Capítulo 23
Livia suspirou tão alto que Ana se voltou para encará-la. Queria perguntar o que havia acontecido, mas se deu conta na hora. Onde estava o namorado de Livia? Ela não o tinha visto em todo o momento desde que chegara. Fitou Livia e viu um fundo de desespero no seu olhar. Havia visto porque muitas vezes ela mesma sentia tal desespero e o escondia na parte mais profunda da sua alma.
Ela se aproximou com a seringa na mão, enquanto Amanda terminava as anotações sobre Livia. Ana suspirou e lhe lançou um olhar triste, de quem entendia o que estava acontecendo.
− Não pense besteiras. Ele provavelmente ficou preso no trânsito ou o chefe não o deixou sair do serviço. Ele ama você, jamais a deixaria... adoraria poder esperar Livia, mas... não podemos. Temos que terminar isso de uma vez.
Ela recebeu apenas um olhar como resposta. Não acreditara em suas palavras e aceitara sua decisão. Ana se aproximou mais um pouco com a seringa, pronta para proferir a sua picada final. Livia fechou os olhos. Tinha vontade de chorar. Dormiria, talvez nunca mais acordaria e não veria o rosto do único homem que amara uma última vez. Por que ele não estava ali?
As batidas na porta da sala de cirurgia foram tão fortes que Ana pensou que o vidro fosse cair. Ana se afastou de Livia e se aproximou da porta. Viu Amanda conversando com um homem. Sorriu. Já sabia quem era.
− Você não pode entrar. Por favor, saia. Não me faça chamar os seguranças. Aqui é uma área restrita.
Ana se aproximou mais. Tocou o ombro de Amanda e esta a viu sorrir como nunca antes havia visto.
− Deixe-o entrar.
− Ana, não po...
− Encare como um favor pessoal Amanda. Deixe-o entrar.
Amanda abriu a boca para argumentar, mas ao ver o olhar de Ana achou melhor atender o pedido. Nunca vira Ana tão decidida e humana. Na realidade sequer vira Ana se importar com alguma coisa. Lúcio realmente estava lhe fazendo bem e Amanda sorriu ao pensar no encontro dos dois. Sem dizer uma palavra, saiu da frente da porta.
Livia se sentou, tentando ver o motivo do tumulto. Estava nervosa e assustada e tudo parecia conspirar contra a cirurgia. No momento em que ela se sentou, viu Amanda sair da frente da porta e Pedro entrar correndo na sala com um olhar assustado. Depois não viu mais nada, pois seu corpo se perdeu no enorme abraço que ele lhe deu.
− Pedro... Achei que você não ia vir. - Livia deixava finalmente suas lágrimas contidas se esvaírem
− E eu que não ia chegar a tempo. Meu chefe não queria me liberar do serviço, e, quando liberou, o trânsito estava congestionado por causa de um acidente. Eu ia enlouquecer se não falasse com você antes da cirurgia. E te entregasse isso.
Ele se separou do abraço e Livia pôde ver uma rosa vermelha em sua mão.
− Não é a do jardim... o inverno chegou então elas não florescem mais. Mas eu a conheci disputando uma rosa... lhe dei aquela quando soube pelo que passava e estou lhe dando esta como uma lembrança e pelo que sei que vai passar.
Livia pegou a flor com delicadeza e colocou no criado mudo. Ana resmungou alguma coisa sobre pegar um copo com água e Amanda aparentemente tinha que atender o celular, embora nenhum barulho tenha sido ouvido.
− Por um momento... achei que você não viria. Senti tanto medo...
− Eu deveria ficar zangado. Você aparentemente não me conhece ainda. Mas vou deixar passar. Esta cirurgia deve estar te dando medo e muitas besteiras devem estar passando pela sua cabeça. Eu teria chegado Livia... atrasado talvez. Mas não teria deixado de vir.
Ele a beijou com urgência, um beijo doce e necessitado. Um beijo que durou minutos, muitos minutos. O último beijo... talvez.
