You take me places that tear up my reputation
Minha mãe estava desgrenhada. Seu cabelo se bagunçou, sua roupa se amarrotou e seus sapatos se perderam ao longo do caminho, tudo por causa da sua raiva. Eu nunca a vi com tanta fúria no olhar, suas narinas se enchiam iguais as de um gorila e seu peito descia e subia como se o controle imposto sobre ele fosse crucial. Suas órbitas opacas se contraíram, com tanto fervor que se eu continuasse a encarando iria entrar em chamas. Ela segurava o telefone com força, como se dele tivesse saído à notícia de que eu cometi um crime contra alguém, mas eu apenas saí da faculdade que me dava náuseas.
Não que ela se importe.
– Mãe... – Amaldiçoou-me quando minha voz sai mais fina que o desejado. Eu tento explicar alguma coisa – que nem eu mesma sabia –, mas ela ergue a mão e talvez minha voz agora seja apenas um gatilho para que a bomba que apite dentro dela exploda.
Aperto o balcão atrás de mim até que minhas juntas percam a cor, descontando sobre ele toda minha angústia e o tremelique que se formaria no meu olho esquerdo. Eu não estava com medo – ou que ela pensasse que eu estivesse –, eu estava presa dentro de mim. Queria gritar com minha mãe e lhe dizer que eu nunca quis me tornar uma médica e seguir o exemplar familiar que me foi imposto por todos esses anos. Queria gritar e dizer-lhe que odiava quando ela controlava minha vida. Queria gritar e dizer-lhe que o pouco tempo que passei no Canadá não se comparava a uma vida inteira em Boston. Queria gritar e dizer-lhe que ela parece me amar apenas quando é conveniente. Queria gritar e dizer-lhe que me cansei, que me exaustei; que desisti.
Mas não o fiz, eu apenas comprimi meus lábios em uma linha fina e, mais uma vez, engoli o que queria dizer.
– Como você pôde? – rosnou, se aproximando a passos lentos de mim. – Como você ousa?
– Mãe... – Tentei novamente.
– Cala a boca! – vociferou de forma descontrolada e, ao levantar a mão para me calar, encontrou Shawn em seu caminho. Ele se meteu em minha frente, antes mesmo que meu pai ou meu irmão pensasse em fazê-lo, e enfrentou a cólera de minha mãe, escondendo-me por detrás de seu corpo rígido. Ela o encarou, como se meu namorado estivesse fora de si para se submeter a esse papel e deu uma risada cheia de escárnio.
Eu não pisquei nesse meio tempo.
– A senhora não irá encostar um dedo nela – diz Shawn com cautela, tentando ao máximo não assemelhar seu humor ao de minha mãe e, pelo seu maxilar trincado e a respiração controlada, vejo que não está muito longe de acontecer. – Vocês podem se resolver de outra maneira.
– Saia da minha frente, rapaz – intima ela. Toco no ombro de Shawn e ele traz seu olhar para mim, suavizando-se instantaneamente ao me encarar.
– Está tudo bem – digo com a voz engasgada pelas palavras não ditas durante todos esses anos. Ele não parece acreditar muito em mim, se mantendo em minha frente. – Shawn, está tudo bem. Por favor.
Com muito pesar, ele volta ao meu lado e eu não tenho para onde olhar, ao não ser para a expressão furtiva de minha mãe.
– Alguém sempre te protegeu da realidade, Ellie – diz ela e batuco meus dedos na minha coxa, respirando fundo. – Antes era seu pai, seu irmão, agora é seu namorado. Você não está cansada? Cansada de fugir?
Eu estou exausta.
– Fugir de que? – É a única coisa que pergunto.
– Da realidade! – brada, desfazendo seu penteado. – Você acha que a vida é perfeita? Que a vida é um conto de fadas? Que você pode fazer o que quiser sem ter consequências?
Minha mãe sai em disparada até a sala e não nos deixa outra opção além de segui-la.
– Você acha que eu vou morrer de fome se não me tornar uma médica? – pergunto irritada. – Eu não quero isso pra minha vida, mãe! Pensei que tivesse deixado bem claro.
