Devolva o que Roubou
O copo de água de Taeyong já se encontrava vazio em meio aquele turbilhão de revelações e, por um minuto, ele jurou que era impossível alguém que esbanjava tamanho otimismo e alegria entre os amigos estar dolorosamente magoado por todo aquele tempo.
No fundo Taeyong quis negar e assegurar o amigo de que estava equivocado sobre os sentimentos da mãe a respeito dele. Queria lhe garantir que a mulher o amava sim, porém com tudo aquilo que Johnny havia lhe dito e confirmado repentinamente, Taeyong passou a dar privilégio à dúvida.
— Espera, deixa eu ver se entendi. — Taeyong deixou seu copo na mesa de centro em frente ao sofá em que sentavam — Você tem que cuidar do seu irmão mais novo em segredo senão vai ser obrigado a ir morar na Austrália?
— Sim, e estou sendo vigiado. — se ajeitou no sofá agora repousando as mãos sobre seu colo — Falando nisso, te pergunto agora, você notou algum carro suspeito estacionado lá fora ou perto do parque aqui na frente?
— Carro? Não, eu nem estava prestando atenção nisso. — uma careta — Mas te vigiar chega a ser um exagero, não acha?
— Ela enviou uma miniatura de The Rock aqui pra me dizer que eles têm os olhos que tudo veem. — citou com certo mistério no tom de voz dramatizando a situação.
— Ata, sua mãe tem os olhos de Hórus agora?
— Que nada, aquela ali tá mais pra Sauron.
Não conseguiram evitar, ambos já estavam rindo. Johnny sentiu certo alívio por ver o sorriso sincero de Taeyong sabendo que ele ainda lidava com a dor de uma traição e mais, poder abaixar sua guarda com ele agora que havia compartilhado seu segredo mais profundo.
— Ela me vigia, ameaça meu futuro e aqui estou eu te contando tudo. Mas que se lasque com isso.
— Agora seu emprego... Você perdeu por causa do seu irmão? Porque os instrutores pareciam gostar bastante de você. Até pensei que estivesse de folga quando fui mais cedo e não te vi lá.
— É, Jinwoo tem um horário certo pra entrar e sair da escola, não posso deixar o menino lá esperando ou perder aula por minha causa. E se eu contasse a situação para a minha querida mamãe, estaria cavando minha própria cova. E foi por isso que acabei pedindo ajuda ao Jaehyun.
ㅡ Você também contou pra ele?
ㅡ Ele sabe só um pouco a mais do que vocês sabiam na verdade. No caso, diferente de vocês, ele sabia como o meu namoro terminou. Mas não entrei em detalhes aquele dia, fiquei muito bêbado em uma festa e acabei contando que minha mãe me separou da Sea quando me obrigou a vir pra cá. Foi só isso.
ㅡ Então ele só está te ajudando a procurar um novo emprego?
ㅡ Sim. Eu precisava arranjar um jeito de esperar mais uns meses, mas a vida não coopera. No fim virei basicamente um empregado-personal-trainer de uma celebridade... — coçou os olhos já cansado apenas por se lembrar.
— Espera, você virou o quê? — o encarou surpreso — Como assim Johnny, que celebridade?!
— Se eu disser você jura não me bater?
Taeyong pareceu ter certo pane cerebral quando os olhos correram impacientemente desfocados pelos cantos da sala rapidamente até por fim responder o amigo.
— Claro que eu juro. Juro voar com os dois pés na sua cara se não me contar agora. — juntou as sobrancelhas o encarando com um olhar afiado.
— Rebecca... — murmurando baixou os olhos enquanto brincava com os cordões de seu moletom.
— O quê?! Como isso aconteceu?!
— Ela me viu conversando com o Jinwoo no elevador, além de ser minha nova vizinha e...
— E tem mais?!
— Ela é uma antiga amiga de escola. — fitou Taeyong com um sorriso inocente.
— Johnny como assim estudaram juntos e você nunca contou nada pra gente?!
Taeyong acertou a face de Johnny em cheio com uma almofada enquanto ele tentava se proteger de mais outros possíveis golpes.
— Sério, na boa, o Winwin vai ficar muito puto com você, espera ele descobrir.
— Como que eu ia contar se nem eu lembrava cacete?
— Meu Deus, estranho é eu nem ficar surpreso com isso...
— Ela também me fez prometer não falar nada a ninguém. A empresa dela é contra esse tipo de serviço pessoal, então isso só pode ficar entre nós, ok? O Ten acabou descobrindo essa pequena parte, mas ele me prometeu não contar.
— Ave, olha pra quem você foi falar.
