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Capítulo 5 - Os opostos se atraem


Olá,  pessoal. Mais um capítulo de The tutor postado. Espero que após lê-lo vocês se animem a me deixar seus comentários e voto. Muito obrigada por seguir mais esta fic. Beijos. Rosana.

ANNE E GILBERT

As primeiras horas da manhã eram as favoritas de Gilbert. Da sua janela, ele podia enxergar o melhor pôr do sol do mundo, e se encher de orgulho pela imensidão das terras de sua família. Ele nunca duvidara que ali era o seu lugar. Desde menino, ele tivera certeza de que queria fincar suas raízes em Terracota e assim como seus ancestrais, criar laços fortes com suas origens e perpetuá-las como seu pai tinha feito, e antes dele seu avô, e muitos homens de valor que viveram no passado, mas que escreveram suas próprios histórias além de seu tempo, e seriam recontadas e relembradas por muitos anos à frente.

Gilbert tinha o amor pelo campo nas veias. Ele era um fazendeiro nato, um domador de cavalos por opção, e um cowboy de coração, pois mesmo antes de aprender a falar, o rapaz já estava em cima em de um cavalo. Seu pai garantira que o rapaz soubesse apreciar desde a mais tenra idade as terras que herdaria um dia, e Gilbert fizera a lição de casa muito bem, aprendendo com destreza todas as atividades que envolviam uma fazenda daquele tamanho.

Ele trabalhara lado a lado com o pai, e com os peões que John contratava para fazer os serviços por ali, e lidara com cada pormenor do trabalho braçal sem reclamar, pois ele nunca se sentira diferente dos trabalhadores da fazenda por ser filho do dono. Seu pai também lhe ensinara desde cedo que um fazendeiro de verdade sabia desempenhar todas as funções de suas terras melhor que seus funcionários, ou então não poderia ser considerado um fazendeiro de peso, por isso, Gilbert procurara seguir os ensinamentos de John Blythe como se fosse uma cartilha onde sempre encontraria incentivo para se tornar um homem e um chefe de valor daquele clã.

O sol começara a despontar no horizonte, e o espetáculo mais belo do dia enfim se iniciava. Assim, o rapaz se inclinou um pouco mais sobre o parapeito da janela, e deixou que seus olhos seguissem os raios do sol que pintavam o horizonte de vermelho naquele instante, encantando-o como sempre acontecia todas as manhãs.

Instintivamente, Gilbert sentiu que não estava mais sozinho, e ao olhar para o lado, ele percebeu que Anne também estava em sua janela, fazenda a mesma coisa que ele.

O rapaz não sabia que sua pupila acordava tão cedo, pois ela nunca descia para o café da manhã antes das nove. Seu primeiro pensamento fora que ela gostava de dormir até tarde, talvez um hábito que adquirira em Los Angeles já que em Terracota todo mundo acordava cedo. Agora, o que se passava em sua cabeça era que Anne descia tarde para o café apenas para evitar de encontrá-lo, e Gilbert não sabia dizer se esse fato o aborrecia ou não.

O relacionamento de ambos desde o começo fora difícil, porque Anne se recusava terminantemente a cooperar. Ela o enfrentava o tempo todo, o irritava com sua mania de contestar cada pedido seu, sem perceber que ele o fazia para o seu próprio bem.

Fazia uma semana que ela e Ruby estavam vivendo em Terracota, e enquanto a irmã mais nova de Anne se esforçava para se adaptar ao seu novo estilo de vida, a ruivinha agia de forma totalmente contrária, o que fazia Gilbert se perguntar como seu tio William lidava com aquela garota impossível.

Quando ele fizera a mesma pergunta a seu pai, John Blythe lhe respondeu em seu jeito bem humorado:

- Como você doma um potrinho selvagem?

Gilbert apenas balançara a cabeça ao ouvir sua resposta, e quase rebateu dizendo que um potrinho selvagem era ainda mais fácil de lidar do que com uma ruivinha temperamental e cabeça dura.

