|016 - Toalha de Praia.
Meados de 1990...
Sob a luz fraca que atravessava as nuvens, o dourado de seus cabelos era mil vezes mais brilhante que o Sol, que nunca aqueceu direito a velha Forks. Eu amava essa cidade mofada, o lugar em que nasci e gostaria de morrer, mas sei que ela nunca pensou igual.
Joanne Lindbergh sempre foi uma mulher do mundo, e meu maior temor sempre foi que esse vasto mundo de sonhos viesse tirá-la de mim. Era egoísta e eu não me importava, amava minha garota, tanto que talvez ficasse louco quando a perdesse.
Era somente uma questão de quando, no fim.
-Billy Baby, em que tanto pensa? Parece o urso do centro me encarando! - a voz doce me tirou das paranóias.
Um sorrisinho maroto surgiu naquela boca pequena. Os óculos escuros eram grandes demais para seu rosto delicado, e ela era um monumento, completamente nua da cintura pra cima e espalhada em uma toalha de praia no meio de La Push.
-Você nunca sente frio com isso? - questionei, sorrindo quando ela tirou os óculos e se sentou, seus seios pequenos sequer tocavam as costelas quando se inclinava.
Eu já estava duro a tempos com a vista.
-Não me importo com o frio... Eu quero o sol, Billy. Quero ele todo pra mim. - ela abriu os braços sonhadora, como se estivesse sob um holofote imaginário, e se deitou novamente sobre a toalha roxa.
A brisa do mar dançava em volta de nós, misturando-se ao cheiro salgado de La Push. Enquanto Joanne se estirava, eu a observava com um olhar perdido, absorvendo cada detalhe dela. O jeito que seus cabelos brilhavam sob a luz do sol, os pequenos grãos de areia cintilando em sua pele, e como seu sorriso tinha o poder de iluminar até os dias mais nublados.
- Você deveria se preocupar mais com o frio, sabia? - brinquei, tentando afastar a melancolia que começou a me envolver. Joanne soltou uma risada, aquela que sempre me fazia sentir que tudo valia a pena.
- Ah, Billy, você sempre tão protetor! - ela se virou para mim, um brilho travesso em seus olhos. - Mas isso é parte do charme, não é? Você, o grande protetor da minha frágil essência.
Fiz uma expressão exagerada, como se estivesse em um drama, levando a mão ao coração.
- Sim, claro! O protetor do coração de uma diva do rock! - e a encarei, os olhos brilhando.
Joanne se levantou, puxando a toalha e fazendo um gesto como se estivesse se preparando para um grande espetáculo.
- Diva? Eu gosto disso. Deixe-me me apresentar. - Ela fez uma reverência, levando a mão ao peito e olhando para o céu. - "Senhoras e senhores, apresento-lhes a rainha da praia: Joanne, a imortal, a maravilhosa!"
Eu ri, admirando seu jeito único de brincar com as situações. Ela sempre foi assim, cheia de vida, como se o mundo fosse um grande palco e todos nós fôssemos só figurantes de sua peça. E mesmo assim, era eu quem tinha a sorte de estar ao seu lado.
- E quem sou eu nessa história? - perguntei, com uma expressão séria.
- Bem, você é o meu valente cavaleiro! - Ela respondeu, piscando para mim. - Aquele que me protege de tubarões e homens estranhos na praia!
Me lembrei da vez em que briguei com um cara por ela, ele tinha duas vezes o meu tamanho e rolamos aos socos na orla da praia. Foi um bom dia, ao menos ganhei um beijo de recompensa pelo olho roxo.
- Certo, então. Meu dever é manter você a salvo de todos os perigos! - Eu disse, levantando-me e fazendo um gesto exagerado como um cavaleiro cortando o ar com uma espada imaginária.
Ela soltou uma risada gostosa e eu não pude deixar de sorrir, a felicidade se espalhando em meu peito.
Após um tempo, a praia começou a ficar mais vazia do que já estava, e o céu tomou tons de laranja e rosa, um anúncio da noite que se aproximava. O sol estava se pondo, e era o momento perfeito para um passeio de carro. Havia dado um trato no motor do velho Chevelle a alguns dias, estava quase como novo.
