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Capítulo 9 - Laços do passado

Olá, pessoal. Novo capítulo de The tutor. Espero que o apreciem o bastante para me deixar um comentário e seu voto. Obrigada por tudo. Beijos.

ANNE E GILBERT

-Vem cá, garoto. - Anne disse se aproximando devagar da baia de Caramelo, com um torrão de açúcar na mão, como Gilbert a havia ensinado na última semana. O cavalo a olhou desconfiado, relinchou algumas vezes, mostrando-lhe suas gengivas de dentes enormes, e então sua gula pelo mimo que Anne lhe trouxera venceu sua desconfiança, e logo ele estava comendo na mão da ruivinha, enquanto a garota lhe acariciava sua crina reluzente.

Ele era um belo animal, tinha porte elegante, era de raça Árabe, e criado especificamente para corridas, ou pelo menos fora o que Gilbert lhe contara, porém, não era isso que a encantava naquele cavalo, e sim outra característica que chamara sua atenção desde o primeiro dia em que o cavalgara.

Caramelo lhe passava uma sensação de liberdade que ela almejava para si, pois desde que se lembrava de sua existência naquele mundo, Anne tinha aquela necessidade de se sentir totalmente desprendida de qualquer coisa ou pessoa, e isso incluía sua família. William dizia que ela tinha alma de viajante, por isso ficar em determinado lugar por muito tempo a deixava inquieta.

Em Los Angeles, ela estava em constante movimento, nunca ficava presa a apenas um tipo de atividade, vivia cheia de planos, ideias, viagens com os amigos. Era como se tivesse um pássaro preso dentro de si que precisasse constantemente de oportunidades para levantar voos cada vez mais altos.

Contudo, desde que viera para Terracota, seu pássaro interior estava cada vez mais engaiolado e seus ideais de liberdade pareciam cada vez mais longes. Anne tentava se adaptar à sua nova rotina, mas havia momentos em que seu corpo ansiava por coisas que iam além daqueles acres de terra, além do estado do Texas.

Se dissesse a Gilbert, ele não entenderia, pois ele tinha arraigado dentro de si outros valores que nunca se encaixariam com as ideias de Anne. Ele não percebia o quanto aquela liberdade limitada que ele lhe dava a estava sufocando. Era como ter seus passos contados, e sua vida parecia também estar sendo cronometrada assim como seu tempo. Ela precisava de mais, no entanto, Gilbert não lhe daria o que mais desejava, e assim, Anne tentava encontrar seu lugar naquele pedaço de mundo que não era o seu.

- E então, meu amigão? Está gostando do petisco?- Anne disse, acariciando mais um pouco do pelo do Caramelo, que parecia mais à vontade com ela do que nos primeiros dias

Quando dissera a Gilbert qual cavalo ela desejava que fosse seu, o rapaz não se mostrara surpreso como John Blythe. Ele mesmo lhe dissera que sabia que ela escolheria Caramelo por terem personalidades exatamente iguais. Anne quase brigara com ele por compará-la a um cavalo sem saber que seu primo já havia feito aquela comparação mentalmente um milhão de vezes.

Depois disso, seu treinamento começara, e embora ainda se lembrasse de muita coisa relacionada a cuidados de animais de grande porte, lidar com um cavalo como aquele era diferente, exigia mais atenção e dedicação, e por isso, Gilbert pedira que Anne passasse uma semana ao lado dele por algumas horas para que ele lhe mostrasse exatamente o que tinha que fazer.

No início lhe parecera uma ideia inofensiva, pois consultar a sua própria consciência e se perguntara que mal poderia haver em passar duas horas do seu dia ao lado de Gilbert Blythe, mesmo quebrando sua regra de se manter perto dele o mínimo possível?

Porém, no primeiro dia, Anne já percebeu o seu erro, quando passou a observar seu tutor em seu próprio habitat natural. Ele era um mestre no que fazia, em suas próprias palavras, Gilbert era imbatível domando um cavalo, executando as tarefas da fazenda, sendo ele mesmo vinte quatro horas do seu dia e daí a sua atração por ele aumentar não precisou de muito incentivo além daqueles momentos em que ela secretamente o admirava sem que ele percebesse.

Assim, Anne tentou proteger seu coração contra qualquer sorriso mais carinhoso que ele pudesse lhe dar, ou de um toque inconsciente da parte dele em seus cabelos, ou de palavras de elogios que ele usava para incentivá-la no bom trabalho que estava fazendo com Caramelo, porque se apegar a essas pequenas coisas era o mesmo que pedir para sofrer e se decepcionar depois, e não podia deixar que Gilbert entrasse em seu coração, não podia permitir que aqueles olhos verdes deixassem dentro dela sua marca, porque não saberia como esquecê-los depois.

- Como você está se saindo com Caramelo hoje? - a voz forte de Gilbert a pegou de surpresa, e seu coração deu um pulo desavisadamente. Ela não imaginava que ele estaria por ali naquele dia, pois seu primo havia lhe contado no dia anterior que trabalharia no escritório no período da manhã.

