ㅤII. ─── ❛GREEN LIKE ANGER.
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002 ── VERDE COMO RAIVA.
📍PORTO REAL, 111 DC.
Arleah Hightower era a penúltima filha de Otto e Alyce Hightower — nascida dos Redwyne da Árvore, produtores do melhor vinho westerosi já degustado por seus lábios — e de certo a que mais assemelhava-se ao pai; possuía uma pretensão imódica sobre si mesma quando não era nada do que comumente estampava, comprazendo-se de uma língua acídula que dissimulava seus julgamentos precedidos e em suma maioria, iníquos. Paralelamente à Alicent, seus cabelos eram muito loiros como ouro difundido e estava sempre envolvida com as cores da casa de seu marido, Roy Tarly, esmeralda e carmim, outra família casa residente da fértil Campina.
— Nosso tio Wilder insiste em salientar que seria mais proveitoso ter meu pequeno Randall consigo em Vilavelha. — Queixou-se, aparentemente mais preocupada por ser mandada do que a distância que seria imposta com sua progênie. Seus dedos apertaram as arestas da pequena xícara de porcelana com tanta força que ficaram marmorizados. O objeto bonitinho continha uma pintura em rosas fúcsias da cor do brasão que o lado materno das irmãs Hightower exibiam. Um espiral de fumaça leve erguia-se do chá de gengibre que fora servido, aquecendo as bochechas descarnadas.
Alicent poupou um olhar para a irmã enquanto seus dedos perfilavam gentilmente os cabelos perolados da pequena Helaena, que rodeava uma joaninha entre seus dedinhos gorduxos, muito absorta com o inseto. Pelo menos não é como os últimos besouros nojentos, Rhaella ponderou desgostosa, envolvida no próprio bordado que costurava pacientemente — ainda que não pudesse argumentar estar primoroso, pois tinha de admitir que sua graciosidade era mais externada por dança e canto — mas com os ouvidos prontamente vigilantes ao diálogo promissor das irmãs, ensaiados para absorver os pormenores; elas tentavam incluí-la, ao lado de Ferelith, sempre que possível.
Rhaella sempre soubera muito através da língua solta de Lady Arleah, que era necessitada por influenciar suas infâmias; naquele ano, sua estadia na corte estendeu-se além do tempo previsto após o encerramento do torneio comemorativo ao casamento do rei e da rainha, que já havia se passado há uma quinzena — agora, dispunha de uma paparicação vigorosa para a irmã, a rainha consorte.
— De certa forma, seria, sim. Vilavelha sempre recebeu visitas no porto de mercadores que atravessam o Mar Estreito e isso prepararia Randall para quando meu sobrinho viesse a tornar-se chefe de sua casa. — Retrucou, nivelando seu tom de voz em uma doçura inquisitiva. Ella revirou-se no futon que espalmava o piso de pórfiro vermelho em mosaicos e cutucou Ferelith Penrose, sua dama de companhia, com o cotovelo. — Estar envolvido em negociações e um lado que explora o financeiro certamente o deixará preparado para futuras adversidades.
A menina de pele morena ergueu os olhos, piscando para sua senhora, que apenas deu-lhe um sorriso malicioso e esticou as sobrancelhas para que a outra se atentasse à conversa. Ferelith, mesmo muito acanhada pela presença da rainha, esticou o pescoço pequeno para que pudesse ouvi-la melhor. Era a filha caçula de Edmund Penrose e uma das poucas jovens que souberam atenuar o comportamento imprevisível de sua pequena senhora — seus olhos eram gentis e mesmo sendo uma garota insuportavelmente sensível, Rhaella a tinha em estima.
— Até que ele tenha meu filho enrolado em seu dedo mindinho, Ali. — A relutância da senhora Tarly persistiu, fervorosa. Alicent, no entanto, não transpareceu comoção aos exageros da irmã. — Meu filho crescerá e responderá a todos os pedidos dele, já que é muito vantajoso para tio Wilder ter um herdeiro de uma das maiores casas da Campina ao seu lado, somado ao próprio sangue nas veias.
— Irmã, a casa da nossa família é tão poderosa quanto aqueles que detém o título de Senhores Supremos. — Dissera a rainha, com a voz soando levemente incomodada.
— Eu sei, Ali, e jamais torceria para uma possível decadência do lugar onde crescemos, mas ainda sim...
