"Nada muito diferente de ontem, é o mesmo cotidiano, você apenas não esta aqui, eu juro que nós estávamos juntos até ontem. É amedrontador, o dia é exatamente o mesmo, só você não está ali " - 134340

Ah.

Existem coisas que só dependem de nós, e não podemos culpar e nem cobrar de ninguém por isso. Passamos por situações e ficamos com aquele sentimento de insatisfação e as vezes tudo que precisamos fazer é dar aquele passo a frente porque depois, tudo vem naturalmente.

A mudança acontece, nos adaptamos e começamos a atrair tudo aquilo que queremos.

Quando passamos por frustrações na vida ficamos tão mal que dependendo do que tenha sido, perdemos a vontade de fazer o que amamos, perdemos a vontade de ser.

Imagine só, se você não tomar uma atitude, a tendencia é só piorar.

Assim como o sol que nasce firme e faz a sua luz tomar conta de todo canto.
Assim como a chuva que cai e faz com que seu líquido precioso sature a terra e atinja todo ponto. Assim como o vento que sopra e não perdoa cada pequena fresta mas penetra em cada canto.

O que você faz quando tudo parece impossível? O que você faz quando não sabe o que fazer? O que você faz quando sente que não há mais nada dentro? O que você faz quando dúvida de tudo, incluindo de você mesmo?

Quando recebi a noticia de que Hyun havia sofrido um acidente, a culpa imediatamente caiu sobre meus ombros. Não sabia o que fazer, não suportava pensar que minutos antes ela estava em minha frente, discutindo e dizendo que me amava.

Eu não pude não me sentir culpado, eu deveria te-la impedido de sair, eu deveria te-la segurado.

Quando Hoseok me ligou do hospital dizendo que ela estava em cirurgia e em estado grave, meu mundo caiu, estava tudo girando, não sabia o que pensar ou falar.

Peguei um ônibus e fui até lá, encontrando o loiro tão arrasado quanto eu. Eu olhei pro seu rosto e o mesmo não tinha expressão, ele estava acompanhado por um garoto ruivo que logo julguei ser seu namorado.

-O que... Onde ela está? - Perguntei afoito e sem fôlego pela corrida que fiz para chegar até ali logo me apoiando em meus joelhos.

-Parece que ela furou um sinal e foi atingida por um caminhão. - Novamente senti que meu mundo caíra, meu corpo ficou duro, não conseguia mover um músculo, meu olhar perdido chamou a atenção do ruivo. - Ela ainda está em cirurgia, eu...

Ele iria dizer algo mas foi interrompido por um grito abafado do loiro que estava aos prantos em seus braços. Vendo o desespero dele tive a conclusão de que a situação da Hyun não era boa, e então pensamentos negativos inundaram minha mente, me escorei na parede e sentei no chão frio do lugar. Odeio hospitais me lembram dos dias em que estive em um com a minha mãe, ela teve câncer. Pensei em sua morte e o como aquilo foi difícil pra mim.

O medo existe?

O medo existe quando damos poder a ele. O medo é como um fundo preto. Um lugar escuro, um lugar deserto, um vazio.

Mas ele não é real, o único lugar que ele pode existir é em nossos pensamentos, em nossa mente. É apenas um produto da nossa imaginação. Nossas dúvidas são traidoras, nos fazem perder, nos fazem desistir por simples medo de arriscar. Te leva ao perigo, faz você desistir de viver.

Mas mesmo assim eu estava com medo.

Eu estava com medo de que ela morresse. Por minha culpa.

Eu provoquei isso, a culpa era inteiramente minha. Se eu tivesse contado pra ela antes, se eu tivesse...

Respirei fundo afastando tais pensamentos, peguei meu celular e liguei pro Namjoon, ele saberia o que dizer.

- Jin? Por que está me ligando uma hora dessas? São...

- Ela sofreu um acidente. - Esbravejei, silenciando o mesmo, talvez o moreno estivesse pensando no que dizer, o conheço muito bem pra saber que era exatamente isso que ele estava fazendo.

- Espera. Como assim Seokjin?

- Ela... A gente meio que teve uma briga, ela disse que me amava e saiu com raiva de moto, eu não consegui para-la Joonie, eu não. - Nesse momento eu já não conseguia mais segurar as lágrimas.

- Calma Jin, fala devagar. Eu não to conseguindo entender. Por que vocês brigaram?

- Nós... Eu não sei Namjoon, ela só começou a gritar e dizer que eu estava mentindo pra ela e depois disse que... - Eu ainda conseguia ouvir suas palavras.

