Capítulo 18 - Ao pôr do sol
ANNE E GILBERT
Era manhã de domingo e Anne acabou acordando antes que todos na fazenda. Assim que o sol se tornou um astro brilhante no céu, ela atirou a coberta de lado e correu para a janela para dar um sorriso de bom dia àquele cenário esplendoroso. Ela ainda não sentia que Terracota era seu lar, mas estava tão feliz que não cabia em si, e os últimos dias ao lado de Gilbert eram responsáveis por isso.
John prolongara sua viagem por mais uma semana, e a casa era apenas de Anne, Gilbert e Ruby, e um bando de empregados que nos fins de semana eram dispensados, e apenas a cozinheira era mantida para fazer as refeições da família. Mas naquele fim de semana, Gilbert lhe dera folga também, por isso a alimentação dos moradores da casa ficou por conta do jovem casal que não se importava de dividir essa tarefa doméstica, desde que pudessem fazê-la juntos.
Para aumentar a animação de Anne, naquele domingo, Ruby também tinha saído. Ela fora passar o fim se semana na fazenda de Diana, assim ela e Gilbert poderiam ficar juntos o tempo todo e não precisariam se esgueirar pelos corredores da casa para trocarem beijos e carícias, e demonstrarem o que sentiam um pelo outro. Pois, uma vez que tinham combinado de manter aquele namoro em segredo por certo tempo, eles não podiam deixar que nem mesmo os empregados desconfiassem que seu relacionamento agora era outro.
De certa forma, para Anne aquilo tudo não deixava de ser excitante. Ela gostava da ideia de não estarem sobre a vigilância ou julgamento de ninguém, de poderem manter seus sentimentos ocultos até quando pudessem estar sozinhos, e deixar que seus corações falassem por eles, tornando cada emoção e sentimento mais intenso pela falta que sentiam um do outro quando tinham que fingir que eram apenas primos por conveniência.
Porém, ela entendia que Gilbert não pensava da mesma maneira. Para ele era penoso ter que esconder o que sentia por ela de todo mundo. O rapaz lhe falara várias vezes que não se sentia confortável diante daquela situação, e que enfrentaria o mundo para que pudessem viver seu sentimento às claras. Ele era honesto demais para mentir, Anne tinha que admitir, e estar disposto a fazer isso, indo contra o que acreditava ser correto, apenas porque ela lhe pedira era para Amne uma prova mais do que concreta de que os sentimentos dele por ela eram fortes e verdadeiros, e ela se sentia da mesma maneira em relação a Gilbert.
Estavam vivendo momentos incríveis. Era maravilhoso sentir que se harmonizavam, apesar de ambos serem teimosos e terem um temperamento forte e baterem de frente muitas vezes, porém no final se entendiam, com beijos e carinhos ternos, eles se perdoaram e se preparavam para o próprio round, porque sempre haveria a próxima vez que discordariam, tentariam mostrar um ao outro quem tinha razão, e no fim acabariam no sofá da sala ou no quarto de ambos no maior amasso, provando a si mesmos que não conseguiam mais ficar longe um do outro.
O que Anne apreciava demais era que não havia monotonia entre eles. Além de lindo de morrer, Gilbert Blythe era extremamente divertido. Ela se espantava com seu bom humor, contrastando imensamente com homem autoritário e carrancudo que ele fora no passado. Quando Anne chamava a atenção dele para esse fato, o rapaz dizia que ela fora a culpada por ele ter vivido no limite da paciência nos últimos meses, porque o deixava tão fora de si que acabava agindo de um jeito que não era o seu. Anne respondera que ele também não contribuia para que ela ficasse tranquila, querendo mandar nela, como se ela fosse uma garotinha sem vontade própria, e assim ambos tentavam provar seu ponto de vista quando em seu íntimo sabiam que tanto um quanto outro estava certo, mas não dariam o braço a torcer pelo simples prazer da provocação.
Anne ficou um bom tempo na janela admirando a vista e pensando nos últimos acontecimentos, se sentia tão viva que seu coração chegava a dar pulos de alegria, e sua mente a deixava um um estado de graça, que era quase como se tivesse asas e pudesse voar o mais alto que almejasse. Estar apaixonada por Gilbert fazia isso com ela, era uma sensação boa de liberdade que lhe fazia muito bem, pois tinha a sensação que antes de descobrir seus reais sentimentos por Gilbert ela nunca fora livre para amar daquela maneira, apenas pensando em si mesma e deixando todo o resto do lado de fora.
