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Capítulo 10 - Desejos e deveres

Olá, para quem acompanha essa fic aqui está mais uma capítulo. Espero que o apreciem e me deixe seu comentário e voto se possível como incentivo. Beijos, Rosana.

ANNE E GILBERT

Anne abriu os olhos e a primeira coisa que notou foram as mãos de Gilbert em sua cintura, e suas pernas enroscadas nas dele de um jeito tão íntimo que sentiu seu rosto em brasas. Ela nunca em toda sua vida tinha ficado em uma posição tão comprometedora com um homem, e isso tinha que acontecer justamente com Gilbert? Quanto mais barreiras tentava colocar entre eles e seus sentimentos, mais ele a atraía para si, e ela se perguntava se deixasse aquilo aumentar até onde iria parar? Já estava encrencada o bastante dentro daquela família para acrescentar mais uma dor de cabeça à sua lista de problemas. Se Winnie soubesse que ela e Gilbert dormiram na mesma cama, ela infernizaria a vida de Anne para sempre, e a ruivinha não estava a fim de aguentar a loira azeda no seu pé o resto da vida.

Dormindo, Gilbert parecia um garotinho. Suas covinhas se tornavam mais evidentes, e seu rosto ganhava um ar sereno que era impossível não admirar. Seu primo era lindo, isso ela tinha que admitir, como também tinha que aceitar que quando dissera para Diana e Josie que ele não fazia o seu tipo, ela mentira descaradamente.

Gilbert Blythe era um espécime masculino que fazia o tipo de todo mundo, porque o tanto que aquele homem era atraente, ela não tinha como medir. Ele faria o maior sucesso no meio de suas amigas de Los Angeles, pois rapazes como ele não eram muito comuns por lá. De certo modo, ela se sentia feliz de não ter tido a oportunidade de apresentá-lo para nenhuma delas, ou com certeza ele seria devorado pelas mais avançadinhas que não perdoavam um par de calças que estive a um metro de distância delas, ou será que seria o contrário?

Pensar em seu primo como objeto de desejo de suas amigas a deixou desconfortável, por isso Anne tentou desenroscar suas pernas do meio da dele, e se levantar porque tanta proximidade já estava afetando seus miolos. Todavia, quando finalmente se viu livre e ia sair da cama, Gilbert que tinha acabado de acordar, a puxou de volta e assim ficaram deitados se enfrentando cara a cara.

- Aonde pensa que vai, mocinha?- a voz dele rouca de sono era uma delícia de se ouvir, e se tivesse seu celular, ela daria um jeito de gravá-la para despertar com aquele som todo dia de manhã.

- Eu ia apenas me levantar, Gilbert. Isso é um crime por acaso? - ela respondeu, tentando não prestar atenção nos traços perfeitos dele, ou perderia o foco da discussão.

- Não, mas não confio em você depois do que fez ontem, por isso quero você perto de mim.

- Tão perto assim?- ela perguntou, se referindo a mão possessiva dele que agarrava a cintura dela como se não fosse mais soltá-la.

- Te incomoda tanto assim ficar perto de mim? No passado dormíamos desse jeito o tempo todo, e você nunca se importou. - Gilbert disse, movimentando a mão até as costas dela, fazendo o coração de Anne ir parar na garganta ao sentir o calor da palma dele diretamente contra o tecido fino de sua camiseta de algodão.

- Vou ter que lembrá-lo mais uma vez que eu era apenas uma criança? - os olhos azuis dela faiscaram em um princípio de ira, fazendo Gilbert fixar seus olhos no rosto dela. Se Anne soubesse como o provocava vê-la irritada. Nunca vira uma mulher ficar tão linda com o rosto transtornado pela raiva.

- Afinal de contas, qual é o motivo de todo esse mau humor? Foi por que não te dei um beijo de boa noite?

- Você sabe que fez mais que isso. - Ela não pôde evitar de dizer.

- Eu perdi a cabeça, e já me desculpei por aquilo.- Gilbert respondeu, não querendo pensar no quanto beijar Anne lhe causara um tipo de prazer que estava proibido de sentir.

-Você tem perdido a cabeça com muita frequência ultimamente. - Anne retrucou, se lembrando de todas as vezes que Gilbert se irritara com ela.

