Céu após a Tempestade
Já haviam sido cinco tentativas e mesmo assim Yuri não respondia a suas chamadas muito menos suas mensagens. Johnny sabia que ela tinha motivos para ignora-lo, no entanto temeu que algo pudesse ter acontecido ou, numa busca por alívio, ela poderia estar ocupada trabalhando ou ensaiando. Assim que estacionou seu carro em frente a luxuosa casa da senhora Seo, Johnny tentou contato com Yuri uma última vez antes de entrar. Já imaginava que acabaria como das últimas vezes, porém a surpresa fora maior assim que a ligação se completou.
ㅡ Alô...?!
Ele acabou se desesperando, não havia se preparado mentalmente para essa parte do plano.
ㅡ Yuri, eu sinto muito, de verdade, por favor me escute e vamos...! ㅡ fora interrompido.
ㅡ Você me garantiu que não seria um problema.
Era outra voz do outro lado da linha.
ㅡ Estamos ocupadas e gostaríamos muito que parasse de ligar agora. Não sei que tipo de relacionamento cultivaram, mas ela me deixou claro que já acabou. Então espero não ter de tomar decisões drásticas quanto a isso. Você vai voltar a sua rotina normal e fingir que nunca teve algum tipo de contato com Rebecca. Entendeu?
Por fim ele reconheceu aquela voz. Era a manager Kim.
ㅡ Espera, não posso aceitar isso, realmente preciso falar com ela.
ㅡ Já fez o bastante, ela não quer falar com você, entenda e desista logo de uma vez. ㅡ e desligou.
Talvez ela estivesse certa, Johnny sabia que a forma como Yuri deveria se sentir agora era de pura frustração. Ela acreditou por muito tempo nas palavras que ele lhe disse quando a confundiu com Sea e saber que tudo não passou de um mal-entendido provavelmente a impedia de crer que Johnny, algum dia, poderia vir a ter sentimentos por ela. No momento ela precisava apagar toda aquela angústia antes que tudo piorasse. E se afastar se mostrou a melhor opção.
Com um suspiro baixo, porém doloroso para seu coração, Johnny digitou a senha da porta antes de atravessar e se deparar com a nostalgia de um tempo que antes somente o fez mal. Inspirou o ar límpido daquela casa e acabou deixando um meio sorriso escapar. Ele se viu adolescente outra vez, rabugento e solitário, porém com amigos para o fazer companhia.
— Johnny, que surpresa...! — Jinyoung o cumprimentou.
Ela já apresentava a idade em sua face, porém não deixava de ser bonita.
— Faz bastante tempo, né? — sorriu animado — Senti falta daqui. — admitiu.
— Vamos entre, entre. Irei fazer um chá com biscoitos de mel.
Johnny prontamente tirou seus sapatos e vestiu os chinelos antes de adentrar o corredor e seguir a empregada de sua mãe até a sala de estar.
— Irei chamar a senhora Seo, ela está lá em cima tratando de negócios, logo virá te fazer companhia. — um sorriso agradável.
— Ei, pra que essa formalidade toda, nem parece que me dava pasta de amendoim de colher escondido oito anos atrás.
— Ah, querido Johnny, como sempre falando sem pensar.
Mesmo com um sorriso amável, ela apertava com força os ombros do mais alto expondo sua aura sombria.
— Mas lembre-se do que te ensinei, boca fechada não entra mosca.
— Ah, ah, ai! — ele riu, contudo realmente sentiu dor.
Tão logo Johnny estava novamente a sós naquela sala. Encarou os cantos com curiosidade.
— Nada mudou aqui, hein... — liberou um sorriso.
— Johnny? — a mãe desceu às pressas para se encontrar com o filho.
No coração de ambos transbordava um sentimento que, ao menos Johnny, nunca imaginariam sentir ao ver um ao outro no mesmo local onde várias de suas brigas tiveram cenário. O peito se aqueceu.
— Oi, mãe. — um aceno desajeitado.
Levaram alguns minutos para que voltassem a se sentir mais confortáveis naquela situação e sentados frente a frente nos sofás começarem a conversar.