Desde muito cedo, ela tivera responsabilidades demais. Com a doença da mãe que a atingiu de forma penosa, Anne acabou por ser responsável pela casa e a educação de Ruby, pois seu padrasto estava ocupado demais com o trabalho para conseguir cuidar de tudo sozinho. Não que estivesse reclamando, pois ela fizera tudo com prazer e amor, tentando retribuir tudo o que William fizera por elas em todos aqueles anos. Mas Anne tivera que amadurecer muito cedo, e deixar seus sonhos juvenis para mais tarde quando estivesse por sua própria conta para realizá-los. O destino resolvera isso por ela, e a trouxera de volta para o único lugar que amara de verdade e para os braços do rapaz que fizera parte de suas fantasias infantis.
Anne saiu da janela, e pensou no que prepararia para o café da manhã. Gilbert ainda devia estar dormindo, então essa tarefa ficaria apenas por sua conta. Na verdade, ela não se importava, pois queria surpreendê-lo com algo que ele gostasse e preparado especialmente por ela. Um grande sorriso cruzou o seu rosto enquanto se vestia e descia as escadas em direção a cozinha. Sozinha com Gilbert naquele casarão, ela podia facilmente imaginar que estavam casados e vivendo felizes naquele lugar maravilhoso. Anne sabia que era uma fantasia tola de uma garota loucamente apaixonada, mas não deixava de ser romântico mesmo que não se realizasse.
A cozinha estava quente, por isso Anne abriu as janelas e deixou que o ar fresco matinal arejasse todo o ambiente. Depois foi até a geladeira, pegou os ingredientes para fazer panquecas do jeito que sua mãe preparava, e que era como Gilbert gostava, colocou uma seleção de músicas no celular e começou a trabalhar devagar, prestando atenção em cada detalhe da massa ou a receita não daria certo.
Ela não percebeu que Gilbert também já tinha se levantado com a mesma intenção que ela tivera em preparar o café da manhã, e estava parado na porta observando-a se mover pela cozinha com delicadeza, e totalmente concentrada no que estava fazendo.
Ele estava vivendo um sonho do qual não queria acordar. Anne trouxera tantas coisas para sua vida, que ele não conseguia descrevê-las com exatidão. Saber que ela estava tão perto e que ele podia tê-la em seus braços quando quisesse era o máximo da felicidade que esperara alcançar. Nem a sensação inebriante da vitória quando montava um cavalo lhe causava tanto prazer. Conquistar a confiança e o coração de Anne, foi o melhor prêmio que pudera receber, e o qual queria manter em sua vida para sempre se ele pudesse tivesse o privilégio de fazê-la sua esposa e criar uma família com ela. Ele andara pensando nisso, embora ainda não tivesse conversado com ela sobre isso. Anne era jovem, e queria ir para a faculdade, e nem em sonhos Gilbert a impediria de conquistar o que desejava. Ele podia esperar, e não tinha pressa. Queria viver com ela tudo o que pudesse e quando chegasse a hora e sentisse que era isso que ela também queria, ele faria o pedido e então seguiriam suas vidas um ao lado do outro.
Gilbert se aproximou devagar dela para não assustá-la, e porque assim podia ter uma visão completa de Anne de costas. Os cabelos estavam soltos como ele gostava, e ela vestia um par de shorts jeans curto, e um top verde que exibia metade da pele aveludada da barriga. Aquela visão para Gilbert era celestial, e tentava controlar seus instintos antes que o levassem para o caminho perigoso do desejo, onde ele sabia que seu controle era precário. Ele nunca tivera problemas em se segurar em situações assim antes, mas com Anne tudo era duplicado como se qualquer coisa que viesse dela agisse em seu cérebro como um estimulante. O rapaz se perguntava o motivo de tanta paixão incubada, e levantou uma questão para si mesmo.
Ele se perguntou se o fato de ela nunca ter sido tocada intimamente por outro homem era a principal razão de desejá-la o tempo inteiro? Ele nunca fora um rapaz conservador, e conhecia o suficiente do mundo para entender que as coisas tinham mudado, e que mulheres e homens eram iguais em questão de relacionamentos, e não se importaria se Anne tivesse tido outros relacionamentos íntimos.
A verdade que encontrou no fundo de sua mente foi que a desejaria do mesmo jeito, porque ela era a garota que esperara por toda a vida, e a quem tivera a sorte de conhecer ainda menina, mesmo que naquele tempo algo desse tipo nunca tivesse passado por sua cabeça. Não imaginara que se apaixonaria por ela quando fossem mais velhos, e nem que seria correspondido da mesma maneira. Eles eram tão diferentes e tão iguais em suas almas que Gilbert não tinha dúvidas que Anne era o amor da sua vida.
