˖࣪ ❛ MELANIE DEPRESSIVA
— 18 —

MINHA MÃE NÃO ERA UMA PESSOA SENTIMENTAL, DEMONTRATIVA, AMOROSA, ERA MUITO RESERVADA, DE CORAÇÃO FRIO, RARAMENTE DEMONSTRAVA AFETO. Eles eram uma das coisas que quando eu era jovem eu não entendia, achava que sendo adolescente merecia um pouco de amor maternal, mesmo que fosse mínimo, mas com o tempo eu a entendi, parei de procurar o amor quando ela era incapaz de dar ou receber.

Mesmo assim ela foi meu exemplo a seguir.

Ela sempre tomava decisões, não importava se machucava alguém ou não, se gostava ou não, era uma pessoa de porte firme, que emanava e empunhava respeito. Por isso, quando tive que escolher uma opção sobre um assunto importante da minha vida, imaginei que era ela quem decidiria.

Isabella estava em perigo, Victoria ainda estava atrás dela, o que eu não gostava, mas eu também não estava me dando bem com ela, ela ainda estava de castigo, sem visitas de Edward durante a noite sabendo que eu poderia sentir se ele entrasse quarto dela ou não.

A matilha queria que eu me mudasse permanentemente para Forks. Tanto a matilha quanto o conselho foram duramente atingidos pela morte de Harry, ainda pior quando seus dois filhos, Seth e Leah, sofreram a transformação. Disseram que era difícil acalmá-los, que precisavam de alguém no conselho. Eles estavam me oferecendo para ser uma parte oficial do bando.

Charlie também foi um dos motivos pelos quais hesitei em partir. Às vezes eu achava que era injusto que alguém tão gentil e de coração puro tivesse que ser deixado sozinha. Parecia que Isabella não o respeitava ou o tratava como pai. Se ao menos ele soubesse sobre o mundo sobrenatural, talvez, apenas talvez, fosse mais fácil.

Mas eu não era minha mãe. Eu não sabia o que fazer numa situação como essa, não sabia o que poderia fazer para resolver o problema com minhas próprias mãos. Então eu consertei do meu jeito.

Comer e ficar deprimida enquanto assisto filmes que conseguem fazer minhas lágrimas saírem da pior maneira. Como 'Diário de uma Paixão'.

Dei uma mordida para abrir o pacote de cereal com pouca vontade, meu olhar estava perdido em algum lugar do balcão sem me importar com os olhares horríveis em que me encontrava. Estou de pijama, o roupão de Charlie por cima e os chinelos que Paul me deu.

Coloquei o leite em cima do cereal mas algo não me pareceu certo, cheirei para verificar mas não havia nada suspeito. Então dei de ombros, levando uma colherada aos lábios. O ar tinha um cheiro estranho, mas não era meu cereal, fui até o sofá na tentativa de retomar o filme, pena que o som de alguém batendo na porta interrompeu minha ação.

Uma aura dourada estava do outro lado, bufei cansada arrastando os pés até a porta, alguns passos para trás abri-a com magia sabendo que devia ser algum Cullen, do outro lado estava Alice com uma pequena careta com algumas sacolas.

— Tive uma visão onde você estava caindo em depressão, então é melhor que alguém te supervisione. — ela avisou com sua voz cantante ao que eu balancei a cabeça, voltando para o sofá.

— Feche a porta. — murmurei sabendo que ela iria me ouvir.

Segundos depois ela já estava no sofá com um olhar simpático, deixou sobre a mesa as sacolas que carregava mostrando quilos de sorvete ao qual lhe deu um pequeno sorriso.

— Eu sei que é difícil, mas se você quiser eu posso te ajudar a resolver isso. — ela propôs enquanto abria um sorvete para mim.

— Como? — eu perguntei, colocando o filme novamente.

— Vi várias de suas possíveis decisões, uma é a mais promissora, talvez você goste. — sugeriu com um pequeno sorriso, pude começar a sentir sua felicidade, diversão.

— O que? — peguei o sorvete para começar a comer sem prestar atenção no cereal que acabei de deixar, depois comia.

— Tem uma cabana à venda perto do rio tratado, ela fica do nosso lado mas a poucos metros do rebanho, você comprou para ficar em Forks, não sei se por tempo ou permanentemente, mas você parecia confortável.

