|020 - Entre Cão e Gato.
Eu nunca fui o tipo de cara que chamava atenção. Quase sempre passei despercebido. Apenas mais um rosto na multidão, o esquisito que fica quieto na última fileira da sala de aula, evitando se destacar. Mas, desde que tudo começou, nada na minha vida tem sido tão simples assim.
Quando Edward parou o carro na entrada da escola, com o ronco do motor que parecia fazer até as paredes vibrarem, eu soube que algo ia dar errado - ou certo, dependendo do ponto de vista. O carro era exatamente o tipo de carro que você imagina quando pensa em alguém que tem o controle de tudo. Ele havia escolhido o mais chamativo de sua coleção - a qual eu só descobri existir quando estávamos saindo de casa esta manhã -, um Mustang 70, preto como suas íris ficavam quando estava com sede.
Eu olhei para Edward e tentei não sorrir. Ele estava perfeito, claro, como sempre. Jaqueta de couro, óculos de sol, e aquele sorriso charmoso, como se fosse o próprio sol tentando conquistar o mundo. E então, quando ele abriu a porta e saiu com aquele andar tão natural, eu percebi: a escola inteira estava nos olhando. Eles encaravam Edward com aquele olhar de admiração, e quando me viam, o olhar se tornava... curioso. De alguma forma, eu já não estava mais invisível. E, por mais que fosse estranho, havia algo de divertido nisso.
Edward parecia estar completamente alheio ao que estava acontecendo ao nosso redor. Claro, ele provavelmente já estava acostumado a isso. Eu estava mais focado no caminho que percorríamos até a porta da escola, tentando não tropeçar em mim mesmo.
Quando chegamos à entrada, Edward passou o braço por cima do meu ombro e me puxou para mais perto. Um sorriso de canto se desenhou em seus lábios, tão despreocupado, tão charmoso. E foi então que ele disse, em voz baixa, seu tom era divertido:
-Estamos quebrando todas as regras... Mas eu vou pro inferno mesmo.
Eu ri. Ele sempre parecia tão regrado, sempre em silêncio no meio dos irmãos, longe dos humanos... Era quase intocável, e eu o havia tocado. Ainda estava processando tudo o que acontecera entre nós na noite anterior. O beijo tão intenso. Como ele me fez sentir, o calor, a excitação. Como tudo estava virando de cabeça para baixo.
Mas era exatamente isso que me fazia sorrir. Estava ficando mais fácil ver o que Edward era para mim. E talvez... talvez fosse até isso que eu estivesse começando a procurar, sem saber. Mas mesmo assim, eu não sabia se estava pronto para isso tudo. Para Edward. Para o que fosse que nós dois estávamos começando a ser.
Os outros alunos estavam nos observando como se a gente fosse uma peça de teatro, algo que não podiam entender, mas não conseguiam tirar os olhos de cima. E eu, um cara como eu, do nada sendo observado como se fosse algo importante, algo desejado, bem, isso era novo. E eu gostei disso. Eu estava gostando de ver as caras de espanto das pessoas. Mesmo que tudo fosse um pouco... assustador, confuso, eu não queria me afastar de Edward. E não, não só por causa do carro ou do jeito como ele me fazia sentir, mas porque eu estava começando a perceber que, no fundo, eu queria mais dele. Talvez muito mais. E, por mais que eu quisesse evitar, aquela atração estava se tornando impossível de ignorar.
A hora de entrar na escola chegou e, ao cruzar a porta, o que mais me surpreendeu não foram as caras, os sussurros ou as risadinhas. O que mais me pegou foi perceber que, mesmo com toda a atenção que estávamos recebendo, mesmo com o caos que era nossa aparição juntos, nada me fazia querer sair correndo para me esconder. Nada me fazia querer fugir. Eu estava aqui, com Edward, e a ideia de seguir ao lado dele parecia... certa. Meio errado, mas certo.
-Vamos logo pra aula, antes que alguma garota desmaie... Nunca imaginei que aparecer com um cara fosse causar tanta decepção. - Edward disse, fazendo uma careta divertida, e puxando-me mais para perto com um sorriso travesso nos lábios.
