022
˖࣪ ❛ O TEMPO
— 22 —
OS DIAS PASSARAM rápido demais para o gosto de Rosalie.
O Alasca floresceu no verão. Enquanto dirigiam pelas longas estradas, com as janelas abertas, o ar estava fresco e calmo, o céu azul e pontilhado de nuvens. Os dias passavam facilmente, como se já fizessem isso há anos. Violet nunca quis que nada mudasse.
Ela tentou não pensar nas despedidas que ainda estavam por vir. Assim que o verão terminasse, o mesmo aconteceria com seu relacionamento com Rosalie - se é que poderia ser chamado assim. Elas não conversaram sobre isso, mas Violet não quis. Ela não sabia o que havia entre elas, mas sabia que era forte e interminável, mas sabia que logo mudaria. A presença de Rosalie era inabalável.
Ficar sozinha com ela por horas a fio era fácil. O silêncio era confortável, a conversa sem esforço. Violet tinha certeza de que nunca havia se sentido assim antes – tão serena e despreocupada, tão capaz de ser ela mesma a cada minuto do dia. Quando ela olhou para Rosalie, ela se sentiu calma. O fato a surpreendeu. Quando ela se sentava no banco do passageiro, enfiada debaixo de um cobertor enquanto dirigiam noite adentro até o próximo destino, Violet olhava para ela e se perguntava para onde teria ido aquela garota reservada e orgulhosa, se perguntava se Rosalie alguma vez tinha sido aquela garota ou se fosse apenas uma máscara. Violet teve a sensação de que Rosalie sabia que ela estava olhando e deixou que ela olhasse mesmo assim.
À noite, quando seus olhos ficavam cansados demais, elas deitavam os assentos e juntavam os cobertores. Foi então que elas não puderam mais negar a si mesmas. Violet gostou do fogo por trás dos lábios de Rosalie, do êxtase que entrelaçou sua língua. Por muito tempo aquele gosto esteve escondido pelos espinhos espinhosos das palavras de Rosalie e agora Violet podia arrancá-los para sentir as pétalas macias de seus lábios. As mãos de Rose sempre encontravam sua cintura, encaixando-se ali como se tivessem sido projetadas com o formato certo para ficarem ali - uma fechadura e uma chave. Parte de Rosalie desejava poder congelar o tempo e deixá-las permanecer assim – juntas – pelo resto do tempo. Mas ela sabia que era egoísta. Ao contrário dela, Violet tinha uma vida para viver e uma família viva pela qual fazer isso.
Ao chegarem a Anchorage, o caminhão mal havia parado quando Violet abriu a porta e saiu para tomar ar fresco. Ao longe, as montanhas pareciam estender-se eternamente. Eram figuras grandes e salientes, esculpindo o horizonte com uma grandeza imponente. Mesmo o toque de neve branca não conseguia fazê-los parecer gentis.
Embora ela não pudesse ver a água, ela podia sentir seu cheiro. O ar salgado lembrou-a de La Push.
— O que você quer fazer primeiro?
Violet se virou, incapaz de evitar o sorriso no rosto. — Eu? Estamos aqui por causa da minha escolha. É a sua vez de dizer o que quer fazer.
Elas já haviam planejado muita coisa: os ingressos para o teatro, o horário para caminhar pela trilha da geleira e muito mais. Hoje a cidade era delas e Rosalie desejava usá-la.
— Vamos dar uma olhada na cidade, ver o que há, sim?
— O que você quiser, Rosalie. — disse Violet, pegando-a pela mão e conduzindo-a até as placas que apontavam para o centro.
O centro estava cheio de vida. Rosalie podia ouvir tudo e lutou muito para manter baixo o volume de seus ouvidos. Foi fácil fazer isso com Violet ao seu lado, apontando as lojas que poderiam visitar e os restaurantes que ela gostaria de experimentar.
— Vamos entrar aqui!
O ar lá dentro tinha cheiro de velho e rústico, e estava muito quieto. A parede mais distante estava coberta de relógios de todos os tamanhos, o mais próximo pintado com pôsteres antigos, alguns de propaganda de guerra. Por um tempo, elas vagaram entre as prateleiras e as estantes, parando momentaneamente para olhar os livros encadernados em couro e bugigangas estranhas. Rosalie foi a primeira a escolher alguma coisa.
— É lindo. — disse Violet, com o queixo apoiado no ombro.
A antiguidade era um medalhão em estilo Art Déco. Envolta em pontas de joias de prata, havia uma grande e brilhante esmeralda, no formato de uma lágrima. O colar a fez pensar em algo que sua amiga Vera já possuiu. Algo que ela certa vez deu a Vera.
Rosalie escapuliu enquanto Violet foi olhar os vestidos velhos. Ela encontrou o balcão bem no fundo da loja. Atrás dela estava sentada uma mulher idosa, com longos cachos grisalhos e um vestido roxo drapeado. Quando Rose se aproximou, a mulher sorriu, seus olhos se franzindo em suaves crescentes.