- E que você me enlouquece, e às vezes eu não sei como agir com você. Não me lembrava que você era tão cabeça dura. Por que me desobedeceu ontem depois de eu ter te dito para não sair com Caramelo sozinha?- os olhos verdes dele brilharam, e Anne quase deixou escapar um suspiro por ter tanta beleza diante de si.

- Você precisa confiar mais em mim, Gilbert. Eu dou conta do Caramelo.

-Você sabe que me preocupo, Anne. Sabe quantos desastres eu imaginei com você em cima daquele cavalo? Se tivesse saído cavalgando qualquer outro animal dos nossos estábulos, eu não teria ficado tão bravo. Eu sei que é uma excelente amazona, pois eu mesmo a treinei, mas você não conhece os cavalos como eu, e quando te digo que não deve sair com um cavalo difícil, de humor instável sem ainda estar devidamente pronta para lidar com ele, você deveria me ouvir. Não quero que se machuque, cenourinha. - Ele segurou seu queixo de leve, fazendo-a o corpo de Anne amolecer. Ela ordenou que sua mente parasse de desejar coisas que não deveria, ou acabaria se atolando muito mais naquela situação confusa do que já estava. - Promete para mim que não vai mais fazer isso. - Gilbert disse, puxando-a para seus braços, e roçando os lábios na testa dela.

- Gilbert...- Anne disse, sentindo o perigo rondando seu bom senso.

- Promete, por favor. - Ele beijou-a na ponta do nariz e Anne perdeu o compasso da própria respiração, ao sentir os lábios dele tão próximos dos seus.

- Eu prometo. - A ruivinha respondeu, desejando escapar daqueles braços antes que ficasse maluca.

- Obrigado. - Ele disse, beijando-a de leve no rosto, e a libertando do seu abraço.

- Ainda está chovendo? - Anne perguntou, tentando estabelecer certa normalidade para o seu coração.

- Não, parece que por algumas horas teremos uma trégua. - Gilbert disse, se levantando da cama e indo até a janela. E pela segunda vez, Anne se viu admirando as costas musculosas do rapaz.

- Podemos ir para casa? - Anne se sentou na cama, esperando pela resposta dele.

- Creio que sim. Vou preparar o café da manhã. Está com fome?- ele perguntou, se virando para Anne que prendeu a respiração ao fixar o olhar naquele peitoral trabalhado diariamente pelo suas atividades braçais na fazenda. Santo Deus! Será que Gilbert tinha noção do que fazia com ela? Como podia evitar de se sentir atraída, se ele se exibia para ela daquele jeito? O pior era que ele sabia que era bonito, e se valia disso para deixá-la sem graça.

- Eu não sabia que tinha dotes culinários tão bons. Seu jantar de ontem estava uma delícia.- Anne disse, se levantando da cama e caminhando pelo quarto para escapar da visão tentadora de seu primo, que continuava parado no mesmo lugar.

- Quando fui para a faculdade, tive que me virar sozinho. Morava com três rapazes, e cada um tinha um gosto por comida diferente, então, nós cozinhávamos nossas próprias refeições. - Ele respondeu, sem perder Anne de foco. Seu olhar passeou por seus pés delicados e descalços, subindo pelas pernas sensualmente nuas, e deslizando ainda mais pela camiseta que ela usava como vestido. Que inferno de mulher que não deixava de ser linda nem com os cabelos em desalinho, e sem um pingo de maquiagem. Quem diria que aquela pimentinha, tão delicada quanto porcelana aos dez anos fosse se transformar nesse mulherão? Ele mal conseguia tirar os olhos dela, e depois que a beijara, sua vontade de repetir o que tinham feito na noite anterior estava mexendo com seu juízo. Precisava se livrar dessa sensação, antes que não pudesse mais evitar as fantasias em sua cabeça.

- Vou até a cozinha, e por favor, se vista, pois vamos para casa logo depois do café.- Anne concordou com a cabeça e esperou que ele saísse para vestir suas roupas que tinham secado durante a noite.

Quando chegou à cozinha, ela notou que Gilbert tinha feito o mesmo, e assim que terminaram o café da manhã, eles saíram da casa e caminharam até os cavalos que já tinham sido alimentados por Gilbert.

-Vai montar o Furacão ou prefere ir no Caramelo?- Gilbert perguntou, olhando inquisidoramente para ela.

