Capítulo 1- Encontro Inesperado
Olá, pessoal. Estou aqui mais uma vez publicando uma nova história. Na verdade, eu não ia escrevê-la agora, mas, como não queria perder a ideia e nem a motivação, resolvi iniciá-la hoje. Não sei com que frequência vou postá-la, mas, espero que acompanhem mais essa e me apoiem. Espero pelos comentários e votos, pois eles ajudam a manter a história em evidência. Obrigada por tudo. Beijos.
ANNE
A chuva fina que caía naquele dia frio e cinzento, somente contribuía para aumentar a sensação de tristeza daqueles que tinham vindo ali se despedir de um homem que apenas colecionava amigos por onde passara.
Olhando ao redor, e observando tantos rostos conhecidos sorrindo-lhe discretamente com simpatia, Anne sentiu o peso daquele dia enrijecer lhe o ombro, enquanto sua irmã de catorze anos não parava de chorar, e se agarrava em sua mão com o se ali pudesse encontrar conforto e uma resposta concreta sobre a tragédia que tinha se abatido sobre a casa de ambas uma segunda vez.
Há quatro anos, Anne estivera nesse mesmo lugar, enterrando sua mãe que sucumbira a uma doença autoimune contra a qual lutara por muito anos. O Lúpus foi diagnosticado cinco anos antes, e além das dores as quais tivera que suportar com a ajuda de medicação superpotente, Bertha Shirley Cuthbert Blythe sofrera falência múltipla dos rins que no final fora a causa de sua morte precoce, deixando sua pequena família órfã de sua presença aos trinta e oito anos de idade.
O padrasto de Anne, William Blythe, fora quem tomara as rédeas da família em suas mãos, tornando-se pai e mãe de uma adolescente em fase difícil de transição aos quinze anos, e de outra garotinha de dez que ainda brincava com suas bonecas, e possuía amigos imaginários com quem conversava todo o tempo.
Anne se lembrava bem de como fora difícil para ele se adaptar à nova rotina de sair correndo do trabalho todos os dias, buscar a ela e sua irmã Ruby na escola, cuidar das tarefas da casa com a ajuda da ruivinha e se preocupar com todas as contas e os problemas domésticos que uma vez ou outra sempre acabavam perturbando a paz daquele pequeno lar que ele estava lutando para manter, pelo amor da mulher que se fora, e pela estabilidade emocional de sua filha legítima e a outra adotiva a quem sempre considerara de seu próprio sangue.
Anne nunca soube a identidade de seu pai biológico seu pai, e quando Bertha conhecera William Blythe com quem se casara pouco tempo depois, fora natural para a garotinha de dois anos começar a enxergá-lo como seu pai legítimo, e com o nascimento de Ruby cinco anos depois, a felicidade da família se tornou completa, e ela nunca se perguntara como teria sido se tivesse seu pai de verdade do lado, pois William desempenhara esse papel muito bem
Com a morte da esposa a quem devotara toda a sua atenção, principalmente nos últimos anos quando a doença a debilitara demais, William se tornara mais quieto e preocupado com o futuro de suas meninas, e por isso, nunca deixara de acompanhar o estudo delas, ficando de olho nas amizades e eventuais namorados que Anne pudesse ter, já que aos quinze anos ela era bastante cortejada pelos garotos da escola.
Mas, para sua sorte, a ruivinha nunca fora uma garota rebelde, apesar de seu temperamento difícil, e dona de ideias próprias, ela nunca lhe dera trabalho a ponto de tirar-lhe o sono, porque desde que Bertha falecera, ela entendeu que teria sua parte de responsabilidade dentro daquela família, e por isso, Anne mantinha seus pés no chão, sua cabeça no lugar enquanto fazia planos para quando fosse para a faculdade.
Suas notas sempre foram as mais altas da sala, e sua preocupação com sua vida acadêmica futura sempre fora motivo de orgulho para William que via em Anne alguém que trilharia um caminho brilhante e cheio de sucesso.
No entanto, Ruby era totalmente diferente de Anne. Talvez por ter perdido a mãe tão cedo, a menina se tornara dependente demais da meia irmã mais velha a quem seguia como um cãozinho de estimação. Sua insegurança excessiva sempre fora uma grande fonte de preocupação para William, que tentara de todas as formas encorajá-la a cortar o cordão umbilical e se tornar alguém mais autosuficente, mas nunca tivera sucesso. E assim, ele deixara nas mãos de Anne a tarefa de cuidar da irmã mais nova, lhe ensinando lições valiosas de como conseguir sua independência emocional, se libertando de qualquer amarra que pudessem impedir seu crescimento como ser humano.