– Você acha que seu namorado vai te sustentar para sempre? – perguntou trazendo uma coloração vermelha para o seu rosto pálido. Dei um passo em falso para trás, impactada por suas palavras, pela sua falta de noção. – Você não vai conseguir se sustentar só, ele – apontou para Shawn – vai se cansar de você e para onde a princesa Ellie vai vir correndo? – indagou retoricamente em meios às lágrimas e eu senti meus olhos marejarem.
Eu não vou chorar.
– Eu não dependo dele para nada – digo me abraçando a raiva e esperando que ela não me abandone para dar lugar a tristeza ou a solidão. – Eu trabalho, eu aluguei meu apartamento, eu não preciso do dinheiro de Shawn ou o de ninguém. Você me ouviu? – pergunto temendo o descontrole em minhas pernas ao me aproximar.
– Você nunca deu valor a nada que eu te dei – diz e eu reviro os olhos, minha mãe sempre foi muito talentosa em mudar de assunto. – Que pessoa não amaria uma vaga em uma das melhores universidades de medicina da América do Norte?
– Uma que não ame medicina – respondo. – Deus! – Passo a mão nos cabelos. – Você poderia se comportar como uma mãe normal e ter orgulho do que eu sou? – Eu não queria parecer como uma menininha amedrontada, mas na minha voz saiu o tom da súplica tão nítido que eu não poderia negar.
– Orgulho? – ironizou olhando em meus olhos, arrasando minha barreira. Tijolo por tijolo. – Eu não tenho orgulho de você, Ellie. Você nunca me deu motivos para ter orgulho de você – diz e novamente às lágrimas enchem meus olhos e eu as forço a ficarem onde estão.
Eu não vou chorar.
Minha mãe se aproxima de mim e, pela primeira vez naquela noite, a raiva havia se dissipado de seu olhar, dando lugar ao uma dor tão sincera que me doeu o peito. Azul no azul e os dois provavelmente estavam tão cinzentos quanto céu em dia nublado. Ela não dizia aquilo para me atingir ou me deixar mal, ela apenas estava dizendo o que achava e o que sentia. E isso não poderia ter doído menos.
– Você vai ter que me perdoar, Ellie. Mas eu não acho que você tenha capacidade para nada disso – cospe as palavras e eu desvio o olhar. – Eu acho que você é fraca.
– Você tem o direito de achar o que quiser – digo sentindo minha garganta se fechar com o oceano que eu havia acumulado durante toda a minha vida. Desde os quinze anos, eu não havia mais chorado na frente de ninguém. Das raras vezes que chorei, eram sempre escondidas, sempre silenciosas no chão do meu banheiro. Então não sabia quantos desabafos estavam me preenchendo naquele momento, mas sabia que seria questão de tempo até que eles transbordassem. – Eu tenho orgulho de mim e é isso que importa.
Eu não vou chorar.
Eu sabia que nada iria mudar, eu sabia que sua opinião continuaria mesma, então ao encarar cada rosto naquela sala, senti a vergonha se impregnar em minhas bochechas. Senti-me violada por ter um momento tão obscuramente íntimo exposto, mesmo que eu estivesse agindo como se eles conseguissem ler minha mente. Então desencadeei uma subida até o meu quarto, fugindo mais uma vez, eu sempre fujo. Ao chegar lá, me deparei com a nova sala de ioga da minha mãe e isso foi à gota d’água.
Eu chorei.
Escorei-me na parede e deixei todas as lágrimas que um dia eu já pensei em botar para fora, saírem livremente pelo meu rosto. Tombei a cabeça para o lado, sentindo meu rosto ensopar-se pelo remorso, pelo rancor, pela tristeza e principalmente pela solidão que me sufocava.
O que mais apertava meu peito e me deixava sem ar, era o fato de que suas palavras me atingiram muito mais forte do uma tapa na cara, do que um chute no estômago. Elas eram tão honestas que, durante meu lapso de tormento, me permiti dá-las a devida credibilidade. Por que eu deveria persistir nisso se nem minha mãe – a pessoa que mais deveria me apoiar – acredita em mim? Acredita em meu talento? Acredita em minha capacidade de me tornar alguém na vida? Ela não acredita e, bem, nem eu.
