Capítulo 11
− Você parece entendida no assunto.
− Querida, eu sou entendida no assunto. Sabe Livia, você mesma disse que a nossa amizade é unilateral. Eu te conto poucas coisas. Mas pouco que eu te conto, deveria servir para você não cometer o mesmo erro.
− Você só me conta seus erros?
− Posso dizer que a minha vida é uma sucessão de erros querida. No quesito relacionamento, eu sou um fracasso. Me neguei desde sempre a me envolver com alguém. Alguns homens afastei por medo, outros afastei porque poderia me apaixonar por eles. Todos eles me odeiam hoje, ou nutrem uma mágoa por mim. E eu... a cada dia me torno mais fria e amarga com isso.
Livia: Mas você é saudável, linda, uma médica... tem um futuro promissor pela frente.
− Mas sou cheias de medo e meu passado me persegue. Não, não vou te falar do meu passado. Sabe Livia, cada vez não que você diz, cada amor que você se priva, saudável ou não, transforma seu coração em uma pedra de gelo. Eu sei do que falo. Sei o que sinto e o quanto sofro com cada atitude minha. Você é linda, meiga, carinhosa... não merece viver de forma amarga por ter se recusado a arriscar.
− Eu não quero que ele sofra mais Ana , só isso.
− Todos sofrem Livia... evitar o sofrimento é perda de tempo. O que muda é o motivo. Se ele vai sofrer, por que não experimentar a paixão arrebatadora por um momento?
A enfermeira da madrugada chamou por Ana , para ela ver o paciente.
− Tenho que ir. Pense nisso querida. E conversamos amanhã, se você quiser.
Ela deu um abraço em Livia e saiu.
Livia suspirou. Ana, Ana ... seria tão mais fácil entendê-la se ela se abrisse..., mas ela não ia voltar atrás. Não ia se envolver. O pensamento lhe passou com uma pontada no peito. Olhou novamente para o céu estrelado. Rapidamente, pegou o celular e ligou para os pais. Eles já haviam saído e estavam num táxi. Livia os avisou para não irem para o hospital. Precisava urgentemente ficar sozinha. Não queria ouvir perguntas.
***
The Corrs - When The Stars Go Blue
Dancin' where the stars go blue
Dancin' where the evening fell
Dancin' in your wooden shoes
In a wedding gown
Quando as estrelas ficam tristes
Dançando onde as estrelas ficam tristes,
Dançando onde a noite cai,
Dançando com seus sapatos de madeira,
Num vestido de casamento,
Dancin' out on 7th street
Dancin' through the underground
Dancin' little marionette
Are you happy now?
Dançando pela rua 7,
Dançando através dos subterrâneos,
Dançando pequena marionete,
Você está feliz agora?
Where do you go when you're lonely
Where do you go when you're blue
Where do you go when you're lonely
I'll follow you
When the stars go blue, blue
When the stars go blue, blue
When the stars go blue, blue
When the stars go blue
Aonde você vai quando está só?
Aonde você vai quando está triste?
Aonde você vai quando está só?
Eu vou te seguir,
Quando as estrelas ficam tristes, tristes
Quando as estrelas ficam tristes, tristes
Quando as estrelas ficam tristes, tristes
Quando as estrelas ficam tristes,
Laughing with your pretty mouth
Laughing with your broken eyes
Laughing with your lover's tongue
In a lullaby
Rindo com sua boca bonita,
Rindo com seus olhos quebrados,
Rindo com a língua do seu amante,
Numa cantiga,
Where do you go when you're lonely
Where do you go when you're blue
Where do you go when you're lonely
I'll follow you
When the stars go blue, blue
When the stars go blue, blue
When the stars, when the stars go blue, blue
When the stars go blue
When the stars go blue, blue, blue
Stars go blue
When the stars go blue
Aonde você vai quando está só,
Aonde você vai quando está triste,
Aonde você vai quando está só,
Eu vou te seguir,
Quando as estrelas ficam tristes, tristes
Quando as estrelas ficam tristes, tristes
Quando as estrelas, quando as estrelas ficam tristes,
tristes
Quando as estrelas ficam tristes,
Quando as estrelas ficam tristes, tristes, tristes
Estrelas ficam tristes, tristes
Quando as estrelas ficam tristes,
Where do you go when you're lonely
Where do you go when you're blue, yeah
Where do you go when you're lonely
I'll follow you, I'll follow you, I'll follow you
I'll follow you, I'll follow you, yeah
Where do you go, yeah
Where do you go, Where do you go
Aonde você vai quando está só,
Aonde você vai quando está triste,
Aonde você vai quando está só,
Eu vou te seguir, eu vou te seguir, eu vou te seguir,
eu vou te seguir, eu vou te seguir,
Aonde você vai,
Aonde você vai, aonde você vai...