- Pensei que não ia me deixar chegar perto do Caramelo.- Anne respondeu surpresa com a atitude de Gilbert.

- O cavalo é seu, e eu jamais o impediria de montá-lo, minha única objeção é que por enquanto você não saia sozinha com ele. Caramelo é um excelente animal, mas é impulsivo, temperamental e rebelde, o que me lembra exatamente de alguém. - Gilbert disse, olhando-a com um sorriso divertido nos lábios.

- Se você ousar me comparar com um cavalo de novo, eu juro que vai se arrepender.- Anne disse de mau humor.

- O que vão fazer? Me bater? - ele perguntou, seu sorriso se alargando a cada segundo ao ver o rosto enfurecido de Anne.

- Se eu o fizesse, você bem que mereceria.

- Ah é? Acha que pode me vencer?- ele deu um passo, segurou no pulso dela e a puxou para si enquanto dizia: - Nós dois sabemos como isso acaba, vai querer se arriscar?- Anne parou de respirar por um segundo ao olhar para os lábios de Gilbert enquanto ele encarava os dela, e ambos se lembraram do beijo que trocaram ao mesmo tempo, deixando-os completamente hipnotizados um pelo outro, mas logo Gilbert a soltou e completou: - Pode ir no Caramelo, mas tome cuidado.

Assim, lado a lado eles cavalgaram até a fazenda, e logo que deixaram os cavalos no estábulo para serem cuidados pelo tratador de animais, ambos rumaram para a casa grande onde uma recepção nada amigável os esperava. Ruby tinha o rosto banhado de lágrimas, e quando viu Anne correu para abraçá-la. Winnie tinha um olhar mortal no rosto, e lançou chispas cheias de veneno para o lado de Anne assim que a viu entrar ao lado de Gilbert, e John Blythe tinha uma expressão severa, até certo ponto decepcionada ao encarar o filho acompanhado da ruivinha.

- Em nome de Deus, vocês podem me dizer onde estavam?- ele perguntou em um tom tão alto que a sua voz trovejou pela casa toda.

- Anne saiu com o Caramelo, teve problemas e eu fui ajudá-la. Porém, quando estávamos vindo para cá, a chuva nos pegou no caminho e para evitar maiores acidentes, eu a levei para a casa que usamos quando temos que dormir fora.- Gilbert explicou, vendo a carranca do seu pai aumentar.

- Quer dizer que desobedeceu a uma ordem direta do seu tutor, e saiu com o Caramelo.

- Eu e Gilbert já conversamos sobre isso, Tio John.- Anne disse, tentando acalmar o ânimo exaltado do Blythe mais velho.

- Você acha que isso resolve tudo? Pois para sua informação não resolve. Aqui todos nós temos nossas obrigações e você claramente não entendeu quais são as suas - Anne sentiu a irritação tomar conta de si e rebateu.

- Eu não pedi para vir morar nessa fazenda, pois estava vivendo muito bem em Los Angeles, e com todo respeito, Tio John, você não é meu pai, então não me diga o que fazer.- o rosto de John ficou tão vermelho, que Anne temeu que ele tivesse um infarto ou coisa parecida, mas felizmente ele pareceu estar bem e muito mais zangado ainda quando disse a Gilbert em um tom baixo:

- No escritório. Agora!.- Gilbert lhe lançou um olhar inconformado, e seguiu o pai escritório adentro.

- Você conseguiu o que queria, não é?- Winnie disse amargurada, assim que se viu sozinha com Anne e Ruby.

- Consegui o que, Winnie?- Anne perguntou ainda abraçando Ruby que não a largara desde que entrara naquela sala. Ela podia bem imaginar o que a irmã pensara quando ela não voltou para a casa no dia anterior. Ruby ainda carregava o trauma da morte de seus pais dentro de si, e deveria ter ficado aterrorizada com a ideia de perder Anne também.

- Passar a noite com Gilbert.

- Nós dividimos o mesmo espaço. Não aconteceu nada além disso. - Anne respondeu, tentando tirar da cabeça o beijo e a maneira como dormiram agarrados.

- Acha que acredito nisso, vindo de uma garota como você?- Winnie disse, olhando-a com desprezo.