Enterrei minha cabeça em meus joelhos dobrados a procura de alguma estabilidade que me faça voltar à realidade, que tranque tudo o que eu despejei. Mas não a encontro. Na verdade, acho que ela se perdeu em uma galáxia tão distante que nunca poderia vê-la de novo, fazendo-me ter a noção de que por qualquer motivo às lagrimas se veriam dispostas a me embaraçarem e me dessem o aspecto da fraqueza que eu não deixo transparecer.
Quer dizer, deixava.
A sensação da presença de outra pessoa no quarto me faz levantar a cabeça. Vejo Shawn parado à porta, sem reação alguma ao ver-me naquele estado que, até agora, ele não tinha me visto. Nem Katherine havia me visto chorar. Meu namorado parecia surpreso por eu estar tão afetada com as palavras da minha mãe, mas ele tentou não deixar isso tão transparente assim, então, ao se aproximar, tentou conter meus soluços com seu abraço, o que apenas ocasionou mais deles junto com uma penca de novas lágrimas.
Shawn se sentou ao meu lado, me puxou para o seu colo e mexeu em meus cabelos, pondo seu queixo em cima da minha cabeça. Sentir o afago de seu peito, seus sussurros de “eu estou aqui” e seu coração bater de uma forma tão estável, foi como colocar as músicas mais tristes para tocarem quando você já está triste o suficiente. Não foi algo necessariamente ruim, eu precisava chorar e entender isso fez com que eu parasse de pensar na vergonha que me trazia.
– Você quer ir para o quarto? – perguntou e eu refleti em como ficar aqui apenas serviria para trazer as lembranças ruins repetidas vezes.
– Quero – digo com a voz ainda embargada, sentindo-o me erguer em seus braços. – Eu posso andar. – Isso foi o que saiu da minha boca, mas minha cabeça relaxou em seu peito e ele deu uma breve risada.
– É, mas você não precisa.
Shawn andou comigo em seus braços até o banheiro do quarto onde estávamos. Ele começou a encher a banheira e me olhou nos olhos antes de começar a me despir. Suas mãos ergueram minha blusa e eu apenas levantei meus braços, sem que a contestação passasse por minha mente. Seus lábios provocaram um arrepio inoportuno em todo meu corpo ao tocarem minha barriga. Ele tirou minha calça, me mantendo com as roupas íntimas de mais cedo. Não havia malícia em suas ações e eu não queria que tivesse. Shawn voltou a ficar em pé e, antes que eu pudesse ir para a banheira, ele deu um beijo casto na maça de meu rosto, ainda molhada pelo choro. Dei um pequeno sorriso e toquei seu rosto com a ponta de meus dedos.
Eu poderia dizer aquelas três palavrinhas agora.
Entrei na banheira e me sentei, sentindo a água morna abraçar meu corpo e soltei um suspiro involuntário. Agarrei meus joelhos, temendo que as lágrimas voltassem a molhar meu rosto e me surpreendi ao ver que elas tinham parado. Shawn se agachou ao meu lado e, calmamente, molhou meus cabelos com a água ao meu redor. Fechei os olhos ao sentir sua mão em minha bochecha, depois em baixo de meus olhos e por último delineando minha boca, depositando nela um rápido selinho. Ao encarar suas órbitas bipolares – uma hora castanhas outrora puxadas para o verde – senti um sentimento me atingir com uma força exorbitante.
Aquelas três palavrinhas nunca pareceram tão reais.
Porém, assim como o sentimento me atingiu, com ele veio o medo de Shawn não sentir o mesmo, de eu conseguir estragar o que parece não estragável. Então, como o previsto, eu voltei a chorar sem poder dizer o motivo, sem poder confidenciar a ele meus medos de não ser correspondida. Shawn não disse uma palavra, apenas ficou ao meu lado, tomando conta de mim, parecendo me amar.