— Não te apoquentes com tamanha trivialidade, querida. Deuses! Não fora tio Wilder que dedicou-se em muito com nossa educação? — Respondeu a consorte com palavras aprazíveis. — Deveria estar contente com a possibilidade que lhe é oferecida.
Rhaella compreendia tamanha confiabilidade que sua madrasta empenhava no tio. Wilder manifestava seu gosto por Aegon abertamente, reforçando e garantindo que os Hightower de Vilavelha engradecessem o menino a cada novo festejo que os trazia para Porto Real, presentando-o com luxuosos gibões ornados com fios de ouro como a escama do dragão do meio-irmão que eclodira meio ano após seu nascimento.
E aquilo tratava-se da pura ambição que aquele sangue carregava em ver-se decorando o Trono de Ferro. Alicent não seria tola em buscar repelir qualquer tentativa que Wilder faria para saciar seus gostos — ao menos não abertamente — como manter ainda mais controle sobre as ramificações de sua família, entretanto, não ignoraria os apelos da irmã mais jovem.
— Eu compreendo o que quer dizer. — Com a aparente teimosia, Rhaella não acreditava muito naquela afirmação. — A mãe pode tê-la abençoado com a independência e um belo destino, — Agora, Rhaella tentou ignorar seu achismo que insinuava ter ouvido uma pitada de ciúmes na voz da Senhora Tarly. — mas veja só nosso irmão, Allerick; responde a ele mesmo residindo nas Terras da Coroa.
Allerick era o filho mais velho de Otto. Rhaella possuía pequenas lembranças do homem; ao precípuo do reinado de seu pai, ele atuava na Patrulha da Cidade e sabia que havia desenvolvido muitos problemas com tio Daemon. Pouco após a coroação de Alicent, retornara para sua sede ancestral e agora partira para Cinzamarca onde aguardaria seu casamento com a jovem Merryn Marbrand.
Passando a linha vermelha mais uma vez no pano branco, Rhaella moveu os olhos e olhou disfarçadamente sobre os cílios longos e claros quando um sorriso gentil floresceu nos lábios da consorte. Estendendo uma mão sobre a de Arleah, retorquiu-lhe:
— Se tal for o problema, quando Randall atingir uma idade adequada, você deve encaminhá-lo para corte. Posso designá-lo como um escudeiro para Viserys ou ao meu próprio Aegon.
As irmãs Hightower estavam alinhadas em uma longa mesa de madeira preciosa no terraço das câmaras de Alicent. Os pés da mesa eram folheados em espirais dourados que enrolavam-se até o suporte da plataforma acima, que continhas travessas com tortinhas de limão, mirtilo e frutas vermelhas. A fumaça dos bules de chás de gengibre, hortelã e camélia subia pelo ar em aromas suaves e rosquinhas enfeitadas com açúcar diluído foram empilhadas umas contra as outras. A correnteza da Torrente de Água Negra era abafada pelo som da gravidade, e Rhaella, mesmo recolhida confortavelmente no futon, conseguia observar através das pilastras o sol refulgir com iridescência sobre a água.
Amplos vasos talhados a argila eram tampados com saudáveis folhas de helicônia e hortênsia, cada um disposto nas extremidades do terraço. O chão havia sido forrado com tapetes vindos de Myr, tornando o piso gelado aprazível sobre os pés.
Helaena estava sentada aos pés da mãe, em uma pequena poltrona que a permitia encostar os pés no chão. Ferelith ao lado de Rhaella, próxima à Alicent.
— Diz a verdade, irmã? — Lady Arleah reclinou o pescoço com certo interesse.
— E por que não falaria? Crescemos juntas e seria de meu agrado que nossos filhos também crescessem. Randall é um bom menino. — Encarando de soslaio, Rhaella percebeu sua madrasta inclinar a cabeça e estender os dedos com anéis de esmeralda e rubis decorando-o pomposamente e apertar a mão da irmã. — Ele seria ótimo para Aegon e é o tipo de companhia que eu desejo para meu filho, não as que prosseguem tentando influencia-lo em linhas sinuosas.
Um tipo de companhia que se calaria perante a rebeldia do pequeno Egg, era quase irônico como Alicent acreditava estar criando o menino em um caminho de fé, quando Ella poderia jurar que seu irmão era a encarnação do diabo — certamente que não era mãe para compreender, mas um menino que atirava comida nos outros em um banquete era tudo, menos cortês.