— Um lindo medalhão. — disse a velha senhora. Seus olhos brilharam com algo indescritível, incompreensível. Rosalie apenas assentiu. — Remonta ao início do século XX. Eu estava esperando que alguém pegasse isso. Parece que escolheu as mãos certas.
— Obrigada. — disse Rose, pegando o colar e entregando o dinheiro à mulher. Algo na conversa a enervou. Com a transação concluída, ela saiu correndo, embolsando a antiguidade.
Ao saírem da loja e voltarem pelas ruas, o céu começou a ficar nublado com grandes manchas pretas, ameaçando uma chuva torrencial. As duas quase correram de mãos dadas em direção ao caminhão, ignorando os olhares enviados em sua direção, mas a chuva veio antes de chegarem ao jipe.
— Onde estão as chaves? — Rosalie gritou, protegendo a outra garota com a jaqueta que ela havia arrancado do próprio corpo.
Violet soltou uma risada alegre, a cabeça inclinada para trás. — E você vai ficar magicamente seca enquanto eu fico molhada? — suas mãos agarraram a camisa de Rosalie, empurrando-a contra o jipe. Ela a deixou fazer isso. — É só um pouco de chuva, Rose. Não vai nos matar.
A risada de Violet se dissolveu nos lábios de Rosalie. Seu beijo foi aquecido, lutando contra o frio da chuva. Seu sangue pulsava tão perfumado de excitação que seu coração batia alto e rápido como uma música que Rosalie pudesse dançar. A chuva poderia não matá-la, mas Rose achava que o beijo de Violet poderia.
Quando a chuva diminuiu e se tornou um tamborilar suave, elas pousaram na traseira do jipe, o teto aberto era uma porta de entrada para o céu escuro acima. Estava nublado demais para ver algo digno de nota, mas Violet olhou mesmo assim. Seus dedos estavam levantados em seu cabelo, com os dedos apontados, movendo-se lentamente, como se ela pudesse traçar onde pensava que as constelações poderiam estar.
Rosalie poderia ter contado a ela tudo sobre as estrelas. Ela os estudou durante anos, até se formou em ciências. Mas não havia nada para ver além dos olhos brilhantes de Violet e da delicada elevação de seu peito.
Violet virou-se para ela, os lábios entreabertos com palavras não ditas.
— O que estamos fazendo, Rosalie?
Elas evitaram o assunto como uma praga, mas Rosalie não ficou surpresa que foi Violet quem se atreveu a abordar o assunto.
— Observando as estrelas. — disse ela, mesmo sabendo que não era a resposta certa.
Rosalie não queria reconhecer tudo isso, não queria ser lembrada de que tudo isso iria acabar. Que isso teria que acabar.
— Não, quero dizer, o que estamos fazendo? O que é isso? — Violet disse. A mão que estava entrelaçada nos dedos de Rosalie apertou como se tentasse mostrar seu ponto de vista. — Nós duas sabemos que partirei em algumas semanas. Combinamos um verão, mas isso é mais do que pensei que teríamos.
— Vamos viver um dia de cada vez. — disse ela, virando-se para que ficassem cara a cara. Ela podia ouvir a inspiração de Violet e a rapidez de seu coração. Por um momento, seu rosto se escondeu atrás do cabelo ruivo, mas Rose estendeu a mão e tirou os fios do rosto, com as mãos demoradas. — Dê-nos estas semanas, Vi.
— Ok. — Violet soltou um suspiro profundo. — Eu só queria que tivéssemos mais tempo.
— Sabíamos que não duraria para sempre.
Violet pegou a mão do rosto e deu um beijo suave na palma de Rosalie. — Eu gostaria que pudesse. Eu gostaria de poder ficar aqui, assim, para sempre.
Se ela fosse um ser mais fraca – se ela fosse Edward, talvez – ela teria pensado em revelar tudo então. De dizer a ela que para sempre era possível, com uma pequena mordida. Mas Rosalie nunca poderia fazer isso. Ela a amava o suficiente, ela percebeu, para deixar Violet ir e viver sua vida.
Ela não disse nada. As palavras eram grossas e ficaram presas em sua garganta. Em vez disso, ela enfiou a mão no bolso e tirou o colar.
— Rosalie... — as palavras de Violet foram sumindo quando seus olhos encontraram o medalhão.
Rosalie estendeu a mão para ela, tirando o cabelo da outra garota de seus ombros para que ela pudesse prendê-lo em volta do pescoço. Violet não protestou. Sua respiração foi presa quando as mãos de Rosalie desapareceram atrás dela. Ao sentir a frieza da joia contra seu peito, ela respirou fundo.
— Eu quero que você use isso. — ela disse, a voz quase um sussurro. Um arrepio percorreu as costas de Violet. — E eu quero que você pense em mim cada vez que tocar nele.
As mãos de Violet caíram para segurar cada lado do seu rosto. Suas sobrancelhas estavam franzidas, doloridas, como se ela não conseguisse compreender tudo o que estava sentindo.
— Vou pensar em você para sempre.
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