Anne se virou, encarou-o pelo ombro, evitando naturalmente olhá-lo nos olhos, uma habilidade que estava aprendendo a desenvolver e respondeu:

- Acho que estou fazendo bons progressos. Ele está aprendendo a confiar em mim. - Ela tentou sorrir, mas não se prendeu ao rosto dele, porque havia tanta coisa ali que a faria ficar hipnotizada por aquele rapaz extraordinário. Gilbert podia irritá-la tão profundamente com sua personalidade controladora, mas ela não era cega para não perceber que ele tinha enormes qualidades também.

- Eu sabia que ia conquistá-lo. Você tem um jeito especial de conseguir o que quer, cenourinha. - E isso incluía o coração dele, o rapaz pensou enquanto se aproximava de Anne com uma cautela nova que resolveu adotar aquela semana. Estar próximo dela todos aqueles dias não estava fazendo bem às suas emoções. Gilbert se sentia confuso por estar experimentando coisas que não deveria, e por mais que lutasse contra elas, o rapaz se via cada vez mais enredado naquela situação na qual havia se metido sem querer.

Quando foi que parou de olhar para Anne como aquela garotinha levada que ele queria apenas proteger, para enxergá-la como a mulher linda que estava se tornando? Quando foi que a convivência com ela passara a ser um prazer ao invés de um campo de batalha? Quando foi que passara a escutar tudo o que ela dizia como se fosse a coisa favorita do seu dia, e não mais como uma eterna provocação a testar-lhe a paciência? E quando foi que passara a se policiar a cada segundo para não se deixar fascinar por aqueles cabelos ruivos mais do que já estava fascinado?

- O mérito também é seu. Afinal tem me doado tanto do seu tempo apenas para me ajudar com o Caramelo. - Anne respondeu, sentindo-o se aproximar devagar, e sentindo cada pelo de seu corpo se arrepiar. O efeito da proximidade de Gilbert de si era alarmante. A indiferença a seus sentimentos por ele passava a quilômetros de distância quando o calor do corpo dele era transferido para o seu pelo espaço mínimo em que ele deixara entre os dois parando exatamente atrás dela.

- Eu apenas te ensinei a técnica, mas quem a tem aperfeiçoado é você. Então, o mérito é mais seu do que meu. - Ele disse com uma risada que ela adorou ouvir antes de dizer:

- Quer dizer que você sabe também elogiar? Achei que nunca ouviria algo agradável sair de sua boca a meu respeito.

- Eu sei reconhecer quando algo foi bem-feito. - Ele respondeu, tirando o chapéu da cabeça, e correndo seus dedos pelos próprios cachos escuros, fazendo-a Anne seguir cada movimento quase sem piscar. Então, ele lhe sorriu, e o que lhe passou pela cabeça foi que Gilbert era incrivelmente atraente sem mesmo tentar. Era difícil esconder seus sentimentos quando ele fazia de tudo para trazê-los à tona. Não era algo deliberado, mas a deixava de pernas bambas mesmo assim.

- Como você está?- seu sorriso se transformando em um olhar preocupado que não deixava de ser perigoso. Com um Gilbert brincalhão ou irritado ela conseguia lidar, mas não quando ele se tornava tão protetor como naquele instante, pois lhe mostrava que ele conhecia sua vulnerabilidade, e Anne não gostava nem um pouco disso.

- Sobre o que está falando? - ela fingiu ignorar que o assunto mencionado era o do dia da festa, porque se sentia imensamente incomodada com as palavras de Winnie que não saiam de sua cabeça. Gilbert desconversou quando ela o confrontara com aquilo, e embora Anne tivesse deixado passar naquele momento, não pretendia ignorar o que fora falado de sua mãe para sempre. Ela daria um jeito de tirar aquilo a limpo nem que fosse a última coisa que faria antes de ir embora de Terracota para sempre.

- Sobre sua discussão com Winnie no último sábado. - Ele respondeu, deixando que seu olhar observasse cada traço do rosto de Anne. Ela evitava encará-lo porque ambos sabiam que a ruivinha só fingia não lembrar do que ele estava falando. Ele não desejava que ela sofresse com aquilo, porque não era culpa dela o que acontecera a tantos anos atrás, e Winnie fora realmente mesquinha ao jogar aquela sujeira toda sobre Anne de forma tão proposital.

- Eu estou bem, Gilbert, só gostaria que sua namorada parasse de pegar no meu pé, pois nós sabemos bem porque ela tem feito isso desde que cheguei.- ela finalmente o olhou nos olhos, e o rapaz sentiu algo em seu peito esquentar. Ele amava aquele azul raro que os olhos dela tinham, e quase se esquecera de como brilhavam feito duas estrelas na terra de forma tão vibrante que quase o fizeram perder o foco do que ia dizer, mas logo recobrou sua consciência momentaneamente ofuscada pela beleza daquela garota sensacional.

- Winnie não é minha namorada, Anne.

- Então, devia avisá-la porque ela age como se fosse. - Ela se virou para Caramelo e lhe deu mais um torrão de açúcar, enquanto Gilbert tentava lhe explicar sobre os sentimentos de Winnie por ele:

- Ela sempre andou atrás de mim desde a adolescência. Depois que fui para a faculdade, as coisas se acalmaram um pouco, ela acabou se casando, e parecia ter encontrado seu caminho na vida, mas infelizmente seu marido sofreu um acidente e acabou falecendo. Então, por conta da amizade que a família dela sempre teve pela minha, meu pai me pediu para auxiliá-la no que fosse necessário, e de minha parte nunca passou disso. - Gilbert colocou o chapéu novamente na cabeça, desviando o olhar de Anne por um segundo e depois voltando a encará-la daquele seu jeito insistente que a deixava agitada por dentro.

