Paris
P.O.V – Sherlock
Cheguei em menos de alguns minutos no local da decolagem, Mycroft se encontrava parado com sua formosa pose pomposa em frente a escada do avião me observando sair do carro e caminhar até seu encontro.
– Gostaria que me falasse mais sobre o caso. – Perguntei enquanto pegava minha maleta para subir. – As informações que me passou ainda são muito confusas.
Mycroft ficou um tempo me encarando sem dizer nada, mas após alguns segundos sorriu irônico e finalmente falou.
– Achei que você era Sherlock Holmes. Creio que seus poderes de dedução não se foram completamente.
– Pare com isso e me dê fatos concretos. A única coisa que sei é que estou indo para Paris, resolver um caso sobre um atentado que estava perturbando alguns moradores e depois só me contou pedaços muito confusos, isso não é do seu gênero, sempre que me procura, por mais que não tenha certeza dos fatos, me conta coisas concretas que fazem sentido. – O encarei. – Por acaso isso é um truque?
– Se fosse, você não estaria prestes a subir neste avião e abandonar seu país natal.
Eu apenas respirei fundo, vendo que aquela conversa não ia chegar a lugar algum. Me virei e subi os degraus, se aquilo realmente era um truque ou algo parecido, não estava nem um pouco preocupado, mas aquilo estava me atiçando, os fatos e a aquela história confusa, tudo aquilo estava me trazendo novamente a emoção que a tempos não sentia.
– Boa viagem irmãozinho. – Disse Mycroft assim que as portas se fecharam.
Em algumas horas já me encontrava desembarcando no Aeroporto Internacional Paris - Charles de Gaule, ou mais conhecido como Aeroporto Roissy. Assim que sai do corredor de desembarque me deparei com John e Mary, que me esperavam em uma pequena mesa tomando café em um restaurante.
– Sherlock! – John veio ao meu encontro e me deu um abraço.
Confesso que nunca fui bom em dar abraços, por mais que estivesse com saudade de John e até de Mary, na verdade eu estava sentindo falta de muita gente, por mais que tentasse disfarçar a emoção de rever meu velho amigo e apenas dar pequenos tapinhas em seu ombro, cheguei a um estado de querer literalmente abraçar alguém. Não dei tapinhas em seus ombros e sim o abracei como as pessoas normais fazem, ou pelo menos acho que fazem.
Mary veio ao meu encontro e também me abraçou. Conversamos por alguns minutos, John estava preocupado com meu estado de saúde e minha aparência, que confesso, não estava nada bem. Recebi alguns sermões de meu amigo como já era esperado, avisando que deveria me cuidar mais e se continuasse daquele jeito iria acabar morrendo.
– A única coisa que me mataria seria meu lado sentimental, que nunca irei usá-lo. – Disse rindo e ajeitando meu longo casaco preto, já que nos aproximávamos da saída e o clima do outono já dava seus sinais.
Entramos no táxi, um silêncio dominou o ambiente, até mesmo John havia parado de fazer perguntas ou me dar dicas de como cuidar da saúde. Permanecia calado apenas observando o movimento de carros e a paisagem francesa que nos cercava. Mas em minha mente, milhões de pensamentos se amontoavam. Pensava o motivo de ter me sujeitando a sair de Londres. O que havia ali que tanto me intrigava? O pior é que não era só o caso que estava me mantendo daquele jeito, era algo a mais, mas não conseguia distinguir.
Por vários momentos durante o trajeto, me pegava pensando em Irene e na mensagem que me mandara, ao mesmo tempo me segurava para não pegar o celular e lê-la novamente. Creio que estava tão absorvido em meus pensamentos que nem percebi quando John me cutucara informando que havíamos chegado no Hotel.
Subimos para o 16° andar, o lugar era magnífico, corredores enormes pintados com diversos tons de amarelo e dourado, chão forrado com um tapete de camurça vermelho, ao redor vários vasinhos de plantas e pequenos toques franceses. Nada muito diferente da entrada do lugar, que não deixava muito a desejar se tratando de beleza e arquitetura. Era toda coberta por tijolos cor de areia queimada, bem parecido com as construções do século 19, janelas brancas e cercadas por ferros esverdeados com formas arredondadas.
Meu quarto era ao lado do de John, mas naquela noite John e Mary decidiram jantar no meu quarto, para que não ficasse muito sozinho ou evitar que injetasse ou ingerisse alguma droga.
Comemos uma deliciosa lasanha e bebemos vinho, John continuava perguntando sobre meu estado, mas uma pergunta me intrigou ainda mais.
– Ainda pensa na Mulher? – Ele me encarou friamente, senti meu corpo congelar.