— Eu vim para te dizer que estou pronto.
— Decidiu sua vida?
— Sim. Tudo o que quero agora é um esclarecimento. Descobri um lado da história, quero saber o resto. Não sou mais uma criança, e mesmo que eu fosse já passei por coisas demais para saber que aguentaria qualquer rojão agora. Estou cansado de ser enganado, então me diga o que aconteceu e não me esconda nada.
A mulher tomou um gole de chá e encarou Johnny um tanto apreensiva, porém o peso de seu olhar frio continuava o mesmo e ele tinha certeza de que aquela era a marca registrada de sua mãe.
— Seu pai recebeu muitas propostas assim que os negócios da família alavancaram. Uma delas era a junção dos aeroportos com um dos shoppings da família Collins. Não havia nada de errado em aceitar, porém eles não estavam bem financeiramente e assinar um contrato com eles nos prenderia a pagar metade de uma dívida que nem era nossa. Claramente os Collins não aceitaram não como resposta. — um suspiro — Como você deve ter percebido naquela época, seu pai andava sempre muito ocupado. Faltava as reuniões entre pais e professores, se esquecia do meu aniversário... — retomou sua postura — Ele se afastou de nós para dar conta do trabalho.
Johnny permaneceu encarando os lumes tristes de sua mãe.
— Então recebi uma proposta de emprego aqui, na Coréia. Era um bom salário e eu poderia fazer o que sempre quis e estudei para ser. Seu pai nem cogitou negar, ele ficou verdadeiramente feliz por mim, no entanto eu teria que deixar vocês dois por alguns meses. Fiz planos, comprei esta casa, eu queria que voltássemos a ser uma família outra vez. Mas tudo desmoronou em uma noite. A festa da empresa.
Johnny não precisou que ela entrasse em detalhes para ele saber do que ela se referia. O maldito amante.
— Eu estava tão ocupada sentindo pena de mim mesma, do meu casamento, que cedi a lábia daquele homem. Por muito tempo me esqueci de como você poderia estar se sentindo, mas aquela noite me lembrei de você. — uma lágrima escorreu e com leveza ela a secou — Me senti suja, por isso voltei para a casa do seu pai. Eu não podia viver longe de vocês. Eu estava disposta a resolver meu casamento e melhorar como mãe. Mas...
Ela pausou um momento para se recompor.
— Mas quando seu pai me contou que os Collins estavam armando um golpe tive dúvidas a respeito do meu caso não ter sido por acaso. Filho, sei que deu seu melhor para esconder de nós, mas eu e seu pai sempre soubemos que estava namorando aquela garota. No entanto, após descobrir que estava grávida, que aquele homem desapareceria da minha vida assim que descobrisse isso, que os Collins haviam pago para ele destruir a confiança entre seu pai e eu... Que a filha deles estava disposta a te seduzir para que você fizesse a besteira de se casar com ela algum dia e a empresa ser dividida... Eu não consegui manter a calma. — as lágrimas já desciam sem nenhum pudor — Me perdoe, filho, eu estava fora de mim e não pensei em você em momento algum... Menti para mim mesma fazendo crer que minhas ações eram para te proteger, mas tudo que eu fiz fora extravasar minha raiva e frustração por ter sido enganada e magoado seu pai. Eu tive a imagem de manter você e Jinwoo longe das câmeras ser a melhor saída para que não sofressem, mas na verdade eu estava poupando o meu sofrimento de ter que arcar com as consequências do que fiz.
Johnny se levantou e sentou ao lado da mãe para ampara-la. Ele a abraçou com afeto e acariciava seu ombro em busca de dar conforto.
— Não mereço... Mas espero que algum dia possa me perdoar... Eu realmente amo você, meu menino, meu filho.
Por mais que toda aquela história fosse dolorosa, o coração de Johnny estava em paz. Um enorme peso se retirou de seus ombros e ele conseguiu respirar.
— Obrigado por ter sido sincera... — ele sorriu — Estou orgulhoso por você ser a minha mãe.