- Winnie sempre foi apaixonada por você desde que você tinha quinze anos. - Aquela era uma constatação verdadeira que Gilbert não negou, mas que o fez levar a conversa para outro nível quando disse em tom brincalhão:

- Você também era apaixonada por mim quando eu tinha quinze anos.

- Eu era apenas uma criança, Gilbert, e sequer sabia alguma coisa sobre amor.- O rosto dela queimava, enquanto ela pensava no quanto Gilbert era habilidoso em mudar a conversa conforme lhe convinha.

- Eu me lembro de ouvir você dizer para a Diana que quando fosse mais velha iria se casar comigo.- o rosto de Anne quase atingiu uma tonalidade carmim. Será possível que essa era a nova diversão de seu primo? Constrangê-la com lembranças de sua meninice quando fora deslumbrada por Gilbert além da conta, ou será que ainda era?

- Quer dizer que você ficava escutando conversa alheia por trás da porta? - Anne perguntou, enquanto começava a separar todos os apetrechos que precisaria para escovar Caramelo como pretexto para fugir dos olhos de Gilbert que já estavam queimando-a com sua intensidade.

- Na verdade, eu nunca precisei me esconder para ouvir o que dizia sobre mim para Diana, uma vez que não fazia segredo nenhum do que pensava a meu respeito. - Ele respondeu com um sorriso enorme estampado em seu rosto e um pouco mais perto do que antes, fazendo Anne tentar pensar com rapidez em uma forma de escapar daquela situação íntima demais para o seu gosto.

- Isso não é motivo para ficar me lembrando da minha patética paixonite infantil por você. - Ela disse, tentando se afastar de Gilbert, mas percebendo tardiamente que estava encurralada entre o corpo dele e a porta da baia de Caramelo.

- Então você confessa que gostava de mim.- Gilbert insistiu, e Anne suspirou. Eles estavam em um campo perigoso onde confissões do passado não a ajudariam em nada a mudar o clima que estava se instalado entre eles naquele momento, por isso ela respondeu:

- Como eu disse, era uma paixonite infantil, e eu não era a única a me sentir assim a seu respeito.

- E agora?- ele perguntou de forma mais séria, enquanto seus dedos seguravam uma mecha ruiva entre os dedos como se estivesse fascinado pela cor, e a arrumava com cuidado atrás da orelha de Anne.

- E agora o quê?- ela perguntou de volta, sentindo arrepios inesperados na base da sua nuca.

- Você gosta de mim? - que tipo de pergunta era aquela? Anne gritou dentro da própria cabeça. Por que Gilbert a estava confrontando com tal pergunta? Como responderia aquilo sem deixar que ele percebesse o quanto de seu coração ele já tinha roubado?

Enquanto Anne se debatia entre seus muitos pensamentos sobre qual resposta seria mais adequada a dar naquele caso. O rapaz se arrependeu da pergunta assim que a fez. O que tinha acontecido com seu juízo para tocar em um assunto tão profundamente particular? Porque ele realmente queria saber, essa foi a resposta que lhe veio tão rápida antes que ele tivesse tempo de piscar. Ele estava namorando o perigo, se sentindo atraído pela loucura, ele estava sucumbindo a um sentimento que de cara estava todo errado, mas não conseguia evitar, ele sempre tivera gosto por coisas difíceis por assim dizer, e aquela garota que o olhava de um jeito enigmático era o desafio mais difícil e proibido que já tivera que encarar na vida.

- Eu acho que gosto um pouquinho, quando não se comporta como um tirano que quer mandar em mim.- ela disse com certo humor na voz, ainda pensando se não exagerara na maneira de falar com ele, porém Gilbert sorriu e respondeu:

- Acho que mereci isso.- ele admitiu, lançando um olhar rápido para o relógio, e percebendo que precisava voltar ao escritório. Deste modo, ele se afastou dela, e antes que a deixasse em companhia de Caramelo, Gilbert falou. - E só para constar, Cenourinha, eu também gosto de você, talvez até mais do que devia.

Assim, ele cruzou o pátio caminhando em direção a caminhonete da fazenda, enquanto Anne se sentia completamente atordoada pelo que Gilbert acabara de lhe dizer.

Ela não sabia o que pensar daquele gostar que ele acabara de mencionar, e mais uma vez sentiu sua irritação por aquele rapaz lindo chegar a um ponto em que tinha vontade de ir atrás dele, e perguntar com toda a fúria do seu coração como ele tinha coragem de lhe falar coisas que confundiam sua cabeça? Ela não precisava daquilo para deixá-la ainda mais atrapalhada com seus sentimentos, pois para isso já bastavam seus próprios pensamentos que não a abandonavam um só segundo. Gilbert Blythe não era apenas um provocador, mas um grandíssimo manipulador consciente também.

Anne permaneceu mais um pouco com Caramelo, e fez os exercícios que seu primo a orientara a realizar com o animal diariamente. Todos eles eram para que uma confiança mútua entre ambos fosse criada, e com o tempo se tornasse forte o bastante para que um pudesse olhar para o outro com o mesmo sentimento de segurança.