Ele chegou mais perto, e ouviu a cantar com sua voz melodiosa, seguindo corretamente a entoação e o ritmo da música que tocava em seu celular. Assim, Gilbert a abraçou pela cintura, e sorriu de leve ao perceber o coração dela se acelerar. Anne podia não dizer em palavras como se sentia quando ele a tocava, mas o corpo dela nunca mentia. O rapaz olhou para o ombro dela exposto pela alcinha do top que ela usava, e a pele acetinada ali lhe chamou a atenção. Por isso, sem pensar mais, ele abaixou a cabeça e mergulhou seus lábios naquela região, deixando beijos e mordidas de leve que fizeram Anne sentir seu corpo reagir de forma intensa. Ela tentou disfarçar, mas o suspiro alto saiu de seus lábios antes que percebesse, servindo quase como um afrodisíaco aos ouvidos de Gilbert, incentivando-o a continuar.
As pernas de Anne amoleceram e ela se sentiu envergonhada por não saber como controlar suas reações ao toque de Gilbert. Talvez sua inexperiência fosse a culpada, porque nunca se envolvera em algo tão forte assim, e pelo jeito Gilbert estava usando isso a seu favor, pois ele sabia exatamente o que fazer para deixá-la totalmente nas mãos dele.
-Gilbert.- ela o chamou, tentando se livrar do abraço dele ao perceber que os lábios do rapaz estavam indo direto para seu pescoço, e se isso acontecesse ela estaria perdida.
-Seu perfume me deixa louco. - ele disse, passando a ponta do nariz pelo pescoço de Anne, fazendo a pele dela inteira se encher de arrepios. Ela queria que ele parasse, pois não estava conseguindo se concentrar e não conseguia pedir a ele que parasse, pois precisava terminar de preparar as panquecas, mas ao mesmo tempo, ela não era isso que o corpo dela desejava.
Anne se virou de frente, não aguentando mais não olhar para Gilbert, e quando o fez sua respiração falhou por dois segundos. Os cabelos dele estavam bagunçados e cheios de cachinhos tão definidos que ele mais parecia um anjo saído de um quadro de Michelangelo. Mas a comparação terminava ali quando ela via o sorriso malicioso, e os olhos brilhando de uma luxúria que a contagiava totalmente.
Ela desceu os olhos pelo peito masculino, desnudo como ele gostava de andar pela casa quando não estava trabalhando, e mordeu o lábio inferior enquanto pensava que Gilbert sabia bem usar seus atributos físicos para seduzi-la, pois lá estava ela sendo totalmente monopolizada por ele, enquanto sua mente criava fantasias mundanas a respeito do rapaz.
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-Bom dia, cenourinha. - ele disse com a voz um tanto rouca, esfregando a ponta do nariz no dela. Ele a estava quase beijando, mas uma ideia marota passou pela cabeça dela, e quando a boca dele estava quase tocando a dela, para brincar com ele, Anne passou as mãos sujas de farinha pelo peito dele, fazendo Gilbert dar um passo para trás olhar para si mesmo, depois fixar os olhos em Anne e dizer:
-Então, você quer guerra, é? Guerra por um beijo?- Anne se preparou para correr quando viu Gilbert sujar as mãos de farinha e se aproximar dela, porém antes que a alcançasse, ela saiu correndo pela porta da cozinha, passou pela sala de jantar enquanto ouviu Gilbert dizer atrás dela:
-Eu vou te pegar. Você não vai conseguir escapar de mim.
-Eu quero ver se consegue, Blythe. Eu corro mais rápido que você. - Anne disse rindo. Nem ela acreditava nisso, mas era divertido ver Gilbert trabalhar para conseguir um beijo dela.
-Isso é um desafio, cenourinha? Não cansa de perder para mim?- ele disse também rindo, se divertindo assim como ela, fazendo-o se lembrar da infância de ambos quando viviam competindo por tudo. Anne só tinha dez anos, mas jurava que podia vencê-lo em qualquer coisa. Às vezes Gilbert a deixava vencer, apenas para que ela se sentisse bem consigo mesma, e porque desde aquela época ele detestava vê-la triste.
-Isso podia acontecer quando eu era criança, mas não agora que sou adulta.- Anne respondeu, passando pela sala de jantar na maior velocidade.
-Você se esqueceu de ontem a noite quando estávamos jogando cartas, e eu ganhei de você três vezes seguidas?- Gilbert respondeu, continuando no mesmo ritmo atrás dela.
-Aquilo foi apenas falta de sorte, e você roubou na terceira rodada.- eles estavam correndo pela lavanderia, e Anne sabia que não ia conseguir manter o mesmo ritmo por muito tempo, mas não desistiria de jeito nenhum.
-O que? Está me acusando de trapaceiro? Só por isso vai ter que me dar o dobro dos beijos para compensar essa afronta. - Gilbert respondeu se fingindo de ofendido.
