I know we'd be alright
— Até que enfim chegaram!
Shawn e eu nos entreolhamos e depois desviamos o olhar com alívio para Karen, que fez questão de mandar um sorriso contendo todo o calor que nossos corpos precisavam. Depois de uma viagem de carro turbulenta de Toronto até Pickering, finalmente havíamos chegado para a "festa de despedida" do Shawn. Pelo que eu entendi, sempre foi uma tradição reunir a família para as grandes conquistas do garoto prodígio, e nem só as dele. Karen me contou que todas as conquistas das "crianças" eram comemoradas, desde uma nota máxima em matemática até uma nova oportunidade de emprego. E eu pude me sentir devidamente acolhida por minha sogra quando a ouvi dizer que eles estavam se reunindo por mim também. Na verdade, eu quis chorar. Mas eu não chorei. Talvez depois tenha rolado umas lágrimas...
— Entrem! Está frio aí fora — diz Karen e nós obedecemos, retribuindo seu sorriso. — Por que demoraram tanto?
— Problemas no trânsito — respondi simplista, retirando o grosso casaco de cima de mim e pendurando-o no cabideiro, ajudando Shawn a fazer o mesmo e recebendo seu olhar desacreditado.
— Se com "problemas no transito" você queira dizer "esqueci de colocar gasolina", então, sim, foram problemas no trânsito — retruca meu namorado e eu o fuzilo com o olhar. Tiro sua toca e bato nele com ela. — Aí!
— O carro é seu — respondo cruzando os braços.
— Você saiu pra colocar gasolina e voltou com comida! — exclamou e eu reviro os olhos. Francamente. Ele sabe que sou uma pessoa distraída.
— Você comeu a comida!
— Eram muffins!
— Crianças! — Karen nos interrompe e olhamos ao mesmo tempo para ela. — Estão todos esperando vocês para almoçar — diz nos empurrando até a sala de jantar.
— Eu ainda tive que andar um monte atrás de um posto de gasolina — resmungou Shawn.
— Alguém tinha que ficar no carro — retruquei de forma óbvia e ele bufou. — Se eu prometer te dar uma massagem depois, você cala a boca? — perguntei de forma esperançosa e escutei Karen rir. Shawn averiguou minha postura, logo assentindo com um balançar de cabeça e eu sorri aliviada, aproximando-me dele para alcançar seu rosto e dar-lhe um beijo na bochecha. — Aqueles muffins estavam muito bons — comentei e ele concordou.
— Acho que até valeu a pena ter andado atrás de gasolina.
— Gente, o Shawn chegou. E essa é a Ellie — Karen apresenta e eu encaro a família posta na mesa de jantar. Todos desviam seus olhares até nós e eu sinto minhas bochechas queimarem.
— Vovô! — Shawn exclamou animado, indo cumprimentar seus avós que vieram de Portugal só para vê-lo. Os dois levantaram de seus assentos e, mesmo com a diferença de altura entre Shawn e eles, abraçaram o neto como se fosse só uma criancinha. — Eu estava com saudades de vocês — diz devolvendo o abraço com ternura e eu pude ver como a avó de Shawn estava emocionada. Meu coração esquentou com a cena. Só desviei o olhar quando duas mulheres se colocaram em minha frente.
— Oi, você deve ser a Ellie! Claro que é, tia Karen acabou de falar. Meu nome é Timera e essa é a Camilla. Somos primas do Shawn — cumprimentou a loira eufórica e eu ri da sua euforia, retribuindo o cumprimento em forma de abraço vindo das duas. Elas eram tão altas quanto o primo, o que significa que eu era uma anã perto dos três.
— É um prazer conhecê-las — digo sorrindo.
— O prazer é todo nosso — diz Camilla. — Literalmente. Estávamos tão ansiosas pra conhecer quem conquistou o coração do nosso Shawn! Não que seja tão difícil assim. Sinceramente, eu achei que iria demorar um pouco depois da Laura, sabe, ele é meio doidinho e sempre leva toco — disse a última parte um pouco mais baixo e eu comprimi os lábios para não deixar a risada escapar. — Lembra, Timera, quando aquela modelo famosa deixou ele pelo...