***
***
Aerosmith - I Don't Want To Miss A Thing
Não quero perder mais nada
I could stay awake just to hear you breathing
Watch you smile while you are sleeping
While you're far away and dreaming
I could spend my life in this sweet surrender
I could stay lost in this moment forever
Well, every moment spent with you
Is a moment I treasure
Eu poderia ficar acordado só para ouvir você respirar
Ver o seu rosto sorrindo enquanto você dorme
Enquanto você está longe e sonhando
Eu poderia passar minha vida inteira nessa doce
entrega
Eu poderia me perder neste momento para sempre
Todo momento que eu passo com você é o máximo
I don't wanna close my eyes
I don't wanna fall asleep
'Cause I'd miss you, babe
And I don't wanna miss a thing
'Cause even when I dream of you
The sweetest dream will never do
I'd still miss you, babe
And I don't wanna miss a thing
Não quero fechar meus olhos
Não quero pegar no sono
Porque eu sentiria a sua falta, baby
E eu não quero perder nada
Porque mesmo quando eu sonho com você
O sonho mais doce nunca vai ser suficiente
E eu ainda sentiria a sua falta, baby
E eu não quero perder nada
Lying close to you
Feeling your heart beating
And I'm wondering what you're dreaming
Wondering if it's me you're seeing
Then I kiss your eyes and thank God we're together
And I just wanna stay with you
In this moment forever, forever and ever
Deitado perto de você, sentindo o seu coração bater
E imaginando o que você está sonhando
Imaginando se sou eu quem você está vendo
Então eu beijo seus olhos e agradeço a Deus por
estarmos juntos
Eu só quero ficar com você
Neste momento para sempre, para todo o sempre
I don't wanna close my eyes
I don't wanna fall asleep
'Cause I'd miss you, babe
And I don't wanna miss a thing
'Cause even when I dream of you
The sweetest dream will never do
I'd still miss you, babe
And I don't wanna miss a thing
Não quero fechar meus olhos
Não quero pegar no sono
Porque eu sentiria a sua falta, baby
E eu não quero perder nada
Porque mesmo quando eu sonho com você
O sonho mais doce nunca vai ser suficiente
E eu ainda sentiria a sua falta, baby
E eu não quero perder nada
I don't wanna miss one smile
I don't wanna miss one kiss
Well, I just wanna be with you
Right here with you, just like this
I just wanna hold you close
Feel your heart so close to mine
And stay here in this moment
For all the rest of time
Não quero perder um sorriso
Não quero perder um beijo
Bom, eu só quero ficar com você
Aqui com você, apenas assim
Eu só quero te abraçar forte
Sentir seu coração perto do meu
E ficar aqui neste momento
Por todo o resto dos tempos
I don't wanna close my eyes
I don't wanna fall asleep
'Cause I'd miss you, babe
And I don't wanna miss a thing
'Cause even when I dream of you
The sweetest dream will never do
I'd still miss you, babe
And I don't wanna miss a thing
I don't wanna close my eyes
I don't wanna fall asleep
'Cause I'd miss you, babe
And I don't wanna miss a thing
'Cause even when I dream of you
The sweetest dream will never do
I'd still miss you, babe
And I don't wanna miss a thing
Não quero fechar meus olhos
Não quero pegar no sono
Porque eu sentiria a sua falta, baby
E eu não quero perder nada
Porque mesmo quando eu sonho com você
O sonho mais doce nunca vai ser suficiente
E eu ainda sentiria a sua falta, baby
E eu não quero perder nada
Don't wanna close my eyes
Don't wanna fall asleep, yeah
I don't wanna miss a thing
Não quero fechar meus olhos
Não quero pegar no sono
Porque eu sentiria a sua falta, baby
E eu não quero perder nada
***
Eles se separaram do beijo devido aos passos de Amanda e Ana que retornavam. Ana colocou a rosa no copo no criado mudo ao lado da cama. Amanda, com extrema gentileza se voltou para Pedro.
− Você precisa sair. Vamos começar a cirurgia.
− Sim, eu entendo. - Pedro a beijou novamente e se ergueu. − Eu posso vê-la? Enquanto vocês a anestesiam?
− Não será agradável. -Ana parecia preocupada ao encarar Amanda.
− Não me importo.
− Você não pode vê-la aqui, mas... se quiser pode ver através do vidro, pelo lado de fora. Fizemos a mesma oferta para os pais dela, mas... acho que eles não aguentariam. Sempre é mais difícil para os pais. - Ana falava enquanto seus olhos passeavam entre Pedro e Livia.
