Capítulo 2 - A huge invisible string
TAYLOR SWIFT POINT OF VIEW
O resto da manhã foi tranquilo, e o início da tarde também. Meus pais finalmente pararam de me alfinetar com aquelas piadinhas sem graça — aquelas em que eles tentavam disfarçar o remorso que sentem por eu não ser quem eles sonhavam que eu seria. Nesse momento, parecia que todos estávamos unidos por um único propósito: impedir que a empresa afundasse.
Mas, mesmo assim, eu me sentia como um peixe fora d'água. Ou talvez a ovelha negra da família. Enquanto todos discutiam o que fazer, eu olhava para Austin e via que ele entendia muito bem do que estava falando. Claro, ele é um garoto de Harvard — formado em Real Estate Management —, diferente de mim, que nem consegui fazer uma faculdade.
O que eles poderiam esperar? Eu era só uma garota de dezesseis anos, com uma bebê no colo, assustada toda vez que a pequena berrava. Mamãe teve de me auxiliar em tantos aspectos que, às vezes, me sentia mais incompetente do que já me julgavam.
Não vão interpretar mal, mamãe e papai foram meus maiores apoios quando tudo desandou. Eles são pessoas amorosas, apenas não conseguem disfarçar o quanto ficaram decepcionados quando souberam que, a garotinha deles, não soube nem se cuidar ao ter relações, e que isso resultou num bebê no ventre dela.
Sinceramente, não os culpo. Talvez eu também ficasse decepcionada se estivesse no lugar deles. Na verdade, eu fiquei. Com raiva de mim mesma por ter sido tão irresponsável. Eu amo minha filha, mas admito que estava bem longe de estar preparada para enfrentar os desafios reais do significado de ser mãe. Tive de ser guiada pelos meus pais, e confesso, fiquei arrasada quando percebi que, não dava para ser mãe e ir para Harvard ao mesmo tempo. Esse era um sonho meu, não só dos meus pais. Mas eu abri mão dele para cuidar de Vick.
E hoje, meu papel é ser a mãe legal, que tenta suprir tudo o que a filha precisa. E isso inclui também, a falta de um pai — que eu sei que é algo que mexe muito com ela —, e bem, também sei fazer muito bem o papel de fingir que não queria tanto assim ir para Harvard. Não preciso faze-la sentir-se culpada por algo que foi totalmente minha culpa.
Lembro-me de que, logo que ela nasceu, meus pais se ofereceram para criá-la como se ela fosse deles. Eu não aceitei. Sei que as intenções deles eram as melhores, e que só queriam me ajudar, mas eu não podia. Como eu poderia ver minha garotinha crescer, e fingir que ela é minha irmã caçula? Seria muita mentira. Se algum dia ela viesse a descobrir, isso poderia destruir o psicológico dela. Assumi meus erros, por mais que estivesse com medo de tudo que enfrentaria.
Mas o que dizer disso tudo? A vida me jogou uma criança no colo, sem manual nem nada. Tive de ser mãe solteira, e aprender a lidar com o kit completo de se criar um bebê: amamentação, fraldas sujas, choros, cólicas.... E quando Victória ficou maior, até mesmo algumas birras fizeram parte desse pacote.
Ela é uma garota com uma personalidade forte. A cada ano que passa, Vick me surpreende mais. Com quinze anos, ela já carrega em si uma intensidade que, às vezes, me lembra muito de mim na adolescência. No entanto, ela também tem algo que me assusta um pouco — uma impulsividade e uma cabeça quente que não tem medo de explodir quando algo a irrita. Quando isso acontece, é como se o mundo fosse acabar ali mesmo. É uma intensidade apocalíptica, onde tudo parece ser uma questão de vida ou morte para ela. É a tempestade antes da calmaria.
Vick não é do tipo que lida bem com injustiças ou provocações, e isso fica ainda mais evidente em situações como a de hoje; onde tive que sair do trabalho às pressas, ao receber uma ligação da diretora da The Dalton School — srt. Stein por algo que minha filha tinha feito.
Agora, ambas estavamos saindo da diretoria em silêncio, após eu ter precisado pedir mil perdões pela atitude dela, e implorar que lhe fosse dada uma segunda chance, que não houvesse expulsão.
Eu odeio essas escolas particulares, todas elas exigem um currículo impecável, e qualquer erro pode virar motivo de expulsão, mas precisava mante-la ali, considerando que ela realmente parece empenhada em ir para Harvard.