- Vamos dar uma volta? - sugeri, estendendo a mão para ela. A garota respondeu com um sorriso, procurando as roupas na bolsa e vestindo rápido, meio atrapalhada.
Joanne pegou a minha mão e se levantou, enquanto nós dois começamos a caminhar em direção ao carro. A brisa estava um pouco mais fria agora, mas isso só fazia com que eu quisesse protegê-la ainda mais.
Chegamos ao meu carro, um velho Chevelle 70 que vinha sendo companheiro desde os meus 14 anos. Joanne entrou no banco do passageiro, jogando a toalha de praia no fundo do carro. A rádio estava sintonizada em uma estação que tocava clássicos, e logo, uma música suave começou a tocar.
- Essa música é ótima! - Joanne disse, enquanto ajeitava o cinto de segurança.
- É uma das minhas favoritas - respondi, ligando o carro e dando a partida. - Me lembra de você.
Ela sorriu, a expressão dela iluminada pela luz dos faróis.
- Sério? O que eu tenho a ver com a música? - Ela perguntou, com curiosidade.
- A letra fala sobre amor e liberdade. E você é a definição de liberdade para mim, Joanne. Você sempre vive a vida de acordo com suas próprias regras.
Ela ficou em silêncio por um momento, claramente tocada pelas minhas palavras. O olhar dela se perdeu na janela, observando a paisagem enquanto os primeiros sinais da noite começavam a surgir.
A estrada serpenteava ao longo da costa, e o mar batia suavemente nas rochas. O som das ondas misturava-se com a música, criando uma trilha sonora perfeita para aquele momento. Joanne sempre teve o poder de transformar até mesmo os pequenos momentos em algo especial.
- Você se lembra da primeira vez que eu vim aqui? - ela perguntou baixo, quebrando o silêncio.
- Claro! - respondi, sorrindo ao me lembrar. - Foi naquela festa de verão, acho que tínhamos oito ou nove anos.... Você estava com aquele vestido vermelho de bolinhas que destacava seus cabelos loiros. Eu não consegui tirar os olhos de você.
Joanne riu, um som que era como música para os meus ouvidos.
- E você estava tão nervoso! - Ela brincou, apontando para mim. - Parecia que ia desmaiar quando me pediu para dançar.
- Eu não estava nervoso, apenas... respeitando o meu papel de cavaleiro! - Eu disse, tentando manter a seriedade, mas não consegui evitar um sorriso.
Ela revirou os olhos, mas o sorriso dela era contagiante.
A estrada se iluminava à medida que passávamos por pequenas luzes das casas e lojas à beira-mar. Quando chegamos ao centro da cidade, Joanne olhou para mim animada.
- O que você acha de fazermos uma parada? Eu quero mostrar algo a você.
- O que? - perguntei, curioso.
Ela apontou para um bar acolhedor na esquina, suas luzes quentes piscando e a música suave escapando pelas portas abertas. Eu não passava muito tempo na cidade, estava quase sempre na reserva, mas já havia ouvido amigos falando do lugar.
- É um lugar onde eu gostaria de cantar um dia.
Senti um frio na barriga. Eu sabia que ela amava cantar, mas tinha medo do palco, o que era uma ironia para alguém tão cheio de vida.
- Você realmente quer? - perguntei, segurando a mão dela.
- Sim! - respondeu, sua determinação brilhando em seus olhos. - Eu sempre sonhei em me apresentar aqui, e, quem sabe, hoje seja a noite.
Eu hesitei por um instante, pensando em como isso a exporia, mas o brilho em seu olhar era inegável. Era uma parte dela, e eu queria apoiá-la.
- Então, vamos! - apesar de ter uma intuição contrária, eu ignorei.
Estacionei o carro e, ao sairmos, a música do bar se tornava mais alta. Assim que entramos, o ambiente estava repleto de pessoas, algumas conversando, outras rindo e, no canto, um músico tocava sua guitarra, preenchendo o espaço com uma música enérgica.