Infelizmente, William não poderia ver sua garotinha crescer e se tornar a mulher que ele imaginou que ela seria, pois no dia anterior, ao voltar do trabalho dirigindo por uma pista molhada, ele acabou perdendo o controle do carro e batendo de frente com um caminhão que vinha em sentido contrário, sofrendo morte instantânea e interrompendo assim uma vida que ainda teria muitos frutos pela frente.
E assim, enquanto ouvia o padre dizer as palavras finais antes do sepultamento do corpo de William Blythe, Anne quase não conseguia acreditar que ele se fora. Ela ainda podia sentir o beijo que ele lhe dera na testa antes de ir para o trabalho na manhã do dia anterior, e pensar que nunca mais veria aquele sorriso que a acalmava em seus momentos mais tensos, ou ouvir a sua voz grave lhe dando conselhos valorosos, ela sentiu sua garganta se apertar de forma quase sufocante, mas, se controlou para não deixar que um soluço doloroso saísse de sua boca, pois isso assustaria Ruby, de quem era a única família agora.
Aos dezenove anos, Anne se tornara responsável por sua irmã de catorze, e tal pensamento a deixava apavorada, pois nunca pensara que teria que arcar com algo tão sério ainda tão jovem.
Um vento gelado súbito a fez apertar o casaco grosso e preto contra o próprio corpo, enquanto o cansaço da noite mal dormida a deixava um pouco aérea ao que acontecia ao seu redor. Seu olhar se fixou no caixão que fora colocado na lápide, e logo em seguida coberto com terra, ao mesmo tempo em que o padre fazia o sinal da cruz, encerrando assim aquele ritual fúnebre. Naquele momento, Anne entendeu que era hora de ir, e puxando Ruby pela mão, ela se aproximou do túmulo, onde seria a morada permanente de seu padrasto dali em diante, e deixou o buquê de flores que trazia nas mãos sobre ele, dizendo com os olhos secos enquanto seu coração enlutado chorava dentro dela:
- Adeus.
Deste modo, ela se virou, caminhando para a saída enquanto Ruby a acompanhava ainda chorando baixinho. Anne queria dizer alguma coisa que pudesse consolá-la e fazê-la se sentir segura, mas naquele instante nada lhe ocorria. E deste modo, enquanto ouvia os muitos amigos de William lhe desejando os pêsames, sua mente voava para longe entre as muitas preocupações que a faziam temer pelo futuro.
- Anne, será que eu posso falar com você um instante? - Walter Jackson pediu, assim que a última pessoa cumprimentou a ruivinha e sua meia irmã, e as deixou sozinha.
- Claro. - Anne respondeu ao homem que fora o advogado de seu padrasto por toda a vida.
- Eu preciso que você e sua irmã apareçam meu escritório amanhã à tarde. William deixou um testamento, o qual ele me pediu que fosse aberto em sua presença e na presença de sua irmã se algo lhe acontecesse.
Anne franziu o cenho ao ouvir as palavras do advogado. Ela nunca soubera que seu padrasto tivesse feito um testamento, e sequer fazia ideia do que poderia estar escrito nele, já que William Blythe sempre fora um homem simples e sem luxos. Talvez ele tivesse deixado a casa que moravam no nome de Ruby, pois seria uma preocupação a menos se não tivessem que procurar um novo lugar para morar, pois apesar de trabalhar como secretária em uma grande empresa, seu salário não era grande o bastante para sustentar uma casa do tamanho daquela onde moravam, e ela detestaria tirar Ruby do único lar que ela conhecia, e onde ela tinha tantas lembranças queridas de seus pais.
- Eu não sabia que ele tinha deixado um testamento. - Anne disse ainda intrigada com aquele fato.
- William fez esse tratamento a quatro anos, logo que sua mãe faleceu Ele tinha medo que se algo lhe acontecesse, vocês duas ficariam desamparadas.
- E o senhor sabe me dizer o que tem nesse testamento? - Anne perguntou, se sentindo ansiosa de repente. Odiava quando coisas inesperadas aconteciam sem que tivesse tempo para absorvê-las om calma.
- Só poderei te dizer amanhã quando você for ao meu escritório para a leitura dele .- o advogado disse de maneira profissional.
- Está bem. Estarei em seu escritório amanhã às oito horas da manhã. - Anne disse por fim.
- Estarei esperando. Até logo. - Walter disse, e foi embora, deixando Anne sozinha com seus próprios pensamentos.
Naquela noite, ela pouco dormiu novamente, pois sua cabeça estava cheia demais com pensamentos perturbadores. Assim às oito horas do dia seguinte, tanto ela quanto Ruby estavam no escritório de Walter, e quando ele abriu o testamento e disse a Anne que William havia deixado a ela e a Ruby uma herança de milhares de dólares, seu queixo caiu e ela quase não conseguiu dizer nada, pois nem em sonho ela imaginaria que seu padrasto fosse tão rico, porque toda sua vida ele vivera do próprio trabalho. Quando Anne perguntou ao advogado como aquilo era possível, ele respondeu:
- Seu padrasto vem de uma família de fazendeiros muito prósperos no Texas, e a herança, ele recebeu sua parte aos vinte e cinco anos quando o pai dele faleceu. E como ele investiu todo o dinheiro em negócios seguros, e não tocou em nenhum centavo todos esses anos, o espólio cresceu absurdamente e tanto você quanto sua irmã são milionárias agora. - Walter disse, brincando com a tampa da caneta enquanto Anne tentava absorver tudo o que tinha ouvido.
- Mas, Ruby não teria mais direito que eu a essa herança? Afinal, ela é filha legítima dele.
- Não, William deixou bem claro nesse testamento que o dinheiro deveria ser dividido em partes iguais entre você e sua irmã, e você sabe que ele nunca fez distinção entre vocês duas.
- É eu sei. - Anne concordou. - E agora o que acontece?
- Bem, existe uma cláusula nesse testamento da qual ainda não te falei. - Walter explicou. - Tanto você quanto Ruby só poderão receber esse dinheiro quando completarem vinte e um anos, até lá, a herança será administrada por um tutor, e quem será responsável por vocês duas daqui em diante.
- O que? - Anne perguntou espantada.- Eu terei que prestar contas da minha vida para um estranho? Pelo amor de Deus, Walter, eu já tenho dezenove anos e sou capaz de cuidar de mim mesma.
- Sinto muito, Anne, mas essas condições foram impostas pelo seu padrasto. - Walter explicou mais uma vez.
- Então, eu me dou o direito de desistir dessa herança. De forma nenhuma vou abrir mão da minha liberdade para ficar nas mãos de alguém que nem conheço.- ela disse já decidida a assinar qualquer documento que Walter preparasse para se livrar daquele incômodo. Estava pouco se importando com a herança. Seu livre arbítrio era mais importante que qualquer soma milionária.
- Sinto muito, mas, seu padrasto colocou outra clausula no documento que a impede de desistir da herança ou doá-la a quem quer que seja. - Anne ficou de boca aberta com mais aquela surpresa. Como William a conhecia tão bem. Ele sabia que quando Anne soubesse do tutor, ela se recusaria a aceitar seus termos, por isso, ele se certificara de que Anne não teria como desistir da herança, ficando à mercê de quem quer que fosse que ele escolhera para tomar conta do dinheiro para ela e Ruby.
- Ele não pode ter feito isso comigo. - ela disse balançando a cabeça inconformada.
- Eu lamento, Anne. Mas não há nada que você possa fazer quanto a isso. - Walter disse enquanto a ouvia bufar, irritada com a situação.
- Quem será o nosso tutor? - Anne perguntou, pensando que teria o direito de saber.
- É um primo de segundo grau de vocês. Eu ainda não entrei em contato com ele, mas creio que até o fim de semana ele estará aqui para falar com vocês.
- Bem, me avise quando ele aparecer. Agora preciso ir. Obrigada por sua atenção, Walter.- Anne disse apertando a mão do advogado.
- Por nada, Anne. Se precisar de algo, sabe que estou à disposição.- Anne balançou a cabeça ainda atordoada com as notícias que recebeu aquela manhã, e saiu pela porta indo em direção ao elevador.
- O que aconteceu, Anne? Você parece brava. Isso tem a ver com o que o advogado nos contou agora a pouco? - Ruby perguntou com seus olhos castanhos cheios de receio.
- Não, querida. Está tudo bem, não se preocupe.- Anne disse para acalmá-la, pois não desejava aumentar os temores da menina de catorze anos.
- Se eu entendi bem, nós teremos uma pessoa da nossa família tomando conta de nós.
- Sim, mas, você não precisa pensar sobre isso agora. - Anne disse, enquanto as duas entravam no elevador.
- E se ele não gostar de mim? - ela perguntou com seus olhos marejados, fazendo Anne entender qual era o medo da menina.
- Ele vai te adorar, Ruby. Pare de se preocupar assim. - Anne disse, dando por encerrada aquela conversa, pois, se conhecia bem a irmã, ela não pararia de falar daquilo o dia inteiro se Anne lhe desse espaço, e tudo o que a ruivinha menos queria era ficar pensando naquela situação bizarra na qual estava envolvida.
Após uma semana de folga a qual tivera direito por conta do falecimento de seu padrasto, Anne estava de volta ao trabalho, e se sentiu imensamente grata por isso, pois não estava aguentando mais o peso de seus pensamentos. Sua vida tinha dado uma guinada e tanto, e tudo o que lhe era familiar e seguro deixara de existir no minuto em que seu padrasto sofrera o acidente e não resistira à ele. Assim, ela trabalhara um dia inteiro extremamente calmo, e quando estava para encerrar o expediente, Jack Davidson, um colega de trabalho, e chefe de seu departamento, apareceu em sua sala e disse:
- Posso te levar para casa?
-Certamente. - Anne respondeu com um sorriso. Ela pegou a sua bolsa e seguiu o rapaz até o estacionamento onde o carro dele estava, e assim que ele abriu a porta para ela, Anne se acomodou no banco do carona, e deixou qualquer pensamento de lado para se concentrar no rapaz bonito que se sentou no banco do motorista a seu lado.
Ela e Jack começaram a sair há cerca de um mês, e embora não fosse nada sério, Anne gostava da companhia dele. O rapaz era alguns anos mais velho que ela, já tinha sido casado e estava a caminho do divórcio, por isso, Anne tomava cuidado para não se envolver demais, pois só se sentiria segura com ele quando Jack tivesse terminado oficialmente com sua ex esposa. Até lá, ela pensava que não havia nada de mal em se divertir um pouco, afinal, ela era jovem e solteira, e tinha esse direito.
-Você está bem, Annie? Eu senti sua falta nesses dias que esteve fora do escritório. - Ele disse, olhando para ele de forma carinhosa.
- Estou sim, obrigada.- ela respondeu.
- Não quer parar em algum lugar para comermos alguma coisa? Assim, podemos colocar a conversa em dia. - Ele perguntou, prestando atenção na curva que estava fazendo naquele momento.
- Se fosse em outras circunstâncias, eu aceitaria. Mas, com tudo o que aconteceu, eu acho melhor ir para casa e ficar com minha irmã. - Anne respondeu, preocupada com Ruby. Aquele também tinha sido o primeiro dia dela na escola depois da morte de William, e Anne queria saber se tudo tinha corrido bem.
Logo que Jack virou o carro na segunda curva e entrou na rua de Anne, ela percebeu que havia uma Ferrari vermelha parada perto de sua casa, o que ela estranhou um pouco, porque, pelo que se lembrava, nenhum de seus vizinhos tinha um veículo daquele porte. Porém, assim que saiu do carro de Jack, a ruivinha deixou esse pensamento de lado, e se virou para se despedir do rapaz, que a tomou nos braços, e a beijou intensamente. Anne se agarrou ao rapaz que ousou um pouco mais e desceu as mãos pelo corpo dela, parando a poucos centímetros de seu bumbum. Quando ele a encostou no carro e ia aprofundar o beijo, Anne sentiu seu braço ser puxado por mãos masculinas, que a separam instantaneamente de Jack.
No momento em que ela se virou com sua expressão cheia de ira por aquela interrupção inesperada de seu momento de intimidade, ela deu de cara com olhos verdes que a encaravam com petulância, enquanto ela levava apenas cinco minutos para registrar os traços mais marcantes do rapaz à sua frente.
Ele tinha cabelos castanhos escuros cacheados, um maxilar bem marcado, lábios grossos e sensuais, além de ser mais alto que ela e vestir roupas de cowboy que o deixavam incrivelmente atraente. Quando percebeu que o estava observando por tempo demais, Anne reuniu toda a raiva que ainda fervia em suas veias e perguntou:
- Quem você pensa que é para nos interromper assim? - O rapaz lhe sorriu de forma irônica e respondeu:
- Eu sou Gilbert Blythe, o seu tutor.
-
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