A verdade era que o rapaz não tinha a menor paciência com a má vontade de Anne. Assim como ela, Gilbert tinha o pavio curto, e não aceitava que a vontade dele fosse contestada, pois a ruivinha nunca aceitava nada que ele dissesse sem questionar ou lutar contra. Eram duas personalidades batalhando para se sobressair uma sobre a outra, e muito pouco dispostas a abrir mão do que quer que fosse em nome da boa convivência.

Era a primeira vez que Gilbert tinha que usar de autoridade para conseguir controlar alguém propenso a burlar regras. Suas outras primas nunca lhe deram trabalho. Diana tinha ideias próprias, mas, era adepta ao diálogo, enquanto Josie era teimosa, porém não desafiava ninguém e sabia o próprio limite, mas Anne não se encaixava em nenhum grupo familiar seu, e era nesses momentos que tinha que se lembrar que ela geneticamente não tinha o sangue dos Blythes.

Ele a observou por alguns minutos de sua janela, e mais uma vez teve que admitir que Anne Shirley Cuthbert Blythe era uma bela mulher. Seu cabelo ruivo tinha escurecido com o tempo, pois ele se lembrava que aos dez anos os fios eram de um vermelho mais vivo, e agora eles se assemelhavam mais aos raios de sol quando ele estava se pondo. Os olhos azuis eram os mesmos, no entanto, viviam cheios de ira agora, e a maior parte era direcionada a ele.

Gilbert não queria que as coisas fossem daquela maneira. Ele ficaria mais satisfeito se Anne estivesse feliz e confortável com a vida ali como costumava ser aos seus dez anos, mas Los Angeles parecia ter levado embora qualquer resquício do amor que a garotinha sardenta que ela fora tinha por aquelas terras, deixando-a cosmopolita demais para o seu gosto. Anne era tão teimosa que decidira se trancar dentro de casa por uma semana, somente para provar um ponto de vista.

No segundo dia de sua vinda a Terracota, ela decidira que desejava visitar seu avô materno a cavalo, pois John Blythe lhe contara que a casa de Matthew ficava bem próxima de onde eles moravam, como cavalgar sempre fora sua paixão, a ruivinha resolvera unir o útil ao agradável. No entanto, quando Gilbert a viu saindo, ele foi obrigado a perguntar:

-Ei, posso saber onde você está indo?

- Vou visitar meu avô Matthew. - Anne respondeu de má vontade.

- E como pensa em ir até lá? - ele perguntou com as mãos na cintura.

- Vou a cavalo. Você se esqueceu que sei cavalgar? - ela disse revirando os olhos.

- Primeiro, você não vai sair sozinha por aí sem companhia, pois Terracota não é mais o lugar que você conheceu aos dez anos. E segundo, vai precisar de um chapéu, pois o sol aqui é forte demais.

- Eu não sou um bebê que precisa de companhia para visitar meu avô, e não preciso de chapéu nenhum, pois o meu cabelo é bem grosso e protege meu couro cabeludo muito bem. - Anne disse, encarando-o de forma altiva, o que só contribuía para deixá-la mais bonita. Por um segundo, ele não pôde deixar de admirar toda aquela jovialidade que Anne exibia ali na sua frente, como não podia ignorar aquela expressão desafiadora que lhe caía tão bem. Definitivamente Anne Shirley não nascera para se curvar diante de alguém, não fazia parte de sua natureza. O que só dificultava seu trabalho de fazê-la aprender a controlar sua impulsividade.

- De jeito nenhum. Se eu não puder te acompanhar você não vai, e sem chapéu muito menos. Você pode acabar com insolação.

- Você não pode me impedir. - Anne respondeu indignada.

- É claro que posso, e vou.- ele disse no mesmo tom.

- Por que você tem que ser tão intransigente?

- Se você fosse razoável, eu não teria que agir assim.

- Você é sempre grosso dessa maneira? Não me admira que esteja sozinho .- ela provocou.

- Estou sozinho por opção. Mas, para sua informação nenhuma das minhas namoradas jamais reclamou da maneira como eu as tratei. E se você fosse uma delas também não reclamaria.- ele lançou um olhar para seu corpo inteiro, que a fez ficar vermelha feito um tomate e responder:

- Eu jamais seria sua namorada. Eu tenho amor próprio.

