|024 - Melodia do Desejo.
Assim que Edward parou o carro em frente à casa dos Cullen, eu desci com cuidado, tentando não fazer um escândalo com meu ombro machucado. Claro, Esme estava à porta antes mesmo de eu colocar o pé no primeiro degrau. Ela tinha aquele olhar maternal e preocupado que fazia parecer que tudo ao meu redor poderia desmoronar, mas ela ainda estaria lá para cuidar de mim.
-Erick! O que aconteceu? Você está bem? Edward me contou por mensagem que você se machucou!- Ela estava ao meu lado em segundos, os olhos passando rapidamente de mim para o curativo no meu ombro.
-Eu tô bem, Esme,- respondi, erguendo as mãos em um gesto tranquilizador. -Foi só um acidente. Nada grave, prometo.
Ela cruzou os braços, claramente não acreditando em mim. -Isso não parece 'nada grave'.
-Eu estou bem mesmo,- reforcei, tentando parecer convincente.
Esme soltou um suspiro, mas, em vez de insistir, ela balançou a cabeça e sorriu de leve. -Tudo bem, mas você vai se sentar e comer alguma coisa. Vou preparar um lanche gostoso pra você. Comer sempre ajuda a melhorar.
Eu ri, aliviado que ela tivesse aceitado minha desculpa, e me dirigi ao andar de cima para tomar um banho. A água quente me ajudou a relaxar, mas minha mente não conseguia desligar.
Bella. O que eu ia fazer com ela? A garota tinha me visto lutando, visto o que eu podia fazer, e, pior, parecia convencida de que eu era algum tipo de perigo para o mundo - ou, pelo menos, para Jacob. Será que ela ia contar para alguém?
Balancei a cabeça, tentando afastar os pensamentos. Ficar paranoico não ia ajudar. Além disso, a ideia de Bella tentando me ameaçar ainda me fazia rir. No fim, ela não parecia tão corajosa assim.
Quando saí do banho, me senti melhor, apesar das preocupações ainda rondando minha cabeça. Peguei uma das roupas confortáveis de Edward - um moletom cinza macio e uma calça de algodão preta - e me senti mais limpo e, de alguma forma, seguro. As roupas dele tinham um cheiro suave, fresco, que me lembrava de como ele estava ao meu lado o tempo todo hoje.
Descendo as escadas, encontrei Esme na cozinha, cantarolando baixinho enquanto preparava algo. Ela parecia tão concentrada e, ao mesmo tempo, contente. Notei como ela movia as mãos com precisão e cuidado, como se fazer um simples lanche fosse algo muito mais importante para ela.
-Eu espero que você goste de sanduíches de patê de frango,- disse ela, sorrindo enquanto colocava um prato cheio na mesa. -Era uma das coisas que eu costumava fazer para meu marido... antes. - ela sussurrou a última palavra em um tom mais aéreo.
Edward me disse uma vez que ela teve uma vida difícil antes de se tornar vampira, era tão difícil imaginar que uma mulher de coração tão puro já tenha passado por algo ruim.
-Eu adoro,- respondi, me sentando. Peguei um dos sanduíches e dei uma mordida, e, para minha surpresa, era realmente muito bom. O sabor suave, o pão fresco - tudo parecia perfeito, feito com carinho.
Esme observava enquanto eu comia, o sorriso dela ficando mais largo. -Sabe, é bom cozinhar de novo. Não faço isso com tanta frequência... não há muitos humanos na casa.
-Você tem talento,- comentei, pegando outro sanduíche. -De verdade, isso tá incrível.
Ela riu, feliz. -Obrigada, Erick. Fico feliz que goste.
Enquanto comia, eu me sentia mais à vontade, como se estivesse em casa de verdade. Esme tinha esse talento especial de fazer você sentir que fazia parte da família. E, mesmo com tudo o que tinha acontecido hoje, naquele momento, tudo parecia um pouco mais leve.
A casa estava tranquila, mas não completamente silenciosa. De algum lugar distante, ouvi notas musicais, um som que não era o usual piano de Edward.
Franzi a testa, intrigado. Com o sanduíche ainda na mão, segui o som, atravessando o corredor e descendo para a sala principal. As notas tornaram-se mais nítidas, um riff de guitarra cheio de intensidade e precisão.