— Queria que eu fizesse o quê? Ele apareceu do nada e enxergou a menina no meu carro lá do fim do mundo. Chittaphon me assusta às vezes.
— Só às vezes?
Os dois riram, porém pelo calor do momento.
— Coitado, isso foi maldade. — Johnny checou o celular ao comentar.
— Mas sério me diz, como você não explodiu ainda?
— Me faço essa pergunta todos os dias. — um meio sorriso se formou nos lábios do mais alto.
— Como consegue?
— O que exatamente?
— Ser assim. Sempre parece feliz e cheio de energia... Eu teria um colapso mental se estivesse no seu lugar.
— Pode trovejar muito, mas uma hora a chuva passa. São só dias ruins, não uma vida ruim. Vai melhorar.
Taeyong sentiu o valor daquelas palavras, e aquilo o fez sorrir sem notar o que deixou Johnny constrangido.
— Não acredito, Lee Taeyong você se apaixonou por mim? — fingiu desgosto, porém logo voltou a rir no instante em que sentiu o soco no ombro que Taeyong lhe dera.
— Quer morrer? — mesmo indignado, ainda sorria.
Aquela sensação fora bastante agradável para Johnny; revelar seu segredo pareceu derrubar quilos e mais quilos de cima de seus ombros. No fundo ele sabia que Jaehyun também seria de confiança, porém a mãe não era fã da ideia pelo fato de que a família Jung possuía estrondosa influência na mídia.
Jaehyun podia não falar muito sobre isso, nem dar muita bola em aparecer em revistas ou fazer entrevistas, entretanto sua família era dona de muitos resorts e hotéis na Ásia, aqueles que muitas celebridades, políticos e várias outras figuras importantes marcavam presença. Tal fato assustava Sra. Seo, sua imagem agora era tudo o que importava. Ela não confiava em ninguém, infelizmente com razão, uma que Johnny acreditava ter sido o golpista que a engravidou.
ㅡ Então, você veio aqui e me pediu pra ficar, mas já tinha certeza de que eu diria sim, não é?
Taeyong riu de forma brincalhona, porém nem tanto, e finalmente deu atenção a bolsa de couro preta que repousava ao seu lado desde que se sentara no sofá.
ㅡ Eu notei essa sua bolsa chique aí meu amigo. Não se esqueça, filho de Sauron, Saurinho é.
ㅡ Por algum motivo tive a sensação de que você não recusaria. ㅡ não evitou de sorrir ㅡ E você ainda me deve uma por aquela vez ter quase me asfixiado atrás de uma moita.
ㅡ Mas que horror, eu já te pedi desculpas por isso e você ainda rejeitou meu amor me mandando abraçar uma árvore.
ㅡ A mãe natureza aceitaria seu amor de muito bom grado.
Seria divertido ter um momento para descontrair com Taeyong, e Johnny agradeceu por isso, entretanto, quebrando sua atenção da conversa, seu celular vibrou. Johnny levemente o alcançou na mesa de centro e encarou o visor agora destravado.
Yuri
Você ainda está com seu amigo aí? (14:17) >
Johnny
< Sim, você precisa de alguma coisa? (14:17)
Yuri
Estou entediada... (14:17) >
Johnny
< Vem pra cá então (14:18)
Johnny acabou liberando um riso baixo por provocar Yuri daquela forma, ele sabia bem que ela não iria para seu apartamento, principalmente por ele estar com visita.
ㅡ O que foi?
Taeyong havia percebido a reação sorridente repentina do mais alto ao ler e enviar as mensagens.
ㅡ É nada não. ㅡ repousou o celular novamente na mesa de centro.
ㅡ Não pareceu ser nada. ㅡ cutucou ㅡ Ficou todo arreganhado aí pro celular. Quem era?
ㅡ Eu nem fiquei arreganhado, eu só dei risada.
ㅡ Johnny, tô vendo na sua cara aí escrito que tá adorando a atenção. Fala logo quem é.
ㅡ Para de palhaçada eu nem tô assim.
ㅡ Meu Deus é a Rebecca? ㅡ estava boquiaberto ㅡ Nossa você é rápido, hein?
ㅡ Rápido?! Quê?!
ㅡ E não negou! Nossa, pra que perder tempo, não é mesmo? Já pegou o número dela e ainda fica mandando mensagenzinha. Hm... ㅡ um sorriso suspeito.
ㅡ Não foi por isso...! ㅡ ria contudo aparentava estar um tanto desesperado ㅡ É um meio de comunicação pra ela me chamar quando precisar, só isso!
ㅡ Para de mentir, você ficou é todo feliz.