- Quem disse que eu iria desejar que você fosse minha namorada? Seria mais fácil chover canivete do que isso acontecer. - Gilbert respondeu com a voz firme.

- Eu te odeio! - Anne disse quase em um rosnado.

- Eu também não sou seu maior fã no momento. Mas está decidido, você só sai se for comigo e usando um chapéu.

Anne não esperou mais um segundo, disparou até a escada, subindo os degraus de dois em dois, e Gilbert só ouviu o estrondo feito pela porta que ela batera com tanta força, descarregando ali toda a sua ira.

Depois disso, ela passou a tomar o café da manhã depois que todo mundo, e se trancava na biblioteca onde passava a maior parte do dia, fato incomum para uma garota que se mantinha a maior parte do tempo ocupada em Los Angeles, pelo que Ruby lhe contara. Apesar de não gostar de saber que fora ele quem causara aquele comportamento retraído de Anne, o rapaz não amoleceu seu coração, pois se o fizesse estaria abrindo uma brecha para outros comportamentos desse tipo por parte da ruivinha, e não podia deixar aquilo acontecer.

Enquanto se lembrava disso, Gilbert capturou o olhar espantado de Anne em sua direção, cuja fisionomia mudou completamente de relaxada pelo panorama que ela podia observar de onde estava, para tensa ou quase zangada ao ver a pessoa que menos desejava naquele momento.

- Bom dia, Anne.- ele perguntou com educação.

- Bom dia. - Ela murmurou, e logo Gilbert a ouviu fechar a janela.

Suspirando, ele se virou e foi se vestir, pois teria um longo dia pela frente e não podia perder tempo com os ataques temperamentais de sua prima por consideração.

O rapaz sequer podia imaginar que no quarto ao lado, Anne fervia de raiva, pois ela culpava Gilbert por tudo de ruim que vinha acontecendo em sua vida desde que seu padrasto tinha morrido. Ele a arrastara para aquele fim de mundo, e agora também por culpa dele não podia sair de casa.

Ela cruzou as mãos no colo, enquanto se sentava na cama e pensava em como se livrar daquela situação. De repente, dois anos pareciam vinte, e ela não achava que suportaria viver na fazenda naquelas condições.

Gilbert achava que podia lhe impor regras como um ditador, mas Anne não estava disposta a dar lhe o gostinho de vencê-la com seu autoritarismo. Ela nunca fora tratada daquela maneira antes. William sempre ouvira seus argumentos, e conversavam sobre suas divergências como pessoas civilizadas. Nunca precisaram discutir ou ficar mal um com o outro por conta de opiniões contrárias sobre determinado assunto. Eles resolviam tudo de forma amigável, o que não acontecia entre ela e seu primo insuportável.

Se Gilbert fosse agradável na mesma proporção que era bonito seria perfeito, mas, ele decidira tratá-la com grosseria e dessa forma seu ressentimento por ele tinha crescido nos últimos dias.

No entanto, não podia deixar de admitir o quanto ele ficava atraente quando a observava daquele jeito que parecia medir cada centímetro do seu corpo como se tivesse algum direito sobre ela, e Anne percebeu com enorme desgosto que ele ainda a atraía como quando tinha dez anos e se via encantada pelos olhos verdes dele.

Anne se deitou na cama e olhou para o relógio. Eram quinze para sete, e ela sabia que Gilbert estava no andar de baixo tomando café da manhã. Ela evitava descer nesse horário para não encontrá-lo, porque acabariam discutindo, e ela não queria causar nenhum um tipo de atrito em um momento em que todos deveriam fazer seu desjejum em paz.

Quando achou que já era seguro para ela descer, Anne o fez e para seu alívio não havia ninguém na sala de refeições quando ela chegou lá. Assim, se serviu de uma xícara de café e algumas torradas, e se sentou à mesa, apreciando aquele momento de paz consigo mesma.

John Blythe apareceu por ali quando ela estava quase terminando o seu café, e perguntou com seu sorriso simpático:

- Bom dia, Anne. Como está se sentindo em sua primeira semana em Terracota?

