|022 - O Cisne Invejoso.
Eu estava sentado com Jacob em uma lanchonete qualquer, tentando fingir que aquela situação era normal. Não era. Não tinha como ser. Desde que tudo virou de cabeça para baixo - a maldição, os demônios, Edward, e, claro, Jacob - minha definição de "normal" tinha ido direto pro lixo. E, no entanto, lá estávamos nós, dividindo uma porção de batatas fritas murchas enquanto ele desfiava o drama de Sam e da matilha.
Eu queria prestar atenção. Juro que queria. Mas Jacob tornava isso impossível. O cara tinha uma energia que parecia preencher todo o ambiente. Cada gesto exagerado, cada olhar feroz, cada músculo dele em tensão sob a camiseta surrada... Era uma presença tão intensa que quase me irritava. Quase.
E então, como se a vida tivesse decidido me sacanear ainda mais, a porta da lanchonete abriu e, claro, ela entrou. Bella Swan, acompanhada de Charlie.
Antes que eu pudesse sequer pensar em me preparar psicologicamente, Jacob já estava chamando os dois.
- Bella! Charlie! Venham aqui! - ele exclamou, acenando como um idiota entusiasmado.
Ótimo. Só o que me faltava.
Charlie parecia desconfortável, como se preferisse estar em qualquer outro lugar. Já Bella... Bella estava no auge da confiança. Ela se aproximou e sentou do lado de Jacob como se aquilo fosse um direito adquirido.
- Ei, Jake, como você tá? - perguntou, com aquele sorriso que só ela conseguia dar.
- Melhor agora que você apareceu, - respondeu Jacob, rindo.
Senti meu estômago revirar como se tivesse engolido vidro. Isso era ridículo. Eu sabia que era. Eu tinha Edward. O Edward. Mas, ainda assim, ver Bella se pendurando em Jacob como um chaveiro me dava nos nervos.
- Erick, tá tudo bem? - Jacob me perguntou, virando aquele olhar caloroso e atento para mim.
- Tô ótimo, - rebati rápido demais, com a voz saindo mais ríspida do que eu pretendia.
Jacob franziu o cenho, mas, claro, não insistiu. Já Bella parecia estar se divertindo. Ela ria de qualquer porcaria que Jacob dizia, inclinando-se para ele como se não houvesse mais ninguém na mesa.
- Vocês dois parecem se dar muito bem, - comentei, tentando soar casual, mas o veneno na minha voz era inconfundível.
Bella me olhou, surpresa, mas foi Jacob quem respondeu:
- Somos amigos desde crianças. Bella é praticamente família.
"Família." A palavra me atingiu como um soco. Eu não tinha uma família. Não de verdade. Tudo que eu tinha era... isso. Complicado, bagunçado e exaustivo.
Segurei o copo de refrigerante com força, tentando não esmagá-lo. Terminei tudo em um único gole, apenas para evitar abrir a boca e dizer algo de que eu pudesse me arrepender.
Finalmente, Charlie chamou Bella, e ela se despediu de Jacob com um sorriso que faria qualquer outra pessoa achar que ela era um anjo. Minha intuição discordava.
Quando ela saiu, Jacob virou para mim, a testa franzida.
- Qual é o problema, Erick? Você ficou quieto.
- Não é nada, - resmunguei.
- Não parece nada.
Revirei os olhos, tentando conter a irritação. Ele nunca entendia. Como poderia? Eu estava preso entre ele e Edward, e isso estava me consumindo.
- Talvez eu só não goste de dividir minha atenção, - murmurei, sem olhar para ele.
Jacob arqueou uma sobrancelha, mas antes que pudesse responder, meu celular vibrou. Claro, Edward. Exigindo que eu voltasse para casa.
Suspirei, me levantando da mesa.
- Preciso ir.
- Claro, - Jacob respondeu, mas havia algo em sua voz que dizia que ele sabia que havia mais naquilo.
Saí da lanchonete com a cabeça latejando, o som da porta se fechando atrás de mim. Eu queria resolver tudo, mas como você resolve um problema quando nem sabe o que está sentindo?
XXX
Edward chegou no Volvo preto, brilhante como se fosse feito de sombras líquidas. Eu tinha acabado de sair da lanchonete, minha mente pesada com as palavras de Jacob e a aparição Bella, cada uma uma pedra no peito. Mas ali estava Edward, encostado na lateral do carro como uma estátua esculpida em mármore vivo, os braços cruzados, a expressão indecifrável. A luz fraca daquele início de noite captava cada detalhe - a linha da mandíbula tensa, os olhos dourados cintilando como se carregassem segredos demais. Ele era lindo, de um jeito que machucava, que me deixava dividido em duas partes destoantes de um coração pecador.
O silêncio entre nós era tão cortante quanto o ar frio. E mesmo assim, quando ele finalmente falou, havia um calor escondido na frieza:
-Você demorou.
