|025 - Controle.
A manhã começava a despontar timidamente, com a luz filtrando-se pelas cortinas do meu quarto. Não era o sol que aquecia meu corpo, mas a proximidade de Erick ao meu lado. Sua respiração era um ritmo constante, um som que eu nunca me cansaria de ouvir.
Deitado ao seu lado na cama bagunçada, meu olhar se fixava nele, que estava parcialmente sobre mim, os olhos semicerrados e os lábios inchados de nossos beijos. Sua pele quente irradiava calor, uma sensação que sempre me surpreendia, tão oposta ao meu corpo frio.
— Bom dia… — ele murmurou em algum momento, a voz ainda rouca do sono, mas logo seus lábios se curvaram em um sorriso preguiçoso antes de se inclinarem para encontrar os meus.
O beijo começou devagar, quase inocente, mas logo a intensidade entre nós cresceu como uma tempestade inevitável. Minhas mãos subiram automaticamente para a curva de suas costas, puxando-o para mais perto. Eu podia ouvir cada batida do coração dele, forte e acelerada, e, como sempre, esse som me desarmava.
Eu era um predador por natureza, mas com Erick… era diferente. A sede estava ali, sempre à espreita, mas era sobreposta por um desejo igualmente primitivo: protegê-lo, adorá-lo. Ele me fazia sentir quase humano, mesmo quando meu controle tremia.
Seu corpo pressionava o meu, e um gemido suave escapou de seus lábios, vibrando contra os meus. O som me deixou louco. Minhas mãos desceram, parando na curva de suas coxas, apertando de leve, enquanto seu calor queimava através do tecido de nossas roupas.
— Edward…— Ele sussurrou contra minha boca, um aviso, um pedido.
Eu me forcei a parar, a respirar, a me afastar, mas meu autocontrole estava perigosamente perto de ruir. Erick segurou meu rosto com as mãos quentes, seus polegares traçando minha mandíbula. O olhar dele era confuso e cheio de desejo, e eu sabia que o meu não devia estar muito diferente.
Eu conseguia ouvir o sangue fluindo por suas veias, cada célula viva pulsando ao ritmo daquele coração perfeito. Era um som hipnotizante e cruel, que testava minha força de vontade em um nível que ninguém mais poderia compreender.
— Erick, — murmurei contra seus lábios, tentando recuperar alguma racionalidade. — Se continuarmos, não sei se vou conseguir parar.
Ele riu baixinho, um som que era pura tentação. — Acho que esse é o ponto, Edward.
Antes que eu pudesse responder, o som irritante do despertador cortou o momento como uma faca. Erick gemeu de frustração e caiu de costas na cama, cobrindo o rosto com as mãos.
Eu me sentei, passando uma mão pelos cabelos. O alívio e a frustração dançavam em conflito dentro de mim. Talvez o destino tivesse um senso de humor cruel.
— Hora de se preparar para o treino — falei, tentando afastar o desejo que ainda queimava entre nós.
Erick me olhou de lado, um brilho travesso nos olhos. — Isso se você não me devorar antes, — ele brincou, rindo da própria piada, mas sem saber o quão perto aquilo poderia estar da verdade.
— Confie em mim, — respondi, com um sorriso tenso. — Você está mais seguro comigo do que eu estou com você.
Ele gargalhou, a melodia de sua risada tão envolvente quanto a batida de seu coração. — Vamos ver se isso é verdade depois do treino.
Enquanto ele se levantava para se vestir, eu fiquei parado, observando-o. Cada movimento dele era um lembrete de tudo o que eu tinha a ganhar… e tudo o que podia perder. Hoje seria um teste não apenas para Erick, mas também para mim.
XXX
Depois do café da manhã reforçado que Esme insistiu em preparar, Edward me conduziu até o grande campo atrás da casa dos Cullen. O lugar era quase surreal, com o gramado verde se estendendo até a linha das árvores, criando uma sensação de isolamento e tranquilidade. Era o espaço perfeito para que eu pudesse praticar sem medo de causar estrago.
Carlisle já estava esperando, com as mãos nos bolsos de sua jaqueta jeans, enquanto Emmett mexia em algo no chão, claramente ansioso. Alice e Jasper estavam mais afastados, observando como se estivessem prestes a assistir a um espetáculo, e Rosalie estava encostada em uma árvore, parecendo entediada, mas ainda assim impecável como sempre. Edward foi para perto de Alice.
— Bom dia, Erick, — cumprimentou Carlisle com seu tom calmo de sempre. —Espero que esteja pronto. Hoje vamos trabalhar no controle das suas habilidades, começando pela telecinese.
— Pronto é uma palavra forte, mas vamos nessa! — retruquei, enfiando as mãos nos bolsos para esconder meu nervosismo.
Carlisle assentiu, virando-se para Emmett, que já estava segurando uma pedra do tamanho de uma bola de futebol americano. Eu imediatamente estreitei os olhos.
— Pra que isso aí?— perguntei, desconfiado.