Balancei a cabeça sem parar de tomar o sorvete, ela me olhou sem apagar aquele sorrisinho, então só pensei em todas as possibilidades disso, talvez um espaço só meu não fosse tão ruim, seria útil praticar o livro de feitiços, bem como estar ao lado de ambos os lados do tratado.

Mesmo não sabendo por que estava interessada em estar perto dos Cullen. Talvez por causa dos meus novos possíveis relacionamentos mas prefiro não dar atenção neste momento.

— Eu sei que você aceita, mas antes disso você deve tomar banho, você está horrível. — ela zombou e eu apenas olhei para ela de um jeito ruim. — Me desculpe, mas não gosto dessa mãe deprimida Melanie — ela riu.

— Mãe Melanie? — franzi a testa confusa, ela parecia hesitar como um peixe fora d'água.

— Porque você é a mãe da matilha, certo? — ela pegou um atalho mas suas emoções a delataram em grande escala, mesmo assim preferi não entrar na mente dela.

— Sim. — balancei a cabeça, nem um pouco convencida. — Vou tomar banho, eu te diria 'Não coma o sorvete' mas... — apontei para ela com uma careta. — Você sabe.

Ouvi sua risada enquanto subia as escadas da casa.

★

Alice estacionou o carro em frente à cabana. Quando ela me mostrou que seu carro novo era o mesmo modelo que roubamos para ir para Volterra eu ri impotente, aparentemente Edward havia dado a ela como forma de agradecimento. Ela disse que tinha um presente para mim que era metade 'Obrigado' e metade 'Perdoe-me por ser um idiota com sua sobrinha.'

Saí do carro para ver o lugar lindo que me deu muita paz sem saber o motivo. A cabana não era grande coisa por fora, parecia caseira, o que acrescentava pontos, a poucos metros de distância ficava o rio com uma pequena ponte que atravessava para o outro lado. Entrei com a pequena vampira atrás observando a pequena casa.

Por dentro estava vazio, mas tinha uma pequena sala de estar com cozinha - sala de jantar, era grande o suficiente para mim, continuamos vendo que tinha tudo que eu precisava, dois quartos com banheiro de tamanho médio. O bom é que ficava exatamente no fundo da floresta, a casa mais próxima era a dos Cullen.

— Você gostou? — olhei em sua direção, balançando a cabeça lentamente enquanto olhava mais um pouco o local.

— Sim, é bonito.

Passei a mão em uma das paredes, sentindo delicadamente a poeira dela, a textura da madeira envernizada era um pouco macia, sua cor marrom escuro me pareceu familiar. Virei-me para Alice com um pequeno sorriso, mas ela desapareceu quando não a vi em lugar nenhum.

Me virei tentando procurá-la novamente mas ela não estava lá, tentei procurar sua aura mas as únicas que consegui sentir foram estranhas de cores diferentes, desconhecidas do ser que nunca tinha visto cores como aquelas, algumas azul claro, outros azuis, o laranja característico da embalagem.

Saí da cabana um pouco desconfiada, na varanda parecia que tudo havia mudado, não estava mais no rio do tratado, estava em outro local cheio de rédeas de campo parecidas com as dos índios. Dei mais alguns passos enquanto procurava alguém, mas só consegui ver pessoas caminhando calmamente.

— Feiticeira escarlate! — me virei e vi um garoto gritando meu nome repetidas vezes enquanto corria em minha direção, chamando tanto a atenção dos demais quanto a minha, seus sentimentos negativos vieram como ondas carregadas em minha direção. — Eles precisam de você na floresta, você deve correr. O chefe diz que eles precisam de você!

— O que aconteceu? — a pergunta saiu por si só, me surpreendendo. Levei as mãos aos lábios ao ver que havia sido uma ação involuntária, vendo como minhas mãos estavam obscurecidas pelas luvas.

Olhei para baixo e vi que estava mais uma vez usando a roupa que usei naquele período de aparência real.

— Há feridos, muitos, houve um ataque.

— Melanie! — me virei para ver o que pareciam ser os moradores locais, mas eles não estavam mais lá, haviam desaparecido.

— Melanie! — olhei novamente para o jovem mas ele também havia sumido, girei nos calcanhares procurando alguém mas não tinha mais ninguém, as barracas sumiram.

— Melanie!

Alice apareceu na minha frente segurando meus ombros com uma cara preocupada, olhei para ela sem expressão, virando o olhar para ver que ela estava fora da cabana. Exatamente a mesma coisa aconteceu comigo como quando Isabella aconteceu. Olhei para baixo instintivamente, assim como naquela vez, meu traje apareceu.