" E porque eu te amo, e eu não queria isso. Porque eu te odeio. Desde que você partiu, não houve um dia em que eu tenha te esquecido. "

-Depois disse que me amava, e assim que o fez ela saiu.

- Okay, e ela? Como está?

- Ela está em cirurgia, e... - Me calei assim que vi um médico se aproximar, em seu jaleco o nome "Min" estava bordado em itálico, ele era baixo e olhava atento sua prancheta, suas vestes estavam ligeiramente sujas de sangue.

- Vocês são os parentes da Hyun Leesang?

Me levantei num sobressalto assim que o ouvi pronunciar o nome dela, seu semblante era de cansaço, eu estava preocupado.

- Okay, ela está estável por enquanto. - "por enquanto", o que ele quis dizer com isso?

-Por enquanto?- Pareceu que o ruivo teve a mesma dúvida que eu então sustentei o olhar no médico a minha frente, ele respirou fundo e finalmente respondeu.

- O caso dela é delicado. Foram cinco costelas quebradas e uma delas perfurou o pulmão. - Hoseok gritou no mesmo instante, se encolhendo nos braços do namorado, o mesmo saiu carregando o loiro em prantos para outro lugar, não antes de acenar pra mim.

- Ela também teve uma concussão, bateu forte a cabeça, mas não foi muito grave já que o capacete amorteceu, além de uma fratura no fêmur e arranhões pelo corpo.

Ele estava falando, mas eu não o estava ouvindo, olhava perdido para as manchas de sangue em seu jaleco.

Era o sangue dela, eu provoquei aquilo.

Fui tirado de meus devaneios pelo moreno que colocou a mão em meu ombro o apertando fraco.

- Tenha esperanças, é só o que pode fazer agora. - Sorriu amarelo e voltou pelo mesmo caminho que fizera pra chegar aqui.

Ouvi baixinho uma voz e então me lembrei que Namjoon ainda estava na linha.

-Jonnie?

- Jin, eu estou indo prai.

"Antes do nosso adeus
Deixe ir
Mas eu estou perdido no labirinto do seu coração. De estéreo para o mono nossos caminhos se dividem"

-Quebra de tempo-

E se eu disser pra você que hoje acordei triste.

Foi difícil sair da cama.

Mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu convidava para farra de viver. Mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que faço sem nem prestar a atenção no que estou sentindo. Como tomar banho, colocar uma roupa e ir para a cozinha preparar algo.

Se eu disser que foi assim, o que você diz?

- Eu sinto muito mas, se ela acordar, será um milagre. - Disse o neurocirurgião que havia acabado de ver os resultados de uma radiografia que fez na Hyun, seu nome era Park Jimin.

-Dr. Park, o senhor tem certeza? - Perguntou Namjoon que estava do meu lado. Haviam se passado duas semanas desde o acidente, Nam esteve ao meu lado todo esse tempo, com suas palavras reconfortantes e motivantes.

- O coma é bem mais complicado do que parece, ela está - fisicamente - bem, mas não psicologicamente. Se ela não quiser acordar, se não lutar... Ela não acorda.

Andando no jardim do hospital, pus minhas mãos cansadas em meus bolsos, estava farto daquele lugar, de todos dizendo que ela não acordaria, das flores murchando no seu quarto, de...

-Jin?

-Hum?

-Posso te contar uma coisa?- Acenei com a cabeça para que ele prosseguisse.

-Uma vez me disseram que a vida é simples. E você pode ser feliz com pequenos detalhes. Mas o que é preciso?

Ouvi atento o que meu amigo dizia, refleti um pouco com suas palavras que me fizeram lembrar de algo que minha mãe me disse no seu leito de morte.

" A vida é engraçada. Ela vem e vai num piscar de olhos e porquê?

Não é da morte que as pessoas tem medo. Mas de chegar no fim da vida para só então perceber que nunca viveu de verdade.

Eu não percebi isso. Hoje eu vejo que joguei tudo fora. Não vivi, então mesmo que seja curta, boa ou ruim, filho. Bonita ou feia. Entende? Apenas viva ela.
Viva."

-Há dias na vida que você pensa que não vai conseguir.- Continuou o moreno mais pra si mesmo do que pra mim. - Há dias na vida que você pensa que é bem melhor deixar tudo e sumir. - Riu sem graça, também colocando as mãos nos bolsos.- É eu sei como você se sente, é difícil, mas quem disse que seria fácil? Você sempre soube que a guerra pela vida é reida. É por isso mesmo que não pode pensar em desistir. Se você desistir, então perdeu mesmo.

