Capítulo 7 | Como tirá-la da cabeça
Eu acordaria
De manhã
Provavelmente me odiando
Eu acordaria
Me sentindo satisfeito,
Mas culpado para caramba.
(One more night — Maroon 5)
Christopher
O despertador soa, estridente. Abro os olhos, ainda sonolento e checo as horas, exatamente 7:10 da manhã. É mais tarde do que costumo acordar, estico a mão até o outro lado da cama e sou recebido apenas pela sensação fria dos lençóis macios. Dou um sorriso, é claro que ela foi embora.
Não é uma novidade para mim, tenho certeza que nós dois sabíamos que seria coisa de uma noite. Apenas o transbordar de um desejo que se acumulou durante os dias.
Me levanto revigorado da cama, faço tido o que preciso fazer e tomarei meu café enquanto respondo um e-mail importante, o celular toca, mas ignoro a ligação e foco no que é preciso.
Minha empresa ganhou muito espaço depois que inovou no mercado de tecnologia com nosso sistema de segurança inteligente, que mapeia e identifica atividades suspeitas em sua residência. Atualmente estamos em negociação com uma empresa chinesa de grande porte, com o interesse em produzir nossos produtos em larga escala, expandindo o serviço para o mundo todo. É uma oportunidade que simplesmente não posso perder.
Termino o e-mail e envio, faltam poucos passos para o tão aguardado contrato. Respiro fundo e me permito apreciar o momento, por apenas um segundo, antes que o telefone toque novamente, dessa vez eu atendo.
— Finalmente atendeu. Estava ficando preocupada.
— Estava resolvendo assuntos importantes.
— Você sempre está resolvendo assuntos importantes, me sinto deixada de lado assim. Também tenho assuntos importantes para resolver.
— Me desculpe Lisa, era urgente. Agora pode falar, no entanto. — Falo e ela solta um suspiro.
— Sim, eu nunca sou urgente Christopher. Eu sei. — Ela faz uma pausa, espera que eu fale algo, quando não o faço, ela prossegue. — Enfim, as flores. Não as da cerimônia, as da festa. Estava pensando em peônias. Elas vão ficar muito melhores que os cravos.
— Já não encomendamos os cravos?
— Que se danem os cravos Christopher. Peônias são muito mais modernas. Quero nosso casamento perfeito. Não estará perfeito se as flores da festa forem cravos.
— Certo. Peça para a cerimonialista ligar pro produtor para ver se conseguimos mudar os cravos.
— Já fiz isso. Ela deve estar falando com ele nesse exato momento.
— Se já falou com ela, por que tinha tanta urgência em falar comigo?
— Somos um casal Christopher, não posso decidir tudo sozinha. Queria sua opinião, droga.
— Me desculpa Lisa.
— Nos últimos tempos isso parece a única coisa que sabe dizer. Devia começar a dar menos motivos ao invés de pedir desculpas. Já resolveu o assunto daquela mulher?
— Chamei a atenção dela e não vai mais se repetir. Não posso simplesmente demitir ela assim. Você parece querer que eu demita todas as mulheres da empresa.
— É o que devia fazer. Uma equipe só de homens. — Ela faz uma pausa. — Estou brincando. Essa garota… É diferente. A forma que te olha, o jeito que me olhou…
— Você está exagerando. Estou com você Lisa. É isso que devia importar. Ela é só minha funcionária.
— Me desculpe, talvez seja exagero, mas você não viu o que vi, ela não te olha como uma simples funcionária. Preciso desligar, a cerimonialista acabou de mandar mensagem.
Me sinto péssimo quando ela encerra a ligação. Sou a droga de um babaca. Não devia ter me deixado levar pelos impulsos e pela sensação no momento, mas deixei e agora é tarde demais.
Meu carro quase voa até a empresa, a raiva me faz pisar mais fundo no acelerador. Chego na minha sala tão mal-humorado que ninguém na empresa fez mais que me dar um ligeiro aceno com a cabeça. Não posso culpá-los por isso.