- Bom dia. Estou bem. - Ela respondeu, sentindo-se pouco à vontade em mentir para alguém que a recebera ali tão bem.

- Então, por que uma garota bonita e jovem como você tem se mantido trancada em casa desse jeito?- John perguntou, se servindo de uma xícara de café.

- Não tenho vontade de sair, Tio John. Eu prefiro ficar em casa.- Anne mentiu.

- Isso tem a ver com meu filho. - Era uma afirmação que Anne não negou.- O que Gilbert está tentando fazer é para o seu bem, Anne. Por que não consegue ver isso?

- Com todo o respeito, Tio John. O senhor acha certo Gilbert querer mandar em mim dessa maneira? Eu tenho dezenove anos, não preciso de ninguém me dizendo o que fazer. Eu sei o que é melhor para mim.

- Anne, ele apenas está cumprindo o papel dele como tutor. Quanto mais cedo entender isso, melhor vai ser para você. - John a aconselhou.

- Ele é muito autoritário, Tio John. - Anne disse encarando o bom homem.

- O problema todo, Anne, é que você o desafia o tempo todo. E isso só piora a situação, pois Gilbert é tão teimoso quanto você.

- E o que espera que eu faça, Tio? Que obedeça cegamente ao que ele deseja? - Anne perguntou irritada com aquela ideia.

- Se você não se lembra, Anne, quando você tinha dez anos, você conseguia qualquer coisa de Gilbert com esses seus lindos olhos azuis.- John disse, tomando o último gole do seu café.

- O que quer dizer com isso?- Anne perguntou intrigada.

- Apenas que seja inteligente, minha querida. - John disse, dando -lhe um aperto afetuoso na mão, e saindo da sala logo em seguida.

Anne pensou nas palavras de John, mas descobriu que a informação que ele lhe dera não era de grande ajuda, pois duvidava que seus olhos azuis ainda tivessem algum efeito sobre o rapaz. Gilbert simplesmente decidira que faria sua vida ser impossível em Terracota, porque a antipatia entre ambos era forte demais para que pudessem lutar contra.

Anne foi até a varanda logo após terminar o seu café da manhã e admirou o pedaço de terra que conseguia ver de onde estava. Terracota estava tão imensa que era quase impossível associá-la às suas lembranças do passado.

Quando vivera ali, a fazenda era grande, mas não do tamanho que estava agora. Os Blythes haviam investido em maquinário e agropecuária, e em dez anos que Anne estiver a ausente daquela região, Terracota se tornou uma superpotência, e se os Blythes já eram ricos naquela época, agora sua fortuna tinha chegado a um patamar muito mais alto do que ela poderia imaginar.

Anne fechou os olhos e se lembrou de pequenos detalhes que nunca saíram de suas lembranças, por mais que ela tivesse desejado expulsá-las de sua memória. O pequeno carvalho onde havia um balanço no qual ela passava horas se divertindo foi a primeira coisa da qual se lembrou, como também não podia se esquecer que fora Gilbert quem o construíra para ela, e que era sempre com ele que pudera contar para empurrá-la cada vez mais alto enquanto suas tranças voavam no ar, fazendo-a gargalhar como se toda a felicidade que precisava estivesse contida naquele momento de descontração infantil.

Seus olhos se encheram de lágrimas ao se lembrar do quanto sofrera por ir embora dali com seus pais e Ruby. Ela era somente uma criança, mas, nem sua pouca idade a preparara para a dura realidade de ter que deixar um lugar que amava tanto para se adaptar a outro que era totalmente diferente do que conhecia.

Uma lágrima correu, e ela a enxugou, sabendo exatamente porque dissera a Gilbert que o detestava por trazê-la até ali. Aquele lugar tinha lembranças que a magoavam, que lhe traziam sensações e emoções que ela não queria voltar a sentir, porque se permitissem que viessem à tona, ela corria o risco de se apaixonar de novo por aquelas terras, e como não pretendia ficar, não queria ir embora com seu coração partido outra vez.

- Anne, eu e Minie May vamos dar uma volta pela fazenda, não quer vir com a gente? - Ruby a convidou.