Minha cabeça parecia querer se explodir diante da confusão que eu impunha nela. Eu não estava assim por desconfiar dos sentimentos de Shawn – seria mais fácil se estivesse –, eu estava tentando me distanciar o máximo do meu principal problema, estava fugindo outra vez. Aprendi que fugir era muito mais do que uma ação não controlada, era minha forma de segurança, minha válvula de escape.
– Eu prometo nunca fugir de você – digo para Shawn, que se aprofunda em meu interior pelo seu olhar. Eu não sei como, mas ele pareceu entender o que se passava dentro de mim, mesmo que eu não entendesse.
Então sorriu e disse:
– Você não é uma fugitiva, Ellie.
Depois que meus dedos se enrugaram, decidi que já estava na hora de sair. Vesti uma roupa confortável e me sentei na beirada da cama com a certeza que meus olhos ainda estavam vermelhos e distantes. Senti o colchão afundar ao meu lado e desviei o olhar da parede para os meus pés.
– Está melhor agora? – Shawn perguntou, apoiando a mão na minha coxa. Repousei minha mão sobre a sua.
– Estou – respondi brincando com seus dedos.
– Quer falar sobre o que aconteceu? – Neguei com um balançar de cabeça. Não havia nada para falar, não com ele.
Shawn rodeou meu pescoço com seu braço e me puxou para perto. Rocei meu nariz em seu pescoço, inebriada pelo seu cheiro e o abarquei pela cintura com meus braços finos. Fiquei sentindo sua presença me acalmar até alguém bater na porta.
– Ellie? – A voz de meu pai ecoa do lado de fora e eu desfaço o abraço com Shawn contra minha vontade.
– Oi. Está aberta – digo alto o suficiente para que ele pudesse abrir a porta, entrar e nos encontrar com uma distância aceitável um do outro.
– Vou deixar vocês a sós – diz Shawn se levantando e caminhando até a porta.
– Não precisa, Shawn. Eu não vou demorar – interrompe meu pai olhando para o meu namorado, que abana a cabeça. Shawn é educado demais para estar aqui em um momento onde ele sentia que atrapalharia, mesmo que não atrapalhasse.
– É melhor vocês conversarem sozinhos e, além disso, preciso fazer algo para Ellie comer – diz e eu sinto meu estômago revirar, mas não era pela fome, era pela felicidade em ver sua preocupação comigo. Soltei um sorrisinho que foi retribuído antes que ele se fosse.
– Ele é um ótimo garoto – meu pai diz se sentando ao meu lado e eu concordo. Shawn é o melhor garoto que conheci. – Ellie, sobre sua mãe...
Meu pai sempre foi meio enrolado com as palavras, mas nunca deixou a desejar em suas ações. Era ele que espantava meus medos, iluminava meu escuro e penteava meu cabelo quando ele estava um ninho por brincar o dia inteiro. Fora que meu pai era meu assassino de baratas oficial, agora esse posto é de Katherine.
– Pai, a culpa não é sua – digo tocando em seu ombro. – Sei que você não compartilha das opiniões dela.
Ele sorriu aliviado.
– Tive medo de você achar que eu penso o mesmo – diz com os olhos beirando as lágrimas. – Querida, eu tenho tanto orgulho de você. Não leve em consideração as palavras maldosas de sua mãe. Você vai longe, Ellie.
Deitei minha cabeça em seu ombro e fechei os olhos, controlando minhas emoções e os pensamentos negativos que teimavam em minha mente.
– Obrigada, pai. – Ele me dá um beijo na testa. – Eu te amo.
– Também amo você, querida.
Passamos um período considerável assim, apenas na presença um do outro. Meu pai precisou ir e eu me joguei na cama, com os braços cobrindo meus olhos e minhas angustias. Minha mente parecia um pouco mais tranquila, além de Shawn e Katy, alguém mais acreditava que eu tinha potencial para alguma coisa. Agora só me restava acreditar também. Não queria admitir, mas a discussão com minha mãe despertou todas as inseguranças que estavam hibernando dentro de mim e isso estava me consumindo.
– Ei – Shawn cutucou minha perna com o pé e eu me sentei para vê-lo com uma bandeja na mão. – Espero que esteja com fome.