Em frente minha mesa abro um novo documento e escrevo uma carta de demissão para Abigail. Não posso conviver com essa mulher, não sou essa pessoa, eu não era assim antes de conhecê-la.
Estou prestes a ligar para a recepcionista pedindo que Abigail venha até minha sala, quando recebo o e-mail com a resposta da empresa chinesa. Merda, não posso demitir Abigail, preciso dela aqui, preciso de cada funcionário.
Meu humor não melhora ao longo do dia, a culpa ainda toma conta de mim. Deveria ser honesto com Lisa, devia falar que fui um grande babaca e implorar por perdão, mas não o faço. Mal falo com ela o dia inteiro e minha lista de pecados só aumenta.
Ao final do dia, chego ao carro arfando. Como é possível em uma empresa com mais de 500 funcionários eu pegar justamente o mesmo elevador que a única pessoa nesse lugar que quero evitar. Não respondo à conversa casual que ela puxa, mas meu corpo todo parece acender, como se cada célula minha soubesse quem está ao meu lado e quisesse repetir a noite passada.
Me afasto a passos largos antes que acabe metendo os pés pelas mãos, ando tão rápido para longe dela que praticamente corro. O que explica minha falta de fôlego quando chego ao carro.
Corro pelas ruas de Vegas, até chegar na minha casa. Subo o elevador e vou direto para o chuveiro. Um banho gelado é o que preciso para tirar a garota da minha cabeça.
Quase duas horas depois, estou prestes a jantar. Lisa ficará na mãe resolvendo “coisas do casamento” e apesar de eu ter me oferecido para ajudar, fui prontamente recusado com um “descanse, está tudo sob controle” e é exatamente o que planejo fazer, até que meu gerente e padrinho me liga.
— Grande Christopher. Quais os planos para hoje a noite?
— Dormir, Joseph, dormir.
— Sozinho?
— Lisa está na casa da mãe, então sim.
— É sexta a noite, meu caro, acabamos de fechar o contrato das nossas vidas. Você não vai ficar dormindo em casa, vai?
— Foi uma semana puxada. — Não falo que passei grande parte da noite de ontem acordado, enfiado entre as pernas daquela mulher deliciosa.
— Por isso mesmo, você precisa relaxar. Sabe o que é perfeito para isso? Uma boa bebida com uma gata rebolando para você.
— Estou noivo Joseph. Não preciso de uma gata rebolando. Já tenho a Lisa.
— Vamos cara, a Lisa é bonita. Mas estamos falando de profissionais aqui, não tem comparação. Além disso, se você não encostar em ninguém, não é traição.
— Eu não vou conseguir te fazer me deixar em paz, vou?
— Não mesmo. Te encontro no mesmo lugar que foi sua despedida daqui a uma hora.
— Não podemos ir para outro lugar?
— Nem ferrando Christopher. Quero muito checar uma coisa.
— Certo. — Concordo a contra gosto. As lembranças daquele lugar ainda perturbam minha mente, pelo menos ela não estará lá. Não depois das últimas 24 horas, do quanto foram exaustivas. Para ela ainda mais.
Estou na mesa bebendo com uma porção de caras. Já faz cerca de duas horas. Estava certo, ela não está aqui. Isso alivia meu peito. A última coisa que preciso é ver essa mulher de novo.
— Você não falou que precisava de uma noite de bebidas? Cadê sua cerveja Joseph? — Pergunto ao meu amigo quando ele pede uma água ao garçom.
— Quero ficar sóbrio. Bebi demais da última vez.
— Todos bebemos demais. — Um dos caras que estão conosco responde.
— Sim, e é por isso que preciso ficar sóbrio. Não quero ter dúvidas dessa vez.
— Duvidas sobre oque… — Pergunto, mas sou Interrompido pela voz alta do mestre de cerimônias em cima do palco conforme a batida de “lady marmelade” começa a tocar.
— E agora, a mais aguardada da noite. Tenho certeza que muitos aqui guardaram seus dólares especialmente para ela. Preparem seus bolsos rapazes, é hora de Abbe Jones brilhar.