– Qual mulher? – Lógico que sabia que se tratava de Irene Adler “A Mulher”, cuja qual não saía de meus pensamentos nos últimos dias.
– Irene Adler, Sherlock. Não se faça de desentendido. – Ele bebeu um pouco de vinho antes de voltar ao assunto. – Tem notícias dela?
– Claro que não. – Respondi rápido, desviando o olhar para a pequena lareira que enfeitava a sala. – Ela está morta.
– Sabemos que ela não está e que você vez alguma coisa para impedir isso. – John me fitava sério, mas sua expressão não demonstrava raiva, e sim um semblante de surpresa por aquele meu ato heroico.
– Como você pode ter certeza disso? – Minha voz soava cada vez mais alto.
– Mycroft descobriu uma identidade falsa em meio ao governo da França. – Desta vez foi Mary que se pronunciou.
Eu não tinha argumentos para aquilo, se já estava nos conhecimentos de Mycroft que ela estava viva, era óbvio que ele sabia que eu havia interferindo em sua decaptação.
– Então ele já está se alastrando pela França. – Levei a taça a boca e acabei com todo o líquido com uma única só golada. – Ele está mesmo se superando.
– Então é verdade? – Mary disse com um enorme sorriso. – Não pode ser. – Ela se aproximou da cadeira onde estava sentado. – Você salvou A Mulher.
– Quem diria que ela iria conseguir atingir seu coração meu caro amigo. – John disse sorrindo. – Não agredido que o Grande Sherlock Holmes, que sempre faz tudo sozinho e abomina qualquer sentimento relacionado a amor, está apaixonado.
Eu literalmente não sabia aonde enfiar minha cabeça. Tudo aquilo era verdade, estava louco por aquela mulher, havia enfrentado mundos e todos, me disfarçado, entrado em perigo para salvar aquela mulher. Definitivamente estava deixando minhas emoções me dominarem e elas estavam conseguindo me destruir.
– O que tudo isso tem haver? – Perguntei já deduzindo em que havia me metido.
– Como disse. – Continuou Mary, agora se sentando ao lado de John. – Documentos falsos estão circulando por Paris, tudo indica ser de Irene.
– Como pode ter certeza que é ela? Ela pode estar em qualquer lugar do mundo. – Disse com uma voz carregada de agonia e ansiedade.
John se levantou e foi até uma mesinha onde estava uma pasta. Abriu-a e retirou algumas fotos e veio em minha direção.
– Aqui. – Disse me entregando a foto. – Uma câmera de um supermercado local filmou essa mulher comprando algumas coisas a exatamente dois dias atrás. – Apontou o dedo sobre o rosto de uma mulher, que sim, se parecia exatamente com Irene. – Creio que essa se parece muito bem com “A Mulher”.
Então era verdade, Irene estava em Paris, o que me levava a acreditar mais do que nunca que estava completamente sendo guiado por meus sentimentos, cujos quais nem sabia que um dia podia se manifestar. Havia realmente caído em uma armadilha, meu irmão planejara tudo milimetricamente calculado, inventara um caso, combinara com John e Mary minha ida a Paris, e não era a toa que alugara um quarto no mesmo Hotel onde os dois passavam a Lua de Mel.
Todos aqueles lapsos de pensamentos que pairavam na minha mente em menos de segundos só me fizeram chegar a conclusão de que Irene estava dominando meus sentimentos, o que me tornava submisso a suas vontades mesmo que indiretamente, de algum modo estava ligado à a ela. Mesmo que negasse para Mycroft de que não iria para França, arrumei minhas malas e fui, mesmo que todo aquele papo furado sobre o caso e as informações, que podia jurar serem falsas, mesmo sabendo que tudo aquilo estava me levando para um plano ou algo do tipo, ignorei todos os pensamentos e fui, o que me levava a deduzir que eu estava completamente movido pelo amor e ansiedade de reencontrar Irene, uma vez que após aquela mensagem ela não saia de meus pensamentos.
– Pode ser alguém querendo se passar por ela. – Afirmei.
A expressão de raiva e indignação dominou o rosto do meu amigo, juro para vocês que nunca o vira daquele jeito, nem quando eu forjara a minha morte e o surpreendera após dois anos.
