003
"Meio que apressada
E eu nunca soube que eu podia sentir tanto assim.
E esse é o jeito que eu te amei."
NÃO CONSEGUI FUGIR DO NATAL, então ali estava eu, me preparando psicologicamente para enfrentar a viagem por flú até a casa dos meus pais.
Ajeitei minha jaqueta e finalmente entrei no flú, dizendo o nome da casa da família Potter.
Eu odiava profundamente viagens de flú, por isso foi um alívio enorme quando consegui minha licença para aparatar. Até considerei ir de vassoura ou até mesmo aparatar, mas no último treino tinha dado um mal jeito nas costelas, então infelizmente a melhor opção acabou sendo o flú.
Saí da lareira tossindo a fuligem. Quando olhei para cima, dei de cara com minha irmãzinha, me encarando com uma expressão surpresa.
— James!
Lily pulou em cima de mim, eu a agarrei e firmei meus pés no chão, para que nós dois não acabassemos caindo. Minhas costelas doeram e eu mordi o lábio inferior, para não gemer de dor.
Ok, talvez o machucado tivesse sido pior do que imaginei.
— Ei, Lily-flor.
— Eu não acredito que você realmente veio — ela disse, me abraçando apertado — Quando a mamãe disse, eu não acreditei.
Me afastei dela e baguncei seus cabelos.
— É claro que eu ia vir.
Ela estreitou os olhos e por um momento me senti mal ao ver o quanto ela tinha crescido, o quanto eu tinha perdido.
— Você não apareceu nos últimos dois anos.
— Ser jogador de Quadribol é mais complicado do que parece.
Uma tosse chamou a minha atenção e eu desviei a atenção de Lily, dei um pequeno sorriso ao ver Albus parado na entrada da sala, com as mãos no bolso.
— E aí?
— James.
Albus se aproximou e me deu um abraço rápido, ele se afastou antes que eu pudesse retribuir.
— Não imaginamos que você realmente fosse vir.
Eu não tinha tido tempo de me preparar quando Teddy surgiu na sala, me encarando em choque.
— James.
Ouvir ele pronunciando meu nome depois de tanto tempo era como um maldito choque, forcei um sorriso, tentando não demonstrar como tudo aquilo estava me afetando tanto. Ele parecia o mesmo, cabelo azul, brincos de garra de dragão, o piercing no lábio inferior, a jaqueta de couro marrom que eu tinha lhe dado de presente no último natal em que passamos juntos...
— Teddy.
Nos encaramos pelos segundos seguintes, sem ter certeza de quem daria o primeiro passo primeiro. Para a minha total surpresa, Teddy respirou fundo e avançou, me puxando para um abraço de tirar o fôlego, demorei alguns segundos para retribuir o abraço, mas quando finalmente fiz, foi como voltar para casa depois de tanto tempo.
Minhas costelas doeram ainda mais com o abraço apertado, o que me ajudou a voltar a realidade, onde o idiota que estava me abraçando tinha partido meu coração em um milhão de pedaços.
— Então, onde está a minha mãe? Ela meio que me ameaçou se eu não viesse, não é legal ser amaldiçoado por Ginny Weasley — murmurei, tentando soar leve enquanto ia para a cozinha — Tenho quase certeza de que ela ameaçou o técnico do time também.
Ginny limpou as mãos cheias de farinha e deu um sorriso satisfeito ao me ver. Meu pai estava parado próximo a pia, claramente surpreso de me ver ali.
— Não precisei ameaçar ele, na verdade, seu técnico é um grande fã meu, precisei apenas dar um autógrafo.
Dei um suspiro sofrido.
— Nojento.
Ela gargalhou e se aproximou, dando um beijo estalado na minha bochecha.
— Estou feliz que tenha vindo, filho — Ginny disse, animada — Estávamos esperando você, aceita um whisky de fogo? Seu tio Charlie trouxe da Romênia.
Albus bufou.