Era quase hora do almoço quando Anne voltou para a casa grande, e encontrou apenas John sentado onde normalmente as refeições da família aconteciam, pois Ruby estava na escola e Gilbert mandou avisar que não viria almoçar em casa naquele dia.

A ideia de ficar sozinha com seu tio John não lhe agradava de forma extensiva, não porque não gostasse dele, mas sim porque ele sempre a olhava de um jeito que lhe causava receio de dizer ou fazer alguma coisa que o desagradasse.

Muitas vezes ela se perguntava se quando ele olhava para ela, não a comparava com sua mãe, como sentia que muitos ali faziam , o que lhe causava mais ansiedade ainda de descobrir o que se escondia no passado de sua família. Com certeza não teria as respostas de John, como não tivera de Gilbert, e só Winnie tivera coragem de mencioná-lo em um momento de raiva. Teria que fazer aquele caminho sozinha, e buscar a verdade da maneira como pusesse.

-Parece que será apenas nós dois.- John disse de forma reservada ao vê-la entrar na sala de refeições.

- Parece que sim. - Foi tudo que Anne conseguiu dizer. Ela se sentou de frente com John e se serviu de uma porção de comida, enquanto seu tio a observava de maneira desconcertante. Ela fingiu comer calmamente enquanto dentro dela seu estômago contraído contava outra história.

- Como está a sua adaptação à vida na fazenda, Anne?- o Blythe mais velho perguntou com um interesse genuíno.

- Ainda estou tentando. - Anne respondeu com um sorriso de canto ao mesmo tempo em que tomava um gole de água de seu copo de cristal.

- Sente falta de sua vida em Los Angeles? -ele perguntou novamente, começando a saborear seu almoço devagar.

- Não tanto quanto no começo. - Anne respondeu com cuidado, pois tinha impressão que John estava preparando o terreno para lhe fazer uma pergunta mais direta, por isso esperou pelo que viria a seguir.

- Gilbert me disse que você tinha um namorado em Los Angeles.- Anne engoliu em seco, pois não esperava por isso, e nem imaginara que Gilbert contaria ao próprio pai sobre a sua vida íntima em Los Angeles, mas pelo que parecia não havia segredos entre os homens da família Blythe.

- Ele não era meu namorado. Jack era um colega de trabalho com quem eu saí algumas vezes.- Anne explicou sem encarar o homem mais velho, pois algo lhe dizia que não ia gostar do que iria encontrar na expressão dele.

- Então é assim que se referem aos relacionamentos modernos de hoje em dia.- a severidade na voz de John fez com que Anne ficasse calada, mas isso não impediu de John dizer: - Gilbert também me disse que esse rapaz é casado.- Anne quase praguejou em voz alta . Gilbert estava se mostrando um grande fofoqueiro, mas na presença do homem mais velho, ela manteve o controle e disse com toda a calma que conseguiu:

- Jack é divorciado, tio John.

- Isso não muda a maneira como vejo essa situação.- John disse, comendo mais uma porção do seu almoço.

- E como o senhor vê essa situação?- Anne não pode evitar de dizer. Ela podia estar vivendo na casa dele, mas sua vida em Los Angeles era somente da conta dela, e não ia aceitar nenhum pensamento preconceituoso de ninguém.

- Vergonhosa. Você é jovem demais para se envolver com um homem casado.

- Divorciado, tio John.- Anne disse com impaciência.

- Que seja, mas, como eu disse. Você devia tomar mais cuidado com quem se envolve, Anne. - Seu tio aconselhou.

- Não sou nenhuma criança. Sei muito bem escolher minhas amizades.- Anne respondeu tentando não parecer desrespeitosa.

- Eu percebi.- o tom de censura não passou despercebido a Anne que se irritou com isso, mas tentou não demonstrar. Ela entendia que o tio tivesse algumas ideias antiquadas a respeito de como a sociedade conduzia os relacionamentos amorosos nos dias atuais, mostrando sua forte oposição a elas.

- Gilbert fez bem em te trazer para a fazenda e te afastar do mau caminho.- o teor das palavras do tio atingiu Anne com a potência de uma bala, por isso ela se levantou, pediu licença e foi para o próprio quarto deixando seu almoço inacabado pois se permanecesse sentada à mesa ouvindo seu tio reclamar do seu comportamento libertino em seu ponto de vista, ela acabaria respondendo à altura.

Já dentro de seu quarto, Anne parecia uma fera enjaulado. Seus pés batiam no piso branco com força enquanto ela andava de um lado para outro, maldizendo Gilbert por sua falta de discrição. John Blythe não tinha nada a ver com a vida dela, na verdade, nenhum deles tinha, porque não havia um parentesco legítimo entre eles para que botassem o bedelho onde não eram chamados. Ela já vivia naquela fazenda obrigada por um testamento ridículo, agravado por um tutor troglodita com quem estupidamente prometera ter um bom relacionamento, e que não cumpria com sua palavra, justamente o homem por quem se sentia terrivelmente atraída, mas que naquele instante ela não se importaria nem um pouco em esganar por tê-la colocado naquela situação delicada com seu tio de ideias igualmente arcaicas.