Pedro apenas assentiu, enquanto se deixou conduzir para fora da sala de cirurgia. Escorado na janela de vidro, ele observou Ana preparar o braço de Livia para a picada. Pedro viu o medo nos olhos de Livia e, disse apenas movendo os lábios que a amava. Livia sorriu para ele, mas o medo não passava. Não queria dormir. Tinha medo de não acordar, ou se acordasse, de perder tudo... iria perder tudo de qualquer forma, então precisava arriscar.
Ela sentiu a picada no braço. Seus minutos eram escassos. Ficou encarando Pedro, na janela, olhando para ela. Lutava contra o sono que sabia estar chegando... não podia dormir, precisava, mas não queria... na janela, Pedro não pôde refrear as lágrimas. E nem ela, nos minutos finais que permanecia acordada. Ouviu a voz de Amanda e Ana de muito longe. Não entendia o que diziam. E depois, veio a escuridão. Ela havia caído no sono. Por cem dias ou por cem anos. Ainda não sabia. Mas tinha ciência de que ainda estavam escorrendo lágrimas pelos seus olhos.
***
"O tempo passou rápido. Rápido demais. Eu e os pais de Livia estávamos todos os dias no hospital. No início estávamos confiantes e esperançosos. Afinal, 100 dias era bastante tempo. Depois ainda tínhamos 99,98,97... quando demos por si, faltava apenas uma semana. E Livia não havia acordado.
Wanessa chorava todos os dias. Se recusava a comer. Sérgio não vivia. Estava apático como a esposa, embora tentasse apresentar alguma serenidade. Eu os consolava e aceitava o consolo deles. Minha família nem sabia da existência de Livia, como poderiam me consolar?
Agora falta apenas um dia. Um mísero dia. Se Livia não acordar até o dia seguinte não haverá mais nenhuma esperança.
Teremos que decidir entre deixá-la viver eternamente sob o uso de aparelhos ou lhe autorizar que siga o caminho para a morte. Ana e Amanda não diziam nada. Amanda dizia que devíamos aguardar, mas eu li o desespero nos olhos de Ana. Vi o medo refletindo naquela mulher que Livia me descrevera como fria e implacável e perdi completamente o resto de esperança que eu possuía.
Anoiteceu. Eu ainda estava sentado na cadeira do hospital, esperando o momento que o médico me chamaria para dizer que Livia havia acordado. Mas isso nunca aconteceu.
O centésimo dia chegara. E Livia Oliveira continuava em seu sono profundo, que parecia durar eternamente. Está tudo acontecendo agora.
Deus, como eu queria que esse inferno terminasse.
Estou sentado na sala de espera de um hospital, e o tempo passa rápido demais. Antes tínhamos meses, agora temos apenas um dia.
E você... você não acorda.
Fico esperando a agonia passar, mas ela simplesmente se torna maior a cada minuto. Por isso escrevo, afim de acalmar meu coração e a angústia.
Livia... você tem que acordar. Eu te suplico.
Enquanto você não acorda... revivo todos os momentos que passamos juntos. Como te conheci, como você entrou na minha vida... e tudo o que aconteceu até aqui.
Quero ter isso registrado no papel para quando minha memória falhar e eu me esquecer dos detalhes.
E quero contar a sua história... desde o princípio. Desde quando você foi amaldiçoada com essa doença, sem ter feito nada para merecer, pelo contrário. Você merecia apenas a felicidade plena.
Sei que talvez alguns fatos tenham chegado deturpados aos meus ouvidos mas... preciso contá-los, mesmo assim.
Contar tudo sobre você... registrar tudo sobre você.
Não posso nem consigo contar em primeira pessoa... sinto que não faço parte completamente disso.
Ao mesmo tempo, preciso colocar meus comentários e meus sentimentos em algum momento... pois se não apagaria minha existência dessa história.
Não sei o que fazer... sequer sei o que quero dizer...
Apenas sei que preciso fazer isso.
Um livro e um diário ao mesmo tempo...
Onde procuro relembrar intensamente cada palavra que ouvi e todos os momentos que vivi ao seu lado...
Enquanto esse maldito dia não termina e seu destino não se define.
Que eu consiga escrever direito... que eu consiga transmitir todas as minhas emoções e todos os momentos...
Tentarei pelo menos.
Por favor, meu amor, acorde... acorde e acabe com a minha agonia.
Resta apenas um dia... um dia que resumirá toda a minha vida... e a sua também...
Um dia que não termina nunca."
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