A garota saiu com passos apressados na minha frente, aborrecida com o acontecimento, onde ela e um colega — magro, de cabelos castanhos e lisos divididos no meio e olhos azuis —, contracenaram uma briga, enquanto ele segurava uma bolsa de gelo contra o nariz - que estava sangrando -.
De inicio me pareceu uma daquelas coisas bobas, que poderiam até mesmo ser resolvida entre eles os dois. No entanto, pela forma com que Vick saía do prédio apressada, em direção ao carro, era notável que havia algo mais profundo nessa briga.
— Ei, mocinha. — chamo acelerando o passo, para alcança-la — Não acredito que deu um soco no nariz do garoto.
— Não acredito que ganhei suspensão por ter dado um soco no Cristopher. — Vick revidou, a voz cheia de raiva.
Quando chegamos ao carro, ela abre a porta, acionando o alarme, que eu desligo imediatamente, evitando ter mais atenções. A garota entra, e joga a mochila no banco de trás. Faço a volta, e sento no banco do motorista.
— O que foi que deu em você? Quero dizer, você nunca bateu em ninguem. — digo pondo o cinto de segurança. — Pode me explicar?
Minha filha se manteve em silêncio, ignorando minha pergunta. E isso só me frustrou aínda mais.
Eu não tenho controle de todas as situações, e parece que tudo hoje acabou desandando aínda mais. Primeiro a função da empresa estar a um passo de falir, e por fim, isso; Vick se metendo em problemas na escola.
— Então, quer me contar por que exatamente você decidiu dar um soco no Christopher? — quebrei o silêncio, tentando manter um tom leve, mesmo com a situação toda pesando sobre nós.
Vick cruzou os braços e olhou pela janela, se recusando a me encarar.
— Não foi nada. — ela murmurou, mas o jeito como evitava meu olhar deixava claro que tinha sido algo grande.
Respirei fundo, lutando para manter a calma por mais alguns segundos.
— Nada? Porque me parece que a direção da escola acha que foi algo grande o suficiente para te suspender.
— Ele mereceu! — ela respondeu, com a voz carregada de uma raiva que não combinava com a minha menina.
Ela virou a cabeça de volta para mim, e eu pude ver a irritação brilhar em seus olhos.
Eu franzi a testa, sentindo o humor azedar.
— Mereceu? Vick, desde quando você virou a juíza da moral e bons costumes da escola?
— Eu não quero falar sobre isso, tá bom? Você não entende!
E aí estava. A gota d'água. Apertei o volante com mais força, tentando controlar a irritação que crescia dentro de mim.
— Sabe, eu entendo que você está chateada, mas ser rude comigo não vai melhorar a situação.
Ela bufou, aquele típico suspiro adolescente que me dizia que ela estava a um passo de explodir. Mas dessa vez, ela não disse nada, só voltou a olhar pela janela, mordendo o lábio como se estivesse tentando segurar as palavras que estavam prestes a escapar.
Respirei fundo, tentando não perder o controle. Eu sabia que havia um motivo por trás disso tudo, e que ela estava lutando para não me deixar entrar.
— Olha, eu sei que deve ter um motivo. E eu estou aqui para te ouvir. — disse após respirar fundo e mantive o olhar na estrada — Mas, se você acha que a solução para os seus problemas é dar socos nas pessoas e depois agir como se eu fosse sua inimiga, temos um problema maior.
O silêncio que se seguiu foi denso, quase sufocante. Eu esperei, dando a ela o tempo que precisava para decidir se queria se abrir ou não. Mas no fundo, eu sabia que essa batalha era muito maior do que um simples soco. A forma como ela me olhava, dizia que tinham muitas dúvidas, e ao mesmo tempo, parecia um olhar acusatório.
— Você se importa mesmo? — a voz dela soou baixa, e chorosa. Mas nenhuma lágrimas rolou.
Assenti, esperando que ela finalmente se abrisse. É claro que eu me importo. Ela é minha garotinha, e eu a protegeria com unhas e dentes.
— Então me fala sobre ele. Sobre o meu pai. — implorou, virando-se no banco, completamente de frente para mim — Quem é ele? Onde ele está?
— Meu amor, eu... O que isso têm a ver com você ter batido no seu colega?
— Mãe, por favor! — pediu novamente, e eu não consegui olhá-la. Só pude manter-me neutra com o olhar na estrada — Você sempre faz isso! Sempre muda de assunto quando quero saber sobre ele. O que ele te fez? Por que não posso sequer saber quem ele é?
— Nós estamos falando sobre seu comportamento na escola, Vick. — respondi, fazendo uma curva próxima ao nosso apartamento. — E eu não vou falar sobre outras coisas, até que me explique o que é que aconteceu para você ter uma atitude agressiva.
