguns segundos não sabendo como responder.
ㅡ Do que está falando? Não importa o que digam, se tornou verdadeiro?
ㅡ Não, espera, você está entendendo errado...
ㅡ O que quis dizer?
ㅡ Eu ainda te amo, eu só... ㅡ seus olhos tremeram ㅡ Sua mãe estava errada...
ㅡ Em quê? Me dizer que você só estava me usando?
Ela apertou os lábios um no outro.
ㅡ Johnny, eu... ㅡ fora interrompida.
ㅡ Eu nunca te disse isso. ㅡ seu olhar era penetrante ㅡ Como soube que minha mãe nos separou? Eu não discuti sobre esse assunto com ninguém que você conheça.
Ele não se via alterado, muito menos perdeu seus sentidos para aumentar o tom e gritar com a garota, porém empatia era a última coisa em que Johnny pensava no momento. Foram tantas mentiras, tantas decepções que ele não acreditava mais em ninguém.
ㅡ Quem mentiu? Minha mãe? Você?
ㅡ Você não confia em mim...?
Os olhos de Sea marejaram, ela se encontrava sem reação ao mesmo que bastante amedrontada pelas palavras do outro.
ㅡ Estou muito cansado, vê?
Seu semblante demonstrava bem o significado de suas palavras.
ㅡ Chega de mentiras, eu não aguento mais... Me conte a verdade.
Ela se recusava a deixar as palavras fugirem mesmo de lábios trêmulos pelo choro que queria domina-la.
ㅡ Por favor... ㅡ ele fechou os olhos por alguns segundos ㅡ Me diga, foi tudo uma encenação?
ㅡ Não...! ㅡ se desesperou ㅡ Eu...! Não, no começo eu...! ㅡ não conseguia encara-lo.
Levemente concordando com sua cabeça, Johnny percebeu que não estava preparado para aquilo mesmo trabalhando tanto seu psicológico o caminho inteiro até se ver frente a frente com a ex-namorada.
ㅡ Você estava me usando. ㅡ ele simplificou a fala dela.
ㅡ Fiz o que me pediram no começo, mas você...! Me apaixonei por você, por nós! ㅡ apertou as mãos dele ㅡ Não foi uma mentira, pode ter começado como uma, mas nossos momentos foram reais! Nosso sentimento foi recíproco.
Johnny libertou suas mãos com calma e afastou as da menina de perto de si.
ㅡ Por que fez isso comigo?
ㅡ Johnny...
ㅡ Eu te contei meus medos, meus segredos, minhas dores... Eu confiei em você. E para quê?
ㅡ Está sendo cruel... ㅡ ele acabou deixando as lágrimas escorrerem.
ㅡ Eu sou cruel? ㅡ escondeu seu rosto com as palmas de sua mão brevemente num gesto cansado ㅡ Você fingiu que me amava e ainda acredita que tem o direito de me dizer isso?
ㅡ Você está acreditando somente no quer! O que eu sinto não conta?!
ㅡ E você pensou nos meus sentimentos?! Não me venha com essa!
ㅡ Não sabia que acabaria assim! Eu te amo, eu realmente te amo!
ㅡ Você nem cogitava a ideia de me contar a verdade, não tente me manipular com essa agora. O que ganharia com isso? Se aproximou de mim pelo dinheiro da minha família?
Não obteve resposta.
ㅡ Como pode jogar tão baixo assim?
ㅡ Sinto muito...! ㅡ ela tentava controlar o choro ㅡ Eu sinto muito...
Johnny se levantou após um longo suspiro.
ㅡ Espera! Por favor, não me odeie! ㅡ rapidamente ela o segurou pelo braço ㅡ Me perdoe, eu me arrependo!
Com uma encarada firme e fria, ele prosseguiu:
ㅡ Por que eu deveria?
ㅡ Eu faço qualquer coisa para me redimir, por favor! É só me dizer!
ㅡ Tudo bem... Vá embora da minha vida e não volte mais. Está perdoada.
O corpo de Sea petrificou no lugar onde estava.
ㅡ Adeus.
Após tantos anos, finalmente Johnny conseguiu se despedir propriamente de seu amor mais profundo e doloroso. Suas boas memórias não passaram de uma farsa e mesmo assim lá estava ele rindo em seu carro. Qualquer um a par daquela situação acreditaria que ele estava enlouquecido, até que, no meio de todo aquele riso, as lágrimas se libertaram sem a intenção de parar. O que passava em sua mente aquele instante era em como finalmente compreendia o que Yuta sentiu no dia em que desistiu de seu primeiro amor.
Falando no japonês, lá estava ele trabalhando brincando com as crianças quando o amigo mais alto chegara. De olhos inchados, entretanto agindo como se nada tivesse acontecido, Johnny caminhou normalmente naquele pátio se desviando das crianças e pais que partiam. Logo Yuta se aproximou.