— Por que vocês oferecem bebida pro James, mas não para nós?
— Seu irmão é maior de idade e já deve ter bebido coisa pior nas festas de vitória dos jogos — Harry respondeu, então se aproximou, colocando a mão no meu ombro — Filho! Achei incrível a vitória do último jogo.
Me sentei em uma das cadeiras ao redor da bancada e forcei um sorriso enquanto Harry me servia de bebida.
— Incrível, porém eu dei um mau jeito nas costelas...
Os olhos de Ginny se estreitaram.
— Você viajou até aqui com as costelas quebradas?
— Eu vim por flú! Fui liberado pela medibruxo do time para viajar e tudo mais, só preciso tomar as poções que ela passou direitinho...
Aquela não era bem a verdade, mas Margaret, a medibruxa do time, já tinha desistido de discutir comigo há muito tempo. De acordo com ela, eu era um irresponsável que não tinha amor à própria vida.
Teddy se sentou ao meu lado.
— Então, como está o time?
Olhei para ele, tentando não demonstrar o quão chateado estava.
— Ótimo. E sua vida como auror?
— Agitada.
Nos encaramos por alguns segundos, então ouvi Albus tossindo.
— Uau, clima nem um pouco estranho...
A última coisa que eu queria depois de tanto tempo sem ver a minha família era um clima estranho por causa de Teddy, então forcei um sorriso e tentei relaxar, ignorando a dor nas costelas e a maldita dor no meu coração.
— Sem climas estranhos, Al — retruquei, ainda sorrindo — Como vai Scorpius? Estou surpreso que o loirinho não está por aqui.
A expressão de Albus automaticamente se tornou suave, como sempre acontecia quando a gente falava de Scorpius. Eu tinha minhas desconfianças sobre ele ser apaixonado pelo Malfoy,
— Scorpius conseguiu um emprego no St. Mungos, dá pra acreditar?
Prestei atenção no meu irmão, ignorando o olhar de Teddy, que parecia fixo em mim.
"Ele respeita meu espaço
E nunca me faz esperar.
E ele liga exatamente quando disse que ia."
TIREI UM CIGARRO DO BOLSO e o acendi com o isqueiro, a primeira tragada imediatamente me fez relaxar.
Depois do jantar, decidi dar uma fugida para a varanda, me sentei nos degraus e observei a movimentação da rua. Riven já tinha me enviado diversas mensagens durante a noite, mas eu não estava com cabeça para responder.
— Fumar vai acabar matando você — ouvi a voz dele — Desde quando você fuma? Pensei que achasse horrível.
Lentamente dei uma tragada, tentando ter mais um tempo antes de ser obrigado a responder a ele.
— Ser um jogador profissional faz certas coisas com a gente — murmurei, cansado. Ter o coração partido também, mas decidi não mencionar a última coisa — Fazemos qualquer coisa para conseguir relaxar por alguns segundos e tirar a cabeça dos problemas.
Teddy se sentou do meu lado, ele havia tirado a jaqueta e ficado só com a camiseta branca que usava por baixo, revelando todas as tatuagens que havia em seus braços.
— Albus e Lily sentiram muito a sua falta... Eles acham que não ter você aqui a culpa é minha.
Uma risada seca escapou dos meus lábios.
— E o que você acha, Lupin?
Finalmente o encarei, apenas para encontrar seus olhos já focados em mim.
— Que eu te machuquei e por isso você foi para o mais longe possível de mim — ele finalmente respondeu após alguns momentos de silêncio — Eu sinto muito.
Suas desculpas estavam com dois anos de atraso, eu nem ao menos conseguia realmente acreditar nele.
— Tarde demais.
Teddy respirou fundo.
— Eu não terminei para te machucar ou porque parei de te amar — ele sussurrou, pegando minha mão — Terminei porque estava com medo de você não aceitar a vaga no time por minha causa, eu não queria causar problemas entre você e os seus pais por nossa causa eu...