Aquele fora o estopim. A mulher soluçava enquanto que envolta nos braços do filho. As palavras dele a deixaram feliz, muito feliz. Enfim se sentiam uma família outra vez.
— Estou disposto a tentar perdoa-la. Isso pode levar um tempo, mas vamos recomeçar. Todos nós.
— Obrigada... Obrigada...!
Assim que a mulher se acalmou, e Johnny pôde conversar sobre várias coisas com ela, seu futuro, a garota com quem queria fazer as pazes, seu irmão e seu emprego, por fim ele se espreguiçou.
— Tem certeza de que é isso mesmo que quer? — ela questionou — Você não precisa...
— Não, eu quero. — sorriu de forma brincalhona — Vai ser bom pra mim.
Os dois sorriram um para o outro.
— Então! Tenho que resolver uma coisa primeiro e preciso organizar tudo. Não se esqueça de ir no apartamento, ok?
Com a despedida, Johnny voltou ao seu carro. Tomou coragem e antes que pudesse se arrepender ou fraquejar, gravou aquela mensagem para Yuri. Embora soubesse que não teria uma resposta, ele aguardou que ela respondesse. Ele implorou para que ela respondesse. Porém não obteve nada.
De volta ao casarão dos Jung, Johnny agradeceu Jaehyun pelo favor.
— Mas aí, aquele emprego no resort do seu pai ainda está de pé?
— Pode ter certeza. Alguns meses, espere mais um pouco que já está tudo certo.
— Ótimo... Obrigado. — bateu levemente no ombro de Jaehyun — Não importa o que aconteceu, agora vai ficar tudo bem.
— Esse é o espírito. — Jaehyun alargou seu sorriso — Mas pare agir assim senão vou te amarrar aqui e agora só pra garantir antes que desapareça igual o Yuta.
— Ele vai ficar puto se souber que até você tá usando ele pra essas coisas. — um riso — Mas é isso... Então posso ficar pro jantar?
— Que pergunta... — laçou os ombros do amigo com seu braço — Já te contei que meu pai tá com essa mania de contratar um chefe para fazer nosso jantar agora?
— Eu até diria que te odeio por ser rico assim, mas sabe eu vou comer também, então só vou dizer, tô dentro.
Johnny aproveitou cada momento com o amigo aquela noite. Se sentiu completo ao ver a alegria na face de seu irmão assim como Jaehyun já parecia mais animado com Bogum e seu pai reunidos mesmo que custasse para Gayeon o ligar. Fora um ótimo jantar e Johnny até aceitaria dormir lá, contudo ele tinha planos para executar. Jaehyun não ficou muito contente com aquilo, entretanto apoiou o amigo e garantiu ir visita-lo com frequência para que não se sentisse sozinho como das outras vezes.
Enquanto a noite se aprofundava na madrugada, Yuri enfim teve tempo para descansar. Estava exausta após tantos ensaios fotográficos e entrevistas, por isso adormeceu no trajeto de volta para seu apartamento.
Após um banho de banheira demorado, ela se jogou em sua cama com um suspiro cansado. Finalmente checou seu celular.
— Uma mensagem de áudio... — seu coração doeu assim que viu a notificação.
No momento em que apertou aquele botão, Yuri estremeceu e seu sono fora abalado.
"Eu sei que não quer falar comigo, por isso não me responda se não quiser, prometo que será minha última mensagem... Nossa história pode não ter começado da forma mais bela, ou de como deveria ter sido, mas mesmo assim quero te dar meu coração... Em um universo repleto de garotas bonitas, você é a estrela que mais brilha. Queria que fosse minha... Sinto muito pela ferida do passado. Pode parecer egoísta, mas peço para que entenda, já que você é o meu grande amor. Espero que encontre alguém que te ame mais do que eu e seja feliz."
Às pressas, nem se importou por estar de pijama, Yuri subiu as escadas daquele prédio com o coração a mil. Cansou seu dedo na campainha, ela queria vê-lo, ela queria abraça-lo, ela queria dizer a ele que não queria outra pessoa. Ela queria ele.
Mas ele não abriu a porta.
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