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˖࣪ ❛ CHUVA E ÓLEO DE CARRO
— 02 —
A CHUVA NÃO parava havia dias. Escorreu pelas janelas, batendo contra o telhado de metal, ameaçando se derramar pelo chão da garagem de onde caiu das calhas como cachoeiras. Uma pequena trincheira havia se formado em torno dos níveis mais baixos da linha de árvores que cercava a loja, cercando-a como um fosso. Violet teve que correr enquanto entrava no prédio do carro de seu pai, deixando-o arrastar os pés para trás enquanto ele se apressava para trancar a caminhonete.
Violet foi direto para o jipe que se escondia na parte de trás, desenrolando a cobertura de lona e respirando o cheiro fresco de borracha. Era como meditação, aquela sensação de desconexão do mundo e dos aborrecimentos que ainda a irritavam desde o dia. Não foi até que seu nome foi gritado, que Violet foi puxada de volta à realidade novamente.
— Violet?
A voz melodiosa de Celia veio da frente da loja.
— Nos fundos. — ela gritou, enxugando a testa com as costas de uma manga. Fazia uma hora desde que ela tinha começado a trabalhar no jipe - muito tempo, graças à dificuldade com o motor.
— Eu trouxe café. — Celia gritou, segurando um suporte com três xícaras enquanto ela entrava na sala dos fundos.
A tez escura de Celia brilhava sob as luzes de trabalho duras que pendiam do teto. Ela parecia tão arrumada, seu cardigã creme abotoado até o pescoço e jeans abraçando as pernas grossas, sem uma mancha de sujeira nelas, apesar das horas tardias e das condições climáticas horríveis. As próprias roupas de Violet tinham sido usadas com muita frequência para parecerem tão imaculadas.
— Graças a Deus. — ela exclamou, pegando a xícara quente e acariciando-a entre as duas mãos. — Estou desejando uma xícara decente desde esta manhã.
— Não agradeça a Deus, agradeça a mim. Eu dirigi até a cidade para pegar isso. — disse Celia enquanto colocava sua bolsa no banco do passageiro, inclinando-se para dar uma olhada no interior do jipe.
— Obrigada, Cee. Como posso retribuir?
Ela levantou uma sobrancelha curiosa, brincando com as pontas de seu cabelo. Pela expressão no rosto de sua melhor amiga, Violet sabia que ela queria algo dela.
— Eu quero fazer uma caminhada.
— Na chuva? — Violet não conseguiu conter a descrença que escorria de sua voz.
Célia deu de ombros. — Você ama a chuva.
— Sim, e você odeia isso. — disse ela, colocando o copo na bancada. — Você sabe que eu vou dar uma volta a qualquer hora. Além disso, eu preciso de uma pausa.
— Não está chegando a lugar nenhum com isso hoje?
— Não. — disse Violet com um suspiro. A chave caiu no chão ao lado de seu pé.
— Eu quase desisti hoje. Há algo errado com os tubos de distribuição de combustível. Não consigo descobrir o que é.
Celia assentiu, sem se incomodar em agir como se soubesse o que isso significava. Ela enfiou a cabeça sob a tampa do capô, deu um breve aceno com a cabeça e girou nos calcanhares novamente, encolhendo-se ao ver as botas. Seus olhos se moveram para a pilha de trabalhos escolares inacabados no banco.
— Não temos uma redação para Miss Copper? — ela perguntou.
— Eu vou fazer isso mais tarde.
Celia conteve uma risada. — Quando você dorme?
— Eu prospero durante a noite, Cee. — ela gritou brincando, conseguindo balançar um braço em volta do ombro, apesar da grande diferença. — Como um vampiro.
Celia gritou, empurrando a amiga para longe ao ver o óleo do carro que escorria de suas mãos enluvadas.
— Você está imunda, Vi!
— Oh, a chuva vai lavá-lo. — Violet riu, balançando a cabeça. — Deixe-me pegar minhas botas.
Celia a seguiu de volta para a frente da loja, onde seu pai ainda estava trabalhando no carro de um cliente. Seu próprio rosto estava de alguma forma manchado de sujeira. Era como se fosse parte do uniforme. Robbie Green sorriu ao ver as garotas se aproximando e rolou do chão.
— Papai. Cee trouxe café para você. — disse Violet enquanto pegava as botas do alto da bancada dele, movendo-se para colocá-las por cima das meias grossas da cama.
— Sem leite e dois açúcares. — disse Celia, entregando a xícara quente.
Robbie riu e agradeceu. — Você me conhece tão bem. Vocês estão saindo na chuva?
Violet assentiu.
— Tenha cuidado. Fica escorregadio lá em cima.
— Não se preocupe pai. Nós ficaremos bem.
— Não muito tarde. É uma noite de escola.
— Não se preocupe. — ela repetiu, puxando-o para um abraço de lado em seu caminho.