- Não, minha querida. Vou ficar por aqui mesmo. - Anne respondeu, olhando para sua irmãzinha que depois de uma semana vivendo com sua família já tinha mudado bastante. Ela já não parecia mais tão insegura a respeito das coisas, e fizera uma amizade bonita e sincera com a irmã de Diana. Elas não moravam em Terracota, mas, sim em uma fazenda vizinha, mas, sempre estavam por ali visitando seus parentes.

Observar Ruby adquirir mais confiança em si mesma era maravilhoso, mas ao mesmo tempo dolorido, pois ela ia aos poucos se desapegando de Anne para descobrir o mundo sozinha. E esse fato fazia a Ruivinha se sentir cada vez mais solitária, pois ela percebia que logo Ruby não precisaria de sua opinião para mais nada, e para Anne era como se ela estivesse começando a passar pela síndrome do ninho vazio, muito semelhante ao que as mães sentiam, quando seus filhos saíam de casa para construir por si mesmos suas próprias vidas longe das asas de seus pais.

No entanto, ela conscientemente sabia que não podia ser egoísta. Aquela era transformação e crescimento era importante para Ruby, porque ela não podia depender de sua irmã para sempre, principalmente quando chegasse a hora de Anne ir embora dali novamente.

- Você parece tão triste. Não está gostando de morar aqui?- Ruby perguntou, demonstrando sua preocupação pela sua irmã mais velha.

- Não precisa ficar preocupada, querida. Estou bem, só sinto um pouco de saudades de casa, mas logo vai passar.- Anne respondeu, tocando o rosto da irmã com carinho.

- Se quiser eu posso ficar aqui e te fazer companhia.- Ruby disse, ao que Anne respondeu:

- Não é necessário, meu amor. Vou ficar lendo na biblioteca, e depois talvez eu dê uma volta por aí. - Anne mentiu.

- Tem certeza? Eu e Minie May podemos encontrar algo para fazermos por aqui.

- Vá se divertir, Ruby. Eu vou ficar bem. - Anne a incentivou, beijando-a no rosto.

Assim, logo Ruby se foi deixando Anne sozinha novamente, somente em companhia de seus pensamentos, e tentando descobrir algo para fazer que a tirasse do tédio de ficar mais um dia trancada naquela casa. Após passar algumas horas zanzando de cômodo em cômodo, sem encontrar nenhuma atividade interessante, que realmente a interessasse, Anne foi vencida pelo cansaço.

Odiava ter que pedir algo para Gilbert, mas se não cedesse em alguma coisa, ela sabia que seu tutor a manteria presa naquela casa sem nenhum remorso, por isso, esperou que ele aparecesse por ali, e quando o viu atravessar a porta ela disse:

- Eu estava pensando em dar uma volta a cavalo por Terracota. - Antes de responder, Gilbert tirou o chapéu que estava vestindo, e Anne tentou ignorar o fato de que seus cachos bagunçados davam ao rosto dele um ar mais suave, e a camisa xadrez aberta no peito por alguns botões e calça jeans de trabalho que ele usava naquele momento o deixavam ainda mais atraente do que já era.

Cowboys nunca foram seu tipo masculino preferido por considerá-los rústicos demais, mas o que em outros homens parecia excessivo e até mesmo rude, em seu tutor era o que o tornava um modelo digno de capa da Vogue. Gilbert era bonito demais, e a cada dia que passava ela se tornava mais consciente disso, e não estava gostando nenhum pouco do rumo que seus pensamentos em relação a ele estavam tomando.

-Você sabe as minhas condições. - Ele disse encarando-a intensamente. Aqueles olhos verdes sempre lhe davam calafrios. Antes, ela pensava que era de aversão, mas, agora ela sabia que era outra sensação. Uma que ela não queria sentir, que a levava para um lado perigoso de si mesma, que a fazia desejar coisas proibidas, que a fazia olhar para Gilbert e se lembrar de como eram quando crianças e a diferença que havia entre aquele tempo e o de agora. Eram dois adultos, um homem e uma mulher, e ela apenas se perguntava porque tal constatação a perturbava tanto.

- Tudo bem, eu aceito suas condições. Onde posso encontrar um chapéu que me sirva? - ela perguntou impaciente para sair logo dali.

- Fico feliz que tenha reconsiderado. Nós temos um armazém aqui na fazenda onde podemos encontrar o que está procurando. Se quiser, eu posso te levar até lá. - Gilbert sugeriu.

- Está bem. Pode me esperar um minuto? Eu vou trocar de roupa e já volto.- Anne pediu com um sorriso fraco.

- Claro. Eu vou até a cozinha tomar alguma coisa gelada enquanto te espero.- Gilbert responder, enquanto via Anne subir as escadas correndo com apreensão.

Uma vez em seu quarto, ela se vestiu o mais rápido possível, pois não queria dar a Gilbert a chance de mudar de ideia. Assim, em dez minutos estava pronta, e fez o caminho de volta até a sala onde Gilbert a esperava sentado no sofá. No momento em que a viu, o rapaz não pôde deixar de olhar para a maneira como ela estava vestida. Ele sabia que estava sendo indelicado ao observar todos os detalhes da vestimenta dela, mas ele tinha culpa se ela era tão atrevida ao usar uma calça jeans tão justa que ele conseguia vislumbrar todas as curvas perfeitas dos quadris dela? Para completar e sendo mais ousada ainda, ela colocara uma camisa jeans de mangas que iam até o cotovelo, e amarrara as duas pontas da barra um pouco acima do seu abdômen, deixando boa parte daquela região a mostra, provando-lhe de uma vez que não havia nada daquela garotinha de dez anos que ele conhecera naquele corpo de mulher incrivelmente atraente.

- Podemos ir? – Ane perguntou, sentindo-se desconfortável por ele não deixar de encará-la.

- Podemos sim. – Ele respondeu, saindo do seu transe e se sentindo um pouco contrariado por não ter conseguido ignorar o quanto sua cenourinha tinha se tornado uma garota linda. Ele prometera ao pai que jamais se deixaria levar pela beleza dela, e na primeira oportunidade quase babara diante da aparência dela. Ele devia estar se preocupando com outras coisas mais sérias, ao invés de ficar se distraindo com os atributos físicos de sua pupila.

O armazém que Gilbert sugerira ficava a apenas alguns metros da casa grande, e logo que entraram foram recepcionados por um rapaz jovem de uns dezoito anos que olhou para Anne com curiosidade enquanto Gilbert o cumprimentava e dizia:

- Boa tarde, Moody. Essa é minha prima Anne. Você poderia, por favor lhe mostrar alguns modelos de chapéu ?

- Claro, venha comigo, Anne.- ela o seguiu, e logo se viu em frente a diferentes tipos de chapéus, porém não tinha ideia nenhuma de qual escolher. Indecisa, ela se virou para Gilbert que logo entendeu o seu olhar, e apontou para um chapéu branco dizendo:

- Vai ficar lindo em você.

- Obrigada.- Anne respondeu, sentindo-se tímida com o elogio, pois desde que chegara ali, essa era a primeira vez que Gilbert lhe dizia algo legal que não fosse uma crítica.

- Como estão os negócios, Moody? – Gilbert perguntou se sentando em uma poltrona enquanto Moody se sentava na outra. Ele sempre vinha ali nas horas vagas para conversar, ou apenas passar o tempo quando queria descansar um pouco da lida na fazenda.

- Está tudo bem. Depois que meu pai diversificou nossos estoques, nossas vendas aumentaram bastante. - o rapaz respondeu. Enquanto Anne não sabendo o que fazer, parou ao lado da poltrona de Gilbert, pois não estava vendo nenhuma outra por ali onde pudesse se sentar.

Ela não soube dizer se Gilbert fez aquilo inconscientemente ou se fora algo calculado, mas pegando-a de surpresa, o rapaz a puxou para seu colo exatamente como fazia quando eram crianças. A ruivinha o olhou interrogativamente, se perguntando o que Moody estaria pensando ao ver aquela cena nada comum. Ela até tentou se levantar, mas o rapaz a manteve presa pela cintura com uma das mãos, enquanto a outra passeava por suas costas, fazendo-a sentir um estranho aperto no estômago que ela não soube identificar o que era, e que somente serviu para deixá-la inquieta. O que Gilbert estava planejando com aquilo, ela não entendeu, mas cada vez que seus olhares se encontravam, ela via um brilho diferente nos dele, como se ele a desafiasse a tentar levantar dali sem sua permissão. Quando Gilbert decidiu que era hora de deixarem o armazém, Anne suspirou de alivio baixinho, pois ela já estava se sentindo constrangida na posição em que se encontrava, e com seu tutor alisando suas costas como se estivesse acalmando um de seus potrinhos antes de começar seu trabalho de domá-los.

A próxima parada foi o estábulo, onde Gilbert a levou para escolher um cavalo pra cavalgarem pela fazenda. Em meio a tantos belos animais, os olhos de Anne pousaram em cavalo de pelo amarelado, de olhos castanhos e que tinha uma postura elegante.

- Eu quero aquele. Qual é o nome dele?- ela apontou para o animal que a encarava de maneira desconfiada, fazendo Gilbert responder:

- O nome dele é Caramelo, e não acho que seja um animal muito apropriado para você.

- Por que não?- Anne perguntou, já imaginando que teria que discutir com ele até por conta do cavalo escolhido.

- Porque Caramelo não é um animal fácil de ser conduzido, e você pode se machucar. - ele explicou, vendo um sorriso de canto surgiu no rosto de Anne quando ela disse:

- Está duvidando de minha capacidade como amazona, Blythe? Você se esqueceu que foi você quem me ensinou a montar? Você me dizia que eu montava muito bem.

- Não, eu não me esqueci, porém faz tempo que você não monta, e acho perigoso para você pegar um cavalo que não é tão dócil como imagina. É somente por precaução, Anne. Não quero que se machuque.- ele disse com impaciência.

- Fique tranquilo, Gilbert. Eu mesmo lhe garanto que consigo dar conta. Afinal, andar a cavalo é como andar de bicicleta, depois que se aprende nunca mais se esquece. – Ela respondeu, se aproximando do cavalo para que ele começasse a confiar nela ali mesmo.

- Muito bem, se é o que deseja, pode montar o Caramelo, só me prometa que não fará nada estúpido enquanto estiver em cima dele.- o rapaz a alertou.

- Eu prometo.- Anne respondeu, acariciando o pelo do animal com cuidado.

Quando saíram do estábulo cada um com seu respectivo cavalo, Anne avistou uma garota loira caminhando na direção deles, e quase bufou de raiva ao ver que era Winnie. Seu dia estava completo ! Primeiro tinha que se sujeitar as ordens de Gilbert se quisesse fazer um mero passeio pela fazenda, e agora também teria que aturar a loira nojenta.

- Olá, Gilbert e Anne. Me disseram que estavam aqui, então resolvi me arriscar.

- Precisa de alguma coisa, Winnie?- Gilbert perguntou, e Anne simplesmente odiou o sorriso que ele lançou para garota.

- Eu preciso falar com você. Está ocupado?

- Eu prometi levar Anne para um passeio na fazenda. Podemos conversar mais tarde?- ele perguntou, e Winnie respondeu:

- Nesse caso, eu vou com vocês. Você se importa?- ela perguntou em um tom falsamente doce.

- Claro que não. Fique à vontade.- Anne respondeu no mesmo tom.

- Vamos até o estábulo, que e vou te ajudar a selar um cavalo para você. - Gilbert disse de forma educada, e Anne revirou os olhos assim que eles se afastaram dela.

O passeio já tinha perdido totalmente o encanto para ela, e se pudesse largaria os dois para trás e faria seu passeio sozinha. No entanto, ela sabia que estaria comprando outra briga com Gilbert, e não estava a fim de discussões naquela tarde.