– Você é a pessoa mais imbecil que eu já conheci na vida Sherlock. – Ele gritava e me encarava com tal fúria, que podia jurar que se e ele não se acalmasse, Mary se tornaria uma esposa viúva. – Você pode não se considerar um Humano ou alguém normal, pode ser o detetive mais esperto do mundo!– Abruptamente colocou as mãos em meus ombros e me encarou. – Mas você tem o direito de se permitir amar e ser amado, tem uma mulher que te ama e está aqui em Paris, correndo risco de vida só por sua causa. Mycroft pela primeira vez deu uma de cupido, fez você vir até aqui para reencontrar a pessoa que te deixou deste jeito. – Bruscamente tirou as mãos do meu ombro e começou a andar em círculos pela sala. – Será que você pode cooperar e ser humano uma vez na sua vida?
Eu estava completamente sem ação, não me movia, nenhuma palavra saia da minha boca até que tomei coragem.
– Não posso afirmar que sou humano e por mais que já tenha me rendido a meus sentimentos não posso deixa-los me dominarem. – Após aquelas palavras, apenas vi John esticando a mão para pegar alguma espécie de copo e ameaçando jogar na minha direção. Mas antes que seu ato impensável fosse concretizado eu disse. – Mas podemos nos reencontrar e eu posso cumprir-lhe um pedido que ela queria muito.
– O que seria? – Mary disse encarando John, pedindo para que ele se controla-se.
– Um jantar. – Eu disse alto e claro.
Após aquela discussão, John e Mary se retiraram. Estava completamente só novamente envolto em pensamentos, mas desta vez não estava mais em Londres no meu bom e velho 221B, estava em outro país, longe da minha zona onde conhecia tudo e todos e o mais inquietante, Irene estava mais perto do que imaginava.
Tentei recostar a cabeça na poltrona, até que ouvi um barulho de algum objeto cair no chão. O celular caíra do bolso do casaco, que eu esquecera de tirar completamente, quando tentei me acomodar no acento.
Peguei o aparelho e o liguei, o mantive na tela inicial me controlando ao máximo para não ir nas mensagens, mas todo meu esforço foi em vão, antes mesmo que pudesse desligar o telefone e colocá-lo bem longe de mim, ouvi o som que anunciava a chegada de uma nova mensagem, era “A Mulher”.
“Le Jules Verne, 20:00 horas”
I.A.
Confesso que se falar que entrei em uma confusão de sentimentos entre eles ansiedade, nervoso e alegria, ainda será pouco para descrever o que eu estava sentindo naquele momento, estava paralisado, olhando intacto para a tela com um enorme sorriso.
Levantei após voltar para o mundo real, abri o enorme guarda-roupa que ocupava parte do quarto e, como esperado, encontrei várias peças de roupa no cabide e algumas calças e sapatos na parte inferior.
– Mycroft. – Disse para mim mesmo enquanto escolhia algo elegante para digamos... meu segundo jantar.
Me troquei rapidamente, estava até que apresentável, vestia uma calça social preta, blusa social de manga comprida em um tom de vinho e um terno preto por cima. Olhei no relógio, marcavam 19:30h, com medo de atrasar e sabendo que o restaurante era bem próximo do Hotel, peguei meu sobretudo e decidi ir caminhando até o local.
Em menos de 15 minutos cheguei no Le Jules Verne. O lugar era bem acolhedor, visto que ficavam praticamente ao lado da Torre Eiffel, com uma vista estupenda. Adentrei no restaurante, que por sinal estava bem movimentado, mas isso não me impediu de achar Irene.
Ela estava sentada em uma mesa ao fundo do ambiente, ao lado de uma janela enorme de vidro onde mostrava uma parte da Torre. Posso confessar que meu coração quase pulou pela boca com tanta felicidade, deixando um sorriso maroto escapar dentre os lábios.
Caminhei até sua mesa e fiz questão de sentar ao seu lado.
– Não é costume seu sentar-se ao lado de uma mulher. – Ela disse me encarando.
Ela estava estupendamente linda, uma das imagens mais lindas que já pudera ver em toda minha vida. Vestia um vestido longo vermelho decotado na parte superior, deixando amostra parte de seus seios. Usava uma maquiagem leve, porém chamando atenção para seus lábios, que estavam cobertos por um batom vinho avermelhado, cabelo solto com algumas ondulações nas pontas e aquele perfume único, essa era a Irene que conhecia, minha Irene.
– As coisas mudam. Eu mudei. – A encarei e sorri. Não havia mudado completamente, mas com toda certeza algo estava mudando dentro de mim.
Nossos rostos começaram a se aproximar até ficarmos a milímetros de distância, podia sentir sua respiração roçar minha face, ela me olhou e antes que nossos lábios pudessem se tocar ela se afastou.
– Serveur! – Acenou para o garçom vestido de preto e branco segurando uma bandeja.
Ela mesma fez os pedidos e em alguns segundos estávamos diante de um belo banquete a moda francesa, acompanhados de um belo vinho Chateau Angeles.