Meia hora depois, e ainda no auge de uma irritação que parecia não dar sinais de que cederia, Anne resolveu sair de seu quarto e tomar um pouco de ar puro, antes que morresse engasgada na própria fúria. Porém, ao passar pelo escritório de John, ela ouviu vozes e ao reconhecer uma delas como sendo a de Gilbert, ela parou um instante, especialmente por ter ouvido o rapaz mencionar seu nome.

Ela sabia que era uma péssima ideia ouvir conversa alheia atrás da porta, mas tendo em vista que todos ali lhe escondiam coisas, ela resolveu que o faria mesmo assim.

- Papai, o senhor precisa conversar com Winnie, eu já tentei, mas ela sempre finge que não escuta o que eu digo.- ela ouviu Gilbert dizer.

- Qual é o problema, filho?- John perguntou pacientemente.

- Winnie falou sobre a mãe da Anne em uma discussão em sua festa de aniversário. - O rapaz explicou, e Anne aguçou mais o ouvido para tentar conseguir o máximo de informação sobre aquele assunto que pudesse.

- Ela contou o que aconteceu?- John perguntou interessado na história do filho.

- Não, ela fez insinuações que magoaram a Anne e a deixaram muito ansiosa por saber porque a família dela foi expulsa de Terracota.

- Você sabe que Winnie tem os motivos dela.

- Eu sei, papai, mas a Anne não tem culpa do que aconteceu. Ela era só uma criança e não pode ser responsabilizada pelos atos falhos da mãe. - Gilbert disse, e Anne se perguntou de que tipo de atos falhos ele estava falando? Qual teria sido o pecado tão grave de sua mãe para provocar a expulsão de todos os membros de sua família, inclusive a de William Blythe?

- Pode deixar que vou falar com ela. Agora eu queria que me explicasse melhor sobre essa planilha de custos. - Depois disso a conversa girou em torno dos negócios da fazenda, e Anne perdeu o interesse de continuar em seu ponto estratégico de onde poderia acompanhar a conversa dos dois Blythes da  família.

Ainda intrigada com o que ouviu, Anne caminhou até a varanda, pensando que precisava tirar aquela história a limpo, e só havia uma pessoa que poderia ajudá-la naquela situação. Apressadamente, ela voltou para dentro, subiu as escadas mais rápido que podia, trocou sua bermuda branca e top azul marinho por jeans e camisete preto de mangas até o cotovelo, vestiu botas de montaria, e sem pedir a permissão de Gilbert, ela foi até o estábulo, selou Caramelo e em questão de segundos já estava a caminho da casa de seu avô. Sua mente ainda tentou alertá-la sobre a possibilidade de seu tutor se zangar por ela sair galopando o cavalo que ele lhe dera sem ainda estar totalmente treinada em como lidar com o humor instável do animal, mas na ansiedade em que estava para saber sobre a verdadeira história de seu passado, ela pouco se importou naquele momento com a ira se seu tutor sobre ela quando descobrisse que ela saíra sozinha sem sua autorização. Lidaria com esse problema mais tarde, por hora tudo o que desejava era chegar o quanto antes na casa de Matthew e desvendar o mistério que todos da família Blythe se esforçavam tanto para esconder dela.

O tempo havia mudado um pouco desde manhã, e parecia que o céu anunciava chuva iminente, mas como nos últimos dias a previsão do tempo havia se equivocado sobre as condições climáticas da região texana, Anne não levou muito a sério as nuvens escuras que estavam aumentando pouco a pouco.

Um suspiro de alívio saiu de seus lábios quando ela avistou ao longe a cerca pintada se branco que cercava toda a propriedade onde seu avô morava com sua irmã Marília, que saiu à porta assim que Anne desceu de Caramelo e o prendeu em segurança embaixo de uma árvore com bastante sombra.

-Anne, é mesmo você? Matthew me disse que você tinha vindo aqui outro dia, mas não imaginei o quanto você está crescida e linda.

- Oi, tia Marília.- Anne a abraçou com carinho, e em seguida lhe deu um beijo no rosto.- Eu precisava falar como vovô Matthew. Ele está?

- Sim, vamos entrar. Ele está na cozinha tomando café, venha comigo. - Anne seguiu Marilla, sentindo em suas narinas os aromas familiares daquela casa onde passara bons tempos da sua infância. Gilbert costumava trazê-la aos domingos quando ambos se deliciavam com as baguetes recheadas da irmã de Matthew, seu pudim de leite divino, e seu bolo de chocolate apetitoso. Sem querer acabou sorrindo, ao se dar conta que em todas as suas boas lembranças de Terracota, seu tutor tinha participação ativa.

- Querida, você voltou. Que alegria ter você em minha casa novamente.- Matthew disse, beijando-a no rosto.

- Aceita um pedaço de bolo de fubá, Anne? Acabei de tirar do forno.- Marilla disse com um sorriso.

- Aceito sim, obrigada. - Anne respondeu educadamente para logo em seguida se virar para seu avô e dizer: - Preciso que me fale da minha mãe.

- O que quer saber?- Matthew perguntou, mostrando-se instantaneamente desconfortável com a afirmação da neta.

- Eu quero saber o que aconteceu anos atrás quando fomos expulsos de Terracota.- Anne foi o mais direta possível. Estava cansada de subterfúgios, mentiras, omissões. Ela precisava de uma resposta concreta e a teria cedo ou tarde, e esperava que seu avô pudesse lhe fornecer meios para isso.