— Ah, Roy me informou. Lamento que tenha de suportar tamanha falta de respeito em seu lar, irmã. — Arleah prolongou-se em um longo suspiro de insatisfação, tamborilando as longas unhas na mesa.
Ella lembrava-se, de quando havia chegado na corte após seu pai ser consagrado como rei, apenas uma garotinha, de Daemon incentivando de que a mais nova menina de Otto era a mais divertida — detinha conhecimentos de alquimia. Rhaella viu-se frustrada ao vislumbrar sua personalidade tão pouco intrigante como criou expectativas.
(Talvez não devesse julgá-la — casar-se com um homem deveras adiantado na vida do que a si, ou seja, velho e que sempre transpirava mesmo sobre suas caríssimas roupas de algodão, era uma tristeza válida pela qual chorar e perder o encanto para sempre.)
Alicent caiu para trás em sua cadeira, dando a Rhaella ainda mais a visão de seu rosto que parecia azedo como se cheirasse algo pútrido. Sabia que a presença de seu tio estava deixando a madrasta mais zangada, como se já não bastasse como ele trazia autoconfiança para que Rhaenyra demonstrasse abertamente que não importava-se com o que a segunda esposa do pai delas pensava.
Ela olhou um pouco para trás, notando uma serva que aguardava perto das cortinas para a sala de jantar da rainha estagnada como pedra.
O tom de voz de Alicent proclamou-se empoladamente angustiado.
— Me preocupo mais que seus atos impúdicos possam afetar a reputação de minha enteada. — Rhaella quase sorriu do quão falsa ela soava. — Passar tanto tempo assim, na companhia de um homem como ele que não se contenta em suas noites de bebedeira e festas na Rua da Seda. O que pensarão da pobre menina?
Sua madrasta sabia ser mais engenhosa e perigosa do que permitia transparecer. Dizia tais falácias com o exato intuito de que a serva parada à entrada do terraço propagasse as fofocas pelos funcionários da Fortaleza, em uma tentativa ingênua de criar repúdios contra o Deleite do Reino.
— A benevolência do rei é grandiosa. Entristece-me observar homens como o príncipe rebelde fazerem tão pouco caso disso, maculando o nome de Viserys, seu próprio irmão que crê cegamente em sua melhora... — Arleah indignou-se, esfregando a bochecha picada com sardas.
Rhaella de repente sentiu as bochechas aquecidas, a derme abrasada e inundada por um sentimento raivoso. Seu tio poderia ser detentor de um caráter insubordinado e zombeteiro, mas ele estava lutando bravamente nos Degraus enquanto todos contemplavam um trono de regalias salvo por ele e a frota Velaryon — não deveriam insultá-lo de tal forma.
Ela desviou os olhos das mulheres apenas para encontrar as maçãs do rosto em rosáceas de Ferelith, um tom coral vivo sob a pele marrom.
Os encantos de tio Daemon realmente atingem todas as jovens donzelas do reino... Lembraria-se de corrigir sua dama de companhia mais tarde de que não deveria ter tais reações na presença dele.
Reprimiu um grunhido irritado, mas o eco de uma exclamação aterrorizada de Ferelith Penrose definitivamente a fez arregalar os olhos.
— Senhora! Seu dedo está sangrando. — Mal detectando a dor, piscou e fechou a boca para evitar esparsar a confusão que lhe abateu. Guiando os olhos até suas mãos, observou uma coloração carmesim tingindo o tecido branco conforme segurava com força o anel de madeira ao redor das mãos.
Rhaella não havia registrado o incômodo, mas quando puxou a agulha perfurando a ponta de seu dedo, uma ardência profusa começou a jorrar da pele. Pousou o bordado arruinado no colo e inspecionou o dedo com uma careta.
— É apenas uma perfuração, Ferelith, não há razão para tal reação exagerada. — Retrucou aborrecida, seu mau humor apenas intensificando-se quando percebeu que Alicent levantava-se e vinha em sua direção.
— Você gostaria de ir para seus aposentos, querida? — Sua madrasta indagou quando parou ao seu lado, depositando uma mão gentil em seu ombro direito conforme o cabelo dela se misturava ao seu.
Rhaella fungou, desapontada por perder o restante da possível conversa.