Ponderei suas palavras, Namjoon era bom com elas. Se tornaria um ótimo psicólogo se tivesse persistido na faculdade, mas toda a pressão o fez desistir.

Eu contei à Namjoon sobre a flor de Esmeraldo e como ela havia desabrochado, o que provocou uma reação meio que engraçada do mesmo, sorri ao me lembrar de nossa conversa.

"- O que?? Como assim cara? Eu conheço essa flor, minha mãe era louca por ela, não parava de falar sobre algo de que ela só florescia na Itália e que se chegasse a florescer em outro lugar era porque alguem escondia seu amor.

- Namjoon, nada do que você diz faz sentido.

- É mano, olha, você conhece o conto?- Concordei me lembrando do dia que a Hyun havia me contado.- Okay, sabe que o homem que criou a flor matinha um amor secreto e que ele tinha medo de contar pra garota e assim nasceu a flor.

Eu estava começando a entender, o que ele dizia fazia sentindo até, mas era bem ridículo.

- Namjoon, isso é só história.

- Não é o que parece, você disse que a Hyun tentou fazer com que elas florescessem por muito tempo, e foi só você chegar com seu amor proibido que ela BUUM, floresceu. - Disse e simulou uma explosão, o que me fez rir pelo nariz."

Ponderei sobre aquela história e não consegui achar nenhuma outra teoria para aquela loucura.

De repente nuvens negras começaram a cobrir os céus, o sorriso desapareceu dos meus lábios, os gritinhos das crianças não eram mais ouvidos, desvaneceu-se o brilho do sol, o céu azul se desmanchou em borrões sem cor. A tarde, outrora linda, ficou toda cinzenta e de repente e não menos que de repente, desceu sobe a face o mais negro véu, toldando o mais bonito olhar. Nada mais fez sentido, a não ser um sentimento sôfrego de que algo estava errado.

Sai correndo deixando meu amigo falando sozinho, eu precisava ve-la, alguma coisa estava acontecendo e eu precisava estar perto dela.

Ao chegar no quarto haviam muitos enfermeiros e o Dr. Yoongi colocava um desfibrilador no peito dela, deixado ali uma carga elétrica, fazendo o corpo inerte dela saltar da cama. Só então pude escutar o som estridente que o aparelho que monitorava os batimentos cardíacos fazia, o mesmo apresentava uma linha tênue e verde na tela.

- Hora da morte. - Me assustei quando o médico a minha frente pronunciou aquelas palavras.

Não!

Corri e o tirei do caminho indo até ela, seu rosto agora sem expressão alguma, não mais parecia dormir como horas atrás. Seus lábios agora com uma cor meio roxa.

Não Hyun, por favor, não.

Não sabia se as palavras estavam sendo pronunciadas ou se estavam apenas em minha cabeça.

-Hyun, não me deixa, me perdoa por favor. Mas não me deixa.

Eu segurava sua mão, me recusava a se afastar dela, podia sentir todos os olhares de pena sobre mim, eu não importava, só queria meu amor aqui comigo.

"-Namjoon, você acha que nossa história pode acabar como a do conto?

-Jin, por que esta me perguntando isso?

-Todos dizem que ela não vai acordar, até o Hoseok aceitou isso.

-Olha, não desista cara! Só porquê está sofrendo? Todos nós sofremos. Sofremos porquê não conseguimos algo, ou porquê tiram de nós. Sofremos porquê erramos, sofremos porquê desistimos, porquê não conseguimos vencer. Mas lembre-se Jin, essa dor é inevitável, o sofrimento é opcional. Então esqueça a bomba e faça algo para combate-la, mesmo que não se sinta capaz."

Aos poucos fui soltando o aperto no braço dela, na sala só se ouvia meus soluços. Recolhi seu pulso até seu abdômen, acariciei seu rosto sem vida e disse mesmo sabendo que ela não ouviria.

- Eu irei soltar sua mão agora, eu preciso que você saiba que eu sempre te amei Hyun, sempre. É difícil dizer adeus, mas não há como fugir disso. Estou pronto para te ver partir - sorri amarelo e me aproximei de seu rosto.- Eu só queria ver você segurando a flor azul.

"Quero te tocar mais uma vez antes de você desaparecer. Ah, o cristal voa tão alto para chegar até você.
Ei, não há mais nada que eu queira, eu só quero sentir um pouco mais.
Posso tocar seu coração? Eu quero tocá-lo, mas ele continua escorregando meus dedos.
Oh algum dia, algum dia" -Crystal Snow