Seu pai nunca esteve muito preocupado, ele era muito descontraído para isso, e ele estava muito preocupado com seu negócio de garagem para se permitir. Mas ultimamente, isso mudou. Talvez fosse o fato de que sua adolescência estava passando como o apertar de um interruptor. Era mais provável que as noites de Violet fossem passadas enfiadas no espaço dos fundos, cobertas de óleo ou enfiadas no banco de trás. Na maioria dos casos, Celia era incansável e convencia a sair e fazer qualquer coisa. Mas para Violet, a garagem e seu jipe eram como âncoras, prendendo-a fisicamente e mentalmente até que ela pudesse se deixar levar. Mas o último ano ainda não tinha acabado.
— Eu sei. Eu nunca tive que me preocupar com você. — ele cantarolou, tomando um gole de seu café. — Vocês meninas se divirtam.
Quando elas saíram, a chuva pareceu acelerar, girando animadamente em sua chegada à floresta. Violet tinha praticamente balançado Celia sobre o riacho ao redor para alcançar a linha das árvores, mas apesar de suas dificuldades, elas riram, parando antes que pudessem ir muito longe tão sem rumo.
— A queda? — Violet cantarolou, observando enquanto um sorriso se espalhava no rosto de sua melhor amiga.
— A queda.
★
Rosalie saiu na chuva com nada além do pensamento da humana enchendo sua mente. Os sorrisos de Edward a levaram ao limite. A constante proteção, a ocultação de seus pensamentos, estava esgotando graças a ele, e seu interesse por Bella não tornava as coisas mais fáceis, apesar de suas ações e atenções preocupadas.
Ela nem estava com fome; a sede de sangue não era nem de longe intensa o suficiente para causar perigo a qualquer bem que eles tivessem. Mas Rosalie não deixaria que isso a impedisse de caçar. Sua vida em Forks valia a pena segurar. Ela só queria que Edward pensasse isso também, mas seu flerte com a filha do chefe...
Não.
Rosalie se cortou antes mesmo de pensar em Edward e sua fantasia. Isso a irritou demais. Ela não sabia se o toque da água da chuva em sua pele a congelaria ou a vaporizaria com o calor de sua raiva. Ela colocou seu ódio apaixonado na emoção da caça, correndo pela floresta enquanto pegava o rastro de um cervo. Nada poderia escapar das garras de Rosalie. Não a simpatia de sua mãe por Edward, não a certeza de Alice de que ele e Bella deveriam ser, e certamente não os animais das florestas de Forks.
Entre a chuva e a grama e o rastro do rico cheiro de sangue recém-derramado, Rosalie podia sentir o cheiro de óleo de carro. O cheiro era familiar. Muitas vezes, grudava nas rachaduras de suas próprias mãos. Cheirava como o lar de cada lar que a mão dos Cullen já teve. Por um momento ela o seguiu, deslizando facilmente pela lama espessa perto das cachoeiras, chegando perto o suficiente para poder ouvir o barulho da piscina, transbordando graças à chuva implacável.
Vozes encheram seus ouvidos, conversas suaves e risadas enquanto a chuva endurecia. Rosalie fez uma careta. O cheiro caseiro era mais forte agora, apesar do cheiro de pinho úmido enchendo o ar. Mas sua paz foi quebrada.
★
— Como foi a caminhada?
Violet tirou a capa de chuva enquanto voltava para a garagem, tendo se despedido de Celia minutos atrás no carro. Elas estavam encharcadas até o osso.
— Foi lindo. A chuva estava um pouco mais leve no outono.
— Devemos fazer uma viagem até lá em breve. — disse o pai dela, tirando os olhos da chave inglesa.
Violet parou, tirando o resto de suas roupas molhadas lentamente. — Sim. — ela disse, ligeiramente sem fôlego. — Com Ally?
— Só nós dois, se é isso que você quer. — disse ele, parando para ver a reação dela. Mas Violet apenas assentiu. — Mas eu gostaria que você pudesse fazer algo com ela. Só para conhecê-la um pouco.
Ele suspirou. — Olha, amanhã eu disse que iria pescar com os meninos.
— Charlie e Harry? — eles já foram melhores amigos.
— Sim.
— Você não os vê há séculos.
— Exatamente. — disse ele, jogando a toalha para baixo, olhando diretamente para sua filha. — E eu estava esperando que você fizesse um turno para mim depois da escola. Eu não tenho muitos clientes esperados, então seria apenas ficar de guarda e entregar as chaves quando os carros estão sendo recolhidos.
— Tudo bem. Eu vou fazer isso. — disse ela, sorrindo suavemente. Não havia nada que ela quisesse mais do que seu pai sair para o mundo de uma vez, e não ficar enfiado na garagem. Ela não tinha entendido bem a hipocrisia.
— Obrigado, Vi. — Robbie disse enquanto dava um beijo gentil em sua cabeça. — Você sabe que eu realmente sentirei sua falta quando você for embora.
— Pai. — ela gemeu.
— Eu sei. Eu sei. — disse ele, afastando suas queixas. — É só que existem ótimas universidades locais. Não vejo necessidade de ir tão longe.
— Pai, nós conversamos sobre isso.
— Eu sei. — ele soltou um suspiro, olhando ao redor na garagem, em tudo que ele compartilhou com ela. — Eu vou sentir sua falta, isso é tudo.
Violet estaria mentindo se dissesse que não sentiria falta também.
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