— Camilla, será que você pode calar a boca? — Timera interrompeu olhando pra morena, mas logo devolveu seu olhar pra mim. — Desculpa ela ficar falando sobre as namoradas passadas.
— Ah, não tem problema. Eu sou a atual, não sou?
— É, e eu fico muito feliz — diz sorrindo. — Toda vez em que nos encontrávamos, Shawn só sabia falar de você. Era fofo até começar a irritar, eu sinto que te conheço desde sempre.
— Elas já me embaraçaram o suficiente? — Shawn se intromete, ficando no meio das duas e abraçando-as pelos ombros.
— Você sabe que nunca é o suficiente — brinco e eles riem. — Não vi Aaliyah ainda, onde ela está?
Shawn pareceu notar só agora a ausência da irmã e olha ao redor procurando por ela com o cenho franzido.
— Onde a Aaliyah está, mãe? — pergunta e Karen, que conversava com Manny, desvia o olhar de forma hesitante para onde estávamos. Ela parecia saber que esse momento chegaria, mas que o adiaria o máximo possível. Naquele momento, soube que fiz besteira.
— Daqui a pouco ela chega — tranquilizou e Shawn lhe olhou confuso.
— Tudo bem, mas onde ela está agora? — insistiu e sua mãe respirou fundo. Observei Camilla e Timera se esquivarem do abraço de Shawn piamente e eu me perguntei se deveria continuar ali. Acabei ficando, sem nenhuma coragem de sair.
— Ela saiu com um garoto e...
Ah, não.
— Um garoto?! — Shawn berrou e eu reproduzi uma careta instantânea. — Que garoto? De onde ele surgiu? É a primeira vez que eles saem? Ele é gay?
Revirei os olhos e decidi me sentar ao lado de Timera e Camilla à mesa.
— Shawn, dá pra parar? Ele nos pediu permissão para levá-la para sair e nós cedemos porque Ali parece gostar muito dele — Karen explicou e Shawn bufou transtornado. — Sabemos que você tem esses ciúmes de irmão mais velho e que só quer protegê-la, mas se você chegar a conhecê-lo...
— Ciúmes? Não são ciúmes. Mãe, Aaliyah ainda é uma criança!
— Então, você era uma criança quando começou a se relacionar com Laura? — perguntou a mais velha, parecendo já estar irritada. Não a culpava, eu também estava.
— Era diferente... — respondeu incomodado.
— Não, não era. Confiamos tanto na sua irmã tanto quanto confiamos em você. Sabe que sempre respeitamos as decisões de vocês e isso nunca vai mudar. Agora tire essa cara amarrada da cara e me dê um abraço — diz Karen estendendo os braços.
Shawn cruzou os braços como uma criança birrenta e virou o rosto. A plateia composta por eu, Timera, Camilla, Manny e seus pais assistiam tudo como se fosse um filme, nesse momento se tornou de comedia e nós só queríamos rir de Shawn.
— Não quero.
— Eu não perguntei se você quer. Estou mandando me dar um abraço. Você não cabe mais no banquinho do castigo — lamentou e Shawn riu de sua mãe, indo abraçá-la. — Se você fizer essa cena quando Aaliyah chegar, eu arrumo um jeito de você caber naquele banco. — Meu namorado se afastou de sua mãe com uma careta e eu ri novamente, só parei de rir quando notei a avó de Shawn me observando.
— Que rapariga bonita! — exclamou e eu olhei para Manuel pedindo socorro, não fazia ideia do que ela tinha falado. Ele acabou rindo de mim.
— Ela disse que você é bonita — esclareceu e eu sorri em sua direção.
— Obrigada. A senhora também é muito bonita — elogiei de volta e ela sorriu de um jeito fofo, assentindo com a cabeça como se tivesse entendido.
