Capítulo 21 - As diferentes fases do amor
ANNE E GILBERT
Os dias pareciam iguais, e o tédio era a única companhia que tinha naqueles cinco dias que se trancara dentro daquele quarto. Parecia que todos os olhares a acompanhavam onde quer que fosse, e não eram olhares simpáticos ou com empatia. Eram olhares que a acusavam e a condenavam por um passado que não era seu, mas que levava seu sobrenome, e por isso, não tinha como se defender ou defender Bertha, pois fora ela que supostamente colocara sua família naquela situação.
Era difícil para Anne pensar em sua mãe como uma destruidora de lares, quando pensava na mulher amorosa e cuidadosa que ela fora com sua própria família. William parecia ser eternamente apaixonado por ela, o que não fazia muito sentido para Anne, pois se Bertha o havia traído como Winnie a acusara de ter feito por diversas vezes, seu padrasto a teria realmente perdoado?
Eram perguntas para as quais não conseguia respostas, pois ninguém parecia disposto a tirá-la do escuro acerca daquela questão. Nem mesmo Gilbert desejava tocar no assunto, porque ele dizia que não queria magoá-la mais, contudo o que ele não sabia, era que o que realmente a magoava tinha a ver com a omissão da parte dele sobre algo que para ela era muito importante. Não aceitava a justificativa que Gilbert lhe dera, assim, ela desistira de tentar fazê-lo falar sobre aquela situação.
Por esta razão, ela também desistira de sair de casa, do quarto, de seus momentos com Caramelo, por mais que sentisse falta da interação que tinha com seu amigo de quatro patas, a aversão aos olhares maldosos sobre ela era maior que qualquer prazer que pudesse sentir em Terracota.
Anne também sentia falta de Gilbert, de quem se afastara todos aqueles dias. Apesar do consolo que ele lhe dera no dia do seu confronto com Winnie, ela não conseguia perdoá-lo. Não estava com raiva dele, pois no fundo de seu coração, Anne sabia que não podia sentir nada além de amor por Gilbert, mas doía pensar que ele a deixara passar por aquilo, sem chance nenhuma de defesa, e era isso que estava pesando entre eles naquele momento.
Gilbert tentara falar com ela inúmeras vezes, mas ela ignorou todas as suas tentativas. Anne perdera a conta de quantas vezes o ouvira bater em sua porta, chamá-la baixinho em vários momentos, porém, por mais tentada que tivesse em mergulhar naqueles olhos verdes, e receber dos lábios dele os beijos que seriam como gotas de bálsamo para sua alma machucada, ela resistiu.
Seu namorado tinha que entender que certas coisas magoavam, mesmo que a intenção não tivesse sido essa. Talvez estivesse sendo radical em jogar toda a sua frustração em cima dele, mas não conseguia esquecer que ele guardara segredo de algo que a afetava diretamente.
Seu coração se agitou quando sua mente a levou de volta à casa da floresta, e os momentos ardentes passados nos braços de Gilbert lhe causaram uma certa urgência a qual tentou bloquear. Não queria cair na armadilha da carência, e baixar a guarda o suficiente para permitir que sua mágoa se abrandasse. Ela era sim orgulhosa, às vezes até áspera demais, mas era uma característica que crescera com ela, e nunca seria uma daquelas garotas doces que John Blythe desejava que ela fosse, e era exatamente por isso que ele a detestava, por ser uma cópia fiel de sua mãe.
Anne se sentia tão triste quase como se não pudesse aguentar aquele peso em seu peito. Ela sabia que não devia ter voltado a Terracota, pois mais uma vez aquelas terras lhe deram as costas, mais uma vez fora rejeitada pelo único lugar que amara de coração.
Gilbert lhe dissera que a fazenda dos Blythes era o seu lugar, mas quanto mais ficava ali, mais se convencia de que ele estava errado. Ali nunca fora seu lugar, e quanto antes fosse embora, mais fácil as coisas se tornariam para ela.
Anne suspirou profundamente e se enrolou na coberta, sentindo-se exausta. Para que Ruby não percebesse seu estado melancólico e as outras pessoas da casa a deixassem em paz, ela fingira estar gripada, mas ela sabia que Gilbert não acreditara, pois lhe enviara milhares de mensagens de textos e de áudio lhe implorando que o escutasse, mas ela o ignorara. Não podia vê-lo do jeito que estava se sentindo. Não queria discutir, ou trocar farpas com ele. Simplesmente não tinha energia para isso. Já estava arrasada o suficiente por conta de toda a história que descobrira sobre Bertha.
Batidas impacientes em sua porta a deixaram irritada, e Anne quase fingiu que não tinha escutado. Mas como a pessoa do outro lado parecia que não iria desistir, ela se levantou e foi abri-la, imaginando que Gilbert estaria do outro lado, à sua espera.