- Eu estou cansada se suas insinuações a meu respeito.- Anne disse, cheia de ressentimento. - E como disse, não aconteceu nada entre Gilbert e eu, mas se tivesse acontecido, não seria da sua conta. - Anne se voltou para Ruby e falou com a irmã carinhosamente. - Vamos subir.- e assim largou Winnie sozinha com sua ira.

No escritório de John Blythe, as coisas não pareciam melhores para Gilbert ,que tinha que enfrentar sozinho a raiva de seu pai.

- Por favor, me diz que não aconteceu nada do que eu estou pensando entre você e aquela garota.

- Papai, eu já te falei como tudo aconteceu. Por que não acredita em mim?- Gilbert perguntou magoado. Nunca tivera aquele tipo de discussão com seu pai, e se sentia extremamente aborrecido pela sua desconfiança.

- Porque eu sei como as coisas funcionam entre vocês dois.

- E como as coisas funcionam entre nós dois, papai? - Gilbert perguntou espantado pelas palavras de John.

-Vocês se olham o tempo todo. Achou mesmo que eu não ia perceber? Você sempre teve esse fascínio pela Anne. A diferença é que antes ela era só uma garotinha a quem você protegia o tempo todo, e agora ela é uma mulher linda por quem você se sente atraído.- John disse, encarando o rapaz à sua frente. - Eu posso ser velho e antiquado, mas eu conheço o meu filho muito bem.

- O senhor está enganado. A Anne não me suporta, e vivemos às turras porque ela não aceita nenhum tipo de controle.

- E o que isso tem a ver com atração? Eu imagino que isso deva atiçar ainda mais os sentimentos entre vocês dois. - Diante do silêncio do rapaz, John continuou. - Acredite em mim, eu sei do que estou falando. Antes de ser seu pai, eu sou um homem, e entendo perfeitamente como essas coisas acontecem. Olha filho, não pense que estou querendo determinar a quem deve amar, pois você já é maduro o suficiente para saber o que é melhor para você. A questão aqui é outra. Anne e Ruby são filhas do meu irmão, e me sentiria terrivelmente mal, se elas não fossem tratadas como tal. Ele confiou a você a guarda das meninas, e não quero que se esqueça da sua responsabilidade nisso. Pelo menos enquanto você for tutor de Anne envolvimentos amorosos desse tipo não podem existir. Eu fui claro?- John perguntou, olhando seriamente para Gilbert.

- Foi sim, papai. Mas quero que saiba que levo minhas responsabilidades muito a sério, e que quando te disse que não aconteceu nada entre Anne e eu , eu estava falando a verdade. Eu jamais faria algo para colocar a reputação dela em risco.

- Assim espero, pois não gostaria de ver essa menina ficar tão mal falada por aqui como a mãe dela.- John afirmou, e de novo Gilbert rebateu:

- Anne não é a mãe dela.

- Eu sei, e é espantoso como você sempre se coloca a frente de tudo só para defendê-la. - John sorriu sem humor.

- Eu defenderia qualquer pessoa que estivesse sendo injustiçado.

- Acho que já te disse isso uma vez. O pior cego é aquele que não quer ver. Nossa conversa termina por aqui. - John declarou, e dispensou Gilbert com um olhar.

O rapaz caminhou para fora do escritório pensativo, pois ele tinha que admitir que muito do que o pai lhe falara era verdade. Ele vinha passando por cima se suas obrigações como tutor, por conta do que vinha sentindo por Anne e isso não era certo, e nem era o que havia planejado. O seu erro fora deixar Anne entrar em seu coração e ir conquistando-o aos poucos. Ele não devia desejá-la como mulher, mas a noite passada lhe provara que ele desejava, e Gilbert não sabia se havia um caminho para fora daquela confusão. Talvez se manter afastado dela seria a única coisa a ser feita no momento, mas o que ele se perguntava era se conseguiria tirar aquela garota de dentro de si, depois de provar dos lábios macios dela?