—Fica tranquilo, baixinho. Vai ser divertido — respondeu Emmett com um sorriso largo antes de lançar a pedra na minha direção sem aviso prévio.
Minha reação foi automática. Joguei amedrontado os braços na frente do rosto, e a pedra parou no ar, flutuando a meio metro de mim. Senti um peso estranho na cabeça, como se algo estivesse drenando minha energia.
— Por que não avisou ele antes? Poderia ter machucado Erick! — Me assustei com a voz de Edward ao meu lado, ergui o rosto para olhar para ele. Ao menos, entendi que se eu tivesse falhado, ele não teria deixado eu me ferir.
— E-eu tô bem, Edward… Tá vendo? Controle total — brinquei, tentando disfarçar o esforço enquanto girava a pedra no ar e a lançava de volta para Emmett. Não queria ver irmãos brigando por minha causa.
— Controle total, hein? — Emmett riu, pegando a pedra com facilidade. — Nessa eu tenho que concordar… O garoto é bom, mas você precisa deixar ele aprender, mano. Ele nem sempre vai estar com você. — era estranho ver Emmett falando sério.
Edward me olhou com nítida preocupação, mas não tive tempo de tranquilizar antes que Carlisle retomasse o controle da situação.
— Ótimo reflexo, Erick. Agora vamos trabalhar no uso defensivo da telecinese. Criar barreiras é uma habilidade fundamental que pode salvar sua vida em situações críticas.
— Legal, mas... como eu faço isso? Eu só sei segurar objetos com a mente, às vezes pessoas… — perguntei, franzindo o cenho.
— Imagine que está criando uma extensão da sua energia ao seu redor, — explicou Jasper, aproximando-se com passos calculados. — Algo sólido, como uma parede invisível. A melhor forma de aprender é testando.
Antes que eu pudesse processar o que ele estava dizendo, Jasper desapareceu. Um segundo depois, ele estava na minha frente, movendo-se rápido demais para que eu reagisse conscientemente. Instintivamente, ergui os braços, e uma barreira translúcida surgiu entre nós, fazendo com que ele parasse no meio do ataque.
— O quê? — murmurei, olhando para a barreira que eu só podia sentir sem realmente ver com incredulidade.
— Bom trabalho, — disse Jasper, recuando com um leve sorriso. — Agora tente fazer isso sem estar prestes a ser esmagado.
— Fácil pra você dizer… — resmunguei, mas me concentrei novamente.
As tentativas seguintes não foram tão bem-sucedidas. Sem o elemento do susto, parecia impossível reproduzir a barreira. Jasper continuava avançando, forçando-me a recuar enquanto tentava desesperadamente criar um maldito muro.
—Concentre-se, Erick — disse Carlisle, observando de perto. — Imagine a barreira como uma extensão do seu próprio corpo.
Depois de várias tentativas frustradas, consegui criar a barreira novamente, mas estava começando a me sentir exausto. Respirava pesado e minha pele estava muito quente, se continuasse assim eu vomitaria o café da manhã em alguém.
— Bom, isso foi divertido, — disse Emmett. — Agora, que tal brincarmos com fogo?
— Ah, ótimo. Porque isso nunca dá errado — comentei sarcasticamente, arrancando risadas de Alice.
Carlisle indicou uma pilha de madeira que ele claramente havia preparado antes. — Vamos trabalhar na sua pirocinese. Fogo é poderoso, mas também perigoso. O controle é essencial. —
— Controle, claro, — murmurei, revirando os olhos.
Concentrei-me na madeira, tentando imaginar as chamas surgindo. Meu corpo ficou tenso, e um suor frio escorreu pela minha testa. Nada aconteceu.
— Não force, — disse Carlisle. —O fogo é instintivo, mas você precisa guiar esse instinto.
Respirei fundo e tentei novamente. Uma pequena chama apareceu, tremendo como se fosse desaparecer a qualquer momento. Senti uma pontada de dor na cabeça, mas mantive o foco. Aos poucos, a chama cresceu, consumindo a madeira. Era muito diferente fazer esse tipo de coisa por vontade própria, sem estar a beira da morte.
— Uau… — disse Alice, inclinando-se para frente com interesse genuíno.
— Não tá mal, — comentou Emmett, cruzando os braços. — Mas achei que ia ter uma explosão ou algo assim.
—Desculpa desapontar — retruquei, ofegante.
A prática continuou, e Carlisle decidiu terminar com algo mais simples. Mas, antes que eu não pude relaxar, estava com muita vontade de vomitar, a sensação de tentar segurar era uma merda mas a vergonha era horrível. Eu queria estar longe deles, queria tanto que senti algo estranho novamente, como uma pressão no peito. De repente, o mundo ao meu redor ficou distorcido, como se eu estivesse sendo puxado por um redemoinho invisível.
Um segundo depois, eu estava do outro lado do campo.
— Erick? — A voz de Edward soou, alarmada. Ele apareceu ao meu lado em segundos, com os olhos arregalados.