Quando cheguei à sala de estar, a visão de Edward me fez parar no meio do caminho. Ele estava sentado em um banquinho, segurando uma guitarra elétrica com naturalidade, os dedos deslizando pelas cordas com uma habilidade que parecia inata. Ele tocava sem olhar para o instrumento, os olhos fechados enquanto se deixava levar pela melodia.
Por um momento, fiquei ali, apenas observando. A maneira como ele se movia, o brilho sutil de sua pele sob a luz suave da sala... Era hipnotizante. Eu me perguntei quantas outras coisas sobre ele eu ainda não sabia, e quantas delas me fariam sentir o mesmo fascínio que estava sentindo agora.
-Eu não sabia que você tocava guitarra,- disse, finalmente quebrando o silêncio.
Edward abriu os olhos, e o pequeno sorriso que surgiu em seus lábios fez meu coração acelerar. -Tem muita coisa que você não sabe sobre mim, Erick,- ele respondeu, a voz calma, mas carregada de um mistério que me fazia querer saber tudo.
Ele colocou a guitarra de lado e me olhou, os olhos dourados me prendendo no lugar. -Quer tentar?- perguntou, indicando o instrumento.
Balancei a cabeça, rindo um pouco. -Não acho que eu tenha talento pra isso.
-Eu discordo,- ele disse, levantando-se e caminhando até mim. -Você só precisa de alguém para te guiar.
E ali estava ele novamente, tão próximo, a tensão entre nós ainda viva como uma chama que se recusava a se apagar.
-Está bem...- suspirei, rendendo-me. Não era como se pudesse dizer não para aqueles olhos dourados fixos em mim. Edward sorriu de lado, aquele sorriso que parecia esconder uma vitória silenciosa, e pegou a guitarra novamente.
Ele me conduziu até o banco, sentando-se primeiro e, com um gesto, indicando que eu me sentasse entre suas pernas. Hesitei por um segundo, mas, no final, me acomodei ali, o calor de sua proximidade me deixando tenso e ao mesmo tempo... confortável.
-Agora, relaxe - ele disse em um tom suave, colocando a guitarra nas minhas mãos. Sua voz era como um sussurro, e o jeito como suas mãos frias seguraram as minhas para posicioná-las corretamente nas cordas fez meu coração disparar.
-'Relaxe'? Não é tão simples - murmurei, tentando ignorar o quanto meu corpo reagia ao toque dele.
Edward riu baixinho, o som ressoando em seu peito e vibrando nas minhas costas. -Você vai se sair bem. Confie em mim.
Ele começou a guiar meus dedos nas cordas, mostrando como formar as notas. Suas mãos mantinham as minhas firmes, e sua respiração fria roçava minha orelha enquanto ele explicava os movimentos. A tensão entre nós era palpável, mas por um momento, conseguimos nos distrair.
-Isso soa uma merda- ri, quando toquei uma sequência desajeitada que claramente não fazia sentido.
-Eu diria... exótico - ele respondeu com um tom brincalhão. -Mas ninguém nasce um Jimi Hendrix.
Seu comentário fez com que eu soltasse uma risada genuína, e ele também riu, o som melodioso quebrando a formalidade. Foi naquele momento, naquela troca de olhares, que percebi: a diversão não poderia durar. A tensão entre nós estava crescendo novamente, lenta e inevitável.
Edward ajustou novamente minhas mãos na guitarra com uma paciência que parecia infinita, mesmo quando eu errava uma nota pela terceira ou quarta vez. Ele estava tão próximo que era difícil me concentrar no que fazia; o frio de seus dedos em contato com os meus, a firmeza delicada com que guiava meus movimentos... tudo contribuía para a crescente tensão que eu mal conseguia disfarçar.
-É sério, relaxe, Erick- ele sussurrou, o tom baixo e rouco contra meu ouvido.
-Falar é fácil - murmurei, tentando esconder o embaraço na voz.
Ele riu suavemente, o som ressoando no ar e provocando um arrepio que percorreu minha espinha. Tentei focar novamente nas cordas, mas quando Edward deixou suas mãos sobre as minhas coxas por um segundo mais longo, todos os pensamentos coerentes desapareceram.
Nossos olhares se cruzaram. Aquele olhar dourado, intenso e ao mesmo tempo cheio de uma curiosidade quase humana, me segurou no lugar. Era como se ele estivesse me lendo por completo, sem pressa alguma, e não havia espaço para esconder o que eu sentia naquele instante.
-Você é impossível - sussurrei, sem saber se estava falando dele ou de mim mesmo.