Meus olhos não acreditam no que está de frente para eles. Vestindo couro, esbanjando sensualidade com aqueles peitos de fora. Puta merda. Olho em volta para os outros rapazes na mesa, felizmente além de Joseph ninguém trabalha na Park.
Ninguém consegue desviar os olhos dela. O dinheiro acumula em cima do palco e me pergunto quanto ela consegue tirar numa noite. Ela não estava brincando quando disse que eu poderia demiti-la se quisesse, da vontade de rir quando penso na mixaria que pago a ela.
Nos evitamos pelo resto da noite, mas mesmo de longe não consigo tirar os olhos dela. Que parece me provocar, maldita. Minha vontade de entrar no meio dessas pernas de novo só aumenta. Minha ereção dói dentro da calça, meu pau implora por liberação. Chego a fechar os olhos imaginando aquela boca macia em volta de mim. Maldita.
— Preciso ir ao banheiro. — Digo e me levanto, em direção as cabines para aliviar minha dor, merda. Eu deveria ir embora.
Não vou embora. Estou na mesa quando Joseph pede a um garçom para que Abigail venha até nossa mesa e também estou quando ela recusa e simplesmente sai do salão.
— Oi, senhor, infelizmente o turno da Abbe já acabou. Como o senhor pode ver, ela é bem popular por aqui. — O garçom volta se Justificando.
— Ah, certo. É que vi ela ir em todas as mesas, menos na nossa, tive a impressão de que estava sendo evitado. — Maldito, ele sabe que estava sendo evitado, claro que ele a reconheceu, é por isso que estamos aqui, é por isso que ele está sóbrio.
— Ela apenas teve outros pedidos antes, senhor. Muitos clientes vieram aqui somente por ela. Posso trazer outra moça aqui, se quiser.
— Claro. Pode ser, ótimo. — Joseph responde e o garçom se afasta indo em direção a outra mulher. Bonita, mas magra demais.
— Acho que já vou, estou cansado. — Digo a Joseph.
— Agora que o show vai começar? Fique mais um pouco, eu te pago uma cerveja. Você precisa relaxar cara. Ficou tenso a noite toda.
— Não fiquei tenso…
— Você tem medo que ela diga para Lisa que te viu aqui?
— Ela?
— Abbe, não se faça de idiota. Você sabia? Quando contratou ela?
— Não e sequer tive parte na contratação dela. Apenas concordei com a decisão do RH.
— Claro, certo. Ela é linda. Eu devia tê-la chamado para sair ao invés de ter vindo até aqui atrás dela, acho que ela não estava confortável.
— Claro que ela não estava confortável cara. Que ideia de bosta.
— Eu queria ter certeza que era ela.
Joseph fica quieto quando a stripper se aproxima. Não lembro seu nome, mas sei que ela também estava na despedida de solteiro.
A garota da muita atenção a Joseph, rebola no seu colo e põe a mão dele em suas coxas. É sexy de assistir, mesmo que eu não esteja interessado. Me sinto como um voyeur, observando sussurros trocados, a mão de Joseph seguindo por um lugar onde não deveria. Quando ela vai embora, meu amigo tem um sorriso de orelha a orelha.
— Ela me chamou para um ménage. — Ele fala baixo para que só eu escute.
— O quê?
— Eu, a garota e adivinhe só… Abigail Jones.
— Abigail?
— A própria. — Respiro fundo, estou furioso mesmo que não tenha esse direito.
— Bem, meus parabéns, cara.
— Você está bem?
— Estou bem, só cansado. Como eu disse, foi uma longa semana. — Me levanto e dessa vez ele não tenta me fazer ficar.
Estou nervoso, então preciso me controlar e prestar atenção na direção, não quero causar um acidente. Chego em casa e já é tarde, mas preciso de Lisa, preciso falar com ela.
Perco a conta de quantas vezes ligo no seu número, mas ela não atende. Estou preocupado, devia ter ficado com minha noiva ao invés de embarcar nessa furada com Joseph. Maldito Joseph. Eu nunca devia tê-lo escutado.
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