ㅡ Ah claro que fiquei, quando ela quer comer pão com salmão é só me dar um toque pra eu ir comprar. Que maravilha é ser empregado.
Antes de Taeyong poder provoca-lo mais um pouco, o interfone tocou e Johnny sentiu certo frio na barriga.
ㅡ Ótimo, só falta ser o mini The Rock vindo me desmaiar e me enfiar num avião pra Austrália.
ㅡ Nossa Johnny sua imaginação às vezes voa longe, né?
ㅡ Longe você diz? Tente ser filho da minha mãe pra ver.
Não demorou muito para Johnny se deparar com algo bem mais preocupante que os seguranças de sua mãe. Ele pensou que a garota tivesse entendido a piada.
ㅡ Yuri, o que está fazendo aqui...?! ㅡ sussurrou ao abrir uma fresta da porta.
ㅡ Você disse que eu podia vir pra cá.
ㅡ Eu estava... Ai meu Deus. O que aconteceu com o vamos manter isso em segredo...?! E se sua manager te pegar aqui?
ㅡ Ela não vem hoje, agora me deixe entrar logo. ㅡ se espremeu entre Johnny e a porta tentando escorregar para o lado de dentro.
ㅡ Não, tá doida...?! Meu amigo está aqui comigo...!
Johnny impediu a passagem da garota bloqueando o caminho com seu joelho.
ㅡ E daí? Você me disse que ele é um fã, qual o problema, é só dizer que te contratei.
E assim se iniciou uma espécie de empurra-empurra no qual Johnny segurava a cantora do lado de fora enquanto ela lutava com todas as forças para entrar. Assim que ela se abaixou para pular entre o braço e a perna de Johnny, o mais alto a segurou pela cintura a tirando do chão pelo impulso de força que ela aplicou ao tentar atravessar.
ㅡ Mas me largue, deixa eu entrar...!
ㅡ Yuri, ele vai achar que somos mais do que amigos, pare com isso e pense um pouco...!
ㅡ O que estão fazendo?
Taeyong se encontrava em pé no corredor atrás de Johnny com o copo, antes de água, agora preenchido com um pouco de chá gelado. Ele bebia calmamente o líquido observando a cena com a mão livre na cintura.
Sem muito o que responder, Johnny simplesmente libertou Rebecca a deixando em pé novamente. Se afastou em uma distância segura de mal-entendidos e esfregou as mãos levemente em sua calça com um riso nervoso.
ㅡ Nada, não estamos fazendo nada!
ㅡ Oi! Eu sou Jang Yuri, mas talvez você me conheça por Rebecca. ㅡ rapidamente ela se curvou com um sorriso ㅡ É um prazer conhecer um dos amigos do Johnny.
E mais uma vez o mais alto a lançou uma careta. Se Taeyong acreditava que eram próximos antes, agora o conceito era muito mais.
ㅡ O prazer é meu. ㅡ apresentou um sorriso fino após retribuir o cumprimento da cantora com uma breve reverência ㅡ Soube que se conheceram na escola. Que coincidência se encontrarem assim de novo, não acha?
ㅡ É, uma coincidência. ㅡ murmurou xingamentos para o amigo o encarando com caretas ㅡ Yuri esse é o Taeyong. Taeyong, Yuri. Pronto, agora já se conhecem.
Johnny sabia muito bem aonde aquilo iria terminar, para isso arrastou os dois para sala de estar em uma tentativa de mudar o assunto.
ㅡ Estava chato lá em cima sozinha. Um pouco de companhia faz bem.
ㅡ Realmente. Ei, Johnny, não vai oferecer nada pra ela beber?
ㅡ Se ainda tiver chá gelado eu aceito, se não pode ser suco.
Johnny se levantou suspirando e já estressado com a situação.
ㅡ Traz alguma coisa pra gente comer também. Eu sei que tem um monte de salgadinho de barbecue escondido aí no seu armário. ㅡ Taeyong comentou da sala.
ㅡ Bando de folgado... ㅡ Johnny murmurou.
ㅡ Taeyong, você está acostumado a ver celebridades?
ㅡ Ah sim, eu já fui em muitas festas, principalmente as da família Jung.
E pouco a pouco Taeyong e Rebecca já se entendiam muito bem e não pareciam desconfortáveis com a presença um do outro. No fim Johnny acabou servindo os dois, porém tão logo já estavam sentados no sofá, Taeyong preferiu a poltrona, assistindo um filme.
Não era como se o filme fosse entediante, era Johnny quem estava bastante cansado, em mais da metade do longa metragem ele adormeceu. Cuidar de uma criança, acordar cedo para leva-lo a escola e ainda manter em segredo sua solidão era bastante peso, Johnny se via esgotado.
