Capítulo 28 - Nova integrante
"Ela era bastante ousada. Ou imbecil."
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Raven
Eu a observava constantemente em busca de alguma lembrança. Se eu já a vira em algum lugar ou se alguém a conhecia. O problema era esse, não me recordei dela. Certamente era uma espiã.
Usava uma capa vermelha e possuía uma besta nas mãos. Além disso, seus cabelos eram presos e curiosamente usava calças. Mas uma única peça, me espantou. Aquele broche... Eu já o havia visto em algum lugar.
— Quem é você e o que faz aqui? — perguntei bruscamente. Meus olhos faiscavam.
— E então essas são minhas boas vindas...? — ela dizia rindo, abaixando sua capa. — Alguém que pode te...
— Só vou repetir mais uma vez. — a interrompi. — Quem é você e o que faz aqui?
Ela se calou um momento, pensativa, para logo após tagarelar.
— Porque não diz quem você é primeiro? Também é uma estranha pra mim. E se eu fosse você teria cuidado com o que diz. — me ameaçou. — Ou irá se arrepender depois...
Suspirei em resposta, para me acalmar. Ela era bastante ousada. Ou imbecil.
— Tudo bem... — comecei a dizer. — Começamos com o pé esquerdo. Talvez eu deveria já ter ido direto ao ponto. Saia daqui. Agora! — gritei com raiva. — Se não quer os membros do seu corpo espalhados por aí...
Ela gargalhou, tão alto que ecoava sua voz pela local. Suas palavras arrepiavam o meu corpo, fazendo que eu me estremecesse. Ela possuía uma áurea ruim e eu podia sentir isso. Por isso, não consegui dizer nada, apenas ouvi-la dizer:
— Hum... Já entendi seu tipo. — dizia me rodeando para me analisar.
Como me irritava!
— Se acha a mandona, líder... — riu, parando para olhar fixamente para mim. — Enquanto não passa de uma mimada chorosa. Eu tenho pena de você... Poderia ao menos...
" Tap ". Ouviu-se o estralo em seu rosto. Minha mão ainda latejava pelo golpe.
— Prendam-na! — ordenei aos Vigilantes. Estavam realmente atentos e foram atrás dela. Rui parecia meio indiferente, o que fez com que suspeitasse mais uma vez.
Foi então, que algo inesperado aconteceu.
— O quê? — me espantei quando Rui me interrompeu. Ele puxou o braço da garota, apertando com força.
— O que faz aqui? — ele grunhia, perguntando para ela.
— Você a conhece? — perguntei de imediato.
— Infelizmente sim. — respondeu ele, enquanto se encaravam.
— Me solta! — a mulher gritou, tentando se soltar sozinha.
— Alguém pode me dizer o que está acontecendo aqui? — Gael perguntava preocupado, se aproximando de mim.
— Também estou tentando entender Gael... — respondi a ele.
— Gael... — Ela quase sussurrava. — É você? — perguntou olhando para ele.
Ótimo. Maravilha! Outra garota no pé do meu namorado. O universo estava certamente ao meu lado.
— Sou. — respondeu confuso. — Me conhece? O que-
O soldado o interrompeu.
— Creio que terei de explicar tudo... — suspirou. — Vamos para casa.
Assim seguimos para dentro de casa. Enquanto Rui segurava um dos braços da garota e Félix o outro. Ela se debatia, mas continuavam a contendo até que entramos em casa e nos sentamos próximo a mesa para uma reunião. Ninguém entendia nada. Mas todos estavam olhando curiosamente para Rui. Ele teria de explicar tudo.
— Rui... — comecei a dizer, me acomodando no assento. — Pode me dizer o que significa isso? — olhei instantaneamente para ela. Estava inquieta e de braços cruzados sentada, os garotos a cercavam.
— Droga... — murmurou ele. — Se eu disser, não cumprirei minha promessa com vocês.
— É só dizer o que ela faz aqui e como conhece Gael.