Todavia, Gilbert passou a evitar Anne nos dias que se seguiram, porque se ficasse perto dela, ele não resistiria a querê-la mais perto ainda, e as únicas vezes que falara com ela fora para ajudá-la a cuidar de Caramelo. Se Anne estava aborrecida com seu distanciamento, ela não deixava transparecer em seu semblante sempre neutro, ou nas repostas monossílabas que dava a Gilbert quando o rapaz lhe perguntava alguma coisa. Até mesmo na hora das refeições, ele evitava de olhar para ela, pois sabia que seu pai observava cada gesto seu, e não queria ter mais motivos para discutir com ele

Contudo, ele sentia falta de suas constantes rusgas, e dos momentos que realmente conversavam sobre assuntos que interessavam aos dois, de tê-la a seu lado quando cavalgava ou ver o brilho dos olhos dela quando lhe fazia um elogio. Quantas vezes naquela semana, ele parara na porta do quarto de Anne, pensara em bater, mas desistira no último segundo? Ele temia que em um ambiente tão íntimo, ele não resistisse e a beijasse outra vez, pois vinha sonhando com isso a semana toda, e por saber que gosto aquela boca tinha, seus sentidos bem pouco lhe obedeciam.

Pelo seu lado, Anne também fingia que estava tudo bem, e que o fato de Gilbert não estar falando com ela tanto quanto antes não a magoava, mas no fundo se sentia de novo solitária dentro daquela casa onde nada lhe pertencia. Até Ruby tinha a própria rotina dela, ocupada por suas atividades escolares, e embora ainda conversassem muito, Anne às vezes se sentia excluída da vida da irmã, que ia pouco a pouco se desapegando dela, e embora ela estivesse contente por Ruby estar se tornando uma adolescente mais confiante e equilibrada, em seus momentos depressivos, ela culpava Gilbert por estar tirando a irmã dela, mesmo sabendo conscientemente que esse era um processo natural pelo qual Ruby deveria passar, e que fazia parte de seu crescimento como pessoa ativa e participante do mundo ao seu redor.

Contudo, fazia-lhe bem pensar que odiava Gilbert, porque assim ela não deixava espaço em sua mente para descobrir que o seu odiar tinha outros sentimentos envolvidos, e assim ela camuflava a paixão que tinha por seu primo, escondendo de si mesma o quanto dela Gilbert já tinha. O beijo fora o estopim de tudo o que vinha sentindo, e queria estar perto dele, mas sabia que não podia. John Blythe parecia vigiar cada passo seu, e depois do constrangimento que sentira ao chegar em casa com Gilbert depois da tempestade, quando vira o olhar de seu tio como se a julgasse e a classificasse como uma garota de índole duvidosa, ela não se sentia nem um pouco confortável em sequer falar com o rapaz.

Winnie era outro problema que vinha driblando com certa facilidade, mas havia momentos que Anne se cansava de defender a si mesma, e deixava que a garota falasse o que quisesse dela, pois em tudo o que ela dizia Anne via como um delírio de uma mulher obcecada por um homem que não lhe dava a devida atenção. Era triste ver alguém se rebaixar tanto por conta de uma fantasia que criara dentro de sua própria cabeça. Era também um imenso desperdício de tempo, saúde mental, e amor próprio. Winnie não era feliz e se satisfazia tentando arruinar a vida de Anne que nunca tivera culpa da falta de amor de Gilbert por ela, e muitas vezes a ruivinha pensava que se Ruby não precisasse mais dela, ela voltaria para Los Angeles, e deixaria para trás toda a loucura que encontrara em Terracota, pois se um dia ali fora seu lugar como Gilbert costumava dizer, no momento presente não era mais, ou era assim que ela sentia sua posição atual dentro daquelas terras.

Assim, naquela tarde de sábado, Anne permanecia em seu quarto afastada de toda a agitação do resto da casa . Ela tinha acordado cedo, feito os exercícios diários com Caramelo que se estenderam até a hora do almoço, quando fizera a refeição com os outros integrantes da família Blythe além de Ruby, e depois se trancou em seu quarto para ler. Ela não tinha planos para aquele fim de semana, por isso decidira que além da companhia de um bom livro, veria suas séries favoritas, e assim poderia desfrutar de toda calma e sossego do mundo.

Isso era o que ela pensava até Ruby aparecer em seu quarto e dizer:

- Posso falar com você?

- Claro, querida.- Anne disse, sorrindo.

- Nós vamos ao cinema e eu queria saber se deseja ir conosco. - Ruby perguntou, se sentando aos pés da cama de Anne.

- Quem vai?- Anne perguntou, fechando o livro e marcando a página com um lápis grafite.