— Eu... o que foi isso? — perguntei, confuso e enjoado.
Alice apareceu logo em seguida, com um sorriso encantado. — Você se teleportou!
— Eu o quê?
— Sumiu e apareceu aqui — explicou Edward, embora ainda parecesse preocupado.
Senti minhas pernas fraquejarem, e Carlisle chegou a tempo de me segurar. — Você claramente ultrapassou seus limites, — disse ele, com o tom firme. — Vamos encerrar por hoje.
Eu mal consegui concordar, sentindo o cansaço tomar conta. Edward me ajudou a voltar para a casa, e, apesar da exaustão, eu não pude deixar de pensar no quão incrível – e perigoso – tudo isso era.
XXX
Eu não sabia quanto tempo tinha passado desde que deitei na cama de Edward, mas parecia que tinha dormido por séculos. A exaustão pelo uso excessivo dos poderes me derrubou por completo, e o conforto daquele quarto me fez apagar. Só acordei quando Alice, sempre silenciosa e imprevisível, me sacudiu pelo ombro.
— Erick, acorde! Jacob acabou de ligar.
Eu pisquei algumas vezes, tentando processar suas palavras. — Jacob? — minha voz saiu rouca. — Por quê?
Alice deu de ombros, mas o brilho em seus olhos denunciava que ela sabia muito mais do que estava dizendo. — Ele quer falar com você. Disse que era importante. Eu disse que você estava descansando, mas ele insistiu.
Me sentei devagar, passando as mãos pelo rosto. Estava cansado, mas curioso. Peguei o telefone que Alice me entregou, ainda sentindo o olhar dela fixo em mim.
— Alô?
—Erick?— A voz de Jacob do outro lado soava casual, mas havia algo diferente no tom dele, algo quase hesitante. — Eu sei que você provavelmente está ocupado ou cansado ou, sei lá, sendo interrogado pelos vampiros, mas… o que acha de sairmos hoje à noite? Só nós dois.
Eu hesitei, o peso da conversa recente com Edward ainda pairando sobre mim. — Jacob, eu não sei. Acho que preciso descansar mais…
— Erick, por favor. — A insistência na voz dele me pegou desprevenido. — Eu só quero um pouco de tempo com você. Longe de todo o drama sobrenatural, longe de tudo isso. Só nós dois.
Suspirei, sabendo que não conseguiria dizer não. —Tudo bem. Que horas?
—Te pego às sete. Vamos ao cinema. Você vai gostar.
Antes que eu pudesse responder, Alice já tinha sumido pela porta, e, em seu lugar, Edward entrou no quarto, seu rosto sombrio.
— Ele te convidou para sair, não foi? — perguntou Edward, a voz baixa e tensa.
— Edward, não começa, — eu disse, levantando as mãos em um gesto de rendição. — Ele disse que só quer ver um filme, mas acho que aconteceu alguma coisa.
— Um filme? — A incredulidade na voz dele fez minha paciência diminuir. — Você sabe é mais do que isso. Ele claramente gosta de você, Erick.
— Ele nunca disse isso! — rebati, cruzando os braços. — Ele é meu amigo. Eu não vou cortar contato com ele só porque você é ciumento.
— Ciumento? — Edward deu um passo para trás, como se minhas palavras o tivessem atingido. — Você não entende, Erick. Não é só ciúmes. É perigoso. Ele é perigoso.
— Ah, claro. Porque você e eu não somos perigosos, né? — Minha voz saiu mais amarga do que eu pretendia, mas eu já estava perdendo a paciência. — Eu tô tentando manter a paz entre vocês dois, mas você não ajuda.
Edward me encarou por um longo momento, seus olhos dourados cheios de emoções conflitantes. Finalmente, ele balançou a cabeça. — Se é isso que você quer, Erick, vá. Mas não espere que eu fique aqui fingindo que está tudo bem.
Antes que eu pudesse responder, ele se virou e sumiu pela janela aberta, deixando apenas o som do vento frio entrando no quarto.
Fiquei parado ali, sentindo a culpa se instalar no peito. Suspirei, peguei uma roupa limpa e fui me arrumar. Enquanto me olhava no espelho, me perguntei por que parecia tão difícil equilibrar tudo isso – meus poderes, os demônios, e agora dois caras brigando pela minha atenção.
Quando desci, Esme estava na sala, ocupada com alguma coisa, e Alice me lançou um olhar que parecia dizer “que babado!”. Ignorei ambos e saí pela porta, o ar da noite fria batendo no meu rosto.
Jacob estava encostado em seu carro vermelho e velhinho, esperando por mim com um sorriso fácil, mas havia algo em seus olhos que parecia mais sério.
— Pronto? — ele perguntou, abrindo a porta do passageiro para mim.
Eu forcei um sorriso. — Pronto. Vamos.
Apesar da tensão crescente, tentei me convencer de que aquela noite seria tranquila. Afinal, era só um filme. Certo?
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