— Creio que minha desatenção esteja ressaltada, Ali. Um descanso seria proveitoso, sim. — A menina sorriu gentilmente, levantando-se do futon e segurando um lenço que Ferelith ofereceu-lhe. — Foi um prazer estar na presença de vocês.
— Sim! Agradeço pela hospitalidade, minha rainha. — Ferelith entoou, recebendo um olhar de ternura da Hightower. — E Lady Tarly. Espero poder vê-la nos próximos dias na corte.
— Você é um doce, Ferelith. — Arleah redarguiu com um risinho, acenando com a mão, como se não julgasse os outros há poucos instantes. — Bom descanso, meninas. Vossa Alteza.
Então Rhaella aproximou-se da pequena Helaena e beijou suas bochechas. Sua irmãzinha bateu palmas, entusiasmada e encarou-a com os olhos roxos profundos. Rhaella escondeu um sorriso muito feliz.
Quando deixaram as câmaras de sua madrasta, os corredores da Fortaleza de Maegor as receberam com as janelas de vidro espesso, em forma de losango, permitindo ao sol adentrar e rebrilhar no aço das armaduras de Aegon, ardendo-se nas paredes e tremeluzindo os fios de ouro das tapeçarias costuradas nelas. Um luxuoso tapete de veludo escarlate havia sido estirado e assentava os passos, combinado com a pomposidade das esfinges valirianas destentidas pelo ambiente — Alicent as desprezava, aceitando-as relutantemente.
Há pouco tempo, seu pai havia autorizado que mais delas fossem erguidas nas praças movimentadas ao percorrer de cidade, com dez metros de altura, enfurecendo o coração de tão fiel religiosa. Até os grupos de Irmãs Silenciosas estampavam insatisfação em seus rostos feios e amargurados, mas ter uma rainha como Alicent suavizou e silenciou qualquer possível revolta.
Sor Steffon Darklyn estava na porta, o guarda que seu pai juramentou à madrasta e seus meio irmãos. Rhaenyra tinha o belo Criston Cole e para ela havia sor Arryk Cargyll, que era uma companhia agradável. O velho cavaleiro as reconheceu com um aceno de cabeça respeitoso.
Rhaella encarou de soslaio o espaço, apertando o lenço de Ferelith no dedo e percebendo que guarda nenhum estava afetado pela presença das meninas, apenas alguns de posições mais baixas aos quais ela não sabia os nomes conforme desciam as escadas. Sabia que era o momento perfeito para abordar a Penrose por suas reações inadequadas — embora a própria Rhaella sabia que aquela mesquinharia era seu ciúmes latente, ainda que salvasse Ferelith de um possível importunio futuro.
— Você precisa entender algo sobre o tio Daemon, Ferelith. — Rhaella pronunciou-se em voz baixa, no entanto, com uma firmeza que exalava toda a autoridade que ela detinha em mãos. — Ele pode ser... complicado.
Ferelith ergueu as sobrancelhas, os olhos castanhos cheios de acanhamento como se houvesse sido pega fazendo algo que não deve.
— Por que cita Vossa Alteza para mim, senhora? — Disse um tanto trêmula.
Rhaella respirou profundamente, desejando ser assertiva e utilizando de palavras concisas para salientar à vontade de que o tio possuísse uma admiradora em falta.
— Ah, não seja tola. — Disse-lhe impacientemente. — Não passou-me despercebida a maneira como reagiu à menção dele há pouco. Meu tio é um homem de muitas facetas. Às vezes, pode ser encantador e cativante, mas também é imprevisível e temperamental. Confie nas palavras e receios de minha madrasta, pois tudo é a pura verdade.
A expressão de Ferelith amargou em seriedade, os olhos grandes ainda mais arregalados. Ferelith era uma menina temente à Fé dos Sete e admirava sua madrasta, mediante aos atos de fé e procissão que Alicent realizava com constância, enaltecendo-a como se ela fosse a própria Mãe.
Pega no pulo pela blasfêmia.
— Eu não quis soar atrevida, minha senhora. Imploro por seu mais sincero perdão. — Ela murmurou em sua vozinha chorosa, diminuindo a rigidez dos passos e parando no meio do corredor como uma figura petrificada.