– Espero que o que você tenha feito para mim, tenha feito para você – adverti-o com um sorriso no rosto. Ele se sentou ao meu lado e eu pude observar o que tinha na bandeja: dois sanduíches de conteúdo desconhecido e um grande copo com suco de laranja, que imaginei que dividiríamos. – Aonde você arranjou essa flor? – perguntei apontando para a rosa dentro do pequeno vaso.
– Josh me ajudou – respondeu mordendo um pedaço do seu sanduíche, me fazendo quase engasgar com a mordida que eu ainda não havia dado.
– Josh? Ele ainda está aqui?
– É. – Revirou os olhos e eu limpei o sujo na lateral de sua boca, começando a comer. – Ele disse que só vai embora depois que falar com você – diz e eu franzi o cenho. – E depois de quase enforcar ele, descobri que Josh não é tão insuportável. – Deu de ombros e eu abanei a cabeça em discordância, ele é bem que pior que insuportável.
– Vamos embora amanhã – constatei mudando o rumo da conversa, tomando um gole do suco. – Queria te levar em um lugar antes.
– Amanhã? – perguntou e eu neguei. – Ainda hoje? – Afirmei. – Deixe-me adivinhar, é algum lugar que acabaria com minha reputação?
– Você é ótimo com adivinhações – comentei rindo, terminando de comer. – Nunca me proibiram de ir lá.
– Já te deixaram ir lá? – perguntou estreitando os olhos.
– Bem, não. Mas eu vou lá desde sempre, não é nada perigoso – digo com convicção.
– É... Eu não confio em você.
– Shawn, é um lugar importante para mim, que merece conhecer uma pessoa tão importante, ou talvez mais, que ele – digo olhando em seus olhos, que são logo revirados.
– Isso não é justo – bufou. – Você sabe que tenho coração de manteiga.
– É. Eu estava me agarrando ao seu coração de manteiga – digo dando um beijo em sua bochecha.
Fomos deixar a bandeja na cozinha para sairmos e eu tive o desprazer de encontrar Josh em minha sala, como se ele pudesse circular nas casas alheias assim. Eu deveria chamar a polícia. Ele se levanta do sofá e vem até mim.
– Antes que ligue para a polícia – diz erguendo as mãos, esse maldito me conhecia mesmo – queria poder me desculpar com você.
– Pelo quê, exatamente? – pergunto cruzando os braços, ouvindo a risada abafada de Shawn atrás de mim.
– Por tudo – diz. – Por não ter te dado o valor que você merecia, por tratar seu amor como algo banal, por ter aparecido aqui hoje e a lista segue. – Coça a nuca, envergonhado.
Revirei minha memória a procura dos mal feitos de Josh e achei mais do que poderia contar, me fazendo não crer que toda a raiva que eu sentia era uma enorme fachada para não ter que assumir que os momentos bons se sobressaíssem dos ruins. Eu deveria odiá-lo, mas eu não o odeio, eu o superei.
– Você me magoou muito, Josh – digo e não lhe dou chance para que ele fale. – Mas eu já superei. Então acho que está tudo bem.
– Sério? – disse surpreso, eu também estava.
– Sério – afirmo. – Você sempre foi um melhor amigo do que namorado, de qualquer maneira – digo com um sorrisinho que logo foi retribuído.
– Permissão para um abraço? – perguntou abrindo os braços.
– Não vamos exagerar – Shawn intervém, fazendo-me rir. – Vou deixar isso na cozinha.
Ele vai e Josh e eu nos mantemos lado a lado, analisando coisas diferentes.
– Você o ama, não ama? – perguntou sem me olhar e eu o encarei.
– Hm, eu... Eu...
– Você definitivamente o ama – concluiu rindo e eu lhe dou um empurrão pelo ombro, bem na hora que Shawn volta da cozinha.
– O que ele pode ter feito em um minuto? – brincou meu namorado e eu revirei os olhos.
– Temos que ir.
Arrastei os dois garotos para fora e olhei para cima, vendo o céu estrelado me agraciar e a brisa fria brincar com meus cabelos. Fiquei de frente para Josh e eu soube que seria a última provável vez que nos veríamos – a menos que o destino realmente quisesse nos juntar –, então o segurei pelos ombros e o puxei para um abraço.