— O que ela disse? — perguntou ao filho e ele se prontificou em explicar.
Desviei minha atenção para o meu namorado sentando ao meu lado e olhei pra ele, semicerrando os olhos em sua direção.
— Que coisa feia — balancei a cabeça em negação e ele revirou os olhos. — Você deveria ir para o banquinho do castigo.
— Muita engraçada — debochou, estendendo o guardanapo no colo e começando a cochichar pra si mesmo, enquanto ajeitava o pano. — Aaliyah namorando... Onde já se viu? Ela é só uma criança, deveria, sei lá, estar brincando e assistindo aqueles filmes da Disney. Não, eu ainda assisto esses filmes e não sou mais criança...
— Shawn, você consegue ser um pouco menos estranho? — perguntei cochichando próximo a ele. Seu olhar encontrou o meu e suas bochechas ficaram vermelhas. — Você sussurra muito alto — constatei.
— Só deixe pra lá, tudo bem? — diz parecendo estar chateado. Eu não poderia dizer que entendia o que ele estava sentindo ao ver sua irmã crescer porque eu sou a irmã que cresci, mas vi meu irmão sentir o mesmo e, ok, Lucas queria me queimar viva na maioria das vezes, mas quando apareci com o primeiro namorado, ele arranjou um jeito de fazer o garoto sair correndo nos primeiros vinte minutos em que ele se manteve em minha casa. E eu nunca soube o porquê, apenas lembro como fiquei triste e lembro como Lucas trouxe o garoto no dia seguinte como uma oferta de paz, mesmo que depois ele tenha se mostrado um péssimo namorado. Acabou que terminamos a semana assistindo Sky High; Lucas, eu e meu coração partido.
— Eu sei que você não quer ver sua irmã mais nova crescer, mas vai acontecer. Não adianta ficar assim — digo com a mão em seu maxilar, distribuindo beijos pela sua bochecha, assistindo um sorriso crescer em seu rosto. — Eu posso fazer o que você anda me pedindo desde sempre hoje à noite se essa carinha melhorar... — Usei meu tom de voz mais convincente.
Shawn me olhou com os olhinhos brilhando.
— Se fantasiar de anjinha e...
— Não essa coisa — interrompi com as bochechas rubras, tapando sua boca com minha mão. Shawn revirou os olhos, visivelmente transtornado. — Eu estava pensando em... — interrompi minha fala quando sua língua entrou em contato com a palma da minha mão. — Shawn! Seu nojento — reclamei, limpando minha mão em sua blusa.
— Você me fez dizer uma fantasia e agora não quer fazer — retrucou, esquivando-se das minhas mãos. — Você ficaria tão...
— Quer mesmo falar disso aqui? — perguntei incomodada e ele, finalmente, se calou. — E eu estava falando de macarrão. Espaguete. Seu prato preferido...?
— Tudo bem. Eu gosto de espaguete.
— Eu sei que gosta, por isso pensei em fazer esse jantar especial, só para nós dois. Amanhã já vamos embora e...
— Eu sei que vamos ficar bem — completou e eu sorri. — Você vai cozinhar? — perguntou com entusiasmo e eu concordei. — Eu adoro quando você cozinha.
— Adora?
— Adoro — confirmou e, logo em seguida, soltou um sorriso malicioso. — Você fica sexy — disse mais baixo, fazendo-me abanar minha cabeça, desacreditada.
— Você também ficaria se soubesse, ao menos, como se frita um ovo — desdenho e Shawn revira os olhos.
— Eu também te amo. — Acabo rindo de como ele decidiu não dar corda para as minhas provocações e dou-lhe um beijo em seu pescoço, entrelaçando seu braço ao meu.