– Como conseguiu chegar aqui? – Perguntei observando-a atentamente.
– Ora, você não deduziu?
– A única coisa que consegui identificar é que você está morando em uma residência de luxo afastada da metrópole, vive bem e está segura agora. Tem motorista particular e tudo mais e só resolveu ir aquele dia no mercado para anunciar para Mycroft que queria me ver. Creio que ele sabe a bastante tempo que você está aqui e é ele que está de protegendo. Fora isso não sei mais nada.
– Nossa você está decaindo. – Ela pousou a mão no meu rosto. – Ou é a emoção de me ver e literalmente estar cumprindo a promessa?
– Você é indecifrável Irene. – Eu disse me aproximando ainda mais. – Sabia que tinha uma divida com você, nunca me esqueci.
– Geralmente é difícil me esquecer. – Ela sorriu e lentamente tirou a mão do meu rosto e fez questão de passar as pontas dos dedos sobre meus lábios.
Conversamos a noite toda, rimos, contamos palhaçadas e brincadeiras que fazíamos quando éramos crianças. Era difícil acreditar que aquela mulher com a qual conversei durante a noite havia sido uma das maiores ameaças que já enfrentara e agora estávamos ali, jantando como velhos amigos de infância que nutriam um sentimento um pelo outro.
– Aonde quer ir agora senhor Holmes? – Ela me encarou e colocou minha mão sobre sua perna nua. – Não irei me importar se quiser ir para minha casa.
Eu a olhava fixamente sem retirar a mão de sua perna, com toda certeza em outros tempos já teria me levantado e ido embora, mas naquela noite eu me deixaria levar pelos meus sentimentos e tentaria ser humano por uma noite.
– Vamos para outro lugar. – Eu disse agarrando sua mão e a puxando pelo corredor do restaurante.
Saímos do restaurante e fomos direto para a entrada dos visitantes da Torre Eiffel.
– O que esta fazendo? – Ela me olhava espantada.
– Vou te dar um presente. – Eu a encarei e rapidamente saquei um cartão que estava dentro do meu sobretudo.
– Não me diga que você tem passe livre para circular pela Torre? - Ela riu. – Os Holmes são mesmo poderosos.
– Na verdade eu não sou poderoso financeiramente. Apenas tenho um irmão que controla parte do mundo.
Passei o cartão na porta de entrada e logo a porta se abriu. Entramos no elevador e logo este funcionou quando passei o cartão, mas tivemos que continuar parte do trajeto apenas caminhando.
– Por que temos que subir mais? O elevador só permite trazer visitantes até aqui. – Ela disse com um enorme sorriso, sabendo que a surpresa não era simplesmente ver a vista na Torre.
– Porque você sabe que comigo as coisas são bem mais intensas. – Eu sorri e a guiei em direção às escadas.
Subimos alguns lances de degraus, que normalmente deveriam ser usados pelos trabalhadores que cuidavam da manutenção. Logo as escadas terminaram, mas aquilo ainda não era o suficiente, eu queria dar um presente digno para Irene, algo inesquecível, nem que isso custasse a minha vida.
Escalamos parte das barras da Torre, o vento se tornava cada vez mais forte e o frio só piorava, mas nada disso era um incômodo ao lado de “A Mulher”.
– Isso é fantástico. – Ela disse assim que chegamos ao topo da Torre.
Estávamos literalmente no topo, na grande haste que dava o acabamento ao monumento. A vista era linda, nunca vira nada igual, as luzes, pequenas, pessoa caminhando, que mais pareciam formigas, luzinhas de carros em alta velocidade e o melhor momento foi quando ouvimos as turbinas de um avião se aproximando. Naquele momento me sentia o dono do mundo, nada podia me atingir e tudo que eu tanto almejei e pensara nos últimos dias estava ao meu lado.
– Isso superou todos seus limites. – Ela me encarou e sorriu.
Literalmente nunca imaginara que seria capaz de tudo aquilo por aquela mulher eu a amava e tentava desde sempre esconder isso, mas já era tarde demais eu estava infectado pelo o que tanto lutara e me defendia, o amor. Estava apaixonado por Irene.
– Você merece isso, depois de tudo que fez comigo. – Eu aproximei meu rosto do seu, o vento batia no meu casaco o fazendo bater nas hastes.
– O que eu fiz com você?
– Me mudou, destruiu o antigo Sherlock.
– Como assim? Você ainda é o mesmo. Mestre da dedução e muito mais do que isso. Você é Sherlock Holmes.
– “O virgem” como já me chamou.