— Mas e o acor-
— Por favor Rui. — o interrompi. — Não me obrigue a expulsá-lo daqui...
— Soldadinho. — a mulher estampou um sorriso sínico no rosto. — Vejo que já escolheu seu lado.
— Eu não escolhi lado nenhum! — ele gritou. — E o que faz aqui Franny? Não causou o bastante com Daniel? Não está satisfeita com o que já fez? — podíamos ouvir seu respirar pesado, pela fadiga.
Ela estalou a língua.
— Cale a boca, soldadinho. Não tem o direito de dizer merda alguma!
— E por acaso... Quem é você aqui? Diga logo o que faz aqui, ou a tirarei com minhas próprias mãos. — ele finalizou, dando sua sentença.
Franny suspirou, revirou os olhos. Abria a boca diversas vezes para dizer algo, mas fechava logo após. Vi que estava em um conflito interno em sua mente. Ela precisava pesar o que seria mais conveniente fazer. Até que se decidiu:
— Vim por sua causa Gael. — disse com os olhos baixos. — Era uma promessa...
— O que quer dizer com isso? — ele perguntou, do outro lado da mesa.
— Te mostrarei a verdade. Não me importo com o que digam. — levantou seus olhos para finalmente encará-lo. — Te levarei até seus pais.
— Franny... — Rui tentou a repreender com o olhar.
— Não me importo! — gritou. — Cansei de mentirem pro garoto. Se depender de mim, eu mesmo conto tudo. Toda a verdade. E claro... Os caçadores. — ela concluiu dizendo.
Aquelas palavras se fincaram em mim. Eu sabia agora o que aquele broxe significava... Eram dos caçadores! Mas... Quem era aquela mulher? Ela conhecia os pais de Gael? Eles eram tão próximos assim?
— Se acalme Franny... — disse a ela, me acalmando também. — Se está mesmo dizendo a verdade, e sabe coisas a respeito de Gael... Podemos precisar de você. — a encarei. — Faremos um acordo.
— Tudo bem... — concordou, mas ainda com desconfiança. — O que sugere?
— Diga você. — sugeri. — Algo em troca da... Verdade. — completei. — Quer ouro, jóias, muitas moedas ou algo de valor em troca...?
— Eu não quero seu dinheiro! — gritou subitamente. — Só vou pedir uma coisa em troca...
— O que seria? — perguntei.
— Contarei tudo a Gael. — explicou. — Mas o levarei comigo.
— Levar com você!? — perguntei, ao mesmo tempo que refletia com raiva. — Está ficando louca?
— Sim. — disse calmamente. — Este será o acordo.
— Eu não posso! — disse firmemente.
Ela suspirou e explicou as poucos:
— O levarei apenas para conhecer as terras. Ele precisa ver com os próprios olhos e se livrar do feitiço.
— Feitiço!? — a maioria da sala perguntou, assustada.
— Sei que sabe... — olhou para mim e para Gael. — O que é.
— As memórias de outra pessoa embaralhadas as minhas? — perguntava Gael.
— Memórias de Daniel são guardadas no seu inconsciente. Igual as suas no dele. Só poderá vê-las claramente se houver um ponto de memória.
— Ponto de memória? — perguntei, acompanhando o raciocínio.
— Algo que o faça lembrar de tudo... — respondeu. — De uma só vez.
— E Por isso quer levá-lo? — começava a entender.
— Sim. — consentiu. — Lá ele se lembrará de tudo.
Pensei um tempo. Seria um risco deixá-lo ir, mas perderia a oportunidade de ajudar Gael. E o que me faria mais feliz, era vê-lo feliz. Queria que finalmente ele pudesse conhecer a sua família e entender toda sua história. Por isso, disse:
— Tudo bem... — concordei relutante. — Contanto que partam amanhã de manhã.
— Tudo bem... — ela concordou.
— Eu irei com eles! — gritou Rui. — Meu dever é protegê-lo. Devo ir onde ele for.
— Certo... — olhei para ele. — Você vai com eles, soldado.