Quando conseguimos sair da nossa bolha e voltamos o olhar para a mesa, foi impossível não perceber que todos se mantinham atentos em cada movimento que fazíamos. A primeira reação que meu corpo pôde expressar se deu nos litros de sangue que foram parar em minhas bochechas, principalmente pelo receio deles terem ouvido a parte indecente da conversa. A segunda foi decidir ignorar e começar a me servir da comida, com Shawn ao meu encalço. A segunda definitivamente foi a melhor e a mais sensata das reações.
— Eles são tão bonitos — a avó de Shawn quebra o silêncio, sua fala carregada de sotaque. Shawn sorri em sua direção, como forma de agradecimento e eu balancei a cabeça, estando com uma batata na boca, sorrir seria um desastre. — O que eles estavam dizendo? — perguntou algo em português para Manuel, que pareceu achar engraçado e se prontificou em respondê-la.
Não demorou muito para que todos se soltassem e a mesa voltasse a ficar animada, ou seja, não demorou muito para que chegássemos à sobremesa. Eu estava conversando com Timera sobre a injustiça que era a bunda de Shawn ser maior que a minha, quando Aaliyah passa pela porta acompanhada de um garoto magrelo. Eu posso afirmar que todas as cabeças se viraram em sua direção ao mesmo tempo.
— Oi, gente — ela cumprimentou envergonhada e eu sorri em sua direção, tentando deixá-la mais tranquila; tinha quase certeza que Shawn não estava piscando. — Esse é o James — apresentou e o garoto acenou; tão envergonhado quanto ela.
Eles eram fofos.
— Oi, James — disse Karen, indo até eles com um grande sorriso no rosto. — Seja bem vindo.
Karen fez questão de apresentar James para toda a família — incluindo a mim —, deixando Shawn por último por alguma razão totalmente desconhecida. Ele ainda precisou do incentivo do meu cotovelo para apertar a mão do namorado de Aaliyah. Observando seu comportamento diante da situação, pude perceber que não é apenas um ciúme idiota de irmão, Shawn tinha uma tendência de deixar as partidas menos doloridas, fazendo com que ficássemos irritadas com ele, para que não doesse tanto. Fez comigo antes da nossa viagem para Nova Iorque, fez com Karen quando "sem querer" derramou suco no carpete antes da sua primeira tour mundial e vai tentar fazer com Aaliyah agora.
— Shawn, você pode melhorar essa sua cara? — murmurei para ele, já irritada pelo seu comportamento.
— Imagine se alguém que você ame muito começa a namorar — diz e eu cruzo os braços. Estávamos dispostos na sala, nós dois largados em uma poltrona que mal cabia um, enquanto o resto de sua família se distribuía pelos sofás, mantendo uma conversa da qual eu gostaria de estar fazendo parte.
— Alguém que eu ame muito? Tipo, quem?
— Sei lá. Tipo, eu. Se eu começasse a namorar, você ficaria preocupada comigo e gostaria de me proteger, não gostaria?
— Não?! Se você começar a namorar, eu quero que você seja atropelado.
— Ok. Péssimo exemplo.
— Shawnie, sua irmã parece feliz, não parece? — pergunto e nós dois desviamos o olhar onde Aaliyah e James brincavam de cartas junto de Timera e Camilla, enquanto os mais velhos faziam comentários engraçados sobre o jogo.
— Parece — resmungou, mas sua carranca logo deu lugar a um sorrisinho quando sua irmã começou a rir. — Ela parece bem feliz. Mas, El, e se ele quebrar o coração dela? Eu nem vou estar aqui.
— Você sabe que não vai impedir que o coração dela seja partido. Esse tipo de coisa acontece. Aconteceu comigo e com você, Ali não é uma exceção.
— Eu sei, mas eu queria que fosse — disse, deitando sua cabeça em meu peito e eu comecei a fazer carinho em seus cabelos, dando um suspiro.
— Digam xis! — Fomos interrompidos por um flash em nossa direção, que me deixou cega por breves segundos. Camilla saiu de trás da câmera e sorriu diante do resultado. — Fofos!
— Xis — resmunguei, passando a mão nos olhos e Shawn riu.