Edward não respondeu. Ele apenas largou a guitarra com um gesto suave e segurou meu rosto com ambas as mãos, inclinando-se até nossos lábios se encontrarem. O beijo começou lento, explorador, mas não demorou a se tornar mais urgente.
-Edward...- gemi, entre um beijo e outro, minha voz saindo falha. Ele aproveitou o som, intensificando a pressão de seus lábios contra os meus.
Suas mãos desceram, traçando o contorno do meu corpo até encontrar minhas coxas. Num movimento ágil, ele me ergueu sem esforço, me fazendo soltar um suspiro surpreso.
-Você é tão leve - ele comentou, os olhos fixos nos meus enquanto me carregava até o sofá. Com cuidado, ele me deitou ali, posicionando-se sobre mim.
O peso frio de seu corpo contra o meu era uma mistura de desconforto e desejo que me deixava tonto. Suas mãos exploravam minha pele com uma delicadeza que contrastava com a intensidade dos beijos.
-Edward...!- gemi novamente, desta vez mais alto, quando seus dedos gelados deslizaram por baixo da minha camisa, encontrando a pele quente do meu abdômen. Ele parecia beber cada som que eu fazia, movendo-se como se isso o motivasse ainda mais.
Seus lábios se afastaram dos meus apenas o suficiente para descer até meu pescoço, onde ele depositou uma sequência de beijos e chupões suaves, arrancando de mim mais gemidos involuntários. Minha respiração estava descompassada, e tudo dentro de mim gritava para que eu o puxasse ainda mais para perto. Era completamente imprudente da minha parte permitir que um vampiro tocasse os lábios no meu pescoço, mas nunca vi uma vadia com medo de morrer.
O momento, porém, foi interrompido por uma explosão de vozes e passos ecoando pela sala.
-Uau, o que é isso?- A voz de Emmett preencheu o ambiente, cheia de sarcasmo. -Eu sabia que Edward ia acabar quebrando as próprias regras - ele continuou, com uma risada alta.
Meu rosto ficou vermelho como nunca antes na vida. Edward se afastou de mim tão rápido que quase me derrubou do sofá. Eu, desesperado, puxei a camisa para baixo, tentando cobrir a frente da calça e disfarçar a excitação óbvia.
-Vocês dois querem um minuto a sós? Porque eu não me importo de sair de novo - Emmett acrescentou, enquanto Carlisle e Rosalie entravam na sala.
Carlisle limpou a garganta, claramente desconfortável com a cena, mas manteve o tom calmo. -Emmett, chega.
Rosalie apenas cruzou os braços, lançando um olhar de desdém na direção de Edward. -Você não consegue nem esperar que a casa esteja vazia? Francamente.
Edward não disse nada, mas seu olhar mortal para Emmett deixava claro que ele estava menos do que contente. Eu, por outro lado, queria me dissolver no ar.
-Erick, será que podemos conversar um momento? A sós?- Carlisle perguntou gentilmente.
Assenti rapidamente, ainda segurando a camisa sobre a calça enquanto me levantava. O movimento foi suficiente para arrancar mais uma risada alta de Emmett.
-Pode pegar uma almofada no sofá se quiser - ele disse, piscando para mim.
-Emmett!- Carlisle o repreendeu, mas já era tarde. Eu praticamente corri para fora da sala, o rosto em chamas e o coração disparado.
Engoli em seco, o nervosismo me consumindo. Assenti e segui Carlisle até o escritório, sentindo os olhares de Edward e Emmett em mim enquanto saía. Eu definitivamente ia tomar esporro sobre não transar na sala.
Assim que a porta se fechou, Carlisle me encarou com aquele olhar paternal, mas também curioso. -Erick, não se preocupe. Não é o que você está pensando - ele começou, com um leve sorriso.
-Não é?- perguntei, a voz saindo mais fina do que eu gostaria.
Carlisle riu, um som baixo e tranquilizador. -Não. Na verdade, eu quero falar sobre os seus poderes. Edward me contou um pouco sobre eles, e acho que seria prudente começarmos algum tipo de treinamento. A situação em Forks está ficando mais perigosa, e você precisa estar preparado. A sorte estava do seu lado hoje, mas pode não estar em uma próxima vez.
Suspirei aliviado e assenti. -Sim, claro. Eu quero aprender a me defender de verdade.