Joanne puxou-me em direção ao bar, e assim que ela se aproximou do balcão, a atendente sorriu para ela.
- Olá, Joanne! - a mulher disse, com um brilho nos olhos. - Veio se apresentar hoje?
A resposta de Joanne foi um sorriso tímido, mas logo foi substituído pela confiança que sempre admirava nela.
- Sim! Eu gostaria de cantar uma música!
Eu me senti tão orgulhoso. Olhando para ela, percebi que estava fazendo a coisa certa, apoiando seus sonhos.
- Isso é ótimo! A mesa de instrumentos está livre. Vá lá e pegue o microfone! - a atendente disse, enquanto outras pessoas começaram a notar a presença dela.
Joanne olhou para mim, e eu acenei com a cabeça, incentivando-a a seguir em frente.
Ela caminhou em direção ao pequeno palco com passos decididos, e eu tomei um lugar na plateia, o coração acelerado. Assim que ela chegou ao microfone, um silêncio respeitoso tomou conta do lugar.
- Oi, pessoal! Meu nome é Joanne, e eu vou cantar uma música que significa muito para mim! - ela disse, e sua voz soou mais forte e clara do que eu jamais esperaria.
Um leve murmúrio de incentivo se espalhou pela sala. O músico que estava tocando parou e olhou para ela, esperando que ela começasse. Ela escolheu a música que sempre a emocionava, e assim que as primeiras notas começaram a tocar, eu senti meu coração se encher de orgulho mesmo que ainda tivesse um medo bruto em minha. Enquanto ela cantava os versos de "Me and Bobby McGee", as pessoas dançavam e eu ainda temia que nos separássemos como o casal na música.
Joanne cantava com uma paixão que a tornava inconfundível. Era como se ela estivesse se despindo de todas as suas inseguranças, entregando-se completamente àquela canção. Sua voz era doce e poderosa, e a sala parecia mágica sob seu encanto.
Enquanto ela cantava, eu a observei, completamente absorvido. Cada nota era uma extensão dela, e eu não conseguia tirar os olhos dela. Era difícil não sentir um calor no peito, sabendo que ela estava ali, na frente de todos, fazendo o que mais amava.
Quando a música chegou ao fim, aplausos calorosos ecoaram pelo bar. Joanne estava ofegante, mas seu sorriso era contagiante, iluminando o ambiente.
Ela se virou para me encontrar, e a expressão dela era uma mistura de surpresa e alegria. Eu levantei as mãos em sinal de aprovação, e ela veio até mim, ainda cheia de energia.
- Você viu aquilo? - ela exclamou, e a excitação na voz dela era inegável.
- Você foi incrível! - respondi, puxando-a para perto. - Estou tão orgulhoso de você!
Ela me olhou com aqueles olhos brilhantes, e naquele momento, eu soube que tudo o que eu temia sobre perder Joanne era mais real. Ela era um espírito livre.
- Você realmente acha que eu cantei bem? - ela perguntou, a insegurança ainda presente em sua voz, mas com um brilho de felicidade que era impossível ignorar.
- Com certeza! Você fez isso parecer fácil! - eu disse, ainda empolgado, nunca deixaria ela ver minha tristeza. - Você tem um talento incrível, Joanne. As pessoas estavam hipnotizadas por você!
Ela sorriu, sua confiança aumentando a cada palavra que eu dizia. Era maravilhoso ver como a música a transformava, a deixava ainda mais viva e intensa.
- Obrigada, Billy. Você é sempre tão bom para mim. - Ela se virou para o bar e pediu uma bebida, e quando o bartender a atendeu, ela olhou de volta para mim com um brilho travesso nos olhos. - O que acha de celebrarmos com um brinde?
Levantei uma taça que o bartender havia me passado e brinquei:
- Ao talento da minha diva e a muitos mais shows!
- E ao nosso amor! - ela acrescentou, erguendo sua taça em minha direção.