Não era uma pergunta, mas um julgamento disfarçado. Meu peito apertou, uma mescla de culpa e raiva. Eu dei de ombros, tentando soar indiferente:
-Foi uma conversa longa.
Ele fechou a cara, mas abriu a porta do passageiro para mim. Entrei sem discutir, sentindo o ar entre nós ficar mais denso, como se a noite fosse uma corda esticada, prestes a partir. Ele dirigiu em silêncio, o som do motor do Volvo tão suave quanto seus movimentos, mas ainda assim carregado de tensão.
Depois de minutos que pareceram horas, resolvi quebrar o gelo.
-Você não precisava me buscar.
Os olhos dele nunca deixaram a estrada, mas sua voz saiu carregada de sarcasmo:
-Claro. Porque você está perfeitamente seguro vagando por aí com Jacob enquanto Forks está cheia de monstros que só precisam de um deslize seu.
Eu virei para ele, sem me conter.
-Eu sei me virar, ok? E Jacob não é inútil, ele pode me proteger da mesma forma que você.
Essa foi a gota d'água. Ele parou o carro bruscamente, o som dos pneus no asfalto interrompendo a serenidade da floresta ao nosso redor. Virou-se para mim, os olhos queimando como fogo dourado, uma tempestade contida.
-Você realmente acredita nisso? - Havia algo na voz dele que me fez hesitar, mas eu não ia recuar.
-Eu confio nele. Ele é meu amigo.
-Amigo,- Edward repetiu com deboche, quase como se estivesse provando a palavra amarga na boca. - E você acha que ele só quer ser isso?
-E o que você quer que eu faça?! - explodi, meu próprio tom ficando mais alto. -Que eu corte todos da minha vida só porque você não consegue lidar com isso?
-Você está jogando comigo, Erick. Comigo e com ele, como se fôssemos seus brinquedos. - a intensidade do olhar dele me desarmou.
Fiquei em silêncio, minhas palavras morrendo na garganta. Eu não sabia como responder porque era verdade.
-Eu não pedi para sentir isso...- sussurrei depois de um longo momento, minha voz trêmula.
Por um momento, ele não disse nada. Apenas me olhou, e havia algo em seus olhos que me desarmou completamente. Ele parecia vulnerável, despido da perfeição fria que sempre carregava.
-Eu também não... Mas aqui estamos. - ele disse finalmente.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele se inclinou, sua mão segurando meu rosto com firmeza, mas sem agressividade, e seus lábios encontraram os meus.
O choque do frio de sua boca contra o calor da minha fez todo o meu corpo reagir. Era como um encontro de opostos, uma colisão que incendiava algo dentro de mim. No início, o beijo era suave, mas cheio de urgência contida, como se Edward estivesse testando os limites antes de perder o controle.
Então, ele aprofundou o gesto, sua língua deslizando lentamente contra a minha, explorando, provocando, até que o toque se tornasse um entrelaçar completo. Nossas línguas se moviam em uma dança intensa, deliciosa, como se estivéssemos descobrindo algo primordial juntos. Cada deslizar era uma nova onda de eletricidade, um choque que reverberava até a ponta dos meus dedos.
Eu gemi contra os lábios dele, incapaz de me conter, e o som pareceu despertar algo nele. Edward respondeu com um gemido baixo e rouco, o som intensificando ainda mais o momento. Ele inclinou a cabeça, ajustando o ângulo, e seus lábios se moveram com mais fome, deslizando sobre os meus com uma precisão que parecia inata.
Meus dedos se entrelaçaram em seus cabelos de bronze, puxando-o para mais perto, enquanto suas mãos deslizavam pela minha cintura, firmes, mas cuidadosas. O frio dos seus dedos encontrou a pele quente sob a minha camisa, e eu arqueei o corpo involuntariamente, pressionando-me contra ele... Me esfregando em seu quadril.
O beijo era uma batalha e uma rendição ao mesmo tempo. Nossos corpos se moldavam um ao outro, e cada suspiro, cada gemido escapava no pequeno espaço que conseguíamos entre os lábios antes de nos conectarmos novamente.
Quando ele finalmente se afastou, apenas o suficiente para encarar meu rosto, nossos lábios ainda estavam entreabertos, nossas respirações misturadas em um ritmo descompassado. O olhar dele era quase predatório, mas carregava algo mais - algo que eu só podia descrever como um desejo insaciável misturado com reverência.
-Você... é impossível. - ele murmurou, sua voz um sussurro rouco, enquanto seu polegar acariciava meu rosto, ainda segurando-me como se temesse que eu desaparecesse.
Eu sorri, minha própria respiração ainda irregular, antes de roçar meus lábios nos dele novamente, incapaz de resistir.
-Bem-vindo ao clube, Cullen.
Ele riu, um som baixo e quase perigoso, antes de voltar a me beijar, mais intenso dessa vez. O mundo fora do carro deixou de existir.