- Eu, Minie May, Diana, Josie e seus namorados, Gilbert e Winnie.- ao ouvir os dois últimos nomes, Anne respondeu: - Obrigada pelo convite, querida, mas prefiro ficar por aqui mesmo. Espero que se divirta.

- Ah, por favor, Anne. Faz tempo que não fazemos nada juntas. - O olhar carente que Ruby lhe lançou, amoleceu seu coração, mesmo sabendo que seria o inferno estar perto de Gilbert e Winnie.

- Está bem. Eu vou. A que horas será a sessão?

- Às sete, por isso, é melhor que esteja pronta até quinze para sete.- Ruby disse animada com a resposta afirmativa de Anne

- Tudo bem. Prometo que estarei pronta nesse horário.

- Ah, o Gilbert disse que vai nos levar para comer pizza depois do filme. Então, não se preocupe com o jantar.

- Maravilhoso. - Anne disse a contragosto, sabendo da indigestão que sofreria com olhares mortais que Winnie lhe lançaria a noite toda. Ainda assim, ela tentou se animar com o passeio, pois não queria estragar a noite de sua irmãzinha por conta de uma víbora loira raivosa.

Às seis ela tomou banho, lavou os cabelos, os secou e depois os escovou até que ficassem brilhando. Em seguida, ela abriu o guarda roupa e encontrou o que procurava. Para aquele passeio, ela escolheu um cropped preto de gola alta, mangas curtas que deixava metade de sua barriga de fora, e bastante justo moldando todas as suas formas, inclusive os seus seios, deixando-os mais arredondados do que realmente eram. Ela também escolheu a calça jeans mais justa que encontrou, sabendo como seus quadris ficavam maiores dentro deles, e logo imaginando a batalha que travaria com seu tutor, que com certeza não aprovaria de forma nenhuma sua opção de roupas para aquela noite. Mas Anne estava disposta a assumir o risco, pois se tinha que aguentar Winnie Rose destilando seu veneno a noite toda, então que fosse em grande estilo.

Para terminar, Anne caprichou na maquiagem, embora optasse por algo bastante leve, ela usou delineador azul para destacar seus olhos, e batom coral para os lábios, e quando terminou, Anne sorriu para si mesma no espelho se sentindo totalmente confortável no papel que desempenharia aquela noite. Não tinha intenção de provocar Gilbert, mas queria a atenção dele apenas para colocar Winnie no lugar dela, por isso ela se vestiu do jeito que se vestiria para sair com seus amigos em Los Angeles.

Ao descer as escadas, o primeiro olhar que encontrou foi de seu tutor, que pareceu engoli-la inteira ao deslizar os olhos por cada curva sua revelada pela roupa ousada. Ela tentou não se deixar afetar, mas o calor que lhe subiu de baixo para cima tornou impossível ignorar a maneira como Gilbert parecia despi-la, pedacinho por pedacinho de tecido que cobria o seu corpo.

- Anne, você está maravilhosa.- Diana disse, e quando suas palavras foram confirmadas por Josie, Anne soube que tinha acertado na escolha, mesmo sentindo a qualquer momento, que seu primo iria pedir para que ela subisse e trocasse de roupa. E quando ele não o fez, a ruivinha se espantou, mas ficou feliz por pelo menos dessa vez Gilbert não fazer uma cena e deixá-la constrangida.

O que nem lhe passava pela cabeça era que Gilbert estava interiormente transtornado. Todas os muros que ele erguera em volta de seus sentimentos aquela semana em que se obrigara a ficar longe dela ruíram ao vê-la descer as escadas linda daquele jeito. Tudo o que ele queria era ficar sozinho com ela, e não deixar que mais ninguém a visse, pois mesmo ainda não terem saído de casa, Gilbert já pressentia o ciúme louco que ia sentir quando chegassem naquele cinema. Deus! Por que ela tinha que brincar com o coração dele daquela maneira? Até o fim daquela noite já teria esgotado todo o seu estoque de bom senso.

- Gilbert, precisamos ir ou chegaremos atrasados.- Winnie disse quando o rapaz até tinha se esquecido da presença da loira a seu lado.

- Tem razão.- ele lhe sorriu como um pedido de desculpas e então prosseguiu:- Pessoal, é melhor irmos ou vamos perder o começo do filme.- Gilbert informou, e todos concordaram.

O grupo de amigos foi dividido em dois. Anne, Ruby, Minie May e Winnie se acomodaram na Ferrari de Gilbert, enquanto Diana, Jerry e Josie foram no Mustang de Billy. Como Winnie fez questão de se sentar ao lado de Gilbert no banco do carona, Anne se sentiu livre para se sentar com Ruby e Minie May no banco de trás. Contudo, várias vezes durante o trajeto até o cinema, Anne viu os olhos verdes de Gilbert encará-la pelo espelho do carro, e se sentiu aliviada por não estar sozinha com ele ali, pois a intensidade daquele olhar lindo a fez se arrepiar até o último fio de cabelo. Ela quisera a atenção dele e conseguira bem mais do que esperava, pois o jeito com que Gilbert a encarava a deixava completamente acesa, e de repente o espaço do carro em que estavam ficou abafado demais com o calor que sentia dentro de si.

Felizmente, a distância da fazenda até o centro da cidade onde o cinema se localizava era curta, e logo Gilbert estava estacionando em frente do cinema. Anne respirou aliviada quando a porta do carro se abriu, e ela se viu livre de olhar penetrante do primo. Todavia, seu alívio durou pouco, quando ele segurou em seu pulso e disse:

- Fica perto de mim.- Anne ia protestar e dizer que faria o que quisesse, no entanto a expressão no rosto de Gilbert que lhe dizia claramente que não era uma boa hora para desafiá-lo a fez desistir, e assim quando entraram na sala de cinema, seu tutor a fez se sentar do lado direito dele, enquanto Winnie se acomodou do lado esquerdo, e o restante do pessoal, se sentou na fileira de trás.

O filme que estavam assistindo era de terror, e particularmente Anne não gostava muito dessa categoria. Ela sabia que era besteira sua e que nada que acontecia na tela era real, mas sempre acabava tendo pesadelos depois, por est razão ela sempre evitava assistir filmes assim. Mas dessa vez ela não conseguira escapar, e tudo o que podia fazer era segurar sua respiração e tentar não surta nas cenas mais pesadas.

Até a metade do filme, tudo estava correndo bem, Anne até estava achando o enredo bastante interessante, mas quando houve um surto na cidade e um bando de zumbis saiu pelas ruas devorando pessoas, ela não pôde deixar de se encolher na poltrona, tensionando o corpo todo. No mesmo instante, ela sentiu a mão de Gilbert segurar a sua, enquanto o ouvia dizer em seu ouvido:

-Calma, eu estou aqui.

Depois disso, foi impossível para ela se concentrar em outra coisa que não fosse os dedos de Gilbert entrelaçados nos seus, e o perfume deliciosamente almiscarado que ele usava, e que ela conseguia sentir pela proximidade de ambos.

Assim que o filme acabou, Anne soltou a mão de Gilbert, fato que não passou despercebido a Winnie que não tinha perdido um só movimento do rapaz em direção a Anne, como também não deixara de escutar todas as vezes em que ele falara com ela durante o filme de um jeito carinhoso, que a fez detestar ainda mais aquela garota petulante, que pouco a pouco estava lhe roubando o homem que amava.

Como prometido, Gilbert levou todos a uma pizzaria bastante famosa na cidade, onde as pizzas eram realmente saborosas. E em meio às conversas animadas de seus amigos que não paravam de comentar sobre o filme, Anne começou a se sentir terrivelmente só. Ela se viu pensando na mãe e em William e desejou imensamente estar de volta à sua antiga casa quando seus pais eram vivos, e onde sempre se sentira amada. Mais do que nunca, ela percebeu como não se encaixava naquele ambiente onde ela não fazia parte daquela família, e estava vivendo no meio deles por um mero acaso que as circunstâncias a forçaram a aceitar.

Observando Anne brincar com a comida, Gilbert perguntou:

- Anne, está tudo bem?

- Sim. - Ela respondeu, sem querer olhá-lo nos olhos, porque aquele verde esmeralda era um perigo para o seu coração.

- Não está comendo nada. Se quiser peço outra coisa para você. - O rapaz disse preocupado com o súbito abatimento que viu tomar conta do rosto da ruivinha.

- Não é necessário, obrigada. Não estou com fome. - Ela respondeu, percebendo mais um olhar mortal de Winnie sobre ela, dentre os muitos daquela noite que recebera da loira, e desejou que pudesse estar em seu quarto onde encontraria a paz que tanto desejava.