-Ótimo,- Carlisle disse, parecendo satisfeito. -Podemos começar na manhã de sábado. Mas, se me permite um conselho...- Ele fez uma pausa, seu sorriso tornando-se um pouco mais brincalhão. -Da próxima vez, talvez você e Edward devam considerar usar o quarto para... momentos mais íntimos. Só para evitar surpresas.-
Meu rosto ficou vermelho imediatamente, e tudo o que consegui fazer foi balançar a cabeça, envergonhado. -Sim, claro,- murmurei, tentando não afundar no chão.
-Boa noite, Erick,- Carlisle disse com um sorriso caloroso, antes de sair do escritório.
Fiquei ali por um momento, respirando fundo para me acalmar antes de voltar para o restante da família.
XXX
A noite estava silenciosa quando ouvi uma leve batida na porta do quarto. Antes que eu pudesse responder, Edward entrou, os cabelos ainda úmidos do banho e uma toalha pendurada preguiçosamente em um ombro. Ele usava uma camiseta simples e calças de pijama, uma visão tão casual e desarmante que meu coração deu um salto involuntário.
-Tudo bem?- ele perguntou, fechando a porta atrás de si.
Assenti, tentando manter a compostura, embora minha mente ainda estivesse presa aos eventos embaraçosos do dia. Ele se aproximou e sentou-se ao meu lado na cama, o colchão afundando levemente com seu peso.
-Eu não queria te deixar desconfortável,- Edward começou, sua voz suave, quase tímida. -O que aconteceu mais cedo... foi culpa minha.
Suspirei, olhando para minhas mãos. -Não foi só você. Eu também perdi o controle.
Ele me encarou por um momento, os olhos dourados brilhando à luz fraca do abajur. -Erick, eu preciso ser honesto com você. Eu...- Ele hesitou, algo raro para ele, antes de continuar: -Eu quero você. Mais do que qualquer coisa. Mas isso me assusta.
Levantei o olhar, surpreso. -Você está com medo de quê?
-De muitas coisas,- ele admitiu, os olhos baixando. -De perder o controle, de ceder à sede. E... de não ser o que você espera.-
A confissão me pegou de surpresa, mas antes que eu pudesse dizer algo, ele continuou: -Eu nunca... eu nunca fiz isso antes.
-Você quer dizer...? Tipo, nem com mulheres?
-Com ninguém,- ele confirmou, meio envergonhado, desviando o olhar. -Eu sempre pensei que esperaria até o casamento. Mas, com você, essa ideia... já não faz sentido. Ainda assim, o medo permanece.
Meu coração apertou ao vê-lo tão vulnerável. A ideia de Edward, sempre tão confiante e impenetrável, sentindo-se inseguro era quase impossível de imaginar. Mas ali estava ele, sentado ao meu lado, dividindo um pedaço de si que parecia guardado há muito tempo.
-Edward,- comecei, colocando uma mão sobre a sua, -eu não quero te pressionar a nada. E, pra ser sincero, eu também não estou exatamente preparado pra... ir tão longe.
Ele ergueu os olhos para mim, um alívio visível em sua expressão.
-Então, o que fazemos?- ele perguntou, a ponta de um sorriso brincando em seus lábios.
Pensei por um momento, antes de responder: -A gente pode... ir devagar. Sem pressa, sem expectativa. Só o que acharmos que estamos prontos pra fazer.
Edward assentiu, o sorriso agora mais amplo. -Isso parece certo. Embora eu não tenha certeza se conseguiríamos parar, dado o que aconteceu hoje.
-Bom, temos que tentar. - respondi, rindo suavemente.
Ele me puxou para perto, nossos ombros se encostando enquanto nos sentávamos juntos na cama. -Eu não consigo evitar,- ele murmurou, a mão fria subindo até tocar de leve meu rosto. -Quando estou com você, parece que todo o resto desaparece.
Eu sorri, sentindo o calor subir às bochechas. -Você fala como se fosse o único que sente isso.
Ele inclinou-se para me beijar, desta vez com mais cuidado, mais controle, embora o desejo ainda estivesse presente em cada movimento. Seus lábios eram firmes, mas gentis, e eu me peguei cedendo àquele momento, minha mão subindo para segurar sua nuca.
Quando nos separamos, estávamos ambos respirando pesadamente, e Edward repousou a testa contra a minha. -Eu nunca vou me cansar disso - ele disse, em um sussurro que enviou arrepios por todo o meu corpo.
-Nem eu...- admiti, minha voz mal passando de um sussurro.
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