— O que aconteceu? — ela perguntou preocupada.

— São lembranças. — eu respondi admirando a magia do traje, aos poucos ela começou a desaparecer, deixando apenas pequenos fragmentos de auras vermelhas. — É a segunda que tenho.

— Isso é certo ou errado? — ela questionou confusa.

— Não sei, mas eu não os controlo então é errado. — admiti, colocando a mão na testa.

Resolvi deixar o assunto ali, o que ela entendeu perfeitamente, mas pude perceber o quanto ela realmente queria falar sobre isso. Mesmo assim, preferi mudar de assunto, indo para o que era realmente o principal. A mudança.

— Edward na verdade já comprou. — ela sussurrou quase inaudivelmente, mas eu pude ouvir.

— O que? — me virei para ela, estávamos estacionados em frente à residência dos Cisnes

— Antes de ir eu falei para ele, então só para pedir desculpas e agradecimento ele comprou a cabana para você, ele sabia que você iria negar então ele já deixou os papéis na sua cama, Rosalie cuidou de todos os móveis em duas horas, queríamos colocar algo em nome de todo mundo. — ela admitiu brincando com as mãos, pude sentir a vergonha del.

Suspirei sem entender porque os Cullen se esforçaram tanto para conseguir meu carinho ou desculpas, peguei a mão da pequena vampira fazendo-a olhar para mim.

— Está tudo bem, fadinha, mas não quero mais nada. — ela assentiu rapidamente.

Balancei a cabeça e depois dei um beijo de despedida em sua testa, saí do carro pronta para ir arrumar todas as coisas do meu quarto, pelo menos havia economizado semanas de papelada.

★

Charlie já sabia da minha mudança, ficou triste sabendo que eu não iria morar na casa dele mas ficou feliz em saber que eu ficaria na cidade pelo menos por muito tempo. Eu ainda tentava vir pelo menos uma vez por semana, não queria que ele ficasse sozinho.

A matilha enfrentou isso de uma maneira difícil. Eles ficaram satisfeitos em saber que eu ficaria na cidade, mas ficaram totalmente irritados quando descobriram que minha casa ficava no território dos Cullen, o que me fez rir enormemente já que eu estava a poucos passos do território deles, mas eles ainda estavam com muita raiva, criancinhas.

No entanto, eles agora estavam me ajudando a empacotar as coisas.

— Ahhhh! Não! Que diabos você tem, Melanie! — me virei e vi Jared que estava com uma peça da minha calcinha abaixada. — Por que você está comprando isso? É sexy. Você não pode usar roupas sexy!

— O que? — exclamei confusa, pegando minha calcinha.

— Você não pode usar isso. — Paul bufou. — Você deveria usar essas coisas velhas, com essas calcinhas de renda você só vai fazer com que ele fique em cima de você. — ele cruzou os braços.

— Desculpe? — murmurei incrédula.

— Você vai ficar perto daquele sanguessuga, então é melhor se vestir como uma velha, porque se você ficar bonita ele vai se aproximar de você, ele não pode se aproximar de você! — Embry se juntou.

— Olha... — peguei a caixa para colocar na caminhonete do Sam. — Ele não vai ver minha calcinha, não sei porque você está preocupado com isso, eu não sairia com o Cullen. — eu os tranquilizei mas eles estavam ainda carrancudo.

— Deixe Mel em paz. — o alfa defendeu. — Ela pode ficar com quem ela quiser. — ele pegou uma caixa.

— Você está bem com aquele sugador de sangue estando perto dela? — Jared reclamou.

— Claro que não. — exclamou quase ofendido. — Mas não podemos proibir.

— Claro. — disseram em uníssono me fazendo rir

— Não se preocupe, não vai acontecer nada. — peguei a última caixa com magia para colocar dentro do baú. — Pronto, amanhã vocês podem ire na minha casa, os Cullen não vão se importar mas levem Leah e Seth

Os novos membros da matilha que ela ainda não conhecia, mas ela estava ansiosa para fazê-lo, já que estava prestes a conhecer a primeira loba. Os meninos assentiram e entraram no veículo.

— Bem, pelo menos você estará perto dos dois lados para que possamos cuidar de você e de Victoria. – Embry murmurou.

Ah isso. A maldita ruiva com quem perdi a amizade por causa da minha sobrinha ainda andava por aqui.