- Desculpe-me, querida, mas prometi a John que nunca tocaria nesse assunto com ninguém.- Matthew disse, decepcionando-a no mesmo instante.

- Nem mesmo comigo?

- Especialmente com você. - Seu avô respondeu com uma franqueza desconcertante.

- Por que, vovô? Eu preciso saber por que todos pensam em minha mãe como uma mulher sem moral. - Anne disse, sentindo-se magoada por não ter como defender a memória de sua mãe morta.

- Querida, por que não deixa o passado descansar em paz? - Matthew perguntou, segurando em sua mão que se agitava sobre a mesa nervosamente. Nesse instante, Marilla serviu bolo e café a Anne e saiu da cozinha, deixando avô e neta imersos naquela conversa difícil

- Porque Winnie Rose disse que eu sou uma vagabunda como minha mãe. - Anne respondeu exaltada.

-Não dê ouvidos aquela garota rancorosa. - Matthew disse tentando desconversar, mas Anne tornou a insistir:

- É verdade o que Winnie disse sobre minha mãe?- Matthew suspirou longamente antes de responder:

- Sua mãe era uma mulher muito sociável que tinha uma habilidade incrível para fazer amizade, principalmente masculinas.- Matthew disse com dificuldade sem encarar a neta.

- E isso é motivo para que todos pensem que ela não tinha moral?- Anne perguntou chocada com a mente estreita daquela gente que julgava uma mulher apenas por se comportar diferente do padrão que consideravam correto por ali.

- Algumas pessoas não viam sua mãe com bons olhos, justamente por ela ter sido o tipo de pessoa aberta a novas amizades. Ela gostava de festas, de dançar, se vestir muito bem e essas características chamavam a atenção das pessoas erradas. No fim, ela acabou sucumbindo ao erro de confiar demais.- Matthew lhe confidenciou.

- O que aconteceu, vovô. Por favor, me conte tufo. Eu preciso saber. - Anne implorou.

- Eu não posso. Eu fiz uma promessa e não posso quebrá-la. Esse é o preço se eu ainda quiser ficar aqui. Quando sua mãe foi expulsa, eu já tinha me apegado à essas terras, e minha amizade com John me permitiu ficar aqui, pois caso contrário, eu e Marilla não teríamos para onde ir.- Matthew disse com pesar.

- Vocês poderiam ter ido morar com a gente em Los Angeles. - Anne argumentou.

- Sua mãe me disse exatamente isso, mas eu não quis atrapalhar a nova vida dela, e Bertha acabou indo embora magoada comigo, e pensando que eu a estava condenando como os demais dessa fazenda. Você não sabe o quanto me arrependo. Minha filha morreu com raiva de mim. - Matthew disse enxugando os olhos onde algumas lágrimas tinham se acumulado.

- Não fica assim, vovô. Eu tenho certeza de que minha mãe não guardou mágoa, porque toda a vez que a ouvia falar do senhor era com carinho e nunca com raiva.- Anne disse, tentando dar um pouco de consolo àquele homem que havia errado por desejar ter um teto permanente sobre sua cabeça. Quem poderia condená-lo por aquilo?

- Eu fui egoísta, e por isso, perdi minha filha. Queria ter tido a chance de pedir perdão antes da morte dela.- Matthew disse ainda se lamentando.

- Eu não sei se vale se alguma coisa, mas eu perdoo o senhor, e tenho certeza que minha mãe também. Ela era a pessoa menos rancorosa desse mundo, e eu gostaria de ter herdado essa qualidade dela. - Anne afirmou, enquanto se levantava e abraçava seu avô. Só ela sabia quanta mágoa guardava no coração, e não tinha ideia de quando conseguiria se livrar dela.

Anne ficou ainda algum tempo com seu avô, contando a ele sobre os últimos anos de vida de sua mãe, e quando deixou a casa de Matthew e Marilla, ela sentia uma certa paz em seu coração, pois embora não tivesse encontrado o que viera buscar, pelo menos trouxera certo alento a um homem que vivia com a culpa dentro de si por quase uma década.

Enquanto voltava para casa, Anne percebeu que as nuvens carregadas no céu tinham aumentado e uma chuva pesada estava a caminho, por isso ela fez com que Caramelo galopasse mais rápido, pois queria chegar na casa da fazenda antes da chuva.

Um trovão soou muito alto ao longe, fazendo Caramelo empacar e por mais que Anne falasse com ele com carinho, o cavalo não saía do lugar, e calculando a distância que teria que caminhar até chegar na fazenda, a ruivinha percebeu que seria impossível evitar a chuva que se aproximava cada vez mais, e sem saber o que fazer, ela olhou desconsolada para o seu cavalo, imaginando como sairia daquela enrascada.

Naquele exato e preciso momento, Gilbert chegava na fazenda em cima de seu cavalo negro que se chamava Furacão, e entrava no estábulo sentindo-se extremamente cansado. Seu trabalho pela fazenda fora interrompido por conta da tempestade que se aproximava, e apesar de ser uma benção, pois as terras daquela região ansiavam por sentirem tais gotas preciosas matando-lhe a sede de meses, a preocupação também era em relação aos estragos que tal fenômeno da natureza poderia causar as plantações locais.