— Você acharia uma boa ideia se eu fosse jogar com eles? — perguntou incerto, intercalando o olhar entre a mesa e eu.
— Uma ótima ideia.
Shawn se desvencilhou de mim e se juntou a família feat. James no carteado, tentando se entrosar com o novo cunhado. Admito ter sido um pouco estranho no começo, mas minutos depois já estavam os dois planejando como fazer Aaliyah perder. Ela fingia estar brava por eles serem tão óbvios, mas não conseguia conter a felicidade de vê-los interagindo. Isso, sim, merecia um grande xis. Camilla, parecendo que lê mentes, pega a câmera e registra o momento.
E, de repente, já era hora de voltar para casa.
— Se algum dia vocês forem para Nova Iorque, podem me ligar — digo a Camilla e Timera, fazendo com que as duas me deem grandes sorrisos e abraços apertados.
— Eu vou, com certeza! O melhor é que nem preciso pagar hotel — comentou Camilla rindo e Timera revirou os olhos.
— Até mais, Ellie — disse a mais velha e eu sorri, dando um aceno. Elas eram divertidas, se dariam muito bem com Katherine.
Estávamos na calçada da família Mendes, Shawn falava com seus pais do outro lado da porta e eu me permiti chegar mais perto, circundando o pescoço de Aaliyah com meus braços; ela já tinha sido esmagada pelo irmão em abraços e promessas.
— Eu vou sentir sua falta — comentou com a voz chorosa, ficando de frente para mim.
— Eu também vou, querida — digo, abraçando-a forte. — Você pode ir me visitar quando quiser. Sabe disso, não sabe? — Ela balançou a cabeça em concordância.
— Queria dizer obrigada — diz, com os olhinhos beirando as lágrimas, o que me fez derreter por completo.
— Obrigada pelo quê? — perguntei e ela sorriu, dando de ombros.
— Por tudo. Sei que foi você que fez Shawn não ter um surto por causa de James. — Eu já ia dizer que o mérito foi todo dele quando ela continuou: — Obrigada por cuidar dele, também. Shawn estava em um período estranho quando você apareceu, ele estava mais isolado... Estava precisando muito de alguém como você. Ah, e obrigada por me salvar daqueles garotos no dia em que nos conhecemos. Não poderia esquecer disso, não é?
Eu já nem podia mais vê-la por conta da visão embaçada.
— Ali, isso está parecendo uma despedida definitiva — disse, passando a mão nos olhos. — Isso é só um até logo, tudo bem? Eu ainda vou ver sua formatura e você vai ser a dama de honra do meu casamento.
— Do seu casamento com o Shawn? — perguntou e nós duas olhamos para ele ao mesmo tempo. Shawn abraçava sua mãe com aperto, rindo de algo que ela falava e eu suponho que não era pra ter sido engraçado, já que ela brigou com ele por ter rido.
De alguma forma, ali eu tive certeza.
— Com quem mais seria?
Depois de quase deixar Aaliyah sem respirar, fui dizer tchau à Karen e Manuel com mais um abraço apertado, prometi que iria ficar de olho em seu filho e que voltaria quando pudesse, mesmo que não fosse acompanhada de Shawn; eu fiquei feliz por eles me verem mais do que uma simples nora.
Quando as despedidas tiveram um fim, a avó de Shawn ressurge de dentro de casa, segurando um colar prata e falando coisas em sua língua materna que eu nunca iria entender. Ela se pôs em frente ao neto e quando ele foi abraçá-la, foi docemente impedido.
— Aqui — disse em inglês, estendendo o colar. — É o colar de São Cristóvão, padroeiro dos viajantes.
Todos estavam assistindo a cena, lado a lado, e ficamos emocionados no mesmo nível quando Shawn abaixou o pescoço e deixou que sua vó abençoasse suas viagens, para onde quer que elas fossem.
(...)
— Ellie, você tem muitas coisas.