-E o que a gente vai fazer? Ser o centro das atenções o dia todo? - perguntei, tentando tirar um sarro disso tudo.
-Provavelmente... - ele disse, rindo baixinho - Mas você não parece odiar isso.
Eu não estava odiando mesmo. Aliás, para ser sincero, estava até começando a achar divertido. Edward e eu. O garoto invisível e o vampiro "perfeito". Que união improvável.
Enquanto ele continuava a me puxar para a sala, não pude deixar de sorrir de volta. Ele estava certo. Estávamos quebrando as regras, mas quem se importa? Eu ia pro inferno de qualquer maneira. E, no fundo, eu sabia que, se estivesse ao lado de Edward que eu iria, tudo bem. Ainda que um certo lobo nunca saísse completamente da minha cabeça... Me perguntava onde Jacob estaria agora. Podia apenas esperar que estivesse bem, ainda não estava pronto para procurar por ele.
XXX
Mais tarde, no refeitório, eu estava sentado ao lado de Edward, com uma bandeja cheia de comida à minha frente, mas sem muita vontade de comer. Era difícil acreditar que estava ali, na mesa dos Cullen, como se fosse algo normal. Eles eram tão diferentes de tudo o que eu estava acostumado, e apesar de estar meio deslocado e envergonhado, eu não podia deixar de achar graça nas piadas de Emmett. Ele estava se divertindo demais.
-Então, você e o Eddie estão se divertindo, hein? - Emmett disse com aquele sorriso travesso, remexendo em seu prato. - Vamos, vocês têm que assumir um compromisso de uma vez! Precisamos fazer uma festa de casamento grande! Com direito às garotas chorando pelo meu irmão e uma pista de dança estilo discoteca.
Eu, ainda vermelho como um tomate, tentei não parecer tão desconfortável, mas não pude evitar a risada nervosa que escapou.
-Já vou avisando que não sou eu quem vai usar o vestido! - retruquei, com um sorriso de canto, quase todos eles riram - Mas não vou me casar aos 17, não sou uma garota grávida. Você é que parece emocionado a ponto de se casar com alguém que acabou de conhecer, Emmett.
Emmett estufou o peito dramaticamente, fingindo estar ofendido. - Isso foi baixo, Erick. Mas eu gosto de como você se sai. Já pensei que você fosse mais tímido. - Ele riu alto, deixando claro que não tinha intenção de me deixar em paz.
Eu não sabia se ficava mais incomodado ou se me divertia com ele, mas quando ouvi Edward rindo discretamente, uma onda de alívio me atingiu. Ele parecia genuinamente se divertir, e um sorriso pequeno se formou em seu rosto, enquanto ele segurava minha mão sob a mesa. Seu toque me fez relaxar um pouco. Emmett podia zombar à vontade, mas Edward estava ali, e aquilo me dava mais confiança do que eu imaginava.
-Bem feito... - Edward sussurrou em voz baixa, ainda com aquele sorriso que eu adorava ver.
Eu retribuí, tentando não deixar transparecer o quanto a presença dele me acalmava.
Mas então Rosalie falou. Ela olhou para mim com aquela expressão fria e altiva, que parecia não se impressionar com nada. Ela estava se recostando na cadeira, olhando para mim de cima a baixo com um olhar de julgamento que me fez me sentir ainda mais deslocado.
- Claro, claro... Vamos todos rir disse como se não fosse perigoso - Rosalie disse, a voz carregada de desdém - Os dois estão uma atenção desnecessária para a nossa família, mas temos que achar bonitinho.. Isso não faz sentido. Nada disso faz sentido.
Eu não sabia o que responder a isso. Ela tinha um jeito de me fazer sentir como se fosse um intruso. Como se eu estivesse fora do lugar, e ela queria me lembrar disso a cada momento. A maneira como ela olhava para mim, com aquele ar de superioridade, quase me fez levantar da mesa. Mas não podia, não na frente de todos. Eu tinha que me controlar, especialmente porque eu não queria dar a ela a satisfação de me ver ir embora.