No momento em que Gilbert pediu a conta, ela suspirou aliviada, e em poucos minutos estavam indo para casa, e Anne se manteve silenciosa durante todo o caminho. Após deixarem Minie May na casa dela, Gilbert dirigiu direto para Terracota, e quando chegaram lá, Anne foi a primeira a sair do carro, com Ruby caminhando a seu lado, e com Winnie e Gilbert logo atrás. No instante em que estava subindo as escadas, Anne não pôde deixar de olhar para trás e observar Gilbert e Winnie em uma posição bem comprometedora, a qual ela não fez questão de continuar presenciando por saber em seu íntimo como aquilo iria terminar.

Com lágrimas escorrendo por seu rosto, ela alcançou a porta de seu quarto, mas antes que a abrisse, ela ouviu:

- Anne, espere.

Ela aguardou que Gilbert se aproximasse, mantendo o olhar baixo para que ele não percebesse que estava chorando, mas de alguma forma ele soube, pois o rapaz levantou o seu queixo e perguntou:

- Vai me contar o que está acontecendo? Por que está chorando?

-É besteira minha, não precisa se preocupar. - Ela disse, sentindo seu corpo estremecer pela proximidade dele, e se odiando por não conseguir controlar seus sentimentos por Gilbert.

- Não pode ser besteira se a fez chorar, e eu odeio te ver assim. - ele disse acariciando o seu queixo. Cansada de esconder sua angústia, ela disse:

- Eu estou com saudades de casa, e não consigo me adaptar a Terracota por mais que eu tente. Será que não vê que não me encaixo aqui? Por que não me deixa voltar para casa, Gilbert?- ela pediu com a voz trêmula por causa do choro.

- Anne, você sabe que não é verdade. Aqui sempre foi e será sua casa. Apenas tenha um pouco mais de paciência.- Gilbert disse, sentindo seu peito doer por ver o sofrimento nos olhos de Anne.

-Não consigo. Eu preciso ir para casa. Por que não me dá única coisa que eu quero ?- ela disse chorando abertamente.

- Porque não posso deixá-la ir. Você sabe que não posso, mas se isso te consola, você não é a única aqui a desejar algo que não poder ter.- ele confessou, olhando dentro de seus olhos.

- E o que é que o menino de ouro de Terracota quer e não pode ter?- ela perguntou com ironia, pois ao seu ver Gilbert conseguia tudo o que queria com um estalar de dedos.

Ao invés de responder, ele a puxou para si, esmagando os lábios dela com os seus. Pega de surpresa, Anne se apoiou no corpo do rapaz, correspondendo ao beijo sem pensar, sentindo as mãos quentes de Gilbert na parte nua de seu corpo, fazendo-a se sentir fervendo em cada centímetro de sua pele.

O rapaz não queria pensar no que estava fazendo, ele agia por instinto, e esse instinto o guiava até aquela garota ruiva que o fazia perder a cabeça por bem pouco. Ele passara a noite toda desejando aquilo, e não conseguira mais resistir ao se ver sozinho com ela. Talvez no dia seguinte se arrependesse, mas naquele instante, ele queria aproveitar cada segundo que a tinha em seus braços, porque não pensara que precisasse dela tanto assim.

Um alerta soou na cabeça se Anne, mas ela o ignorou. Ela precisava daquele beijo para sentir-se viva, e não ia desperdiçá-lo de jeito nenhum. As mãos de Gilbert começaram a acariciá-la devagar, incitando-a ainda mais a aprofundar o beijo, mas quando os dedos suaves do rapaz alcançaram seus seios e os acariciaram por cima da blusa, ela percebeu para onde aquela imprudência os estava levando, e reunindo o que lhe restava de juízo e força, ela o empurrou e disse:

-Nunca mais faça isso.- e em seguida, ela entrou em seu quarto fechando a porta na cara de Gilbert.

Enquanto o rapaz caminhava para seu quarto tentando acalmar sua agitação interior e entender o que acabara de acontecer, Anne se sentia ainda pior que antes. Infeliz, ela se atirou na cama, chorando sem parar, porque acabava de descobrir algo que queria ainda mais que sua própria liberdade, e o que ela queria com todas as forças de seu coração e nunca poderia ter era Gilbert Blythe.

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