Olhei para Steve e depois para o meu quarto recém-montado, confirmando mentalmente por estar cansada demais: sim, eu tenho várias coisas. Acho que seria preferível a mudança ser à base de fogão e geladeira, do que os detalhes do meu quarto que irritavam até a mim. Mas, pelo menos, estava tudo pronto. Finalmente.
— Sim, eu tenho várias coisas — digo e saio do quarto quando ouço a porta do banheiro abrir. — Você já vai, não é? — pergunto a Shawn, que tentava colocar a blusa dentro de sua calça. Vou até ele e o ajudo a manter sua nova moda.
— Você sabe que se eu pudesse ficar por mais dez minutos, eu ficaria — diz e tira minhas mãos da barra da sua calça, pressionando-as contra seu peito, olhando nos meus olhos. — Amanhã já começa suas aulas — comentou sorrindo, parecendo orgulhoso. — Eu não vou estar aqui pra conter seus surtos, mas eu já passei as coordenadas para Steve e ele me prometeu que vai fazer tudo, tirando a parte do beijo — termina com uma careta, o que me faz rir. — Eu disse que abraços te acalmam e que ele pode usar isso no lugar do beijo, só não faça isso em público, eu odeio te privar do que seja, mas você sabe como comentários surgem de pouca coisa. Ah, eu dou um jeito de fazer uma vídeo chamada com você, nem que seja para desejar boa sorte. Eu sei que vou estar do outro lado do país, mas se você tiver algum problema, não hesite em me ligar, por favor. Eu dou um jeito. Peço para que Andrew me libere e...
— Katy me disse que quem falava demais era a Ellie. Eu estou confuso — interrompe Steve e eu solto uma risada.
— Deixe que ele fale! — Solto da mão de Shawn e pego uma almofada do sofá, arremessando-a em Steve, que desvia e sai correndo para o seu quarto.
— Katy? O que ela já faz conversando com Steve? — Shawn perguntou e eu abanei a cabeça.
— Ela está em todo lugar.
E estava mesmo, nessa hora eu foquei no quadro com a foto dela que ela me obrigou a pendurar na parede da sala.
— Enfim! — Shawn me despertou e eu voltei meu olhar para ele. — Eu amo muito você — diz segurando meu rosto com as duas mãos, amassando minhas bochechas e dando beijinhos por todo meu rosto.
— Eu também te amo — digo com certa dificuldade, fazendo-o rir e tirar o aperto. — Você não estava atrasado? — lembrei e ele olhou para o relógio com os olhos arregalados.
— Droga! Ok, tchau. Não se meta em confusões, por favor. — Acompanhei-o até a porta e antes de Shawn ir embora definitivamente, ele me puxou pela cintura e me deu um grande e último beijo.
— Você é extremamente péssimo em despedidas.
— Eu sei.
Dito isso, ele me deu um beijo na testa e saiu correndo.
— Steve! Shawn já foi embora. Eu vou tomar um banho e depois vamos assistir filmes que eu considero tristes, mas você não! — gritei, depois de trancar a porta, indo em direção ao banheiro, mas parei quando ouvi o grito de Steve.
— Bob Esponja: Um herói fora d'água não é triste!
Resolvo ignorá-lo, entrando no banheiro e já ficando relaxada pelo banho de sais que essa banheira vai me proporcionar. Prendo meu cabelo e começo a me despir, ajeitando a água. Assim que fico pronta, entro na banheira e sinto todos os meus problemas se suavizarem instantaneamente, juntamente com meu corpo. Pego o atual livro que estou lendo — diário de um banana: dias de cão — e dou início à leitura. Eu sempre fui muito eclética em relação a tudo, tanto músicas quanto livros, eu poderia estar lendo um livro infantil hoje e amanhã estar perdida no mundo adulto, lendo, por exemplo, um livro de receitas. Nem pude contemplar meu contemporanismo, pois fui rudemente interrompida minutos depois pelas batidas na porta. E não, não era a porta do banheiro.