— O quê? Com o soldadinho? — questionou ela.
— Não me chame assim garota... — ele a olhou de soslaio.
— Ele irá. — ordenei. — Se não, Gael também não vai.
— O que acha sobre tudo isso, Gael? — a mulher perguntou, o encarando.
— Eu... — começou a dizer. — Não quero que corram riscos desnecessários. Este é um problema meu e... Eu não quero atrapalhar a Revolução. Então por favor, não venham atrás de mim. Eu darei um jeito de voltar vivo, com Franny e Rui. — se virou para mim. — Eu prometo...
E antes que eu o impedisse, ela disse por fim:
— Tudo bem... — a suspeita concordou. — Está feito.
E assim fizemos o acordo. Gael voltaria em algumas semanas, resolvendo o mistério que o rondava. Mas um medo me corroía... Estaria fazendo a escolha certa? Poderia deixá-lo nas mãos de um futuro desconhecido? Não haviam respostas para minhas conflitantes perguntas. A Guerra se aproximava e não poderíamos nos dispersar com outras missões. Por isso, decidi aproveitar um momento a sós com ele. O qual já fazia um tempo que não passávamos... Já sentia saudades...
— Gael... — o puxei gentilmente pelo braço no corredor.
— O que foi...? — perguntou com os olhos cansados.
— Precisamos conversar. — olhei em seus olhos. — Sabe... Á sós.
— Tudo bem... — sorriu tristemente. — Que tal irmos lá fora?
— Pode ser. — concordei. — Vou apenas pegar meu casaco.
E então, quando a abri a porta para entrar no quarto que dividia com minha colega, Gael e eu vimos pelo trechinho da porta, Darla e Franny nos amaços...
"Menos concorrência — pensei."
Elas até que formam um belo casal.
— Não vimos isso. — afirmei a Gael.
— Não mesmo... — sorriu.
Saímos ligeiramente descendo as escadas do interior da casa e seguimos para fora. Nos sentamos nos degraus da escada da entrada.
Por um minuto ficamos em silêncio. Apenas observando a paisagem e tentando clarear nossos pensamentos. Parecia que mais uma vez, eles nos atrapalhavam.
— Eu... Peço desculpas. — falamos ao mesmo tempo. — Você também? — rimos quando completamos em sintonia.
— O que fez desta vez Raven? — Gael me observava.
— Eu... — pensei. — Não fiz nada! — Ele me fitava com os olhos, quase rindo. — É sério! Você que deve ter feito algo...
— Não! — disse assustado. — Eu só... Queria conversar contigo.
— Sobre o que exatamente?
— Eu... Eu estou me lembrando das coisas. Estão em ordem errada, mas mesmo assim... — Ele pausava em quanto falava. — Eu... Consigo vê-las.
— E o que você vê? — perguntei sutilmente.
— Primeiro vi uma garota e ela chorava muito. — disse meio cabisbaixo. — Depois há uma casa simples e... Muitos livros. E também... De...
— O que foi? — perguntei preocupada tocando em seu ombro.
— Minha cabeça dói... E muito... — ele posicionava uma mão na testa com dor.
— Vamos entrar... — sugeri. — Você precisa descansar Gael.
— Eu sei... Mas sempre que temos um tempo ou um momento juntos, sempre acontece algo para nos atrapalhar... Eu não queria...
— Tá tudo bem... — sorri para ele. Já havíamos nos posto de pé. Encostei minha cabeça em seu peito. — Esses pequenos momentos... Por menores que sejam... São importantes pra mim. Por que você tá aqui comigo. E eu não sei o que faria se algo acontecesse com você... — disse e mal me dei conta das lágrimas que caiam em meu rosto.
— Raven... — Ele olhava intensamente pra mim, limpando as lágrimas que caíam de meu rosto. — Eu sempre estarei com você, não importa o que aconteça... Porque eu te amo... — sussurrou e em seguida, me abraçou, me aconchegando em seus braços.
Aquele gesto, valia muito mais do que qualquer palavra.
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