Edward, aparentemente desconfortável com o tom de Rosalie, soltou um suspiro baixo e olhou para ela com uma expressão séria, como se quisesse acalmar a situação, mas Rosalie não parecia querer ser acalmada. Ela simplesmente se afastou um pouco, com um gesto impaciente, voltando a mexer em seu prato sem dizer mais nada.
-Olha, Rosalie... Eu meio que já entendi que você não gosta de mim, não ligo para o que você acha ou deixa de achar. Sempre te respeitei então peço ao menos isso de volta, a decisão entre eu permanecer aqui ou não, não é sua. - meu tom era simples, calmo, mas deixou a mesa inteira em silêncio.
Edward me olhou, um sorriso satisfeito em seu rosto. E eu senti uma estranha sensação de conforto com isso, aquele apoio fazia toda a diferença.
Rosalie parecia que iria retrucar, mas naquele momento, Alice entrou na conversa com sua típica animação. - Ei, ninguém vai brigar aqui! Vamos "comer" e aproveitar o dia! - Ela sorriu para todos, desviando a tensão que estava se formando.
Eu me recostei na cadeira, observando a dinâmica dos Cullen. Cada um com sua personalidade única, e apesar da frieza de Rosalie, eu me sentia... mais aceito do que imaginava que seria. Claro, a situação ainda estava estranha, e eu estava lidando com um monte de emoções conflitantes, mas, pelo menos, naquela mesa, eu tinha Edward e, de alguma forma, a sensação de que eu estava começando a encontrar meu lugar.
Mesmo que Rosalie ainda não tivesse demonstrado muita simpatia por mim, e talvez nunca o fizesse, eu não estava mais tão perdido quanto antes. Estava tentando me adaptar a esse mundo novo, a esse grupo, e... a Edward.
XXX
A tarde se arrastava lentamente e o cheiro de chuva no ar me fazia ficar impaciente enquanto caminhava pelo corredor até a saída da escola. Todo o meu corpo parecia inquieto, como se algo estivesse prestes a acontecer, mas eu não sabia o que exatamente. Eu estava tentando ignorar o nó na garganta, mas agora, enquanto o fim de tarde se aproximava, o que eu não queria que acontecesse, aconteceu.
Jacob estava lá, parado na entrada do estacionamento. Parecia tenso, a postura rígida, como se estivesse esperando por algo, ou melhor, por alguém. E quando seus olhos se encontraram com os meus, não foi surpresa que encontrei, mas sim uma explosão de sentimentos não resolvidos.
- Erick - sua voz saiu grave, mas com um tom de frustração. Ele caminhou até mim, seu olhar fulminante. - Precisamos conversar. Agora.
Eu me sentia meio desconfortável. Jacob estava furioso, mas não apenas furioso, ele parecia magoado. Não, ele estava realmente machucado. Isso me fez questionar por que tinha ido embora da casa dele e fugido para os Cullen tão repentinamente, nem mesmo cheguei a falar com ele, que foi mais uma vítima da omissão de Billy com o passado.
Edward, sempre ao meu lado, percebeu imediatamente a tensão no ar e se aproximou, colocando-se de forma sutil entre mim e Jacob, mas claramente o suficiente para deixar claro que não iria permitir que Jacob fizesse o que fosse sem se meter. Eu tentei dar um passo para frente, mas não consegui, e vi a raiva nos olhos de Jacob, que se intensificava.
- Eu nem sabia o que eu era, ou o que você era! Descobri tudo na hora -, Jacob continuou, a mandíbula cerrada. Ele me olhou com algo mais pesado do que a simples raiva. - E agora você está com ele? Por que foi embora de casa? Por que você...- ele parecia perder as palavras, mas a irritação de seus olhos só aumentava.
Eu já estava começando a ficar sem palavras também. Não sabia o que dizer para ele, ou como explicar o que tinha se passado na minha cabeça. Por algum motivo, esse sentimento de culpa que eu estava carregando desde que deixara a casa dele só aumentava. Jacob tinha sido bom comigo, estávamos virando amigos, e eu simplesmente... não tinha conseguido ficar lá.