Esperei Steve ajustar seu bom senso e ir atender, mas passaram-se alguns minutos e a pessoa insistia em bater na porta como se sua vida dependesse disso. Irritada, saio da banheira e visto meu roupão, andando até a porta a passos pesados. Assim que a abro, encontro uma mulher com feições puramente mexicanas, batendo seu pé impacientemente no chão, encarando-me com uma cara nada simpática.
— Quem é você? — pergunta com petulância e eu franzo o cenho. — Steve não mora mais aqui?
— Mora. Eu sou Ellie, eu...
— Ele está com outra?! Terminamos faz uma semana e ele já está com outra?! — seu semblante era puramente instável. Havia olheiras por debaixo de seus olhos, seu cabelo estava bagunçado e ela parecia querer chorar. Eu senti uma enorme necessidade em abraçá-la e convidar para uma xícara de chocolate quente, depois de perguntar se ela sabia como fazer.
— Não é nada disso...
— Como não?! Quer saber? Eu não deveria ter vindo — diz e sai em disparada para o elevador, dando sorte dele ainda estar no andar, indo embora tão de repente quanto surgiu.
Suspirei, fechando a porta e amarrando meu roupão com mais força. Andei a passos não tão mais pesados ao quarto de Steve e bati sutilmente na porta, sem saber como contar a ele o que acabou de acontecer.
— Você está aí há muito tempo? Eu estava escutando música no fone de ouvido — diz em tom de desculpa, erguendo o celular e eu neguei.
— Sua namorada... Ex namorada — abanei a cabeça — apareceu aqui e eu que atendi, ela pensou que você, eu... Nós...
— Ah, não! — lamentou, segurando-me pelos ombros e me tirando do meio, correndo até a porta.
— Ela já foi, Steve! — digo em vão, ele já tinha ido pelas escadas.
Quando Steve retornou, estava cabisbaixo, visivelmente triste. Eu me senti extremamente culpada, por isso o acompanhei e me sentei ao seu lado no chão da cozinha, mesmo que meu roupão fosse novinho.
— Vocês namoraram por muito tempo? — perguntei depois de um tempo em silêncio, temendo estar sendo invasiva.
— Três anos de idas e vindas — respondeu, olhando para o teto.
— Eu sinto muito pelo que aconteceu... — digo descascando o esmalte preto presente em minhas unhas.
— Não é culpa sua. Sabe, ela sempre foi assim; ciumenta, impulsiva, controladora. Esse foi o motivo de termos terminado, pelo menos, o da última vez.
— E, mesmo assim, você a ama.
— Amo.
— Como se conheceram? — perguntei, virando-me para ele e Steve me contou toda sua história. Karla era seu nome e eles se conheceram na faculdade, ela também cursava psicologia. Segundo ele, seu temperamento sempre foi difícil, mas eles conseguiam ficar em equilíbrio, o amor conseguia suportar, até que não deu mais, Karla se tornou sufocante. Sabe-se lá o que ela iria dizer hoje. — Eu acho que você deveria escutá-la.
— Ela acabou de mostrar que não mudou em nada — retrucou e eu dei de ombros.
— Imagina você ir até a casa dela e encontrar um cara só de roupão — digo e ele me encara. — Você já estaria cheio de inseguranças e, mesmo com sua sensatez, é possível que tivesse dado o mesmo surto que ela deu.
Steve ponderou por um momento.
— Vou procurá-la na aula de amanhã — concluiu e eu sorri satisfeita.
— Bem, eu vou terminar de tomar banho. Você pode ir preparando os lencinhos? — pergunto, levantando-me do chão.
— Bob Esponja não é triste!
I know we'd be alright
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GNETE AAAA JÁ TÁ ACABANDO EU NÃO TO PREPARADA repito isso não é um treinamento
eu odeeeeio despedidas ;(
mas vai ser um até logo, ok? vai vir outra história depois dessa :)
queria indicar uma nova história, da minha amiga KahMonteiro , se chama Fallin' All In You e é FANTASTJCA leiam
amo vocês
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