— Por que você não pode simplesmente responder!? — a menina gritou quando estacionei. Meus olhos se arregalaram com a atitude dela. — Eu só quero saber a minha origem! Que droga!
— Victória, não grite comigo! — levantei o tom, tentando manter o minimo de sanidade. — O que foi que te deu hoje? Resolveu que eu seria seu bode expiatório?
— Eu só queria saber sobre ele. — a voz dela quebrou, e um soluço escapou com a resposta baixa dela — Só queria saber se tenho algo dele... Se... tenho alguma característica. Se ele era um cara legal...
Antes que eu pudesse responder, ela desceu do carro, sem me dar tempo. Deixei cair uma lágrima, mas limpei rápidamente. Esse era um assunto delicado, e que ela tinha razão; eu constantemente o evitava.
A loira entrou pela porta da frente, com a copia da chave, e passou reto pelos cômodos, subindo para seu quarto.
— Vick! — chamei correndo atrás dela — Meu amor, espera, por favor. Vick! — a vi entrando em seu quarto, e quando alcancei, foi por um tris que não me machuquei ao dar de frente com a porta sendo fechada na minha cara. — Querida, abre. Vamos conversar.
Bati mais algumas vezes, até perceber que ela não cederia tão facilmente. O som abafado do choro dela partia meu coração. E saber que, em parte, eu quem estava provocando isso, fazia eu me sentir uma pessima mãe.
Ela é determinada, teimosa e sabe muito bem o que quer, assim como eu era na idade dela. Mas, ao mesmo tempo, eu vejo nela uma tristeza silenciosa que me corta o coração. Eu sei que, apesar de tudo o que eu tento fazer para preencher o vazio que a ausência de um pai deixou, há uma parte dela que ainda sente essa falta profundamente. E isso me corrói, porque sei que não posso ser tudo para ela, por mais que eu tente.
Às vezes, sinto que estou falhando com Vick, assim como sinto que falhei comigo mesma. Mas a verdade é que estou fazendo o melhor que posso, com as cartas que a vida me deu. Eu não tinha um plano de jogo quando tudo isso aconteceu, e, sinceramente, ainda estou improvisando na maior parte do tempo.
Eu olho para meus pais, para Austin, e vejo o quanto eles se destacaram nas áreas que escolheram. E, mesmo que eu saiba que fiz escolhas diferentes, às vezes me pergunto se não os decepcionei. Não por ter sido mãe tão jovem, mas por não ter seguido o caminho que eles sempre imaginaram para mim.
No entanto, quando olho para Vick, para sua força, inteligência e até mesmo para suas birras, sinto uma ponta de orgulho. Ela é minha obra-prima, mesmo que não tenha sido feita sob as circunstâncias ideais. E por mais que eu não tenha ido para Harvard, por mais que eu tenha desistido de tantos sonhos ao longo do caminho, eu sei que, de alguma forma, estou criando uma garota incrível. Mesmo que às vezes ela me odeie por ser a única figura parental que ela tem.
E nesse momento, enquanto ela se afasta de mim e se tranca no quarto, vejo como é difícil ser mãe de uma adolescente. Especialmente uma adolescente como Vick, que carrega tanto dentro de si. E eu... eu só queria poder dizer a coisa certa, mas muitas vezes, as palavras me escapam. Eu só posso esperar que, um dia, ela entenda que, apesar de todos os meus defeitos e falhas, eu sempre fiz tudo com o objetivo de dar a ela uma vida melhor.
Eu suspiro, observando a porta do quarto dela fechada. Eu deveria entrar e tentar falar com ela novamente? Ou seria melhor deixá-la esfriar a cabeça? Eu nunca sei o que fazer nessas situações. A maternidade não veio com um manual, e a verdade é que estou tentando descobrir tudo sozinha, da mesma forma que venho fazendo desde o dia em que a segurei pela primeira vez nos braços. E com esses pensamentos girando na minha mente, eu desço para a sala de estar e me deixo cair no sofá, exausta. Mais um dia em que tentei ser a mãe que ela precisa. Mais um dia em que talvez tenha falhado. E mais um dia em que, apesar de tudo, continuo tentando.
Após o que eu acredito ter sido uma meia hora, deitada no sofá, cobrindo os olhos, tendo flashs de memórias do passado, com um suspiro cansado, me levanto do sofá e decido que preciso tentar mais uma vez. Não poderia deixar que o silêncio entre nós ficasse mais profundo do que já estava. Fui até a porta do quarto de Vick e, antes de bater, respirei fundo, tentando acalmar o coração acelerado.