Sua surpresa foi enorme ao se deparar com John Blythe, que a encarou da cabeça aos pés e lhe perguntou:
-Posso entrar um minuto para falar com você?- a voz ríspida do homem mais velho fez os cabelos de sua nuca se arrepiarem. Aquilo não era bom, não podia ser. John não apareceria em seu quarto por pura cortesia. Sem responder, Anne deixou que ele entrasse, sentindo em suas entranhas uma certa repulsa, como se todo o seu organismo estivesse rejeitando a presença de alguém que infelizmente deveria tolerar.
-Soube que estava doente. Está melhor agora?- a pergunta feita foi irônica, mas Anne fingiu não notar. Não iria dar a John o prazer de tirá-la do sério, para depois acusá-la de indisciplinada.
-Estou sim. - Anne respondeu, detestando ter que encarar aquele rosto sarcástico, ao mesmo tempo que sentia certo pesar em seu coração. Sempre pensara que odiar alguém seria a última coisa que aconteceria com ela, mas a sua experiência ali estava lhe mostrando que John Blythe não merecia sua consideração ou respeito. Ele apenas a recebera ali por amor ao seu irmão morto, caso contrário nunca teria aceitado a razão de sua vergonha no seio da família Blythe novamente.
-Bem, fico satisfeito em ouvir isso. E queria apenas te dizer que não gostei de sua atitude no meu jantar de negócios. Você não podia deixar de arrumar confusão em um dia tão importante?- Anne olhou para John com uma incredulidade implícita no rosto ao constatar tamanho cinismo. Como ele ousava ir ao seu quarto e falar com ela daquela maneira?
-Foi Winnie quem começou tudo. Eu sequer sabia sobre minha mãe e essa fazenda, até que ela tão gentilmente me fizesse descobrir algo que vocês deveriam ter me contado no dia em que cheguei aqui.- ela fechou os punhos com raiva, em autodefesa, como se assim pudesse manter John Blythe distante dela.
-Não teria acontecido se você tivesse ficado em seu quarto. Não lhe ocorreu que não te convidei para participar do jantar justamente por que não queria sua presença nele? Você e a palavra encrenca andam juntos. - Anne se encolheu involuntariamente, pois o que ele acabara de dizer doeu como se tivesse sido queimada em brasa. Ser preterida tão claramente pelo dono da casa lhe fez ver o quanto sua presença ali era indesejada, mesmo que John fingisse que não era esse o caso.
-Então está me dizendo que tudo o que Winnie me disse em seu precioso jantar foi culpa minha?
-Estou dizendo que o seu senso de oportunidade é falho, Anne. Você poderia ter evitado tudo o que aconteceu, mas não o fez , e pagou pelas consequências. - ele a olhou com certo desdém e continuou. : - Winnie também me contou que você estava sozinha com Roy Gardner na cozinha, e os dois pareciam bem íntimos. Peço que não siga por esse caminho, Anne, ou as coisas só tendem a piorar.
-O que quer dizer exatamente?- ela perguntou, mas no fundo já sabia, porém queria ver se ele tinha coragem de dizer o que ela estava pensando.
-Que o fruto não cai tão longe do pé. - ele respondeu, e Anne sentiu que não conseguia mais suportar a presença daquele homem cínico ali, por isso pediu:
-Eu quero ficar sozinha. O senhor poderia sair, por favor?
-Claro. Mas antes quero te dar um aviso. Fique longe dos homens dessa família e de seu círculo de amigos, ou vai sofrer as consequências, assim como sua mãe. - dito isso, o homem se foi, fazendo Anne ter vontade de gritar que o principal homem da família Blythe já tinha ido com ela mais longe do que ele podia imaginar, mas não queria deixar Gilbert em maus lençóis com o próprio pai.
Assim que John saiu, Anne correu para trancar a porta, e depois se deitou na cama se sentindo pior do que antes, e quando percebeu, ela estava chorando de novo, e detestou que John conseguisse deixá-la tão sensível assim.
Quando Ruby veio almoçar com ela, a encontrou naquele estado triste, e acariciando os cabelos da irmã, ela perguntou:
-Ainda se sente muito mal?
-Nem tanto, mas ainda não tenho vontade de sair da cama.- ela mentiu. Era verdade que não queria sair dali, mas não porque estivesse gripada como a irmã imaginava. Seu mal era outro, mas não podia desabafar com Ruby sobre algo que a deixaria triste demais, se soubesse o que as pessoas falavam sobre a mãe de ambas.
-Talvez eu pudesse te fazer uma daquelas sopas que mamãe preparava quando estávamos doentes. Você se lembra?- Ruby inocentemente perguntou, fazendo os olhos de Anne marejarem com a lembrança.
-Me lembro sim.- Anne respondeu, fungando, desejando que Bertha estivesse ali para lhe dar um daqueles abraços maternos que lhe faziam tão bem. Nada no mundo a faria amar menos sua mãe, por mais que as pessoas de Terracota tentassem roubar a imagem construída que tinha dela.
-Vou ficar aqui com você, está bem?- Ruby perguntou, entendendo errado mais uma vez o motivo das lágrimas de sua irmã. Anne assentiu, e fechou os olhos, sentindo o beijo consolador da menina em sua testa.
Era dia de tosquia em Terracota, mas por mais que tentasse se concentrar, Gilbert estava tendo sérios problemas nessa área. Não conseguia lidar com o fato de que Anne se afastara dele por um motivo que não achava tão justo assim.
Escondera os fatos sobre Bertha para protegê-la da dor de saber a verdade, mas sua boa intenção fora vista como um ato de traição de sua parte, principalmente por não defendê-la como Anne esperava em seu confronto com Winnie. Não aprovava o que a loira fizera, mas tanto ele quanto todos naquela fazenda sabiam que Winnie tinha seus motivos para ter mágoa de Bertha. Só não esperava que ela atacasse Anne daquela maneira. Ainda não tinha tido uma boa conversa com Winnie, pois após aquele incidente, ela simplesmente desaparecera. Mas não escaparia dele e da raiva que estava sentindo por ter humilhado Anne daquela maneira.
-Chefe, cuidado! - Jack gritou, e por pouco Gilbert não abriu uma ferida na mão com aparelho que estava usando para tosquiar uma das ovelhas.
-Que droga! - Gilbert resmungou ao perceber o que quase tinha acontecido. Aquele realmente não era um bom dia para ele trabalhar com coisas perigosas.
-O que está acontecendo? Nunca vi você tão distraído assim?- Moody perguntou. Ele vinha ajudando em alguns trabalhos na fazenda, especialmente quando a mercearia de seu pai não precisava dele, assim aprendia mais um ofício que poderia lhe ser útil no futuro.
-Estou com minha cabeça cheia de problemas dos quais não consigo me desligar. Não devia ter vindo hoje. Era melhor ter ficado no escritório, fazendo trabalhos burocráticos.- ele se lamentou, tirando o chapéu e enxugando o suor de sua testa.
-Que você odeia.- Moody comentou.
-É verdade. - Gilbert admitiu com um meio sorriso. - Mas pelo menos não estaria a ponto de causar um acidente como agora a pouco.
-Esses problemas dos quais me falou tem a ver com alguma garota?- Moody se atreveu a perguntar. Era alguns anos mais novo que Gilbert, e nunca de fato tinham tido intimidade suficiente para conversar sobre esse tipo de assunto, mas ele parecia tão atormentado com algo, que Moody não conseguia ignorar.
-Talvez.- Gilbert respondeu, sem ser exatamente específico sobre aquilo.
-É a Anne?
-Por que acha que tem a ver com ela?- Gilbert perguntou sem confirmar ou negar nada.
-Porque você é diferente com ela. Não sei dizer. Vocês juntos combinam tanto. Nunca vi nada parecido quando te vejo com a Winnie.
-Anne é meu calcanhar de Aquiles.- Gilbert franziu o cenho ao dizer isso, o que fez Moody deduzir:
-Está apaixonado por ela.
-Eu não disse isso. - Gilbert respondeu de forma neutra.
-Não precisa dizer. - Moody disse rindo, enquanto voltava ao trabalho, fazendo Gilbert se perguntar se era tão óbvio assim os seus sentimentos. Precisava ter mais cuidado se quisesse manter seu romance com Anne em segredo.
-Vou até em casa e volto em seguida. - ele avisou a seus funcionários. Assim, ele subiu em seu cavalo e cavalgou até a casa grande onde esperava se refrescar um pouco, e colocar seus pensamentos em ordem.
Porém, ao chegar à cozinha, ele congelou ao ver Anne tomando um copo de água. Cinco dias sem vê-la, e seu coração disparava como o de um adolescente. Seus olhos correram saudosos pelo corpo dela inteiro, quase conseguindo sentir o perfume dos cabelos dela, da pele dela, louco para abraçá-la, segurá-la em seus braços, acabando com a distância que os separara naquela semana.
Gilbert pensou em se aproximar, mas ficou onde estava, pois naquele momento precisava matar sua vontade de observar cada pedacinho dela sem interrupção. Assim, ele a viu pegar mais água na geladeira, encher o copo que estava segurando, e em seguida levou-o aos lábios, engolindo a água gelada com evidente prazer. Nesse momento, Anne fechou os olhos enquanto o líquido descia por sua garganta, como se estivesse em profunda concentração, e depois repetiu o processo até que seu copo estivesse vazio.
De repente, Gilbert percebeu sua própria respiração descompassada, sua garganta seca, e seu corpo rígido. Aquela cena não devia excitá-lo, mas a verdade era que ele estava completamente excitado, e precisava se controlar ou perderia a razão naquele instante.
Para seu azar, Anne se virou e o pegou ali olhando para ela, completamente de quatro, sem conseguir esconder o que estava pensando. Ela engoliu em seco, mas não disse nada, apenas colocou o copo sobre a pia, e tentou passar por ele sem encará-lo.
-Espere. - ele disse, segurando-lhe os pulsos.
-Me solta.- Anne disse em um tom baixo, por entre dentes. Não queria o toque dele em sua pele. Não queria lembrar o que aquelas mãos eram capazes de fazê-la sentir. Não queria pensar no quanto era bom se entregar aquele rapaz que sabia levá-la a perder a cabeça em cinco segundos.
-Precisamos conversar. - ele pediu, zonzo com aquele aroma que não lhe saía da cabeça.
-Eu não quero. - Anne respondeu, abaixando a cabeça para não encará-lo. Ela falaria com ele, mas não naquele momento em que estava tão dolorida por dentro. Precisava de tempo para isso, mas a maneira como Gilbert queria fazer as coisas não facilitava nem um pouco para ela.
-Por favor, Cenourinha. Eu não aguento mais ficar longe de você. - ele disse com a voz sofrida, como um eco de como ela também estava se sentindo, mas seu orgulho mais uma vez falou alto, e ela respondeu:
-Me deixa ir, Gilbert.- ela tentou se soltar, mas ele segurou seu pulso com mais força, tornando impossível que ela saísse dali sem que ele permitisse.
-Não posso. Quando vai parar de me castigar? Quando vai voltar para mim?- ele perguntou, escorregando uma das mãos pelos cabelos dela. Até esse pequeno gesto lhe fazia falta, precisava do mínimo dela que fosse para continuar respirando.
-Você está me machucando. - Anne reclamou, e Gilbert afrouxou a mão que segurava o pulso dela, enquanto dizia:
-Perdão. Não foi essa a minha intenção.
-Eu quero ir para o meu quarto. - Anne pediu, sentindo um frio em seu estômago quando Gilbert acariciou de leve o seu pulso. Precisava sair dali o quanto antes.
-Anne.- ele disse, encostando a testa na dela.
-Por favor. - ela sussurrou, e Gilbert percebeu que não poderia segurá-la ali contra a vontade dela, por mais que seu desejo fosse prendê-la para sempre em seus braços. E assim, ele a soltou, e Anne correu para as escadas, subindo todos os degraus e sumindo das vistas dele logo em seguida.
Gilbert permaneceu olhando para as escadas como hipnotizado, sem conseguir se mexer. Não conseguia acreditar que Anne estivera ali e se fora. Desolado, ele entrou novamente na cozinha, pegou um copo com água, e o bebeu de uma só vez, enquanto a raiva que começou a sentir contra si mesmo, contra Winnie, contra toda aquela situação foi se avolumando dentro de seu peito. Em um último ato de frustração, ele atirou o copo que tinha nas mãos na parede, e o viu se espatifar em milhares de cacos brilhantes, como se representassem como se sentia por dentro naquele momento.
Gilbert voltou para o trabalho completamente arrasado. Aquele impasse com Anne ia enlouquecê-lo se não conseguisse resolvê-lo a tempo. Tinha que encontrar uma maneira de fazê-la perdoá-lo, não podia mais ficar longe dela por algo que acontecera no passado. Ela tinha que acreditar que sua omissão sobre o caso de Bertha fora por cuidado e amor a ela, e nunca por ter escolhido um lado. Ele passou o dia um tanto aéreo, sem tirar Anne da cabeça. Por fim, ele decidiu que precisava de ajuda, e acabou ligando para a única pessoa que poderia ajudá-lo naquela situação.
Três toques, e logo sua prima atendeu. Respirando aliviado, o rapaz disse:
-Diana, eu preciso falar com você.
Trancada em seu quarto novamente, Anne fitava o teto, chorando desconsolada. Nunca se sentira tão sozinha na vida. Nem quando sua mãe falecera, e tivera que assumir mais responsabilidades em casa, e nem quando perdera também seu padrasto, e teve que cuidar de tudo sozinha ela se sentira tão sem chão. Gilbert era seu idílio particular e também sua danação eterna. Como podia ter tantos sentimentos contraditórios por alguém? Ela o amava na mesma proporção que sentia que não suportava tê-lo por perto, porque a machucava demais. Seria muito melhor se ele não fosse um Blythe, porque assim não teriam aquele sobrenome entre eles, e nem John Blythe como uma ameaça constante.
Ela se virou de bruços, e seus olhos ficaram presos na cor esverdeada do papel de parede do quarto, e tentou aliviar sua mente, buscando assim uma forma de relaxamento. Um toque em sua porta a fez gemer, e afundar a cabeça no travesseiro. Não tinha ânimo para falar com ninguém, e desejou ardentemente que a pessoa do lado de fora fosse embora.
-Anne, abra essa porta. Não vou sair daqui enquanto você não falar comigo.- Era a voz de Diana, e pelo menos dessa vez, ela estava feliz por ouvir a voz de alguém daquela família.
Ela correu para a porta, e ao abri-la viu Diana pronta para bater mais uma vez. A morena olhou para a ruivinha espantada e disse:
-Meu Deus, amiga. Você está péssima.
-Eu sei. - Anne disse, passando a mão pelo rosto úmido de lágrimas.
-Posso entrar?- Diana disse com cuidado, observando o rosto de Anne com curiosidade.
-Pode sim.- Anne disse desanimada.
-Sinto muito o que aconteceu no jantar do tio John.- Diana disse, se sentando na cama de Anne, enquanto a ruivinha fazia o mesmo abraçando o travesseiro.
-Como soube? - Anne perguntou, olhando para as próprias mãos. Não devia se espantar, afinal em um lugar pequeno como aquele, as notícias voavam como rastro de pólvora.
-Roy me contou. - Diana lhe revelou.
-Você também sabia sobre minha mãe? - Anne perguntou, encarando a amiga.
-Eu sabia o que todo mundo comenta. Eu era muito pequena quando tudo aconteceu. - a garota morena explicou, cruzando as mãos no colo.- E quando vocês vieram para cá depois de todos esses anos, fomos proibidos de tocar nesse assunto pelo Tio John.
-Eu devia ter imaginado.- Anne disse, balançando a cabeça.
-Se te consola, eu nunca acreditei muito no que diziam. Todas as histórias sobre a tia Bertha não combinavam nem um pouco com o que eu conhecia dela.
-Parece que as outras pessoas dessa fazenda não pensam da mesma maneira. Principalmente o dono dessa casa.- Anne disse com certo sarcasmo que fez Diana perguntar:
-E o Gil? Ele me contou que estava chateada com ele. Você sabe que ele jamais apoiaria Winnie em toda essa situação. - Diana falou, olhando-a diretamente para Anne.
-Ele também não ficou do meu lado. Não me contou o que sabia desse assunto, e me deixou sozinha para enfrentar aquela loira azeda sem ter como me defender, já que eu não tinha ideia de toda essa situação, envolvendo minha mãe. - Anne respondeu, se sentindo amargurada.
-Anne, você tem que entender que é difícil para o Gil. Ele fica dividido nessa situação, mas não quer dizer que ele não te ame. - Diana a aconselhou, mas Anne não disse nada. Ela sabia que a prima de Gilbert tinha razão, mas não queria se desarmar ainda. Precisava de mais tempo até que aquela sensação ruim saísse de dentro dela.
-Que tal se déssemos uma volta? - a morena sugeriu, depois de alguns minutos de silêncio entre elas.
- Não estou com vontade de sair. - Anne recusou no mesmo instante.
-Nós vamos sair sim. Ficar trancada nesse quarto não vai resolver seus problemas, Anne. Vamos sair por aí. Caminhar um pouco, andar a cavalo. - Diana disse, e de repente Anne sentiu falta de Caramelo. Ela imaginava que algum funcionário teria cuidado dele naqueles dias em que ficara afastada, mas ainda assim se preocupava com seu amigo selvagem.
-Está bem. Mas só uma volta à cavalo. Não quero ficar esbarrando com ninguém dessa família. - Anne respondeu.
Em poucos minutos estava pronta, e acompanhou Diana até o estábulo. Quando Caramelo a viu, ele relinchou, agitando seu rabo como se estivesse reconhecendo Anne que se aproximou dele e disse, afagando a crina volumosa do animal.
-Olá, Caramelo. Pensei que tinha se esquecido de mim.
-Ele não poderia te esquecer, porque te ama como eu.- a voz de Gilbert atrás dela, fez Anne parar de respirar por um segundo. Depois, olhou em volta à procura de Diana, e não encontrando a prima do rapaz, ela entendeu o que estava acontecendo ali.
- Você combinou tudo com a Diana, não foi?- Anne disse, ainda sem se virar, buscando coragem para encarar o rapaz.
-Eu tive que fazer isso, já que você não quer falar comigo.- Gilbert disse, e a respiração dele dançou entre seus cabelos, fazendo Anne perceber o quanto ele estava próximo, e como a presença dele fazia seu estômago se contrair, e seu coração disparar as batidas. Aquilo era tortura, pois ela queria sair correndo dali e ao mesmo tempo queria ficar, e fazer exatamente o que ambos desejavam.
-Eu ainda não quero falar com você. - Anne disse teimosamente se recusando a ceder.
-Por favor, Anne. Vamos resolver isso de uma vez por todas. - Gilbert pediu. - Esse gelo que está me dando há cinco dias está me deixando maluco. Porque não me diz logo o que quer me dizer, a gente discute, e depois faz as pazes. - Gilbert a fez se virar para ele, e Anne quase riu ao pensar que ele deveria mesmo estar desesperado para lhe propor tal coisa, mas então se lembrou porque estava magoada com ele, e se manteve séria, sem deixar que ele percebesse nada em sua expressão neutra. Porém, quando ele estendeu a mão para tocar seu rosto, ela disse:
-Eu não disse que podia me tocar. - o olhar que Gilbert lhe lançou estava magoado, mas ele assentiu e deixou a mão cair ao lado do corpo em sinal de rendição. Eles se enfrentaram por alguns segundos olho no olho, mantendo uma distância mínima que podia ser vencida facilmente se Anne desse o primeiro passo, mas ela não deu, e Gilbert disse por fim.
-Venha, vou te levar a um lugar que sei que ama.- Gilbert caminhou para fora do estábulo, enquanto Anne se perguntava se devia segui-lo, mas a expressão do rapaz lhe dizia que não ia aceitar que ela lhe dissesse não daquela vez, por isso decidiu não dificultar mais ainda a situação. Assim, ela caminhou lado a lado com Gilbert, e perguntou quando percebeu que estavam seguindo para onde o rapaz tinha estacionado sua Ferrari:
-Para onde vai me levar?- ele lhe sorriu de leve e respondeu:
-É uma surpresa. Achei que precisava sair um pouco daquele quarto.
Eles entraram na Ferrari de Gilbert, e enquanto dirigia, ele lhe lançava olhares furtivos que Anne fingia não notar, mantendo seus olhos presos em outro lugar qualquer.
Toda aquela frieza de Anne, deixava o rapaz chateado. Ele tinha planejado aquele passeio de forma diferente, e pensara que já teriam feito as pazes naquela altura. Mas subestimara a capacidade de Anne de ficar longe dele depois de tudo o que acontecera entre eles. Ela era sem dúvida mais resistente que ele, que não via a hora de tê-la de novo em seus braços.
O casal chegou ao seu destino em pouco tempo de viagem, e quando Anne viu onde Gilbert tinha estacionado o carro, ela se virou surpresa para o rapaz e disse:
-O circo da minha infância! Você ainda se lembra disso?- o sorriso maravilhoso que ela lhe deu, compensou todo o infortúnio daquela semana, fazendo-o responder:
-Como se eu pudesse esquecer. Você amava tanto isso aqui, que me fazia trazê-la todas as semanas. E depois me lambuzava de algodão doce e maçã do amor, quando me pedia para carregá-la de um lado para outro porque estava cansada.- ele franziu o nariz, e Anne riu, dizendo:
-Você nunca reclamou disso.
-Eu nunca reclamei porque eu já te amava como amo agora. - Gilbert pegou a mão de Anne na sua, mas ela a soltou e falou:
-Podemos entrar? - Gilbert concordou com um meneio de cabeça.
Enquanto entravam na arena do circo, ele pensava que era a segunda vez que se declarava para Anne naquele dia, e ela não respondia de volta, deixando-o completamente inseguro acerca do comportamento dela. Anne estava acabando com ele, e tinha que tirar o chapéu para ela, pois nunca nenhuma mulher o fizera suar a camisa daquele jeito para conseguir o perdão dela como Anne o estava forçando-o a fazer.
Eles se sentaram lado a lado na arquibancada, e embora suas mãos formigassem de vontade de segurar as de Anne entre as suas, Gilbert não o fez. Ele estava sofrendo fisicamente a falta dela, mas não queria impor a ruivinha o seu toque quando ela mesma lhe dissera naquele dia, que não queria que ele a tocasse.
Por isso, se conformou em ouvi-la gargalhar em alguns momentos do espetáculo, dizendo a si mesmo que aquele era o som mais lindo que já tinha ouvido. Admirando o perfil dela, sua maneira de atirar os cabelos para trás, o jeito de descansar o rosto nas mãos, e a luz que via naqueles olhos, lhe lembrando a garotinha de tranças ruivas que sempre morara em seu coração.
Ao fim do espetáculo, Gilbert perguntara a Anne se ela queria maçã do amor para relembrar os velhos tempos, mas ela recusou, dizendo que preferia voltar para casa, deixando o rapaz mais uma vez desapontado por frustrar todos os seus planos para aquela noite. No meio do caminho para Terracota, Gilbert mudou o itinerário. Ele não se conformava de o passeio terminar como tinha começado, por isso, levou Anne até uma clareira, onde ele sabia que aquela hora não havia ninguém, pois já estava anoitecendo. E em Terracota, não teriam a privacidade que precisavam para conversar como queria.
-Por que parou aqui, Gilbert?- Anne perguntou, olhando para o rapaz desconfiada.
-Porque precisamos conversar e aqui você não pode fugir de mim. - ele disse, abrindo o cinto de segurança e se virando para Anne para encará-la de frente.
-Não temos nada para conversar. - ela disse, evitando de se perder naqueles olhos verdes intensos.
-Temos sim. Você me evitou a semana toda, não me deixa chegar perto de você e nem respondeu a nenhuma das minhas mensagens. Está me culpando por algo pelo qual não tenho responsabilidade nenhuma.- ele disse, chegando mais perto, enquanto Anne se encolhia no banco do carro, não querendo nenhum contato físico com ele, ou estaria tudo perdido.
-Você me magoou, Gilbert. Ficou do lado da Winnie quando eu mais precisei de você. - ela disse cheia de raiva.
-Eu não fiz isso, e você sabe disso.- Gilbert respondeu, começando a se irritar com a teimosia de Anne.
-Se tivesse me contado o que sabia sobre a minha mãe, eu não teria sido humilhada daquela maneira. - ela disse com os olhos cheios da mágoa que carregara a semana inteira.
-Eu posso ter errado, Anne. Mas eu queria te proteger dessa sujeira toda. Não pensei que com isso acabaria te magoando da mesma maneira . - Gilbert respondeu, se aproximando mais um pouco, e Anne se encolheu ainda mais, que em seguida disse com mais raiva ainda e a voz alterada:
-Mas magoou. Não importa a intenção, e sim o resultado.
-E o que quer que eu faça? Que eu me arraste a seus pés até que tire a última gota de sangue das minhas veias para que só então possa me perdoar? - Gilbert falou com o tom de voz também alterado. Mais um pouco, e estariam gritando um com o outro.
-Eu não estou te pedindo nada. Aliás, eu não quero nada, nem de você e nem de sua família! - Anne sibilou as palavras entre dentes. Sua respiração estava descompassada, seus pensamentos a mil, e dentro de seu peito amor e raiva se misturavam de um jeito que ela sentia que estava a ponto de explodir. Ela não queria discutir com Gilbert, mas tudo indicava que era isso que iria acabar acontecendo se ele insistisse naquela conversa.
-O que? Você ouviu o que acabou de me dizer? A uma semana atrás estávamos fazendo planos de ficarmos juntos, e agora você me diz que não quer nada de mim? Que espécie de amor você diz sentir por mim, que quer abandonar tudo na primeira dificuldade?!- a ira na voz dele era inquestionável, por isso Anne respondeu na mesma vibração:
-E que amor você diz sentir por mim que deixa outra mulher me atacar e não faz nada para me defender?!
-Por que você tem que ser totalmente irracional?- Gilbert falou, encarando-a completamente zangado.
-E por que você tem que ser um arrogante insensível? - Anne rebateu com seus olhos azuis faiscando de raiva.
-Não me chame de arrogante!- Gilbert pediu no limite do seu controle.
-Então não me chame de irracional!- Anne respondeu, sentindo seus músculos dos ombros tão tensos que chegavam a doer.
A tensão entre os dois era palpável, não havia como não perceber. Por um segundo, apenas se encararam, medindo forças, desafiando, provocando, zangados um com o outro, mas não menos apaixonados ou entregues aquele sentimento que vibrava no ar entre eles, e o qual não conseguiriam negar, nem que o desejassem.
Então, eles se moveram juntos, a uma velocidade que surpreendeu a ambos, enquanto suas bocas se colavam em um beijo desesperado, louco de saudade e cheio de desejo, queimando como brasas vivas em uma fogueira, alimentada pela distância de cinco dias exatos sem toque nenhum.
Anne soltou seu cinto de segurança, e se jogou nos braços de Gilbert, se acomodando sobre o colo dele, ao mesmo tempo em que suas bocas continuavam em sua briga por mais beijos famintos que não cessavam um minuto sequer, até que não puderam mais respirar e se separaram pela falta de oxigênio.
Contudo, Anne transferiu seus lábios para o pescoço masculino, enquanto seus dedos pequenos, buscavam pelo botões da camisa do rapaz que se mantinha de olhos fechados, deixando que sua namorada fizesse o que tinha em mente.
Era a vez dela de explorar, tocar, seduzir, fazer dele seu objeto de profunda adoração. Anne se sentia poderosa, tendo aquele universo masculino inteiro ao alcance de suas mãos. Seus dedos chegaram ao último botão da camisa, abrindo-a completamente, e por um segundo ela admirou a perfeição daquele corpo que levava a sua imaginação a caminhos proibidos e com gosto de pecado.
Assim, ela desceu as mãos pelo tronco do rapaz, abrindo caminho por seus pelos escuros, encontrando um mundo de delícias em seu abdômen trincado. Ela fez com que Gilbert inclinasse mais o banco para que ela pudesse ter mais espaço para tocá-lo, e quando o rapaz o fez, seus lábios encontraram a pele quente e palpitante, onde ela distribuiu beijos sedutores e irresistíveis.
Embaixo dela, Gilbert só conseguiu suspirar ao sentir os lábios rosados traçando um caminho de fogo por todo o seu corpo. Incapaz de ficar parado, ele levou as mãos aos quadris de Anne, acariciando o bumbum dela em movimentos sucessivos, subindo as mãos até encontrar a barra da camiseta dela, fazendo Anne retirá-la rapidamente, exibindo sua pele clara em um sutiã de renda preta. Em seguida, ele partiu para outra peça de roupa que era a calça jeans que ela usava, e com extrema habilidade, mesmo na posição difícil em que se encontrava, Gilbert conseguiu fazer Anne tirá-lá ficando apenas de lingerie, sentada em seu colo em uma visão tão sedutora, que o rapaz quase inverteu a posição em que estavam, para sentir de novo o gosto da pele dela na ponta da sua língua.
No minuto seguinte foi a vez de Anne de livrá-lo da calça jeans, e quase perdeu o fôlego ao observar seu namorado apenas de boxer preta, enquanto a luz natural do lado de fora iluminava seu dorso masculino, fazendo-a pensar por um instante como o trabalho braçal da fazenda fazia bem ao corpo de Gilbert, que tinha tudo no lugar certo, músculos salientes e fortes, definição em todos os lugares que seus olhos conseguiam alcançar.
Luxúria era a palavra certa para descrever Gilbert naquele momento, enquanto ela o tocava cada vez mais intimamente. Ele mantinha os olhos presos nos seus, mordendo o lábio inferior em alguns momento quando o toque dela chegava a um ponto onde lhe causava mais prazer.
Ele estava delirando com aquela deusa ruiva sobre o seu corpo, sentindo sua excitação crescer junto com seu desejo de tocá-la também, e sem que ela esperasse, ele a fez mudar de posição, arrancando o sutiã dela, e também sua calcinha de renda. O corpo dela vibrou quando os lábios dele encontraram seus seios, sugando-os até que ela gemesse, afundando as unhas nos músculos das costas dele.
Então, Gilbert abandonou os seios de Anne, descendo os lábios pelo tronco dela da mesma forma que ela fizera com ele, sentindo-a se agitar, sussurrar o nome dele e fechar os olhos com força conforme as carícias iam se tornando mais intensas.
Não suportando mais o calor em seu corpo que ia se alastrando por toda a parte , como se um grande incêndio estivesse acontecendo ali, Anne levou as mãos a boxer de Gilbert, puxando-a para baixo. Então, a masculinidade dele surgiu diante dela, forte e pulsante, roubando o que lhe restava do oxigênio em seus pulmões. Sentindo a mesma necessidade que a dela, Gilbert pegou a proteção no porta luvas do carro, a colocou, e sem tirar os olhos dos dela, o rapaz a possui fazendo-a ofegar ao sentir toda aquela intensidade e energia dentro de si.
Assim a dança dos sentidos começou sem que nenhum dos dois tivesse controle, pois era como se seus corpos tivessem vida própria e comandassem o ritmo, e eles apenas os seguissem, aumentando a velocidade cada vez mais. Para sentir Gilbert mais perto, ela o enlaçou pela cintura, enquanto ele tornava a beijá-la, sentindo que o êxtase estava perto. E então seus corpos explodiram em movimentos desordenados até que uma onda gigantesca de volúpia os engoliu, deixando- os quase desfalecido um sobre o corpo do outro.
-Estou perdoado?- Gilbert perguntou um tempo depois, ainda abraçado a Anne.
-Está sim. - ela disse sorrindo.
-Então, valeu a pena fazer as pazes. - ele disse com humor, acariciando as costas dela. - Ainda me acha um insensível arrogante?
-Não. O que eu acho é que meu namorado é sexy, gato, e muito gostoso.- ela respondeu, mordendo de leve o lábio inferior de Gilbert.
-Sabe o que eu acho de você, minha namorada?
-Não - ela disse, olhando-o com curiosidade.
-Então, vou matar sua curiosidade. - ele respondeu, aproximando os lábios do ouvido direito de Anne.
E na próxima meia hora, Gilbert se encarregou de dizer a Anne tudo o que pensava sobre ela, deixando-a envergonhada em vários momentos, enquanto lá fora nenhum barulho se ouvia a não ser o da brisa suave, que vez ou outra passava pela janela do carro, e brincava nos cabelos ruivos, assim como o riso cristalino dela ecoava noite adentro.
Olá, pessoal. Capítulo postado. Boa leitura.
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