Com seu olhar cirúrgico, o rapaz logo percebeu que Caramelo não estava na baia, e quando perguntou ao tratador onde raios estava o belo animal, Gilbert quase subiu pelas paredes quando o rapaz meio sem jeito, contou que a prima dele tinha selado o cavalo, saído no meio da tarde e ainda não havia voltado.

Deus! Anne fazia de tudo para tirá-lo do sério. Quantas vezes ele tinha lhe pedido para não sair com Caramelo enquanto não conhecesse aquele cavalo como a palma da sua mão? E para piorar a situação, ela tinha resolvido voltar ao seu espírito rebelde bem no meio de uma tempestade que se aproximava com trovões e raios, e pelos quais Caramelo nutria um terror absoluto.

De repente, uma ansiedade crescente começou a tomar conta do rapaz que a cada segundo se perguntava onde aquela maluquinha poderia estar, se preocupando com o fato de ela estar lá fora no meio do nada, cuja companhia era um cavalo completamente temperamental.

Sem pensar duas vezes, Gilbert selou o Furacão novamente, e usou seu instinto para refazer o caminho que Anne e Caramelo talvez tivessem feito, rezando para que estivesse certo, enquanto milhares de imagens nada agradáveis inundavam sua mente apenas para deixá-lo ainda mais ansioso.

Depois de alguns minutos tensos, nos quais seu galope se assemelhava mais a um voo rápido que o levava a correr a uma única direção onde ele iniciaria sua busca, um suspiro aliviado lhe escapou pelos lábios comprimidos quando viu Anne parada em campo aberto, tentando puxar Caramelo que se recusava a obedecê-la. Assim, ele acelerou seu cavalo, e se aproximou da garota ruiva que o olhou com também evidente alívio mesmo notando o olhar zangado que Gilbert lhe lançou.

Sem dizer uma palavra a Anne, o rapaz se dirigiu a Caramelo que parecia extremamente apavorado com o barulho dos trovões, e aos poucos e trabalhando contra o tempo, Gilbert conseguiu convencer o cavalo a sair do lugar e a começar a se mover.

Com um único movimento de cabeça, ele mostrou a Anne que ela deveria montar o Furacão, ao passo que ele cavalgaria Caramelo até os estábulos da fazenda. Contudo, quando estavam se preparando para voltar, as nuvens no céu se abriram, e uma tempestade caudalosa começou a cair sobre eles, deixando tanto os animais quanto os dois cavaleiros completamente encharcados. Sabendo que seria perigoso conduzir os dois cavalos no meio do aguaceiro, Gilbert fez Anne o seguir até um chalé no meio da floresta que tanto ele quanto seus homens usavam para passar a noite quando tinham que realizar um trabalho que exigisse que dormissem fora de casa.

Depois de Gilbert abrigar Caramelo e Furacão em um lugar seguro, ele entrou com Anne no chalé que ficou surpresa com o conforto do local. Lá dentro, apesar da simplicidade, tinha tudo que uma pessoa precisava em um momento de emergência.

-Tem roupas limpas no guarda roupa do quarto ao lado. Aproveite para tomar um banho quente antes que fique doente. - Gilbert disse secamente, e Anne percebeu que ele estava extremamente zangado com ela. Touché, ela pensou, porque também estava brava com ele, e apenas assentindo, ela fez o que ele havia lhe sugerido.

Após o banho, Anne pegou uma camiseta que lhe serviria como vestido no guarda roupa e a vestiu. Em seguida, penteou os cabelos molhados, e voltou para a sua onde Gilbert a esperava. Ainda sem falar com ela direito, o rapaz entrou no quarto por alguns minutos, e quando retornou, Anne percebeu que seu tutor também tinha tomado banho, e a tentação que ele se constituía naquele momento quase a fez praguejar.

Ele tinha vestido um par de bermudas brancas, os cabelos tinham sido ajeitados com a ajuda de uma escova, e para roubar-lhe toda a sanidade possível, ele estava sem camisa. Anne não era nenhuma garota bobinha para não perceber que estava em frente a um dos homens mais bonitos que já tinha visto.

A combinação de olhos verdes em um rosto sem nenhuma marca que pudesse estragar sua perfeição era hipnotizante, e os músculos salientes dos braços masculinos e peito onde até os pelinhos escuros que ali se enrolavam eram parte essencial daquela visão idílica, eram capazes de deixá-la sem respirar por muitas horas. Como ele tinha coragem de aparecer daquele jeito na frente dela, esperando que ela não perdesse sua concentração? E o pior de tudo foi quando ele se abaixou perto da lareira, e acendeu o fogo para deixar o ambiente mais aconchegante, fazendo com que os músculos de suas costas tensionassem, enquanto os olhos de Anne não perdiam um só movimento dele, deixando-a tão estranhamente excitada que ela teve que apertar uma palma da mão na outra, para não estendê-las e tocar aquela região como estava louca para fazer.

-Acha que vamos ficar presos aqui muito tempo? - ela perguntou, tentando acabar com o silêncio entre eles que estava lhe dando nos nervos.

- Se você não tivesse mais uma vez desrespeitado minhas ordens, não estaríamos aqui agora.- ele disse a poucos metros dela com seus olhos verdes brilhando de raiva.

- Está querendo colocar a culpa de tudo isso em mim? Para começo de conversa, eu não pedi que viesse me procurar.- ela disse entre dentes.