Passei muito tempo me perguntando o motivo de Teddy ter acabado com a gente, agora que eu sabia, não me sentia melhor.
— Você não tinha o direito de decidir por mim, deveríamos ter conversado sobre isso juntos, Teddy — resmunguei, então levantei, tirando minha mão da sua — Talvez você tenha razão e eu seja realmente infantil, como você disse aquela noite, mas eu não consigo fingir que nada aconteceu. Olhar para você dói pra caralho, sabe a pior parte? Eu nem mesmo consigo te odiar.
Os olhos dele estavam marejados e eu sabia que os meus não deveriam estar muito diferentes.
— Jamye...
Terminei meu cigarro e joguei o que sobrou no chão, pisando em cima para apagar.
— Vou entrar, não quero continuar essa conversa agora — murmurei, mais amargo do que pretendia — Nunca achei que você fosse do tipo covarde, Lupin.
Ele levantou e parou na minha frente, me impedindo de entrar dentro de casa.
— Eu nunca vou ser capaz de superar você, nós — Teddy admitiu, colocando a mão na minha bochecha — Jamye...
Teddy me beijou, me deixando sem reação nos primeiros segundos. Sentir seu gosto novamente depois de tanto tempo era uma dor no meu coração, me deixava desesperado para ter mais, coloquei a mão em sua nuca, o puxando mais para mim.
Porra, eu senti tanta falta daquilo. Dele.
Não havia gentileza alguma no beijo, era desespero misturado com saudades, medo daquela ser o nosso último beijo.
Ele se afastou completamente ofegante, me trazendo memórias que estava tentando esquecer. Olhei para seus olhos, eu ainda estava furioso com ele, magoado, cheio de feridas que não vão cicatrizar tão cedo, mas eu não conseguia o afastar, parar de o desejar, mesmo sabendo que o final poderia me quebrar ainda mais.
— O que eu preciso fazer para você acreditar que eu ainda te amo?
Ouvir aquilo me pegou desprevenido.
Antes que eu pudesse pensar em uma resposta, meu celular começou a tocar. O tirei do bolso, me sentindo um completo idiota ao ver o nome de Riven ali.
Porra, Riven.
— É importante? — Teddy perguntou, olhando para o celular.
Eu não queria explicar que era o cara com quem estava ficando, que era um maldito príncipe encantado, fazia tudo absolutamente perfeito.
Considerei apenas desligar o celular, mas depois de todas as mensagens dele que tinha ignorado naquele dia, não era justo.
— Preciso atender — admiti, me sentindo exausto — Nós conversamos depois.
Me afastei de Teddy e entrei dentro de casa, atendendo o celular.
— Amor, como está sendo as festas com sua família? — Riven perguntou, animado — Aqui está uma loucura, contei para minha mãe sobre você, agora ela não cala mais a boca sobre querer te conhecer.
Fechei os olhos com força, porque eu simplesmente não conseguia amar Riven do jeito que ele merecia? Por que meu coração insistia em escolher Teddy, mesmo depois de todas as brigas e mágoas?
— Foi cansativo, minhas costelas ainda não melhoraram, então não consegui aproveitar tanto — admiti, subindo as escadas — Você contou para a sua mãe? Qual a reação dela?
Riven riu.
— Acho que nunca vi aquela mulher tão feliz, sério — ele admitiu, animado — Está tomando as poções para as costelas corretamente? Se estava tão ruim, eu poderia ter ficado cuidando de você.
Enquanto ele estava contando para a sua mãe sobre nós dois, eu estava beijando meu ex namorado.
Eu era um merda.
"Ele é íntimo da minha mãe
Fala sobre negócios com meu pai."
NA MANHÃ SEGUINTE, TEDDY não estava ali, o que eu não tinha certeza se era um alívio ou apenas ele fugindo de novo. Passei a noite inteira me revirando na cama, me sentindo um merda por causa de Riven.