Mas antes que eu pudesse articular uma resposta, Edward, que estava ainda mais perto de mim, já não se segurava mais.
-Você não pode simplesmente decidir o que Erick faz ou deixa de fazer! - Edward disse, sua voz um pouco alterada. Eu olhei para ele, surpreso. - Ele não é propriedade sua, Black. Erick é livre para fazer o que quiser.
A raiva nas palavras de Edward ecoou pelo estacionamento, mas o pior veio quando Jacob, claramente descontrolado, se aproximou de Edward e estendeu a mão para me pegar pelo braço. Eu senti o puxão violento e, por instinto, me deixei arrastar. Jacob estava mais forte do que nunca, e a irritação que sentia pelo vampiro parecia ter chegado ao limite.
-Você não vai mais se meter nas minhas coisas, Cullen! - Jacob rosnou, suas palavras carregadas de um tom ameaçador que quase fez meu sangue ferver. Eu estava prestes a me soltar de seu aperto, mas então Edward avançou, fazendo a tensão entre os dois crescer ainda mais.
-Não toque em Erick! - Edward disse, sua voz agora mais baixa, mais feroz. Eu vi a postura de Jacob se endurecer ainda mais enquanto Edward continuava, - Ele está comigo agora, e você não tem direito algum de fazer o que está fazendo.
A tensão ficou insuportável. Eu me enfiei entre os dois, tentando impedir que algo mais acontecesse. Meu coração estava acelerado, as palavras me faltando. Eu sentia uma pressão na boca do estômago, e olhei de um para o outro. O silêncio que se seguiu parecia eterno, mas eu precisava parar aquilo antes que chegasse a algo maior.
- Chega, que merda! Vocês enlouqueceram?! - eu disse, a voz firme e mais forte do que eu imaginava. - Eu já falei que não é por aí, ok? Se vocês dois ficarem assim, eu vou embora. Eu não quero mais essa briga, não sou propriedade de nenhum dos dois, inferno!
Ambos estavam respirando pesadamente, mas eu sabia que nenhum dos dois iria me deixar em paz tão facilmente. Mas, com uma última troca de olhares intensos, os dois recuaram. Edward estava me olhando com uma expressão intensa, como se ainda não tivesse terminado de dizer tudo o que queria, mas ele ficou quieto. Jacob também olhou para mim, e em seus olhos havia algo que eu não conseguia identificar - raiva, preocupação, talvez até ciúmes.
- Erick, por favor... Só estou pedindo uma conversa... - Jacob sussurrou, mais brando, tentando controlar a raiva, mas eu vi a mágoa nos seus olhos. Edward ficou tenso atrás de mim.
Eu não sabia mais o que responder, então balancei a cabeça. Eu estava perdido entre essas duas forças, essas duas pessoas que, ao mesmo tempo, me faziam sentir segurança e confusão.
Mas então, algo estranho aconteceu. Enquanto os dois ficavam na minha frente, havia uma tensão elétrica no ar, algo que se formava entre eles, uma disputa silenciosa de vontades não ditas. Eu olhei de um para o outro, e pela primeira vez, senti uma sensação de... algo mais. Algo inexplicável.
Jacob, com seus músculos tensos, e Edward, com sua postura imperturbável, estavam se enfrentando de uma maneira que parecia mais intimidadora do que qualquer coisa. E, por um segundo, uma centelha passou entre eles.
Eu não sabia como, mas a energia entre os dois estava carregada, algo que eu ainda não entendi, mas que estava prestes a me engolir.
Quando Jacob olhou para mim novamente, sua expressão estava ainda mais carregada de intensidade. Eu sentia o calor da tensão em todo o meu corpo, e ao mesmo tempo, sentia que estava entre dois mundos diferentes - Jacob, com sua energia selvagem e imprevisível, e Edward, com sua calma enigmática, que me atraía como uma força invisível.
Eu não sabia mais quem eu tinha mais medo de magoar.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro