Capítulo 37 - Revelação
Gilbert nunca tinha corrido em seu carro tão rápido. O desespero o impelia a ir contra o tempo, porque seu coração agoniado gritava dentro dele.
A distância da fazenda até a cabana não era tão grande, mas naquele momento parecia que muitos quilômetros haviam sido adicionados naqueles minutos em que ele quase voava em seu conversível.
A única imagem que ele tinha em sua mente era o sorriso de Anne na última vez que a tinha visto. Seu peito se apertou de um jeito que o rapaz teve dificuldade para respirar por um segundo.
Anne era o seu mundo e viver sem ela não era uma opção. Gilbert nunca se conformaria em perdê-la. Ele faria qualquer coisa por ela, até mesmo arriscar sua vida, porque se Anne não mais estivesse nela, nada valeria a pena.
O rapaz tentou não pensar no pior, por isso pisou no acelerador para ir ainda mais rápido. Naquele momento, ele queria ter asas, pois cada segundo era precioso.
Logo, ele estava perto da cabana, e o que viu o deixou aterrorizado. Havia fumaça por toda parte e o fogo tinha se alastrado por boa parte da cabana. Caramelo relinchava e jogava as pernas para o ar, desesperado com a densidade do ar poluído. Gilbert desceu do carro e correu em direção a Caramelo, soltou-o de onde estava preso e gritou, batendo em seus flancos:
― Vai para casa, garoto!
Em seguida, ele correu para a casa em chamas e tentou abrir a maçaneta, mas estava trancada e muito quente.
― Anne! ― gritou ele desesperado e correndo para a janela, onde tentou ver alguma coisa lá dentro, mas não conseguiu ver nada, pois a casa estava tomada pela fumaça.
Sem alternativa, ele buscou por uma pedra nos arredores e, assim que encontrou, atirou-a com força sobre o vidro, quebrando-o quase completamente.
Com cuidado, ele pulou para dentro da casa, tapando o nariz com uma das mãos, tentando enxergar alguma coisa no meio da fumaça, procurando por Anne desesperadamente.
Então, os olhos dele a encontraram, caída de bruços na sala. Ela parecia desacordada, o que aumentou a angústia do rapaz.
Gilbert correu até ela, tossindo muito por causa do pouco oxigênio que havia ali. Ele a pegou no colo e saiu pela janela do mesmo jeito que entrou, passando Anne primeiro por ela, para em seguida ser sua vez.
Já do lado de fora, o rapaz tentou reanimar sua noiva, que continuava desacordada. Gilbert tinha treinamento em primeiros socorros e fez tudo o que podia para auxiliar na recuperação de Anne, mas nada funcionou.
Em profunda agonia, ele a colocou no carro e dirigiu como um louco para chegar a tempo, enquanto falava
como se Anne pudesse ouvi-lo:
― Por favor, Cenourinha, não me deixe. Você não sabe o quanto preciso de sua presença na minha vida. ― As lágrimas rolavam, mas Gilbert não se importava. Ele não era homem de chorar à toa, nem em suas piores quedas de um cavalo, mas não conseguia se conter naquele momento, quando tantos pensamentos passavam por sua cabeça.
― Eu não vou conseguir viver sem você, meu amor. Eu devia ter cuidado melhor de você, mas não pude. Por favor, só aguente firme e eu prometo que tudo vai ficar bem.
As lágrimas eram abundantes agora e Gilbert tentava controlar os soluços, rezando mentalmente para que Anne se recuperasse. De vez em quando, ele segurava na mão dela e a apertava suavemente, como se assim pudesse assegurar que ela de fato não o deixaria.
Chegar até o hospital foi mais dramático do que Gilbert esperava. Ele levou exatamente dez minutos para dirigir da cabana até lá. O rapaz gostaria que tivesse sido em menos tempo, mas mesmo que quebrasse todos os limites de velocidade, não teria conseguido vencer aquela distância em menos tempo.
Assim que parou o carro, o rapaz pegou Anne no colo e correu para dentro do hospital, dizendo:
― Por favor, alguém me ajude!
Três enfermeiros com uma maca se moveram rapidamente em sua direção e, enquanto um deles examinava os sinais vitais de Anne, o outro perguntou para Gilbert, que olhava para toda a cena aflito:
― O que aconteceu com ela?
― Um incêndio. Eu a encontrei desacordada. Acho que ela inalou muita fumaça ― respondeu ele, cada vez mais preocupado.
Anne continuava inerte e pálida, como se a vida estivesse se esvaindo de seu corpo. Ele não queria acreditar que a estava perdendo e ficou atento a qualquer mudança que pudesse ter no quadro dela.
― Ela vai ficar bem? ― perguntou o rapaz, apertando as mãos com nervosismo aparente.
― Não podemos dizer ― respondeu o enfermeiro, que pediu aos outros: ― Levem-na para a emergência imediatamente.
― Posso ir com ela? ― O peito de Gilbert estava apertado de apreensão. Não queria deixar Anne sozinha, como também não desejava perdê-la de vista.
Ele sentia que, se não estivesse perto dela, algo de ruim poderia acontecer e, enquanto sua ruivinha pudesse ter a presença dele do seu lado, ela teria forças para resistir.
― Sinto muito, senhor. Ainda não sabemos a gravidade da situação, por isso, não podemos permitir que acompanhe a paciente durante o exame― respondeu o enfermeiro, olhando para Gilbert com pena de seu estado deplorável.
Gilbert respirou fundo. Aquela não era a resposta que queria ouvir, mas Anne precisava de atendimento urgente, por isso, ele se aproximou dela, deixou um beijo na testa da ruivinha e disse:
― Por favor, meu amor. Melhore logo. Vou estar te esperando aqui fora assim que acordar.
Com os olhos marejados, Gilbert viu os enfermeiros levarem Anne para a enfermaria e, em seguida, se deixou cair na primeira poltrona da recepção que encontrou.
Antes de se entregar aos próprios pensamentos, ele mandou uma mensagem para Diana, pedindo que ela explicasse a Matthew o que estava acontecendo. Não desejava assustar o pobre homem, mas naquelas circunstâncias não tinha saída.
Ele contou o tempo no relógio, às vezes andando pela sala, outras vezes sentado, olhando para o teto. Gilbert nem percebeu quando Diana chegou correndo com Matthew em seu encalço. Por isso, ele levou um susto quando o avô de Anne surgiu na sua frente e perguntou:
― Onde está minha neta?
― Está sendo atendida ― respondeu Gilbert, com a voz cansada.
― Eu preciso vê-la ― afirmou Matthew, no mesmo tom de desespero de Gilbert.
― Eles não permitem. Quase implorei, mas me disseram que é para a própria segurança da paciente. Deus! Vou ficar louco aqui ― murmurou Gilbert, passando as mãos pelos cabelos nervosamente.
― É muito grave? ― perguntou Diana, colocando a mão no ombro do primo para lhe dar suporte.
― Eu não sei. Ela estava desacordada quando a levaram para a emergência. Eu fiz tudo o que pude para ajudá-la. Desculpe-me, Sr. Cuthbert. Não a protegi como devia. ― A voz dele saiu quebrada, como se ele estivesse a ponto de chorar. Matthew deu um tapinha em seu ombro e falou:
― Você não tem culpa, Gil. O que aconteceu foi uma fatalidade. Vamos rezar para que Anne fique bem ― ponderou o bom senhor, mas Gilbert imaginava como ele estava se sentindo após ter perdido a filha e ver a neta naquelas condições. Matthew era um homem muito forte, mas os infortúnios da vida já se faziam presentes em seu rosto envelhecido e sua postura um pouco curvada.
― Você sabe as causas do incêndio? Tio John já enviou alguns funcionários da fazenda para apagar o fogo ― explicou Diana, deixando o rapaz momentaneamente surpreso.
― Meu pai fez isso? Com qual intenção? ― perguntou ele, sem de fato acreditar que tivesse ali algo de bom.
Seu pai demonstrara abertamente seu desprezo por Anne desde que ela tinha chegado à fazenda. Gilbert não conseguia acreditar que não houvesse segundas intenções naquele gesto, por mais que lhe dissessem que aquela era uma ajuda desinteressada.
Era triste ver que toda a admiração que um dia sentira por John estava morrendo em seu coração.
Seu pai era o único responsável por esse sentimento que vinha carregando em relação a ele. Depois do tratamento que ele dera a Anne, expulsando-a da fazenda por causa de Winnie. A carta falsa que fez Anne escrever para ele foi o estopim de tudo. De repente, o rapaz entendeu que perdoar seu pai por isso seria bem difícil.
― Acho que ele quis apenas ajudar. Não acho que teve outra intenção por trás disso ― explicou Diana.
― Acho difícil de acreditar nisso ― afirmou o rapaz, fechando os olhos por um momento, sentindo-se emocionalmente cansado.
― Você e o tio John brigaram? Acho que nunca te vi falar assim dele. ― Diana quis saber, parecendo chocada com o tom de desdém que Gilbert usou ao mencionar John Blythe.
― Não quero falar sobre isso agora, Diana. Minha única preocupação é Anne. Deus! Por que ninguém dá notícias? ― Sua pergunta agoniada pareceu ecoar pelo corredor do hospital, fazendo algumas pessoas que estavam por ali o olharem compadecidamente. Ele não sabia o quanto sua fisionomia revelava como ele se sentia por dentro naquele instante.
Diana não disse nada. Ela apenas se sentou no sofá ao lado do rapaz e passou um dos braços ao redor do ombro dele, para lhe dar certo tipo de conforto.
Matthew continuou em silêncio. Seu velho coração sofria pela neta que corria perigo, assim como pranteava por sua filha falecida. Não aguentaria mais uma perda, já tinha sofrido demais.
― Não deveríamos avisar a Ruby? ― disse Diana repentinamente.
― É melhor esperar até termos notícias concretas de Anne. Não quero assustá-la antes da hora ― afirmou Gilbert. Ruby era sensível demais e já imaginava como ela reagiria.
Assim, eles esperaram mais um tempo, até que o médico que atendeu Anne apareceu para dar notícias. Gilbert quase não se aguentava de tanta ansiedade. Ele segurou na mão de Diana e a apertou, como se assim pudesse fazer sua tensão ir embora.
― Vocês são parentes da garota ruiva que chegou aqui agora há pouco? ― perguntou o médico jovem, que encarava Gilbert e Diana com simpatia.
― Sim, e Matthew também ― respondeu Gilbert, apontando para o avô de Anne. ― Como ela está?
― Bem, apesar de ter engolido muita fumaça, ela está estável. Já começamos o processo de desintoxicação, por isso terá que passar dois dias aqui. Se ela continuar respondendo bem ao tratamento, poderá ir para casa depois desse tempo.
― Posso vê-la? Ela está acordada? ― Gilbert perguntou, quase sem fôlego, pois sua respiração ia e vinha entrecortada, quase como se tivesse dificuldades para respirar direito.
― Ela está consciente, mas muito fraca. Posso permitir apenas quinze minutos de visita de cada pessoa hoje. Amanhã, esse tempo poderá ser maior se a paciente estiver melhor. Venha comigo. Vou levá-lo até o quarto ― declarou O médico, fazendo Gilbert olhar para Matthew, que lhe disse:
― Pode ir, meu filho.
Gilbert seguiu o médico até o quarto, contendo seu nervosismo que não tinha se aliviado nem um pouco. Diante da porta do quarto de Anne, ele respirou fundo e entrou, sendo deixado ali pelo médico.
Ele se aproximou da cama e parou para admirar o rosto de Anne. Ela ainda estava pálida, mas, pelo menos, respirava normalmente, o que era um alívio depois de tudo. Sua beleza era irretocável, mesmo naquele momento delicado. Havia tanta perfeição nos traços dela, que seu coração suspirou apaixonado.
A ruivinha mantinha seus olhos fechados e ainda não tinha percebido a presença do rapaz. Ele se sentou na cadeira próxima à cama, segurou na mão dela e disse baixinho:
― Abra os olhos para mim, amor.
As pálpebras dela tremeram e, vagarosamente, Anne abriu os olhos e, naqueles dois segundos de espera, Gilbert quase não conteve sua ansiedade. Mas, assim que o olhar azul o fitou, todo aquele peso sumiu de seu peito.
― Gil? ― murmurou ela, com a voz fraca.
― Estou aqui, amor. Como está se sentindo? ― perguntou o rapaz, quase chorando de alívio.
― Um pouco zonza, mas estou bem. O que aconteceu?
― A cabana pegou fogo e você estava lá dentro. Não se lembra de nada? ― O rapaz se sentou na cama para ficar mais perto dela.
― Eu me lembro de estar lá dentro e, de repente, tudo se encher de fumaça. Eu percebi o fogo, mas quando tentei sair, a porta estava trancada ― contou Anne, tendo uma crise de tosse, que fez Gilbert se preocupar e pedir:
― Não se esforce tanto. Eu só queria saber o que estava fazendo lá, sozinha.
― Eu recebi uma mensagem sua dizendo para te encontrar lá ― respondeu Anne, parando um minuto para respirar.
Gilbert ia dizer que não tinha enviado mensagem nenhuma, mas guardou aquela informação para si. Havia alguma coisa errada ali e ele iria descobrir.
― Tudo bem, amor. Nós falamos disso depois. Quero que descanse. Só posso ficar aqui por quinze minutos e meu tempo acabou. Volto amanhã para te ver ― falou Gilbert, acariciando o queixo dela suavemente.
O olhar triste que Anne lhe lançou, assim como o menear de cabeça, concordando com relutância, o fez desejar ficar, mais do que qualquer coisa. Entretanto, a saúde dela era mais importante do que sua vontade naquele momento.
Assim, o rapaz se inclinou sobre ela e deixou um selinho suave nos lábios dela, depois disse:
― Amanhã estarei aqui.
Quando ele chegou à recepção do hospital, o rapaz olhou para Matthew e afirmou: ― Ela está bem. Pode entrar. Anne vai gostar de ver o senhor. ― Em seguida, ele se voltou para Diana e pediu: ― Pode levar o avô de Anne para casa? Vou acertar tudo aqui no hospital e depois voltarei para a fazenda. Não queria deixá-la aqui sozinha, mas não permitirão que eu fique com ela, mesmo que eu acampe nesse hospital ― disse Gilbert com certa frustração.
― Amanhã poderá vê-la de novo. O importante é que Anne está bem ― disse Diana.
― Sim ― concordou Gilbert, mas o que Anne lhe dissera sobre a mensagem continuava incomodando-o.
Ele pagou os honorários do hospital e voltou para a fazenda. O rapaz estava bastante intrigado e não parava de pensar quem poderia ter tirado Anne de casa para colocar a vida dela em perigo. Gilbert não descansaria até descobrir o autor daquele crime.
O jovem cowboy entrou em casa e encontrou seu pai na sala. Ele tinha algo nas mãos e olhava para o objeto bastante pensativo. Quando sentiu a presença de Gilbert, levantou o olhar para o rapaz e perguntou:
― Como está, Anne?
― Para sua infelicidade, ela está muito bem ― respondeu Gilbert, com certa hostilidade, o que causou o olhar chocado de John sobre ele.
― Eu posso ter diferenças com sua namorada, Gil. Mas nunca desejaria sua morte ― retrucou o homem mais velho, encarando o filho como se não o reconhecesse.
― A maneira como tem tratado a Anne desde que ela chegou aqui desmente muito suas palavras de agora a pouco. ― Gilbert encarou o pai também na mesma intensidade.
― Não estou entendendo essa sua colocação ― declarou John, levantando-se de onde estava sentado para se aproximar do rapaz.
― Anne me contou que recebeu uma mensagem para que fosse me encontrar na cabana. Quem teria mais interesse em afastá-la de mim do que o senhor? Se considerarmos que foi o senhor também que a expulsou daqui, fazendo-a escrever uma carta para mim? ― Gilbert o acusou. Não estava cem por cento certo daquela suposição, mas também não conseguia tirar da cabeça que seu pai era o responsável pelo incêndio na cabana.
― Acha que sou capaz de algo assim? Não sou criminoso, Gil. Não iria tão longe apenas para atrapalhar seu namoro. Admira-me muito que me conheça tão bem e pense isso de mim ― protestou John.
― Eu também pensei que o conhecia até alguns meses atrás. Fiquei bastante decepcionado com o que descobri a seu respeito ― falou Gilbert, enfrentando o olhar duro do pai.
― Você pode me acusar de qualquer coisa, menos de cometer um crime como esse ― afirmou John. Depois, apontou para o objeto que tinha nas mãos e prosseguiu: ― Esse isqueiro foi encontrado perto da cabana por meus homens. Tem iniciais nele que vão te mostrar quem é o autor desse crime.
Gilbert pegou o objeto prateado da mão do pai e olhou as iniciais que ele tinha mencionado. Elas tinham a letra W. R. bem delineadas e o rapaz soube na hora de quem era o isqueiro.
― Eu quero essa criminosa na cadeia! ― gritou ele, completamente em fúria. ― Por que o senhor não chamou a polícia?
― Porque eu não queria causar nenhuma injustiça. ― John tentou se justificar.
― Injustiça é o que Anne tem sofrido desde que veio para essa fazenda. Ela não tem culpa do que aconteceu no passado, mas o senhor a julgou e a condenou, sem dar-lhe chance nenhuma. Agora, quer proteger Winnie Rose pelo que ela fez? Que espécie de homem o senhor é? ― Gilbert estava furioso, tão furioso que não conseguia se conter.
Ele olhava para o pai sem acreditar que aquele era o homem que fora seu exemplo a vida toda. Um ídolo de papel que se desfazia diante de seus olhos em um momento tão crucial. Por dentro, o rapaz chorava por sua ilusão destruída. John Blythe não era a pessoa que ele pensava que era. Anne tentara fazê-lo enxergar, mas, como um tolo, ele se recusara, agora sofria com sua própria ingenuidade.
― O que está acontecendo aqui? Eu ouvi o nome da Anne ― disse Ruby, que acabara de entrar, interrompendo a resposta que John estava pronto a dar a Gilbert.
O rapaz se esforçou para suavizar sua expressão antes de se virar e falar com Ruby, que parecia bastante apreensiva com a situação.
― Eu tenho que te contar uma coisa, mas não quero que fique nervosa. ― Ele começou.
― O que foi? Tem a ver coma Anne? ― Ruby olhou para o rapaz com os olhos arregalados e seus lábios tremendo levemente.
Ela ainda carregava os traumas das perdas que sofrera e Anne era tudo o que lhe restara de sua pequena família. Assim, Gilbert tratou de acalmá-la, dizendo:
― Anne sofreu um acidente e está no hospital. Ela já está bem, mas vai precisar ficar dois dias lá em observação. Por isso, não se preocupe.
― Eu posso visitá-la? ― perguntou a menina, extremamente nervosa.
― Amanhã eu te levo lá. Hoje, eles não permitem mais visitas ― respondeu o rapaz, acariciando os cabelos da menina.
― Está bem ― disse Ruby, com a expressão entristecida. ― Vou para o meu quarto então. Obrigada por me avisar, Gil.
Despedindo-se com um meneio de cabeça, Ruby se despediu e foi para o quarto dela.
Ao ver que a menina não podia mais ouvi-los, John disse:
― Precisamos terminar nossa conversa, Gil.
― Na verdade, precisamos fazer outra coisa ― afirmou Gilbert, pegando o celular e discando um número rapidamente. Ao primeiro toque, ele disse:
― Olá, boa noite. Eu tenho uma denúncia a fazer.
Pelos próximos quinze minutos, o rapaz relatou tudo o que sabia sobre o incêndio e, sob os olhares agudos de John, ele acusou Winnie Rose do crime. Em outras circunstâncias, Gilbert teria que ir à delegacia naquele momento para registrar a denúncia, mas ele conhecia o delegado de lá e foi permitido que ele fizesse isso mais tarde. Entretanto, as investigações estavam iniciando-se naquele momento e Gilbert se sentia bem mais aliviado com aquela notícia.
Assim que desligou, John perguntou:
― Tem certeza do que fez, Gil.
― Tenho sim, e agora vou até a casa dela para confrontá-la pessoalmente. Quero ver se ela tem coragem de mentir na minha cara ― declarou Gilbert, que por dentro sentia a fúria começar a crescer.
― Eu vou com você. Está com a cabeça quente e sei que não pensa direito, ou se controla quando está assim ― disse John, preparando-se também para sair.
Gilbert não rebateu as palavras do pai, porque não queria começar outra discussão. Sua prioridade era resolver aquele assunto e colocar Winnie em seu devido lugar.
Cada um em seu carro, dirigiram até a casa dos pais de Winnie. Assim que estacionou, Gilbert rumou para a porta de entrada, com John atrás de si.
O rapaz tocou a campainha e a mãe de Winnie, Cindy, surgiu na porta, sorrindo. Ela tinha o mesmo tom de loiro dos cabelos da moça, mas seus olhos eram castanhos e não verdes.
― Gilbert, John, que prazer recebê-los aqui. Vamos entrar.
Gilbert fez o que a mulher pediu e perguntou, sem rodeios.
― A Winnie está?
― Não, precisa falar com ela? ― perguntou a mulher, franzindo a testa ao ver a expressão séria do rapaz.
― Apenas me responda se esse isqueiro é de Winnie? ― quis saber Gilbert.
― É sim ― respondeu Cindy, depois de olhar o objeto por alguns minutos. ― Ela o usava quando fumava, mas, como parou há tempos, achei que nem existia mais. Onde o encontrou?
Gilbert trocou um olhar com John e disse logo em seguida:
― Winnie cometeu um crime, Sra. Rose. Ela incendiou a cabana onde estava minha noiva. Por pouco, não aconteceu uma tragédia.
― Não pode ser. Minha filha jamais faria isso. ― Cindy tentou argumentar, olhando de um para o outro, assustada.
― A senhora deve saber o ódio que Winnie sente de Anne. Esse isqueiro foi encontrado perto da cabana incendiada, então, não tem como negar. ― Gilbert garantiu.
― Mas isso não prova nada― disse a mulher, um pouco desnorteada com aquela revelação.
― Isso prova tudo, principalmente pelo comportamento de Winnie nos últimos tempos. ― Gilbert rebateu as palavras de Cindy mais uma vez.
― Por que não diz a verdade, pelo menos uma vez, Cindy? ― pediu Jack, o pai de Winnie, entrando na sala naquele momento.
― Não se meta, Jack! ― ordenou a mulher, olhando com raiva para o marido.
― Do que ele está falando? ― perguntou John, pela primeira vez, pois tinha se mantido quieto até aquele momento.
― Cindy é culpada por todo esse ódio de Winnie pela menina Anne ― revelou Jack.
― Isso não é verdade! ― Cindy aumentou o tom de voz , como uma ameaça, para que o marido se calasse.
― É sim. Você inventou toda aquela história sobre a Bertha? ― Jack parecia disposto a revelar o que Gilbert mais queria saber, por isso, o rapaz perguntou:
― Que história? Fala, ou eu não vou sair daqui até saber toda a verdade! ― declarou Gilbert.
O pai de Winnie respirou fundo, enfrentou o olhar zangado da mulher e contou:
― Bertha nunca teve nada comigo. Eu bem que tentei, estava muito apaixonado, mas ela me mandou embora quando me declarei. Ela disse que amava William e que nunca o trocaria por homem nenhum. ― e fez uma pausa, como se as lembranças do passado ainda fossem dolorosas e, depois, continuou: ― Eu fiquei inconformado, comecei a beber e estava a ponto de sair de casa, quando Cindy espalhou para a fazenda inteira que Bertha tinha dado em cima de mim é que era uma destruidora de lares e, o resto, vocês já sabem.
― Isso é mesmo verdade? ― perguntou John, olhando incrédulo para Cindy.
― Aquela mulher destruiu meu casamento. Como você queria que eu me sentisse? Ela chegou aqui toda vistosa, encantando a todos, inclusive você! ― gritou Cindy, tremendo de raiva.
― Você difamou uma mulher inocente porque seu marido não respeitou as leis do casamento? Como pôde fazer isso? ― perguntou John, com nojo da mulher à sua frente.
― Aquela mulher mereceu. Não me arrependo. Tudo o que eu desejava era que ela sumisse daqui! ― confessou Cindy, com a expressão cheia de ódio.
― E com isso, alimentou o ódio de Winnie por Anne. A única pessoa que não merecia sofrer com essa história sórdida ― afirmou Gilbert, quase cuspindo as palavras diante daquela mulher manipuladora.
― Aquela garota tem a índole igual à da mãe. Nunca devia ter voltado! ― disse Cindy, furiosamente.
― Lave a boca para falar de Anne. Você é sua filha, nunca chegarão aos pés dela. E você, Jack? Por que permitiu que as mentiras de sua mulher fossem tão longe, manchando a imagem de uma pessoa que nunca fez mal a ninguém? -- questionou Gilbert, olhando para o pai de Winnie, com raiva.
― Eu era um fraco, tomado pela bebida e rejeitado pela mulher que eu amava. Perdi o controle da situação. ― Jack tentou explicar, mas suas palavras soavam vazias aos ouvidos de Gilbert, que disse, encarando Cindy:
― Valeu a pena destruir a imagem de mulher inocente para ficar ao lado de um homem que não te ama?
Cindy não respondeu, abaixou a cabeça, dando a John a oportunidade para dizer:
― O que você fez não tem perdão. Até o fim da semana, quero vocês fora daqui. Não posso aceitar que fiquem na minha fazenda.
― E quanto a Winnie, saibam que vai pagar pelo que fez ― garantiu Gilbert, saindo da casa, seguido mais uma vez por John, deixando os pais de Winnie chocados com a decisão do Blythe mais velho.
― Gil, acho que te devo desculpas. Se eu tivesse sabido dessa história antes, nada disso teria acontecido ― falou John, antes de Gilbert entrar em seu carro.
― Não é para mim que tem que pedir desculpas. Tenho certeza que o senhor também sabe disso ― respondeu o rapaz, entrando no carro e deixando o pai parado no meio da rua e com uma expressão de arrependimento amargo no rosto.
No dia seguinte, Gilbert foi visitar Anne em companhia de Ruby, mas como a ruivinha continuava sonolenta por conta dos sedativos, eles pouco conversaram. Assim, Gilbert manteve em segredo toda a história de Bertha, que finalmente tinha sido revelada para contar a ela quando Anne voltasse para casa.
Pelo menos, o nome de Bertha estava limpo e sua índole restaurada, pois John fez questão que todos soubessem a história verdadeira em uma reunião marcada com todos que viviam ali. Deste modo, sua tia poderia finalmente descansar em paz.
Winnie foi presa um dia após Gilbert ter feito a denúncia de sua culpa. Ela implorava pela presença dele na cadeia, pois precisava conversar com ele, mas o rapaz sequer dera atenção. No que dizia respeito, Winnie estava fora de sua vida e esperava nunca mais encontrá-la. Ela era a única responsável pela situação na qual se encontrava, e pagaria pelo seu ato insano atrás das grades.
O dia de Anne voltar para casa finalmente chegou. Acompanhado de Matthew e Ruby, Gilbert foi buscá-la, ansioso por tê-la de novo em seus braços, pois naqueles dois dias fora um martírio a separação de ambos para ele.
John oferecera sua casa para que ela se recuperasse com a permissão de Matthew, que decidiu deixar as diferenças de lado e unir as duas famílias.
Gilbert sabia que o pai fizera aquilo como uma forma de pedir desculpas por tudo o que tinha acontecido. John não era muito bom com palavras, mas quando admitia que estava errado, não poupava esforços para se redimir. A última palavra seria de Anne, mas ele esperava que ela aceitasse, pois tudo o que ele queria era tê-la junto de si e nunca mais terem que se separar.
Ele chegou no hospital logo de manhã e encontrou Anne pronta para ir para casa. Como sempre, o sorriso dela fez seu coração bater mais rápido e prometeu a si mesmo que nunca mais deixaria que aquele brilho dos olhos dela se apagasse.
— Como se sente? — perguntou Gilbert, aproximando-se dela.
— Feliz por estar indo para casa. Estava cansada desse quarto branco — respondeu a ruivinha, segurando na mão do rapaz. Naqueles dois dias que permanecera no hospital, tudo fora como um borrão em sua mente. Ela não se lembrava de muita coisa. O incêndio, a fumaça, sua vinda ao hospital, não eram coisas das quais se lembrava muito bem, mas estava aliviada por tudo não ter passado de um susto.
— Eu quero te perguntar uma coisa — disse o rapaz, um pouco apreensivo pela resposta dela e abraçando-a pela cintura.
— O que é? — Anne o olhou cheio de curiosidade.
— Meu pai ofereceu nossa casa para você se recuperar. Acho que é uma boa ideia.
— Não sei se gosto desse convite. Seu pai não gosta de mim e eu prefiro ir para a casa do meu avô — disse Anne, sentindo-se tensa repentinamente.
Não queria passar por tudo o que passara quando vivera na casa dos Blythes. John não fora uma pessoa fácil e Anne não queria ter que lidar com seu mau-humor diário novamente, além de suas indiretas odiosas.
— Vai ser diferente dessa vez, eu prometo. Além do mais, meu pai viajou a negócios por alguns dias e você não terá que encontrar com ele pela casa. Seu avô também concordou e Ruby quer ter a irmã dela por perto de novo — argumentou Gilbert, tentando convencê-la.
— Só a Ruby me quer por perto? — Ela o enlaçou pelo pescoço, mergulhando naqueles olhos verdes que eram todo o seu mundo.
— Você sabe o que eu quis dizer. — Gilbert riu, beijando-a na testa.
— Certo, fico na sua casa por uns dias, mas depois volto para a casa do meu avô.
— Feito. Vamos para casa então.
De mãos dadas, eles saíram do quarto para encontrar Matthew e Ruby na recepção. Ambos vieram para abraçá-la, e Anne nunca se sentiu mais feliz por ver sua família ali com ela.
— Está tudo bem, filha? — perguntou Matthew, após deixar um beijo suave no rosto de Anne.
— Está sim, vovô. Eu vou para a casa do Gilbert por alguns dias — revelou Anne.
— É mesmo? Vou ter minha irmã de volta? — perguntou Ruby, com os olhos arregalados.
— Por alguns dias sim —respondeu Anne, abraçando a irmã.
— Então, vamos para casa — declarou Gilbert, sorrindo de orelha a orelha.
Eles chegaram na fazenda em pouco tempo. Gilbert deixou Matthew em casa e, depois, levou Ruby e Anne para o casarão da fazenda. Ele ajudou a ruivinha a sair do carro e caminhar para dentro da sala, mas quando chegaram na escada, o rapaz a pegou no colo, fazendo Anne rir e dizer:
— Não precisa, eu estou bem. Posso subir as escadas sozinha.
— Não importa, eu quero dar a minha noiva o tratamento que ela merece — declarou Gilbert, subindo as escadas com grande habilidade.
Quando alcançaram a porta do antigo quarto de Anne, ela olhou maravilhada para a quantidade de flores que Gilbert colocara ali, além das pétalas de rosa sobre a cama.
— Você fez tudo isso? — indagou a ruivinha, encarando o rapaz com seu rosto todo iluminado pela súbita felicidade que a atingiu.
— Sim, você gostou? — Gilbert perguntou, acariciando o rosto dela com o dorso da mão direita.
— Eu amei, obrigada.
— Eu estou com saudades. Você não sabe o quanto senti sua falta — confessou ele, encostando sua testa na dela. — Nunca mais vou deixar que algo assim aconteça de novo. Vou te proteger com todo o meu amor.
— Você já faz isso todos os dias — afirmou Anne, deixando um selinho nos lábios do rapaz.
Não satisfeito, Gilbert a puxou para si, beijando-a apaixonadamente. Depois, carregou-a para a cama, deitando-a entre as pétalas de rosas, e se declarou, dizendo:
— Eu te amo, Cenourinha, para sempre.
Anne não teve tempo de responder, na verdade, ela perdeu toda a vontade, entregando-se àquele beijo, como se dele dependesse sua vida.
Enquanto matava sua saudade dolorida dos beijos daquela garota que era sua vida, Gilbert se lembrou de que ainda teria que contar a ela sobre Bertha. Mas decidiu que o faria no dia seguinte, pois naquele momento, o rapaz apenas desejava mantê-la o mais próximo possível do seu coração.
Olá, pessoal. Capítulo novo. Essa fanfic está no fim. Mas 2 capítulos e epílogo. Espero que gostem. Beijos e Obrigada.
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