ㅡ Ei, você veio de novo! ㅡ seu sorriso rapidamente se desfez ao ver a face do outro ㅡ O que aconteceu com a sua cara?
ㅡ Sono. ㅡ Johnny sorriu serenamente ㅡ Estou com sono.
ㅡ Tá, essa não colou. ㅡ apertou a vista ㅡ E veio aqui por quê? Lembrando, o papo da saudade que você e o Taeyong usam já está fora de cogitação.
ㅡ Vim buscar o meu irmão. ㅡ simplesmente falou.
ㅡ Quê? ㅡ Yuta soprou um riso.
A expressão de Johnny não mudou, com dois toques por cima do ombro de Yuta, ele caminhou para dentro daquela escola que esbanjava alegria pelos risos infantis e adoráveis.
Como de costume, Jinwoo correu para abraçar o irmão pelas pernas. Entendendo o recado, Johnny o pegou no colo após ambos se despedirem da professora e caminharam novamente para o pátio.
ㅡ Johnny... Você não pode estar falando sério. ㅡ Yuta comentou assim que viu o amigo na volta.
ㅡ Esse é o Jinwoo, meu irmão mais novo. ㅡ tocou a bochecha da criança rapidamente ㅡ Mas tenho certeza de que já se conhecem.
ㅡ Não, quer dizer, sim, mas espera...
ㅡ Até segunda-feira professor. ㅡ o menino acenou à Yuta.
ㅡ Sim, Jinwoo até segunda... ㅡ se despediu sorrindo para o menino ainda perdido pela situação.
ㅡ Então é isso. Até depois. ㅡ esta fora a deixa de Johnny.
ㅡ Não, ei, ei espera aí!
Yuta tentou para-lo, contudo Johnny o ignorou e continuou caminhando com o irmão até seu carro. Não podendo deixar seu posto ou tirar sua atenção das crianças que aguardavam seus responsáveis virem buscá-las, Yuta rapidamente teclou uma mensagem para os amigos.
Yuta
Johnny está agindo estranho >
Doyoung
E quando ele não tá? >
Winwin
Novidade >
Taeyong
Eu ficaria mais impressionado se dissesse que ele está agindo como uma pessoa normal >
Ten
Ele é anormal, esse é o normal dele >
Yuta
Ele apareceu com uma criança e chamou de irmão >
Ten
Ok, estou ligando pra polícia >
Doyoung
Meu Deus, que >
Jaehyun
Acabei de chegar e não entendi nada >
Taeyong
Ele expôs o Jinwoo assim? >
Jaehyun
Quem é esse?
Winwin
Algo ruim pode ter acontecido >
Doyoung
Por que parece que vocês sabem de alguma coisa? >
Ten
Tão de segredinho, que lindo >
Calma aí, ah já entendi tudo! >
Jaehyun
Me explica então >
Winwin
Liguem pra ele! >
Ten
Ele foi demitido, agora tá trabalhando pra Rebecca e ia pra escola do Yuta com desculpas pra não sabermos que ele tinha um irmão, mas o Taeyong e o Winwin descobriram! >
Taeyong
Eu já disse que tenho medo de você?
Jaehyun
Quem é Rebecca? >
Doyoung
Mas por que ele escondeu o menino da gente? >
Ten
Hellooo, a mãe dele é o Diabo Veste Prada??? >
Taeil
Meu Deus Chittaphon, que isso >
Jaehyun
Alguém quer pelo amor de Deus me dizer o que está acontecendo??? >
Ten
Johnny está lascado, entendeu agora jumento?
Winwin
Estou indo pra uma reunião, dá pra alguém ligar pra ele e ver se está tudo bem fazendo o favor?
Doyoung
Estou de plantão não posso ligar, alguém tenta entrar em contato com ele >
Taeil
Calma gente, ao que parece ele já tinha falado sobre isso com o Taeyong e o Winwin, não é? >
Ele deve ter cansado e resolveu falar a verdade >
Taeyong
Sei lá, a mãe dele fez umas parada aí. Vai que ele some igual o Yuta >
Jaehyun
Ainda não estou entendendo nada >
Yuta
Dá pra parar de me usar como exemplo sempre que algo acontece?
Winwin
Ninguém lembrou de mim daquela vez, mas não sou desalmado e penso no bem estar de vocês. Liguem pra ele >
Ten
Eu até diria que foi dramático, mas também esqueceram de mim, então que Deus elimine todos vocês >
Doyoung
Meu Deus, já pedimos desculpa
Ten
Aceito apenas em dinheiro >
Jaehyun
Ok, eu pergunto pra ele o que aconteceu já que ninguém sabe me explicar >
Ten
Quer que eu desenhe? >
Doyoung
Que grosseria >
Yuta
Tá, tá >
O primeiro que conseguir falar com ele nos atualize sobre o que está acontecendo >
Não importava quantas vezes eles tentassem, Johnny não visualizava mensagens nem atendia as ligações. Pouco a pouco a preocupação aumentou.
Onde raios ele havia se metido?
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