Assim, como duas crianças, eles correram pela casa, relembrando os velhos tempos quando nenhuma preocupação parecia incomodar suas mentes, e os planos para o futuro ainda não tinham tomado forma, como se nada pudesse atrapalhar a paz e a harmonia naqueles momentos em que estavam vivendo, porém esse pensamento provou ser totalmente equivocado quando um único fato fora do contexto culminou com a partida da família de Anne de Terracota, e a alegria que tinham conhecido naquele tempo se extinguiu totalmente.
Anne conseguiu alcançar a cozinha, mas assim que entrou, Gilbert a segurou pelo pulso e disse, ao mesmo tempo em que a puxava em direção a ele:
-Te peguei!
-Sim. - Anne respondeu, sorrindo.
-Você sabe que vou te fazer pagar pelo que me disse a pouco. - o rapaz disse, encostando Anne na geladeira, e prendendo-a com seu corpo.
-E como pretende me fazer pagar?- ela perguntou, fingindo que não sabia, mas no fundo sentindo-se muito ansiosa por ter os lábios dele nos seus. Com um daqueles sorrisos sacanas que Anne aprendeu a gostar, pois sabia que algo excitante passava pela cabeça do rapaz, ele desceu sua boca sobre a dela, em uma beijo faminto que tirou o fôlego de Anne em três segundos. As mãos dele desceram de sua cintura para o seu bumbum, onde ele subiu e desceu seus dedos fortes, apertando-a de vez em quando contra si, fazendo-a perceber o quanto ele estava ficando excitado com aquele breve contato entre eles. O beijo se tornou mais exigente, e Anne aproveitou para envolver o dorso do rapaz em um abraço apertado onde ela conseguia sentir os músculos das costas dele em seus dedos.
Era delicioso aquele contato do corpo dele colado no seu, sendo também uma tortura, pois Anne sabia o que queria, e não se importaria que tudo aquilo terminasse no quarto do rapaz. Mas todas as vezes em que ela tentava avançar o limite dos dois, Gilbert a barrava, dizendo que não era para acontecer daquela maneira. Anne estava ficando impaciente, porque o amava e queria que pudessem ter um relacionamento completo, e nesses momentos Gilbert a chamava de apressadinha e lhe pedia para ter só mais um pouco de paciência, pois ele estava preparando algo especial para os dois.
Gilbert terminou o beijo quando Anne estava a um passo de arrastá-lo para o quarto dela. Ele a manteve abraçada a ele enquanto Anne se sentia meio desnorteada com suas emoções totalmente agitadas e sem controle. Gilbert por fim a soltou, entrelaçando suas duas mãos nas dela ao mesmo tempo em que dizia:
-Quer fazer alguma coisa diferente mais tarde?
-Claro , o que quiser. - Anne disse, fixando seu olhar no rosto dele.
- Você me disse que queria ver seu avô outro dia, e eu estava pensando que poderíamos dar uma passada pela casa dele mais tarde, e depois poderíamos fazer um piquenique no lago.
-Seria perfeito. Faz tanto tempo que não falo com o vovô Matthew. Obrigada por sempre pensar em tudo. -Anne o beijou no rosto, e encostou a testa na dele, enquanto o ouvia dizer:
-Eu quero que se sinta bem aqui, e farei tudo o que estiver ao meu alcance para que isso aconteça.
-Eu me sinto bem com você. - Anne respondeu suspirando.
-Mas eu também quero que se sinta bem nessa casa e nessas terras. - Gilbert insistiu., beijando-a na testa.
-Por que isso é tão importante? Eu estou aqui com você e isso é tudo o que desejo.
-Porque eu quero te devolver tudo o que foi tirado de você quando sua família deixou Terracota. Quero que volte a confiar nesse lugar e acredite que ele te ama como a filha perdida que um dia partiu, mas que agora está de volta para ocupar seu lugar de direito..
Anne apenas balançou a cabeça e sorriu. Cada vez que Gilbert falava daquela maneira, ela acabava se emocionando, e tentando não deixar que seu coração a traísse de novo. O que seu namorado não entendia era que não era difícil para ela se sentir em casa de novo ali em Terracota, e que mesmo com algumas mágoas em seu coração, ela se apaixonaria por aquelas terras em um piscar de olhos, porque aquele lugar único nunca saíra de verdade de seu sangue. Mas Anne sabia que não poderia ficar. John Blythe não a suportava e a comunidade local nunca a olharia com bons olhos por causa de sua mãe, e mesmo tendo plena consciência do quanto injusto tudo aquilo era, não havia nada a fazer a não ser descobrir o que sua mãe fizera de tão grave para que toda sua família fosse condenada por isso.
-Então é por isso que não consigo falar com você todos esses dias.- a voz de Diana fez Anne tentar soltar a mão de Gilbert, mas ele não deixou, e ainda a puxou para seu braços enquanto a prima olhava para os dois com um sorriso divertido nos lábios.