Por mais confuso que eu estivesse, naquele momento, nada importava além do corpo dele contra o meu.
O beijo entre nós parecia interminável, uma colisão feroz de emoções que não se limitava a raiva ou desejo; era como se estivéssemos tentando reivindicar um ao outro de forma desesperada. As mãos de Edward se moviam com uma precisão quase calculada, seus dedos frios deslizando por debaixo da minha camiseta me fazendo gemer como uma puta, quando ele delicadamente acariciou meus mamilos.
Senti suas mãos explorando minha cintura, subindo pelas minhas costas, tocando cada linha de músculo como se estivesse memorizando meu corpo. Minha respiração ficou entrecortada, meu coração disparado, e, sem perceber, meus próprios dedos começaram a traçar o contorno dos ombros e braços dele, explorando a força sutil que ele sempre exalava.
-Você é tão quente... - ele murmurou contra minha boca, os lábios se afastando por apenas um instante antes de voltar a me beijar, agora mais lento, mais profundo.
-Você é tão frio... - respondi, minha voz um sussurro carregado de desejo e uma pitada de humor.
Edward deslizou uma das mãos até o meu abdômen, os dedos gélidos passando pela minha pele exposta de forma que me fez soltar um suspiro rouco. Eu me pressionei mais contra ele, sentindo cada centímetro do seu corpo através das nossas roupas. Era impossível ignorar como ele reagia a mim; a ereção dele pressionada contra a minha me fazia pingar de desejo na cueca.
Ele soltou um gemido baixo quando se deu conta da tensão crescente entre nós. -Erick...- Sua voz carregava um tom de alerta, mas estava rouca, quase um pedido.
-Eu sei... - meu rosto estava vermelho de calor e vergonha.
Edward respirou fundo e fechou os olhos por um segundo, como se estivesse reunindo toda a sua força de vontade para parar. -Nós não podemos fazer isso aqui. - ele disse, a voz trêmula, mas firme.
Assenti, ainda relutante, deslizando de volta para o meu lugar no banco do passageiro, minhas mãos tremendo ligeiramente enquanto ajustava minha camiseta para esconder o pênis duro embaixo do tecido. Edward passou a mão pelos próprios cabelos, tentando se recompor, mas eu vi como ele desviava o olhar.
O silêncio que se seguiu não era desconfortável, mas carregado. Havia um entendimento tácito entre nós, um reconhecimento mútuo do que tinha acabado de acontecer e do que poderia ter acontecido se não tivéssemos parado.
Sem dizer uma palavra, Edward ligou o carro novamente e começou a dirigir em direção à casa dos Cullen. A tensão ainda estava no ar, mas agora era diferente, mais carregada de uma expectativa inquietante do que de raiva ou frustração.
Olhei pela janela, tentando organizar meus pensamentos, mas minha mente estava uma bagunça. Parte de mim queria questioná-lo, saber como ele conseguia ser tão forte, enquanto a outra parte só queria reviver o que tínhamos acabado de experimentar.
-Erick, - ele finalmente quebrou o silêncio, sua voz mais calma agora. - Eu falei sério quando disse que não quero perder você... Não vou te forçar a escolher tão rápido, mas... Estou torcendo pra escolher a mim, e não ele.
Virei-me para ele, surpreso pela confissão. Havia sinceridade em seu tom, uma vulnerabilidade que raramente via em Edward.
-Me desculpa por tudo isso... Nunca foi minha intenção me apaixonar por vocês dois, mas aconteceu, Edward... Por favor, não me odeie... - respondi, minha voz mais baixa agora. -Eu só... não sei lidar com isso às vezes. Minha vida está confusa...
-Vamos lidar juntos, então... Mas é bom ouvir você finalmente admitir em voz alta, que está apaixonado por mim também. - ele sorriu pequeno, e apesar de retribuir o gesto, eu me sentia profundamente culpado.
Não houve mais palavras até chegarmos à casa dos Cullen, mas não era necessário. Entre nós, o silêncio era suficiente.
A arquitetura moderna e imponente da mansão surgiu por entre as árvores, as luzes acesas contrastando com a escuridão ao redor. Meu corpo ainda parecia carregar a eletricidade do que tinha acontecido no carro, mas agora o peso da confusão se fazia mais presente.
Jacob ainda martelava na minha mente. O jeito como ele sorria para mim, o tom de sua voz quando me chamava de Lindbergh... A atenção dele me fazia sentir algo que eu não sabia descrever, mas que certamente era perigoso, especialmente porque meus pensamentos não deveriam se afastar de Edward assim.
-Está tudo bem?- Edward perguntou enquanto desligava o motor e se virava para mim, sua expressão suavemente preocupada.
-Sim, só preciso de um banho- menti, soltando o cinto e saindo do carro antes que ele pudesse fazer mais perguntas. Eu não estava pronto para lidar com a intensidade dos seus olhos agora.
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