- Deixa de ser malcriada, garota. Você sabe que eu me preocupo. Por que tem que ser tão ranzinza que não percebe isso?- ele disse dando mais um passo em direção a ela.

- Eu não sou nenhuma donzela em perigo que precisa que você a salve. Eu vivi nove anos da minha vida sem a sua adorada supervisão, e posso muito bem continuar sobrevivendo sem ela.- Anne revidou quase gritando.

- Você não consegue manter essa sua linda boca fechada e parar de me dizer besteiras, não é?- Gilbert disse um pouco mais próximo que antes e a energia que emanava fortemente dele começou a deixá-la inquieta.

- Posso dizer o mesmo de você que tinha que correr para o seu pai e contar tudo sobre Jack e eu, e por isso o tio John está me olhando como se eu fosse a garota mais promíscua da face da terra.- Anne jogou na cara dele com raiva.

- O que esperava? Você estava saindo com um cara casado. - Ele a acusou.

- Ele é divorciado.

- Dá no mesmo.- Gilbert disse-lhe lançando um olhar nitidamente irritado.

- O tio John me disse a mesma coisa . E quer saber? Vocês Blythes vivem na idade da pedra. Como podem ser tão ultrapassados? - ela viu Gilbert se aproximar de vez, segurar em seu pulso e dizer, sibilando casa palavra.

- Acho melhor você ficar calada. Já falou besteiras demais.

- Você não manda em mim, falo o que quiser e se isso te incomoda, me faça calar você mesmo.- ela disse com raiva mais uma vez.

Gilbert encarou aquele rosto lindo de bochechas coradas, lábios vermelhos e olhos desafiadores que mexiam com suas emoções de forma perigosa, e pensou consigo mesmo que mais uma vez estava a ponto de perder o controle. Todavia, quando Anne inconscientemente passou a ponta da língua pelo lábio inferior, sua cautela foi para o espaço.

Gilbert tomou os lábios dela para si, sentindo-lhe a maciez e degustando o sabor cheio de luxúria que vinha tirando seu sono por muitas noites. Ele a estreitou em seus braços, segurando-lhe a cintura, enquanto a ruivinha espalmava suas mãos no peito do rapaz.

Escaldante, ela pensou do calor que vinha daquele corpo, levando a ambos quase a combustão e quase prontos a começarem um Incêndio juntos. Os dedos hesitantes dela tatearam pelo peito forte do rapaz, sentindo lhe o formato dos músculos como desejara antes, enquanto as mãos do rapaz desenhavam suas curvas sobre a camiseta, apertando lhe o bumbum com força, chegando até a barra, mas não ousando ir além. Os lábios de Gilbert continuaram a roubar lhe o ar, e por um segundo ele se afastou apenas para dizer:

- Deus! O que você está fazendo comigo? - Logo em seguida, ele voltou a beijá-la, incapaz de resistir ao desejo que queimava a ambos, e que os transformava em corpos trêmulos apenas comandados por suas emoções.

O que Gilbert provocava nela, Anne não sabia descrever com exatidão, mas era diferente de seus beijos insípidos com Jack, ou as carícias rápidas trocadas no banco de trás do carro. Ele sabia tocá-la, assim como como sabia beijá-la. E seu corpo todo implorava por algo mais que lhe daria a satisfação que desejava. Quando Gilbert alçou o pescoço dela, provocando-a com sua língua, Anne não conseguiu reprimir um gemido, que trouxe a Gilbert sua sanidade de volta, e que o fez se afastar dela e dizer desgostoso consigo mesmo:

- Desculpe-me. Isso não devia ter acontecido.- ainda atordoada por sua quase perda de controle e as emoções duelando entre si, Anne respondeu ao rapaz cujo cabelos revoltosos denunciavam também sua confusão.

- Está tudo bem. Acho que ambos perdemos a cabeça. - Anne constatou vendo-o passar às mãos pelos cabelos, em forma de aliviar sua tensão.

- Acho que devemos esquecer tudo isso. - Gilbert sugeriu e Anne prontamente concordou. Fora uma louca por ter deixado Gilbert tomar conta de seus sentimentos daquela forma. Teria que ser mais cuidadosa dali para frente.

- Venha, vou preparar alguma coisa para comermos, pois acho que essa chuva não dará trégua por algumas horas.- Gilbert disse, se encaminhando para a pequena cozinha, mas bem equipada que havia por ali.

Assim, o jantar daquela noite não teve a sofisticação da casa da fazenda, mas não deixou de ter o seu charme, apesar de seus dois participantes evitarem de se encarar diretamente, pois sabiam bem os seus limites quando estavam próximos um do outro.

Muito mais tarde, com a impossibilidade de voltarem para casa naquela noite, foi a coisa mais natural do mundo se deitarem na mesma cama sem mesmo discutirem ou decidirem qual lado da cama prefeririam, porque por mais que negassem e discutissem a maior parte do tempo, a cumplicidade do passado ainda estava lá em boas camadas de suas peles. E quando Gilbert rodeou a cintura de Anne, e ela acomodou a cabeça em seu peito, ambos sorriram e adormeceram tendo em mente as lembranças das muitas vezes em que tinham se deitado assim em uma rede improvisada na varanda dos Blythes cercados por um céu repleto de estrelas.

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