-Desculpe, Diana. Eu devo ter esquecido meu celular desligado.- Anne disse, se sentindo envergonhada pela amiga tê-la pego naquela situação com Gilbert.
-Meu Deus! O que andaram fazendo? Por acaso rolaram na farinha juntos?- Diana apontou para Anne e Gilbert que tinham as roupas e partes do corpo cobertas pela substância branca que Anne estava usando para fazer as panquecas.
-Estamos fazendo panquecas para o café da manhã. -Gilbert respondeu com a maior naturalidade do mundo, e Anne o invejou por sua capacidade de lidar com todas situações sem se alterar.
-Tem certeza que é só isso que estão fazendo?- Diana perguntou, continuando a rir da expressão constrangida de Anne.
-O que está insinuando, Diana?- Gilbert perguntou com um dos seus melhores sorrisos debochados.
-Bom, eu ia perguntar se estão juntos, mas acho que já tive minha resposta.- ela respondeu, olhando significativamente para a maneira como Gilbert abraçava Anne.
-Estamos namorando. - o rapaz anunciou com um sorriso largo no rosto.
-Eu sabia que vocês acabariam juntos . Estou tão feliz por vocês.
-Só pedimos que guarde segredo, Diana. Ninguém pode saber ainda que estamos juntos.- Anne pediu.
-Claro. Não se preocupem. Podem contar comigo para ajudá-los no que for preciso.- a morena afirmou, e Anne se sentiu grata por ter uma amiga tão leal quanto Diana.- Bem, agora que tenho certeza que minha amiga está sendo bem cuidada, vou para a casa da Josie . - Diana disse depois de dar uma piscada maliciosa para Anne.
-Não quer ficar para o café da manhã com a gente?- Gilbert a convidou.
-Eu já tomei café primo. Fica para outra vez. Espero que se divirtam com juízo. - ela deu outra piscada e se foi, deixando o jovem casal na companhia um do outro.
- Você está preocupada. - Gilbert disse ao ver o olhar que Anne lhe lançou.
-Sim, mas não com Diana. Eu sei que ela vai guardar segredo. O problema seria se outra pessoa tivesse entrado e pego a gente nessa situação. - Anne disse, pensando em John ou Winnie.
-Eu te disse que não gosto de fazer nada escondido.- Gilbert a lembrou, tocando o queixo dela com o polegar.
-Eu sei, mas por enquanto precisa ser assim.- Anne explicou, vendo certo desapontamento nos olhos de Gilbert.
-Tudo bem. Não vamos ficar pensando nisso. Por que não terminamos as panquecas, tomamos nosso café da manhã e nos preparamos para passar o dia juntos?- ele sugeriu com a voz mais alegre. Anne assentiu, e assim em pouco tempo estavam sentados juntos na mesa do café da manhã, saboreando as panquecas de sua infância à moda Bertha.
Um tempo depois, enquanto Anne se arrumava para o passeio, Gilbert preparou a cesta do piquenique, e quando a ruivinha voltou para o andar de baixo vestindo shorts e camiseta por cima do biquíni, o rapaz já tinha tudo pronto para o passeio.
-Pronta?-ele perguntou, estendendo a mão para Anne na qual ela entrelaçou seus dedos.
-Sim.- Anne respondeu, seguindo Gilbert até o carro dele.
A primeira parada seria na casa do avô de Anne, e logo estavam a caminho da propriedade onde Matthew morava com Marilla. Anne se sentiu um pouco culpada por não os ter visitado nas últimas semanas, mas pretendia reparar essa falta logo, colocando em sua rotina semanal, pelo menos um dia para poder estar com eles.
Ao chegarem à casa de Matthew, o avô de Anne estava costumeiramente sentado na varanda, com uma caneca de café nas mãos em companhia de Marilla. Tantas lembranças daquela cena lhe traziam que Anne sentiu seus olhos úmidos, e uma saudade dolorida a fez pensar na mãe.
-Você está triste. O que foi?- Gilbert perguntou, preocupado com a expressão séria no rosto de Anne.
-Nada. Eu me lembrei da minha mãe. - ela respondeu com um sorriso triste.
-Não gosto de te ver assim.- Gilbert disse, acariciando as bochechas dela com carinho.
-Vou ficar bem. Foi só um momento de nostalgia. Obrigada por se preocupar- ela sorriu, e Gilbert quase a abraçou, mas então ele se lembrou que não podia fazer isso em público, e percebeu que seria difícil controlar seus impulsos em frente a outras pessoas, pois eles eram todos manipulados por seu coração, que o jogavam sempre em direção aquela garota que se tornara em pouco tempo seu único Universo.