– Esqueça isso. Você é fantástico.
– E você ainda mais. Você conseguiu provocar sentimentos em mim, coisa que ninguém jamais conseguiu. Quebrou a armadura que tanto me protegia e quase chegou perto da minha inteligência.
– Você nunca vai deixar de ser convencido. – Ela riu e se aproximou ainda mais, agora encostando seu corpo no meu.
– Isso não pode continuar, Sherlock morreu e você fez isso.
– Não estou te entendendo.
– Eu estou apaixonado por você e não sou capaz de suportar isso, não é da minha natureza.
– Juntos podemos suportar. – Se aproximou ainda mais, estávamos colados, seu corpo estava completamente colado ao meu, podia ouvir seus batimentos e sentir a pressão de seu coração saltando em seu peito.
– Essa é apenas minha derrota. – Eu disse ficando agora mais próximo de seus lábios. – Se eu me for, não chore. Saiba que você me destruiu, mas adorei viver cada segundo dessa liberdade ao seu lado.
– Pare com isso, vamos viver juntos e poderá viver sua liberdade.
– Não posso, não iria sobreviver neste novo ser, seria demais para mim.
Antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, nossos lábios se encontraram e a beijei, um beijo intenso cheio de desejo, que já estava sendo guardado a anos. Quando ficamos sem folego fomos obrigados a nos separar.
– Não faça isso. – Ela me encarou.
– Você me conhece tão bem minha cara Irene. – Eu sorri. – Guarde este beijo como uma lembrança, sabe que mesmo que eu continue neste mundo uma hora ou outra não irei aguentar e é melhor que está seja minha última lembrança.
Passei minha mão por seu rosto, deslizando por seus lábios e guardando para mim mesmo o desenho daquela face.
– Obrigado pelo Jantar.
Foram minhas últimas palavras antes que pudesse deixar meu corpo ser dominado pela gravidade e, quem sabe, encontra o tão falado Deus em que todos acreditam. Apenas sei que antes de meus olhos se fecharem para me deleitar com a queda que em breve destruiria meu corpo, pude ouvir uma frase, que carrego comigo até hoje “Eu te amo.”
E aconteceu, em menos de segundos meu corpo estava estraçalhado no meio das ruas de Paris. O sangue corria por meus cabelos e o rosto, posso lhe dizer que já não se via a mesma beleza. Os dois anos atrás haviam se repetido, mas agora era real, eu não estava mais entre os vivos.
Em algumas horas a notícia de minha morte foi anunciada, transmitiam por jornais de toda a França, passando por Londres e logo por metade da Europa. Nem preciso dizer que John ficou desolado com a notícia, chorando descontroladamente, nem mesmo o nascimento da filha o fez melhorar, bem talvez um pouco, mas Mary sempre o pegava chorando escondido em algum canto da casa, voltaram para sua casa em Londres na manhã do acidente, John nunca mais voltou para o 221B da Baker Street, que hoje permanece fechado e apenas a Sra. Hudson tem o acesso.
Mycroft não derramou uma lágrima, mas sentia uma dor incurável. Desde aquele dia focou ainda mais no trabalho e nunca se quer tocou em meu nome, já que também se sentia culpado pelo ocorrido. Afinal, fora ele quem planejara o reencontro meu com Irene.
Falando nela, devo lhes dizer que ela derramou uma lágrima mas não foi após minha morte, enquanto eu caía uma lágrima escorreu de seu olho e ela me olhou até meu corpo se encontrar com o asfalto. Ela sumiu, ninguém sabe mais em que lugar ela se meteu, nunca mais ouviram falar dela naquele dia, nem mesmo as forças de Mycroft puderam rastreá-la, até hoje não se sabe se ele está viva ou morta, mas isso pouco importa agora, eu deixei com ela algo muito valioso, meu amor, o qual nunca se desenvolvera e quando chegou o dia ele me destruíra.
Bem... não estou mais entre os vivos, na verdade, não sei aonde estou, apenas estou existindo em algum lugar do universo. Não tenho mais cocaína ou algo com o qual possa me drogar. Não fiz muita falta na Terra como todos estão falando, os humanos são fracos e o dia que me tornei humano, esse humano me destruiu, porque cheguei a conclusão de que não havia me tornado humano e sim, construído um mostro cujo qual meu lado humano enfrentara naquela noite e nós morremos juntos.
Mas posso afirmar que seja o lugar que me encontro, estou feliz, tive um irmão, um amigo e tive “A Mulher”, agora fico relembrando esta parte da minha vida, que infelizmente não poderei voltar para concertá-la, mas tenho a certeza de que sempre serei lembrado.
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