Rhaella respirou fundo, cedendo a própria velocidade em que caminhava e olhando sobre o ombro, para a figura de sua dama de companhia franzina. Ela retornou alguns passos para trás, pondo-se de frente a Ferelith e ternamente segurando seus antebraços. Um pouco mais alta, ela tinha a vantagem quando Ferelith lentamente ergueu a cabeça para encará-la.
— Não se culpe, minha querida. — Assegurou Rhaella, encarando-a nos olhos. — É normal termos tais vislumbres como esse. Digo-lhe pensando em sua pureza e castidade.
Ferelith ficou vermelha como uma pimenta dornesa.
— Minha senhora... Eu nunca... Eu nunca... — A frase parafraseada quase a fez sorrir, mas a princesa apertou os lábios com dureza, algo que iria ratificar o que estava dizendo.
— Mas não sinta-se pressionada quanto a isso. Eu desejo um bom futuro para você. É meu dever proporcioná-lo e não quero que isso seja fraudulado. — Era verdade. Como princesa, ela tinha de proporcionar um casamento abastado e confortável para Ferelith. — É apenas o aviso de uma amiga. Agora, — Recuou um passo para trás, devolvendo o lenço enrolado no dedo para a Penrose e perpassando-os pela cintura. — vá até os aposentos de Caelia e apresente a ela nossas mais sinceras melhoras.
A expressão de vergonha rapidamente misturou-se à confusão, com o rosto da menina encarando-a de forma torta.
— Minha senhora não virá?
Rhaella prendeu um bocejo.
— Tenho de fazer outra coisa.
Ainda tomada pela dúvida, Ferelith balançou a cabeça com hesitação e reuniu as saias do vestido para uma mesura, indo na direção oposta à da princesa e escapando pelas portas altas e esculpidas da saída. Enquanto isso, Rhaella moveu-se para retornar ao andar de cima, interceptando-se pelas escadas que situavam-se abaixo de um largo arqueduto achatado, segurando o corrimão gelado que enervou seu pequeno ferimento.
Atravessando os lances de escadas, continuaria seu caminho até vossos aposentos se não fosse pela visão da área balaustrada lhe fornecer Rhaenyra com tio Daemon, rindo, no pátio. Ela retrocedeu os passos, encaminhando-se para atrás da janela arreganhada, percebendo seu cabelo prateado grudado no pescoço, a roupa de equitação pomposamente de couro escarlate. O braço dela estava enroscado no do príncipe rebelde, que caminhava em toda sua imponência. Ela olhou para os lados, ressintindo-se por aquele lado não ter dar vista aos aposentos da madastra.
Alicent os depreciando suavizaria a inveja que sentiu.
Rhaella ficou vermelha, os tendões de seus dedos embranquecendo-se ao serem pressionados duramente.
— Está ficando verde, Rhaella, muito cuidado. — Ela soltou um gritinho com a presença repentina ao seu lado. Girando a cabeça tão rapidamente que ficou tonta, recuou um passo para trás e fitou a figura ardilosa de Gwayne Hightower parado à sua frente.
— É Vossa Alteza para você. — Ela corrigiu, endurecendo a postura, empinando o nariz. Mas tudo que o impertinente Gwayne fez foi expandir seu sorriso.
— Há algo que a perturba, Vossa Alteza? — A maneira como seu comentário jocoso fora compartilhado irritou-a ainda mais, se possível. Os lábios corais estavam comprimindo-se para não rir copiosamente.
— No momento, sua presença, sor. — Ouviu-se o baque surdo de seus pés arrastando-se no assoalho de mármore, buscando olhar para fora apenas para constatar que Rhaenyra e Daemon já haviam se movido para longe. Mas, como algo tocando-a em alerta, voltou-se para Gwayne. — De onde você surgiu?!
Ela meio exclamou, meio perguntou, apenas para que ele zombasse de sua cara dando um passo ao lado e evidenciando-se a escada pela qual ela própria subiu atrás de si. Merda. Não havia ouvido seus passos, mas deveria estar compenetrada demais à visão terrível.
Gwayne Hightower, o irmão da rainha. O filho mais novo da ninhada deturpada do deposto Mão do Rei, Otto. Rhaella o odiava. Alguns anos mais velho que ela, ela teve de conviver com Gwayne desde que podia se lembrar. Tentaram torná-los amigos na infância, mas perceberam que a animosidade era absolutamente irreversível. E não havia nada específico que justificasse tais motivos, a não ser, nas palavras de Gwayne, aos sete anos, que Rhaella era muito chata.