— Vick, sou eu — disse, com uma voz que eu esperava ser suave e encorajadora. — Posso entrar?
Não houve resposta. Só o som do choro abafado e a respiração pesada que me fazia sentir ainda mais impotente. Foi eu quem causei isso. Porque tento privá-la de algo que ela tem o direito de saber.
Bati novamente, um pouco mais forte desta vez, mas sem querer ser invasiva.
— Vick, por favor, eu sei que você está chateada, mas nós precisamos conversar. Eu quero entender o que está acontecendo, quero te ajudar.
Finalmente, ouvi um movimento do outro lado da porta, e a chave girou na fechadura. A porta se abriu lentamente, revelando Vick com os olhos vermelhos e um rosto molhado de lágrimas. Ela parecia estar lutando para manter a compostura, mas a dor estava evidente. Tranquei a respiração, querendo puxá-la para um abraço, mas, a essa altura do campeonato, eu sabia que ela se esquivaria até mesmo de um simples toque meu ao braço dela. Era assim que ela evitava mais dor para si mesma.
— Desculpe por gritar — disse ela, a voz ainda tremendo. — Eu só... Eu só queria saber a verdade.
Eu entrei no quarto, a dor no peito se tornando quase insuportável. Sentei na beirada da cama, tentando parecer o mais acolhedora possível.
— Eu entendo, meu amor. Eu sei que você tem muitas perguntas e que não é fácil para você. — ela caminha até mim, e para de pé, com os braços cruzados, mas sua postura era defensiva — E eu prometo que vou te contar o que eu puder, mas me deixe primeiro saber o que aconteceu hoje, ok?
Vick assentiu, enxugando as lágrimas com as costas das mãos.
— Ele estava falando sobre o meu pai. — começou, um soluço veio junto. — O Cristopher, eu quero dizer. Ele estava me provocando, dizendo que eu era uma "garota sem pai" e... e eu só não consegui controlar. Eu não consegui.
— Sinto muito que ele tenha dito isso. — estendi o braço, tentando enxugar a lagrima abaixo dos olhos dela, mas como era de se esperar, ela se esquivou — Ninguém deve te dizer coisas assim, e você não precisa se justificar por se defender. Mas precisamos encontrar uma maneira melhor de lidar com essas situações, sem recorrer à violência.
— É que... é tão injusto! — faz a volta, se sentando na cama, rescostando-se na cabeceira.
— Se você tivesse me dito isso lá, na frente da diretora, eu teria xingado esse moleque. — virei-me para ela, e vi um pequeno sorriso surgir.
— Mãe, se você brigasse, daí sim eu seria expulsa!
Eu ri.
— Pelo menos eu teria mostrado que ninguém mexe com a minha filha! — brinquei, e quando ela secou as lágrimas novamente, fiquei um pouco séria — Isso acontece há muito tempo?
— Não. O senhor Mathews nos mandou fazer um trabalho de filosofia em dupla, mas era ele quem decidia isso. Nos pôs juntos, e, até então eu nem falava com ele... Fui praticamente obrigada a fazer dupla com ele. — dramatizou.
— Oh, eu tive uma história mais ou menos parecida.
— É mesmo? — olhou-me de canto, como se quisesse ver se eu estava só tentando animá-la, ou se disse a verdade.
— É sim. — assenti. — Um garoto bobo tentou colar de mim em um teste surpresa de filosofia. Eu não queria encrencas, eu tinha que ter as melhores notas, e se alguém pensasse que eu estava colando, enfrentaria problemas com seus avós. Para o meu azar, o professor viu quando eu repreendi o garoto, e ambos paramos na direção. Nosso castigo? Por um pouquinho assim — sinalizei com os dedos — eu não fui expulsa, e ele também, claro. E só porque irritamos muito a diretora, seus avós não ficaram sabendo. Mas o garoto e eu fomos obrigados a fazer um trabalho de filosofia juntos para compensar nossas notas perdidas, e também para aprendermos a "conviver em paz". Além de claro, termos ganhado suspensão. Algo que seus avós não ficaram sabendo.
— Nossa, que garoto idiota! — fez uma careta, e eu ri. Ela me acompanhou. — Por que você não preferiu outra coisa? Não era melhor do que ter feito esse trabalho com ele?
— Bom.... — me encostei na cabeceira da cama também, virando-me levemente para o lado dela, com um sorriso nos lábios — Se eu não tivesse feito esse trabalho com ele, então, hoje você não estaria aqui.