— Você parece que teve uma péssima noite.
Olhei para a minha mãe, que estava preparando o café da manhã. Só havia nós dois na cozinha, os outros ainda estavam dormindo, o que eu invejava.
— Não consegui encontrar uma posição que não fizesse minhas costelas doerem — expliquei, o que não era exatamente mentira — Queria que tivessem me avisado que ser jogador de Quadribol era incrível, mas significava uma quantidade impressionante de lesões.
Ginny riu, sua risada era barulhenta e sempre arrancava um sorriso do meu rosto.
— Você realmente nunca pensou que isso era uma consequência?
— Eu achava que era bom e incrível o suficiente para nunca me machucar — admiti, sentindo meu rosto esquentar — Idiota e estúpido, é o que dizem.
Ela colocou a pilha de panquecas na mesa e se aproximou, até parar do meu lado.
— Levanta a camisa para eu ver esse machucado, tenho certeza que é mais grave do que você está nos dizendo.
Me conhecia tão bem.
Tirei a camiseta em um movimento lento, para tentar fazer com que a dor não fosse tão grande. Ginny imediatamente analisou a área que estava um pouco roxa e inchada, ela estava séria.
— Realmente deixaram você viajar nesse estado?
Mordi o lábio inferior.
— Na verdade, a Medibruxa do time não discute mais comigo, ela diz que sou um cabeça dura sem medo da morte — admiti, sentindo meu rosto esquentar — E não está tão ruim...
— Está péssimo — minha mãe retrucou, se afastando — Não sabia que você tinha tatuagens.
Ela havia visto a tatuagem de lobo nas costas, eu conseguia sentir seus dedos em cima da marca. Eu não era um grande fã de tatuagens, não tinha nem metade das que Teddy tinha, mas ainda assim tatuei algumas coisas que tinham significado.
O lobo era o patrono de Teddy.
— É, fiz algumas para tentar parecer mais descolado.
Ginny me encarou, com a sobrancelha arqueada. Ela era inteligente demais para o próprio bem.
— Você fez o patrono de Teddy para tentar parecer mais descolado? — provocou, se escorando no balcão — Todo mundo percebeu o clima entre vocês ontem, então... Quer me contar alguma coisa?
Me senti inquieto sob seu olhar. Será que ela tinha visto nossa discussão pela janela? O beijo?
— É complicado.
— Você sempre diz isso quando não quer contar algo — ela retrucou, então fez carinho no meu cabelo — Pensei que você já tivesse entendido que nunca vou te julgar.
Desviei o olhar por alguns segundos, considerando minhas opções.
— A gente teve algo no passado — admiti, respirando o fundo — Não acabou bem, como você pode perceber. É uma merda, porque acho que nunca serei capaz de gostar tanto de alguém quanto gosto dele... Acredite, eu tentei tanto me apaixonar por outras pessoas, mas...
Ela suspirou, sua expressão suave.
— Oh, antes de conseguir ficar com seu pai, eu fiquei com muitos garotos, na tentativa de o esquecer — Ginny admitiu enquanto fazia carinho no meu cabelo — Dificilmente algo assim funciona, só acabamos magoando outras pessoas.
— É...
Ginny sorriu.
— Não quero me meter e nem ao menos sei todos os detalhes do que aconteceu entre vocês para dar uma opinião, mas... Filho, eu acho que Teddy gosta de você, de verdade — ela sussurrou, séria — Não é um problema para a gente vocês ficarem juntos, são garotos crescidos, adultos, podem fazer o que quiser.
Ouvir aquilo aliviou um grande peso das minhas costas.
— Você acha que a gente combina?
— É óbvio que sim. Me sinto um pouco idiota por não ter desconfiado disso antes, o jeito que você sempre teve olhos de coração na direção dele, como sempre passava tempo com ele depois de se formar... Sempre foi ele e sempre vai ser, não é?
— É...
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