– Eu pensei que isso fosse considerado um exagero – comentou Shawn e nós rimos.
– Adeus, Josh – digo ao me separar dele.
– Adeus, Ellie – retribui com um sorriso triste. – Foi bom conhecer você, Shawn. Cuide bem dela.
Josh nos dá as costas e caminha até seu carro, sumindo da nossa vista.
Suspiro quando Shawn me abraça por trás, dando um beijo singelo em meu pescoço. Sorrio ao me virar para ele e ficamos nesse transe até eu lembrar o que iríamos fazer.
Como não era tão longe de minha casa, fomos caminhando até lá. Shawn agarrou minha mão e se permitiu ser guiado por mim, que estava muito animada para andar normalmente. Não era tão tarde, ainda tinham pessoas andando pelas ruas, mas não eram tantas, facilitando nossa vida.
Dei um grande sorriso ao me deparar com a estrada de terra que eu tanto conhecia. Apertei a mão de Shawn ao começarmos a subi-la e, por mais que cansasse, sempre valia a pena. Valia tanto a pena que senti sufocar meus pulmões ao chegar e avistar toda a cidade a nossa frente, cheia de luzes e vidas.
– Nossa... É muito bonito – diz Shawn e eu o olhei. Ele é muito bonito.
– Esse lugar era meu único ouvinte, sempre vinha para cá para recarregar e descarregar – digo, soltando minha mão da dele, indo para a beirada, desviando de todas as plantas e galhos e inspirando tão fundo ao ponto de me deixar tonta.
– Como achou esse lugar? – pergunta ao chegar ao meu lado, colocando as mãos nos bolsos do moletom.
– Foi um feliz acaso – digo fechando os olhos e sentindo o sopro do vento fazer cócegas em minhas bochechas. – Eu briguei com minha mãe por algo que eu não lembro e andei até encontrar aqui. Esse lugar sempre me possibilitou ver as estrelas de uma forma que nenhum outro lugar poderia.
Olhei para a cima e observei as estrelas se alinharem como nunca as tinha visto, fazendo-me crer que quem está ao meu lado tem uma grande interferência nisso; Shawn é a razão para que as estrelas do meu céu pareçam perfeitamente alinhadas.
Ficamos um tempo em silêncio e eu desviei meu olhar para ele quando me senti observada.
Shawn me virou de frente para ele e segurou uma de minhas mãos, sem dizer uma palavra. O analisei por aquele breve e único momento, perguntando-me se poderia ser mais especial. A pouca luz deixava o ambiente mais íntimo e acolhedor, enquanto meu coração – e acredito que o seu também – batia como se fosse nosso casamento. Mas, de certa forma, eu estava oficializando meu sentimento por ele em um dos meus lugares favoritos no mundo, que ficava em segundo apenas por perder para seus braços.
Desviei meu olhar para a cidade iluminada, mas Shawn me trouxe de volta rapidamente. Com a mão em meu queixo e o olhar mais tórrido que um dia ele já me lançou, seus lábios se colam aos meus. Suas mãos se firmam em meus quadris, enquanto eu enrolo os dedos em seus cachos, migrando para sua nuca uma vez ou outra. É impossível não me sentir uma idiota apaixonada ao beijá-lo, mas consegue ser mais impossível eu não gostar de ser uma idiota apaixonada.
Todo meu corpo alarma quando eu percebo que chegou a hora para as três palavrinhas. Afasto-me de Shawn aos poucos, encontrando seu rosto iluminado pela meia lua parecer radiante como o meu deveria estar.
– Eu acho que te amo – digo eu temendo que meu coração estivesse batendo mais alto que minha voz.
Shawn ri, afaga meus cabelos com seus longos dedos e diz:
– Eu tenho certeza que te amo.
You take me places that tear up my reputation
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hey! quero agradecer a vocês pelas visualizações, votos e comentários :)
e queria saber se vocês leriam uma obra com músicas e poemas (escritos por mim). sem vácuo, por favor.
até a próxima xx
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