Fazia tempo que Yuri havia notado o sono profundo do mais alto ao seu lado. E de olhos fechados ele parecia tão em paz que seu coração palpitava e ela não quis desperta-lo. Taeyong por sua vez, manteve-se focado sem interrupções na tela da televisão.
Em vinte minutos o filme já havia se concluído. Se espreguiçando, Taeyong fora o primeiro a se levantar rindo ao ver Johnny dormindo encolhido e abraçado a uma almofada ao lado de Yuri.
ㅡ Acho melhor você acorda-lo, ele ainda tem que buscar o irmão na escola. ㅡ assim que comentou, Taeyong se dirigiu ao corredor em busca do banheiro.
Naquele momento, Yuri se aproximou de Johnny e tocou seu ombro levemente, não queria assusta-lo. No momento em que direcionou seu olhar a face adormecida, sua voz não saiu, ela se perdeu naquele semblante tão gracioso. Ele respirava calmamente, seus cílios eram maiores do que aparentavam. Analisou com cuidado cada pequeno traço, cada curva e se recordou do passado.
ㅡ Você se esqueceu do que me tirou... ㅡ sussurrou ㅡ Estou sendo infantil em querer de volta algo que se é impossível de devolver...?
Caiu lentamente seu olhar nos lábios dele se aproximando com cautela.
ㅡ Isso não conta como roubo se eu estiver apenas pegando de volta... Não é? ㅡ aguardou para ter certeza do que estava fazendo.
Johnny permaneceu ali, adormecido. Com coragem e decidida, Yuri tocou os lábios macios do antigo amigo com os seus. Um arrepio tomou seu corpo e ela fechou os olhos se preenchendo de adrenalina com aquele momento. Fora breve como um selinho, porém cheio de algum sentimento que ela não saberia explicar bem qual era no momento. Se afastou por impulso envergonhada por ter o beijado, porém não se arrependia. Tentou se recompor e voltou a apertar o ombro de Johnny e chamar seu nome.
ㅡ Johnny... Ei, acorda...
ㅡ Conseguiu?
Taeyong se pronunciou de repente fazendo a cantora dar um pulo no sofá de surpresa, tal ato que despertou Johnny.
ㅡ O quê, o que foi? ㅡ ele piscou rapidamente tentando se livrar do sono.
ㅡ Se acalmem vocês dois, sou só eu. ㅡ ele riu ㅡ O que estavam fazendo pra todo esse susto aí?
ㅡ T-tentando acorda-lo...! ㅡ ela sorriu nervosamente buscando com todas as forças não corar.
ㅡ Eu dormi foi? ㅡ Johnny coçou os olhos preguiçosamente.
ㅡ Você não dormiu, você capotou legal.
ㅡ Que horas são? Preciso buscar o Jinwoo...
ㅡ São quatro e meia. ㅡ Taeyong checou em seu relógio no pulso.
Rebecca permaneceu silenciosa no sofá como se nada tivesse acontecido.
ㅡ Droga, já estou atrasado praticamente... ㅡ se levantou após se espreguiçar.
ㅡ Também preciso ir, tenho um compromisso.
Yuri se aprontou em pé pegando seus pertences e com um sorriso acolhedor acenou para os dois.
ㅡ Muito obrigado por hoje, foi divertido! Então, até logo. ㅡ abriu a porta às pressas.
ㅡ Calma, espera aí, eita... ㅡ Taeyong tentou a impedir, contudo ela já havia partido ㅡ O que você fez pra ela fugir assim?
ㅡ Eu?! Como que eu ia fazer alguma coisa se eu estava dormindo?
ㅡ Sei lá, isso foi estranho.
ㅡ Nem me pergunte. Mas enfim, já que vai dormir aqui, preciso da sua ajuda com uma coisa.
ㅡ Ajuda em quê?
ㅡ Jinwoo estuda na escola em que o Yuta trabalha.
ㅡ Sério, quer me usar de distração? Sabe que não vai funcionar, né?
ㅡ Mas vai ter que funcionar, eu não tô vencendo mais de brincar de missão impossível com o Jinwoo.
ㅡ Não vou nem perguntar... Agora vai logo, senão já sabe.
Johnny se dirigiu ao banheiro. Assim que ligou a torneira e a água gelada tocou sua face, ele levou seus dedos úmidos ao lábio inferior encarando seu reflexo no espelho. O coração acelerado dedurava sua ansiedade por ter fingido não saber o que tinha acontecido minutos atrás ao mesmo tempo em que estava bastante confuso com o beijo repentino.
ㅡ O que foi isso...?
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