Logo, os dois voltaram do estábulo, e o passeio pôde finalmente ser iniciado. Durante o trajeto deles por Terracota, Anne ia admirando os lugares por onde passavam. Aquele lugar era ainda mais lindo do que se lembrava e era impossível não se apaixonar por cada recanto florido, ou pedaço de terra que juntos compunham toda uma história de como todo aquele império fora construído por meio de muito trabalho e paixão. O único ponto negativo daquele passeio era o casal atrás dela que a irritava profundamente. As piadas de Gilbert que faziam Winnie rir de maneira quase escandalosa inundavam seus ouvidos a cada segundo, incomodando-a a tal ponto que estragava todo o prazer que estava tendo naquela cavalgada. Anne se atrapalhou tanto com aquele ruído todo, que não prestou muita atenção por onde Caramelo estava indo e o cavalo acabou se assustando com um esquilo que apareceu no meio da estrada, e saiu em disparada, pegando-a de surpresa. A ruivinha sequer teve tempo de segurar as rédeas para tentar controlar o cavalo e acabou sendo arremessada ao chão. Por sorte, sua queda foi amenizada por um pedaço de grama onde ela caiu, evitando assim que se machucasse seriamente.

- Anne, você está bem?- ela ouviu Gilbert perguntar, mas, ela não conseguiu responder naquele exato momento, porque tanto o susto quanto o choque da queda a deixou completamente mole e com seu coração disparado. – Fala comigo. - o a rapaz insistiu, segurando seu rosto com as mãos, e foi somente nesse instante que ela o percebeu ajoelhado a seu lado.

- Eu estou. - Anne respondeu com dificuldade, ao mesmo em que ela começava a tremer violentamente. Gilbert a abraçou, esperando que seu tremor passasse, e ouvir o coração dele batendo contra o seu foi o que a acalmou, fazendo-a voltar ao normal aos poucos.

- Vou te levar para casa. Consegue andar? – ele perguntou acariciando os cabelos dela.

- Sim. Eu não estou machucada. Mas e o Caramelo?

- Vou pedir para um funcionário da fazenda procurar por ele, não se preocupe. - Gilbert respondeu. - Você vai voltar comigo no meu cavalo. Tudo bem? - Anne assentiu, pois no estado em que estava não tinha outra alternativa.

O rapaz a ajudou a subir no cavalo dele, e depois fez o mesmo, pedindo para que Anne se segurasse em sua cintura. Foi exatamente o que fez, e enquanto Gilbert a guiava para casa, Anne não pôde deixar de notar o olhar de ódio que Winnie lhe lançou, porém, ela não se importou, pois estava se sentindo vulnerável demais para ligar para os ataques de ciúmes da suposta namorada de Gilbert.

Assim que chegaram no estábulo, Anne não viu mais nem sinal de Winnie, e seu tutor foi o primeiro a descer do cavalo, recomendando que ela esperasse até que ele a ajudasse a descer também. Quando Gilbert lhe deu a mão, Anne a segurou com força, porém na hora de colocar seus pés no chão, ela escorregou e acabou sendo amparada por Gilbert que a apertou forte e bem próxima do seu corpo. A ruivinha levantou a cabeça, e seu olhar se prendeu no do rapaz que manteve seus rostos tão perto que ela podia sentir a respiração dele se chocar com a sua. Eles ficaram por dez segundos com que hipnotizados, sem conseguirem dizer qualquer coisa, e sem conseguirem se afastar. Anne sabia que precisava sair dali, mas aqueles olhos verdes a impediam, e Gilbert tinha consciência que era errado estarem tão próximos daquela maneira, mas ela parecia tão confortável em seus braços que ele simplesmente não queria deixá-la ir.

Quase sem perceber o que estava fazendo, Gilbert tocou a face dela e disse:

- Você deveria ver um médico. Como está se sentindo? – ele perguntou, preocupado com a palidez súbita de Anne.

- Eu estou bem, de verdade. Não se preocupe. - ela disse, sentindo que estava a tempo demais perto de Gilbert. Ela o viu encarar seus lábios, e depois olhá-la novamente dizendo:

- Vamos entrar. Eu te ajudo.

E assim, o encanto do momento foi quebrado, porém, enquanto andavam em direção a casa grande, Gilbert não largou a mão de Anne um só segundo, fazendo a ruivinha se perguntar o que aquilo significava.

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