Bati minha taça na dela, e ambos tomamos um gole. O gosto do coquetel era doce, e a sensação de estar ali com ela era ainda mais doce, meu próprio amargor ficou entorpecido naquele instante.
Enquanto o bar voltava a encher de música e risadas, Joanne e eu encontramos um canto mais reservado, onde poderíamos conversar sem a agitação ao nosso redor.
- Você sabe que eu sempre sonhei em me apresentar em um lugar como esse, não sabe? - ela disse, olhando para a mesa, seu rosto iluminado pela luz suave que emanava das velas.
- Eu sabia que você tinha esse sonho. Sempre que falava sobre cantar, eu via a paixão em seus olhos. Mas eu também via o medo. Fico feliz que tenha encontrado coragem. - Eu a encorajei.
Ela balançou a cabeça, parecendo refletir sobre minhas palavras.
- Às vezes, sinto que estou presa entre o que quero e o que as pessoas esperam de mim. Como se houvesse um peso enorme em cima de mim. - O olhar dela se perdia na multidão. - Mas quando estou cantando, tudo desaparece. É como se eu estivesse livre.
Ouvindo isso, meu coração apertou. Eu queria que ela sempre se sentisse assim, livre e feliz, sem nenhuma sombra de dúvida.
- Então, vamos fazer isso mais vezes! Sempre que você quiser, eu estarei aqui. - Eu afirmei, segurando a mão dela sobre a mesa.
Joanne sorriu e apertou a minha mão, seu toque era suave e reconfortante.
- Você é o melhor, Billy. Não sei o que faria sem você. - Sua voz era doce, e a sinceridade dela fez meu coração derreter.
- E eu não consigo imaginar minha vida sem você. - Eu a olhei nos olhos, tentando transmitir todo o meu amor. - Quero que você saiba que estou sempre ao seu lado, não importa o que aconteça. Conte comigo quando precisar...
A música continuava tocando, e aos poucos, as pessoas começaram a dançar. A atmosfera estava cheia de alegria e descontração, e logo Joanne se levantou, puxando-me para dançar.
- Vamos! Não fique parado aí, protetor! - ela brincou, me puxando em direção à pista de dança.
A música era animada, e enquanto dançávamos, as risadas e a energia vibrante ao nosso redor faziam com que o mundo parecesse perfeito. Joanne se movia com graça, seus cabelos balançando enquanto ela dançava. Eu não consegui evitar de ficar fascinado por ela.
No meio da dança, Joanne se virou para mim, e nossos olhos se encontraram, preenchidos com a luz da felicidade. Ela se aproximou, e no calor do momento, sussurrou:
- Sabe, eu pensei que a vida seria diferente. Mas você a tornou tão incrível.
Aquelas palavras me tocaram profundamente.
- Você a tornou incrível. Você é a razão pela qual eu me sinto completo. - Respondi, fazendo-a sorrir mais uma vez.
A música mudou para uma balada suave, e Joanne se aproximou ainda mais, envolvêmo-nos em um abraço. Dançamos lentamente, a respiração dela em meu ouvido, enquanto a melodia preenchia o ar ao nosso redor.
Enquanto dançávamos, o mundo ao nosso redor desapareceu. Apenas nós dois, imersos em um momento que parecia eterno. Era como se o tempo tivesse parado, e todo o resto não importasse.
Quando a música terminou, nos afastamos, ambos ofegantes e sorridentes.
- Você é um dançarino incrível, sabia? - Joanne disse, piscando para mim.
- Eu tento acompanhar você! - eu brinquei, levando-a de volta para o bar.
Depois de um tempo, decidimos pedir mais bebidas e relaxar um pouco. Enquanto a noite avançava, as conversas e risadas à nossa volta se tornaram uma trilha sonora envolvente, e a conexão entre nós se fortaleceu ainda mais. Joanne estava radiante, e eu nunca havia visto ela tão feliz.
Queria que tivesse sido assim para sempre... Como foi na nossa última noite.
XXX
Notas da autora:
Hello, darlings! Essa semana apareci no dia certo e com um pequeno flashback, quem tá chocado?!
Espero que tenham gostado e até a próxima!
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