-Então vamos falar com seu avô. - ele disse, louco para beijá-la , porém se conteve mais uma vez.
Matthew exibia um sorriso imenso no rosto ao ver Gilbert e Anne se aproximarem e Marilla parecia igualmente encantada.
-Querida, você demorou para vir nos visitar dessa vez. - Matthew disse, ao se levantar de sua poltrona e abraçá-la.
-Desculpa, vovô. Prometo que isso não vai mais acontecer. Eu tive alguns problemas de adaptação, mas agora estou bem.- ela respondeu.
-Você sempre amou Terracota. Por que teve problemas de adaptação dessa vez?- Marilla perguntou com curiosidade depois de abraçar Anne carinhosamente.
-Anne viveu muito tempo na cidade grande. E se esqueceu como era viver em uma fazenda,mas creio que agora ela está reencontrando sua verdadeira essência e voltando para nós. - Gilbert respondeu por ela, e Anne mentalmente o agradeceu. Não queria ter que explicar que estava lutando com questões pessoais que envolviam sua mãe, os Blythes e a comunidade local. Seu avô já tinha sofrido o suficiente com a situação para que Anne acrescentasse mais um fardo ao coração dele. Por isso seu silêncio apenas concordou com o que fora dito por Gilbert, e ela esperava que aquele assunto morresse ali.
-Vamos entrar. Assim podemos conversar mais à vontade. - Marilla sugeriu.
-Claro. - Gilbert disse, e Anne também assentiu.
Como da outra vez, eles foram conduzidos à sala de visitas da casa, e enquanto Marilla se preocupava em preparar um excelente café para eles, Anne, Gilbert e Matthew se envolviam em uma conversa sobre coisas do cotidiano.
-Vocês parecem que estão se dando bem.- Matthew disse de repente, surpreendendo Anne que respondeu:
-Estamos sim.- sentindo o olhar de Gilbert sobre ela. Anne sabia que ele queria que ela contasse a Matthew sobre o relacionamento deles, mas ela tinha medo de deixar que ele soubesse e sem querer aquela situação chegasse aos ouvidos de John Blythe.
-Não que eu esteja surpreso. Vocês sempre se deram tão bem quando eram crianças. Cheguei a imaginar que namorariam e se casariam um dia.- Matthew confessou, e Anne sentiu a mão de Gilbert tocar de leve seu ombro, mas não teve coragem de olhar para o rapaz, pois temia revelar mais do que desejava.
-Eram muito jovens vovô. - Anne rebateu.
-Bobagem. Quando uma pessoa nasce para a outra, a idade é o que menos importa. E vocês dois sempre se olharam diferente. Toda vez que vinham aqui, eu podia perceber a maneira como Gilbert cuidava de você, e como você não o perdia de vista quando ele estava por perto. E pelo que vejo, ele continuava cuidando de você da mesma maneira, assim como seus olhos não mentem que ele continua sendo o herói do seu coração. - Anne sentiu seu coração se acelerar com as palavras do avô. Será que ele sabia o que estava acontecendo entre ela e Gilbert?
-Vovô....- ela ia protestar e dizer que ele estava imaginando uma situação que não existia, mas Marilla chegou naquele instante com seu café cremoso e sua broa de fubá mais deliciosa do mundo, fazendo aquela conversa ser instantaneamente adiada.
Quando se despediram para finalmente irem em direção ao lago, Anne perguntou a Gilbert que naquele momento manobrava o carro para pegarem o outro lado da estrada:
-Acha que ele percebeu alguma coisa?
-Talvez. Matthew sempre foi um homem perspicaz. Não me admiraria se ele soubesse que estamos juntos. - Gilbert respondeu, olhando para ela rapidamente antes de se concentrar na estrada novamente.
-Fico preocupada com essa possibilidade. - Anne disse, observando todo o caminho por onde estavam indo.
-Por que? Seria tão ruim assim se ele soubesse?
-Não seria ruim, mas perigoso. Ele poderia deixar escapar em uma conversa com seu pai.- ela disse, se sentindo tensa com esse pensamento.
-Anne, não acho que Matthew contaria algo assim para o meu pai. Seu avô é um homem muito discreto . Agora, pare de se preocupar, pois quero se divirta comigo e esqueça todo o resto.-Ele falou, esticando a mão direita e apertado a de Anne de leve.
-Está bem..- Era disse sorrindo, logo passando por sua cabeça que com um homem como aquele do seu lado não seria nada difícil fazer o que ele queria.
Logo chegaram ao lago, e assim que arrumaram um lugar para deixarem suas coisas, eles resolveram nadar, pois a água parecia estar com excelente aspecto e propícia para um longo mergulho. Gilbert foi o primeiro a se despir, e depois de apenas ficar de sunga preta, exibindo quase todo o seu corpo nu para a namorada, o rapaz pulou no lago em um salto perfeito, fazendo Anne engolir em seco ao ver tanta beleza exposta em meio a um cenário sem defeitos.
-E então, minha sereia ruiva? Eu estou esperando por você.- o rapaz disse no meio do lago enquanto lhe sorria cheio de charme. Para provocá-lo um pouco, ela se despiu bem devagar, mantendo os olhos de seu tutor e agora namorado sobre ela, enquanto o rapaz não cansava de se dizer o quanto ela era linda em um biquíni azul minúsculo que não chegava a ser um fio-dental, mas lhe causavam mil pensamentos loucos. Ela estava a fim de acabar com sua sanidade, e ele precisava ter uma força de vontade extrema para se manter firme no que tinha planejado para os dois.
Anne mergulhou no lago se aproximou de Gilbert que imediatamente a tomou em seu braços e disse:
-Estava com saudade de te abraçar assim.
-Só ficamos separados por algumas horas. - Anne respondeu, enrolando suas pernas em volta da cintura de Gilbert.
-Não importa. Senti sua falta mesmo assim.- ele afirmou, puxando-a para o beijo que desejara desde que estavam na casa de Matthew. Porém, Anne não deixou que o beijo seguisse em um ritmo calmo, pois assim como ele, sentira falta daquele contato. Inconscientemente, seu corpo foi de encontro ao dele, e como atraídos pelo calor um do outro, eles se colaram, enquanto suas bocas praticamente se devoravam. As mãos do rapaz não paravam de tocá-la, fazendo-a gemer baixinho, ao sentir a ereção dele contra sua intimidade encharcada. A temperatura aumentou ainda mais quando Gilbert abandonou seus lábios para mordiscar-lhe o pescoço, fazendo Anne perder a cabeça, e descer seus dedos até a sunga de Gilbert, tentando puxá-la para baixo.
-Chega.- ele disse com a voz ofegante, afastando Anne dele, que lhe lançou um olhar frustrado e perguntou:
-Por que?
-Você ainda pergunta? Eu estava a ponto de fazer uma besteira aqui mesmo, e não é assim que planejei que tudo acontecesse entre nós. - ele respondeu quase suspirando.
-Às vezes acho que você não me quer tanto assim.- Anne disse aborrecida.
-Está brincando? Você me sentiu agora a pouco. Acha que é fácil para mim?- Gilbert perguntou impressionado pela dúvida de Anne, depois de ter percebido o quão excitado ele estava com ela em seus braços.
-Então, eu não entendo por que você se segura tanto.- ela se aproximou dele, passou os braços ao redor do pescoço dele e continuou:- Não vê que sou louca por você? Eu não me importo onde seja, desde que seja com você.
-Mas eu me importo, Anne. Não fica brava comigo, cenourinha . Eu não quero que sua primeira vez seja algo banal, Eu quero que você tenha motivos para se lembrar desse dia com carinho quando estiver mais velha, por isso me deixa preparar algo especial para nós dois.- como negar algo para Gilbert quando ele a olhava com seus olhos verdes maravilhosos? Ela ainda tinha o mesmo fraco por eles que tivera quando era apenas uma garota de dez anos, e nada tinha mudado desde então. Anne assentiu depois o abraçou, ao mesmo tempo em que Gilbert rodeava sua cintura.
Dessa forma, passaram a tarde toda namorando, conversando sobre seus planos para o futuro, saboreando a comida que Gilbert trouxera e trocando carinhos apaixonados e quando o sol começou a enfraquecer, eles resolveram ir para casa antes que começasse a escurecer e tornasse o viagem de volta perigosa, pois as estradas por ali eram um pouco complicadas.
O dia tinha sido perfeito, e Anne ainda sorria quando o carro de Gilbert entrou pelos portões de Terracota, e ela imaginava que poderia ser ainda melhor com um jantar a dois e um filme romântico.
Porém, ela devia saber que aquela sensação de plenitude não iria durar, pois assim que chegaram em Terracota , Winnie veio na direção deles feito um furacão:
-Onde você estava.? Não o vi o dia todo ?- como sempre, ela ignorou Anne, enquanto esperava Gilbert dizer:
-Eu levei Anne para ver o avô dela.
-O dia todo?- ela perguntou com secura
-Não é da sua conta, Winnie.
-Tem razão. - Winnie disse, percebendo o tom aborrecido de Gilbert, e em seguida sob o olhar vigilante de Anne, ela continuou:- É que senti muito sua falta. - e então o beijou, deixando Anne completamente chocada com seu gesto.
Uma onda de raiva borbulhou dentro de Anne,fazendo-a quase pular em cima dos dois e arrancar cada fio de cabelo dourado daquela garota insuportável que não perdia uma oportunidade de afrontá-la. Assim, para não perder a razão e fazer algo que a colocaria em uma situação pior do que já estava naquela comunidade, Anne saiu correndo dali, i indo em direção ao estábulo.
Naquele exato momento, Gilbert empurrou Winnie para longe de si e disse:
-Nunca mais faça isso.
-Por que? - ela perguntou com as mãos na cintura.
-Porque não é certo. Eu não sinto nada por você e somos apenas amigos. - Gilbert explicou, e Winnie perguntou cheia de raiva:
-É por causa da Anne, não é?
-Não. Isso não tem nada a ver com a Anne. Eu não gosto de você como deseja, Winnie. Eu sinto muito.
-Você pode pensar que sou idiota, mas eu não sou. Eu percebi como se comporta perto dela, e como ela se insinua para você o tempo todo. É lógico que essa sua maneira de me tratar com indiferença tem a ver com aquela garota estúpida - ela disse quase gritando.
-Winnie..- Gilbert começou, mas não teve tempo de dizer o que pensava sobre o que ela acabara de lhe falar, pois o som de Caramelo relinchando chamou sua atenção, e ele mal teve tempo de se virar e ver quem estava sobre ele, cavalgando-o sem nenhum cuidado.
-Ah, Meu Deus! - foi tudo o que ele disse, antes de deixar Winnie falando sozinha, e correr até o estábulo, selar Furacão às pressas e cavalgar atrás de Anne com medo do que poderia acontecer com ela em cima de Caramelo.
Em pouco tempo já a avistava, e acelerou o ritmo do cavalo até estar emparelhado com a ruiva, que queria a todo custo fugir do rapaz.
-Desce já desse cavalo, Anne!- ele gritou.
-Não!- ela respondeu cheia de raiva.
-Você pode se machucar. Desce já desse cavalo!- ele gritou de novo.
-Não Eu faço o que eu quero. Não tenho que te obedecer! - ela gritou mais uma vez.
-Não me faça perder a paciência! Desça já desse cavalo!
-Eu já disse que não!.- Anne respondeu, e tentou acelerar a sua cavalgada, mas Gilbert segurou as suas rédeas e fez Caramelo parar.
Assim, enquanto Gilbert descia de Furacão, ela foi mais rápida que ele, pulando de Caramelo e correndo para longe de Gilbert. Não queria falar com ele depois de ter presenciado a cena dele com Winnie, a qual ele não fizera nada para evitar. Deste modo, ela correu por alguns minutos , sem olhar para trás e pensando que tinha conseguido escapar, mas um puxão em seu braço a fez cair deitada na grama macia, e logo viu Gilbert posicionar o corpo dele sobre o seu e ouviu-o dizer:
-Por que tem que me dar tanto trabalho, Cenourinha?
-Me solta, não quero você perto de mim.- ela disse magoada.
-Por que?- Gilbert perguntou, tocando o rosto dela com carinho.
-Porque você beijou a Winnie na minha frente.
-Não, ela me beijou. Não o contrário. - Gilbert a corrigiu.
-Tanto faz.- Anne afirmou, virando o rosto de lado para não encarar Gilbert.
-Não. É totalmente diferente. - Ele puxou o queixo dela, fazendo Anne olhar nos olhos dele quando disse:- Você sabe que tudo isso poderia ser evitado, se você me deixasse revelar a todo mundo que estamos juntos.
-Nós já falamos sobre isso. - Anne respondeu, sentindo os olhos verdes de Gilbert hipnotizá-la com seu brilho intenso.
-Você realmente não entende, não é?- o rapaz perguntou, fixando o olhar nos lábios dela.
-O que?
-Que eu te amo.
-O que?- ela quase parou de respirar com aquelas palavras. Será que tinha ficado maluca e sua mente tinha inventado tudo?, ela pensou atordoada.
-Eu te amo, sua cenourinha rabugenta.
-Eu também te amo.- ela confessou, tocando a lateral do rosto dele bem devagar.- Por que demorou tanto tempo para me dizer?
-Você também demorou a me dizer. Então, estamos quites. - ele rebateu, e lhe lançou um sorriso tão lindo, que Anne não pôde dizer mais nada a não ser puxá-lo para um beijo.
E enquanto ao longe, o sol se punha devagar, anunciando o cair da noite, Gilbert e Anne permaneceram perdidos em seu mundo, onde a felicidade que tanto almejavam alcançar acabara de ser encontrada, e fariam daquele momento uma lembrança permanente em seus corações.
Olá, pessoal. Desculpem a demora. Tentei postar antes, mas a minha vida está muito corrida. Espero que gostem do capítulo e me deixem seus comentários. Obrigada por lerem. Beijos.
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