"Ele é sensível e

Tão incrível

E todas minhas amigas solteiras estão com inveja"

FORCEI UM SORRISO ENQUANTO Riven passava o braço ao redor dos meus ombros, contando a história de um dos nossos últimos jogos, embaixo de um temporal que parecia o fim do mundo. Eu me sentia estupidamente mal toda a vez que ele me encarava com aqueles olhos apaixonados e sussurrava que me amava, Riven merecia alguém melhor.

— James foi sensacional — ele disse, o sorriso tão grande que suas bochechas deveriam estar doendo — Ele fez uma manobra que nunca tinha sido feita antes, então pegou aquele pomo, ganhando o jogo.

Roxane bateu palmas, animada.

— Eu lembro, achei que ele ia cair daquela vassoura, a vovó Molly quase teve um ataque do coração, tadinha.

Riven se inclinou, beijando meus lábios.

— O melhor jogador de Quadribol do momento.

Merlin, eu precisava respirar.

— Vou pegar mais bebidas, a próxima rodada é por minha conta.

Ouvi os gritos animados na mesa e me levantei, o caminho até o bar foi cheio de cumprimentos pelo último jogo, sorrisos e alguns pedidos de fotos. Eu tinha tudo que um jovem poderia querer, dinheiro, amigos, uma carreira no auge e um namorado romântico e perfeito.

Então porquê eu não conseguia me sentir feliz?

Me apoiei no balcão do bar, a garota que estava servindo bebidas rapidamente ignorou os outros clientes para me dar atenção, aquilo era o privilégio de ser um cliente regular do lugar.

— Diga Big James, o que posso fazer por você hoje?

Sasha tinha cabelos castanhos, a lateral raspada, grandes olhos azuis, muitas tatuagens pelo corpo e diversos piercings. Ela tinha sido deserdada de alguma família puro sangue, nunca fiz questão de perguntar sobre o assunto.

— Primeiro preciso de uma rodada de bebidas para a mesa ali — respondi, então passei as mãos pelo rosto — segundo, posso fugir um pouquinho pela saída dos funcionários nos fundos?

Ela estreitou os olhos, então deu uma olhadinha para a mesa onde eu estava sentado até agora.

— Sabe, se você não gosta do cara, tem que dizer isso para ele em algum momento...

— O que eu preciso agora é de um cigarro e um pouco de silêncio — retruquei rápido, soando mais amargo do que eu gostaria — Sasha, por favorzinho.

Sasha revirou os olhos, mas abriu uma das tábuas do balcão para eu passar. Olhei para ela com alívio e beijei sua bochecha ao passar, fui direto para a porta atrás do bar e quando o ar fresco tocou meu rosto, consegui respirar de verdade pela primeira vez na noite.

Fechei a porta e me sentei em uma das caixas vazias que tinham no beco, tirei um cigarro do bolso e o acendi, levando até os lábios.

Era isso, um pouco de paz.

Fechei os olhos enquanto deixava a fumaça sair, eu me sentia uma merda.

Eu não tinha certeza de como as coisas haviam chegado naquele ponto com Riven, tudo começou em uma noite que eu estava bêbado demais ao ponto de conseguir confundir seu rosto com aquele que sempre atormentava meus pensamentos. O sexo não era ruim, seria melhor se eu não fechasse os olhos e imaginasse outra pessoa ali.

A gente era do mesmo time de Quadribol, vivíamos viajando juntos pelo mundo para os jogos, passamos muito tempo juntos. Aconteceu uma segunda vez, então uma terceira e quando percebi, estávamos namorando e todo mundo do time sabia.

O único problema era que apesar de Riven ser perfeito, o sonho de namorado de qualquer um, eu não conseguia me apaixonar por ele.

Olhei para o céu, não havia uma única nuvem no céu, conseguia ver todas as estrelas e a lua brilhando ali, me fazendo suspirar baixinho, até aquilo me fazia lembrar dele.

A tentação era mais forte do que eu, então peguei meu celular e fui até a galeria, abrindo em um vídeo antigo, que tinha um pouco mais de um ano. Imediatamente o som de risadas preencheu o beco escuro, os cabelos azuis de Teddy Lupin foram a primeira coisa que apareceram na tela do celular, ele estava sorrindo.

— Aqui podemos ver o maior jogador de Quadribol da década claramente perdendo para o monstro das panquecas de chocolate — a voz dele soou, risonha — como você se sente sendo humilhado desse jeito?

— Se você mandar isso para a minha mãe, vou azarar você!

O comentário só fez o Teddy do vídeo rir ainda mais, meus olhos lacrimejaram ao ouvir o som, porra, como eu sentia falta daquilo.

— Já consigo ouvir a tia Ginny dizendo "é por isso que você não deveria ir morar sozinho tão cedo".

— Eu odeio você, sério.

— Mentiroso!

Minha versão do vídeo desistiu de fazer panquecas e se aproximou de Teddy, o vídeo ficou escuro por um momento, mas eu conseguia ouvir o som de beijos. Depois disso a filmagem acabou, mas eu lembrava perfeitamente do que aconteceu a seguir.

— Big James — a voz de Sasha soou, chamando a minha atenção — Riven está procurando por você.

Joguei o que restava do meu cigarro no chão e levantei.

"Ele diz tudo o que eu preciso ouvir

E é como se

Eu não pudesse pedir por nada melhor."

RIVEN RIU BAIXINHO ENQUANTO a gente andava pelo corredor até a porta do meu apartamento, ele estava claramente bêbado, mas eu também não estava muito sóbrio, então não importava.

Consegui destrancar a porta do apartamento e nós entramos, no segundo seguinte, minhas costas foram pressionadas contra a parede enquanto ele me beijava desesperadamente, quase me deixando sem ar. Fechei os olhos, imaginando aqueles olhos azuis, o cabelo azul...

— James, você é perfeito — Riven sussurrou, agarrando minha cintura — eu te amo.

Ah, isso não, pelo amor de Merlin.

Ao invés de responder ele, apenas voltei a beijar seus lábios. Nós fomos para o quarto, tropeçando no caminhando enquanto tirávamos as roupas.

Quando empurrei Riven na cama, meu celular tocou. Ignorei por alguns segundos, mas continuou tocando e eu suspirei, pegando o celular para ver quem era. Era minha mãe, recusei a chamada e abri o aplicativo de mensagens para ver o que ela queria.

Ela tinha mandado uma foto com Lily, meu pai e ele. Aparentemente eles estavam cozinhando, a legenda dizia "começando os preparativos para o Natal. Você vai vir esse ano?".

Minha atenção ficou presa em Ted Lupin por alguns segundos, ele estava diferente da última vez que a gente se viu. Tentei evitar os flashs que vinham dentro da minha mente, o som pesado da chuva, os gritos...

— James? Algum problema, amor?

Desliguei o celular e o encarei, forçando um sorriso.

— Problemas de família, mas não importa agora — murmurei, sentando no seu colo — Onde nós paramos?