E ela era mesmo.
Mas ele também lhe deixava muito aborrecida.
E odiava admitir, mas ele era muito bonito. Gwayne possuía uma massa de grandes cachos loiros que desciam até o meio de seu pescoço e seus olhos eram como jades lustrosas. Ele era bons centímetros mais alto que ela, com um lábio inferior mais cheio do que o superior, uma mandíbula angulosa e definida, além de possuir sobrancelhas que personificavam a dualidade de seu rosto tão severo e suave — como se os traços de seus genitores estivessem duelando em sua imagem.
— Não acredito em você. — Veio a resposta rápida. Contrariando-a, havia um laivo de sagacidade fomentando entre ambos. — Diria que está fervilhando de ciúmes.
Rhaella apertou os olhos involuntariamente, contraindo-se.
— Você deveria cuidar da sua vida. — Interrompeu-o bruscamente, esticando os dedos engolfados na palma da mão para dar-lhes alívio. — O que está fazendo aqui?
Foi a vez de Gwayne erguer uma sobrancelha. Era engraçado como ele, um rapaz imberbe, estava envolto de uma opulenta e enorme armadura de prata polida até cegar, contrastando com a malícia obscura que emanava de seus olhos. A armadura detinha seu topo gravada com uma torre em relevos de branco e cinza escuro, as cores de Hightower.
— Eu deveria cuidar da minha vida? Interessante, Vossa Alteza, pois eu estou exatamente onde deveria estar. — Gwayne inclinou-se ligeiramente, um brilho malicioso dançando em seus olhos. — Sou designado para proteger a minha irmã todos os dias.
Rhaella respirou fundo, tentando manter a compostura. Ela sabia que responder ao sarcasmo de Gwayne só pioraria a situação. Além disso, havia uma parte dela que não podia ignorar o fato de que ele estava, de certa forma, apenas cumprindo seu dever — e que Alicent mantinha-o junto a ela como se fossem gêmeos, mesmo com a notável diferença de nove anos. Isso o dava muita proteção. Muito prestígio. Ele nem ao menos precisava ser um dos Sete de Viserys. No entanto, seu tom provocador e a constante sensação de ser observada por ele a incomodavam profundamente.
— E, ao que parece, você encontrou um "problema" onde não existe nenhum, sor. — Disse ela, a voz carregada de irritação contida. — Estou apenas apreciando a vista.
Gwayne riu, um som baixo e cheio de escárnio. Ele deu um passo à frente, aproximando-se mais de Rhaella, que manteve sua postura ereta e orgulhosa.
— Apreciando a vista, é claro. — Ele fez uma pausa, olhando para fora da janela onde Daemon e Rhaenyra estavam de costas. — Parece que temos interesses parecidos, Vossa Alteza. Eu também aprecio boas vistas.
Rhaella sentiu o calor subir-lhe às faces. Ela sabia que Gwayne estava apenas tentando provocá-la, mas não conseguia evitar a reação instintiva que sua presença sempre despertava.
— Se me perdoa, sor, tenho coisas mais importantes a fazer do que escutar suas insinuações. — Retrucou com os dentes cerrados, tentando adotar seu comumente tom de superioridade que, esperava, disfarçaria seu aborrecimento.
— Ah, mas é claro, Alteza. — Gwayne respondeu, inclinando-se em uma reverência exagerada. — Quem sou eu para interromper as importantes tarefas da princesa?
Rhaella virou-se bruscamente, decidida a afastar-se da presença de Gwayne antes que perdesse completamente a paciência. Ela sentia o olhar dele queimar-lhe as costas enquanto se afastava, seus passos tão duros como o bater de um martelo na madeira.
— Sabe, Vossa Alteza — A voz de Gwayne a alcançou novamente, suave como um sussurro —, é um desperdício ver tanta paixão desperdiçada em trivialidades. Talvez devesse encontrar uma ocupação mais digna de sua... intensidade.
ㅤ── ❪ ♱ ❫ A Rhaella é tão maluquinha da cabeça que me rende boas risadas— E tivemos a primeira interação dela com Gwayne, uma relação bem... Singular, que eu tô animadíssima para escrever! Me deixem saber o que estão achando, adoraria ouvir a opinião de cada um <3
PUBLICADO DIA 16/06/2024.
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