Victória pareceu demorar para assimilar minha resposta. Seu rosto aínda mantinha uma expressao que a qualquer momento poderia se transformar em braveza. Porém, foi aí que pareceu se iluminar, quando ela finalmente entendeu.
— Espera, esse garoto é o meu pai? — perguntou indo para a frente, descruzando os braços.
— Isso.
— E foi assim que se conheceram?
— Foi, meu amor. Nós fizemos o trabalho juntos. — tentei dar a ela informações que a deixariam satisfeita.
A garota ficou em silencio novamente. Abaixou a cabeça, e, eu logo percebi qual era a dúvida que a rondava. Aquela mesma que ela fez dentro do carro.
— Os olhos. — falei, capturando sua atenção novamente. Ela levantou a cabeça, arqueando uma sobrancelha, confusa — Seu olhos, Vick. São verdes, iguais aos dele. — expliquei.
— Tenho os olhos do meu pai, então?
Como se ainda estivesse na defensiva, mas agora um pouco mais aberta, vi Vick vindo para mais perto de mim, aos poucos.
— Sim, minha linda. — estendi os braços, e quando ela finalmente se jogou neles, eu a apertei contra mim, afastando os cachos teimosos que grudaram em suas bochechas — São o mesmo verde intenso dos dele. — beijo sua testa, e ela aconchega a cabeça em meu peito — E não é só isso. Quando você sorri, embaixo dos seus olhos se formam vincos. Identicos aos dele.
— Eu sabia que eu não poderia ser apenas uma cópia sua. — ela disse em tom brincalhão, mais animada. — Obrigado por falar.
— Não precisa agradecer. — acariciei seu braço, aínda coberto pelo blazer do uniforme. — E sabe, sua personalidade é parecida com a dele, em parte. O temperamento dele. Não gosta de toque físico quando está irritada, e age de forma impulsiva quando está de cabeça quente. E isso tudo é porque vocês compartilham uma paixão e uma lealdade. Gostam de defender suas ideias, valores e o porquê de acreditarem naquilo pelo que estão lutando.
— Caramba. Ele deve ser um cara legal. — o comentário me fez olhar pra baixo, por ter a impressão de que ela estava chorando. Talvez emoção?
— Ele é legal. — afirmei.
— Ele é tipo, foda demais?
— Foda demais? — ri pelo comentário. — O que define alguém como "foda demais"?
— Ser alguém incrível mamãe, sem comparação.
— Ah, sim, eu acho que... bem, dá pra dizer isso. — respondi, e ela riu.
— Por que não estão juntos? Por que ele não me criou?
— Hum... — fiz uma careta, olhando para o teto. — Você vai ficar muito chateada se eu não quiser te responder isso? Pelo menos por agora.
Vick me olhou por alguns minutos, como se ponderasse a ideia, e então deitou a cabeça em meu peito novamente.
— Não, não vou. — disse me abraçando. — Mas lembre-se... meu aniversário de dezesseis anos está chegando. E acho que o melhor presente seria saber mais sobre ele.
— Estarei pensando no seu caso. - acariciei os cachos dela, identicos aos meus. — Ei, Vick, esqueci de mais uma coisa que você e ele têm em comum.
— E o que é?
— Vocês fazem aniversário no mesmo dia. - contei.
— É sério isso? — questionou em choque. — Nascemos no mesmo dia? Isso é incrivel! — exclamou dando um leve gritinho de animação. — Mamãe, sabe o que isso quer dizer?
Eu dei de ombros, ainda fazendo carinho em seus cabelos.
— Quer dizer que, além da minha bisavó, Marjorie, ter nascido no mesmo dia que eu, aquele jogador que eu amo ter nascido nesse mesmo dia, o meu pai também! — ela se afastou, e sentou-se em pernas borboletas, batendo palmas — Isso é como... como uma enorme corda invisível. Você não acha isso uma espécie de corda invisível!?
Meu coração deu um salto. Eu sei muito bem de qual jogador ela está falando. Vick o admirava desde seus nove anos, algo que nunca entendi muito bem, já que nunca mostrei a ela nada relacionado. Meu pai ficava impressionado com o fato de que, ela não queria saber nada dos Eagless. Ela só torcia para um único time, e defendia sua ideia.
Tentei disfarçar o quanto aquilo mexeu comigo, mas não tenho certeza se consegui.
— Eu acho que eu sou muito sortuda por ter você. É isso que eu acho. — me sentei, e apertei levemente seu nariz.
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