***
Só havia um lugar onde Livia podia ir àquela hora. Mandando a cautela para os ares, as quatro da manhã ela foi para o jardim. Não era muito longe, então ela foi a pé. Sem se preocupar com a sua sorte ou com a violência do mundo, ela saiu do hospital e foi para o único lugar que lhe trazia paz.
Estava ainda escuro e ela podia ver a noite estrelada. Viu as constelações e tentou não chorar. Por que tudo era tão difícil? Por que ela não era tão forte? Saindo dos devaneios e deitando na grama, ela suspirou, deixando os cabelos se espalharem na grama. De repente, se deu conta de que era tarde e que ela estava em um local provavelmente frequentado por ladrões. Mas não ligou. Não queria ligar.
−Livia, Livia, você está louca. Como você sai a esmo as quatro da madrugada? Quer viver perigosamente agora? Ou está tão cheia de dor que não liga mais?
Ela percorreu mais uma vez o contorno no ar, tentando seguir as estrelas.
− Você fez o que tinha que fazer. Ser forte é difícil, você sabe..., mas você fez o certo. Ele um dia vai te agradecer. Coloque isso na sua cabeça e esqueça o que você nunca teve.
Ela fechou os olhos e deixou o braço cair. Sentiu passos e a grama tremendo. Que ótimo, ela bem que sabia que isso podia acontecer. Agora ia pagar muito caro pela ousadia de ficar as quatro da manhã em um jardim. Quem sabe se dissesse que tinha um tumor a deixassem em paz? Afinal, ladrões e assaltantes também podiam ser preconceituosos.
Os passos pararam. Ela tremeu, mas não demonstrou.
− Sabe... eu ainda discordo dessa teoria. Mas você é muito mais teimosa do que eu previra.
Livia suspirou. Não se moveu quando ele se sentou do lado dela. Nem mesmo quando ele a fitou e se deitou, encarando as estrelas junto com ela.
− Vou ter que mudar de santuário?
− Não. Se você realmente não quiser mais me ver, eu não aparecerei mais aqui. Aliás, não pensei que viria... apenas queria ficar sozinho. O que você faz aqui a essa hora?
− Precisava ficar sozinha também... não queria ouvir perguntas. Parece que foi em vão, não? - Livia tentou se levantar, mas Pedro segurou em seu braço. A conversa até poderia ser adiada, mas naquele momento, tudo o que ele queria era se certificar de que Livia estava em, ou tanto quanto era possível, em sua condição.
− Não, não vá. Você não pode ir. Não antes de eu te dizer algumas coisas...
− Já conversamos no hospital. Há algo mais para ser dito Pedro?
− Muito mais. Você nem me deixou falar. Apenas me afastou.
−Seja lá o que você for me dizer, a resposta é não.
− Correrei o risco. Livia, você caiu de paraquedas na minha vida. De uma maneira que eu até agora não entendo. E agora, quer ir embora, da mesma maneira que entrou... sim, eu sei os seus motivos. Você quer ser nobre. Mas tudo o que eu menos quero é que seja nobre.
− Você me agradecerá Pedro. Acredite.
− Não. Não vou te agradecer. Porque você pode me afastar, pode me impedir de ver onde vamos parar. E você pode não me querer do seu lado quando começar a luta. Mas algo você não pode fazer ou decidir. Você não pode apagar o nosso encontro nem as marcas que ele me causou. Não pode me fazer esquecer. E nem mudar meus sentimentos. Não sou frio e insensível, sou apenas um descrente. E eu te disse que as mulheres não me interessavam. Isso foi até o dia em que a conheci.
Ela nada disse. Ele a puxou com delicadeza e a fez encará-lo.
− Não posso obrigá-la acreditar em mim ou fazê-la mudar de ideia... apenas posso falar. Agora é com você. Cabe a você decidir se quer lutar comigo ou sozinha Livia. Mas não poderá evitar que eu sofra, seja qual for a sua decisão. Você diria que isso depende dos Deuses... eu diria que isso depende da vida.
***
Ela ainda ficou em silêncio, sem se mover. Quando a voz saiu, saiu baixa e estrangulada, como se ela se contivesse para falar.
− Pedro... entenda. Não é questão de sofrer ou não, é questão de evitar o sofrimento desnecessário. Você talvez goste de mim e vai sofrer quando o tormento começar. E eu vou me sentir miserável porque você mal me conhecia e eu o arrastei nisso. Não poderia me perdoar...
Ele a abraçou com força e apertou contra si, ainda deitados na grama. Ele acariciou o rosto dela enquanto os corpos se tocavam.
− Me escuta... me escuta com atenção. Antes de você aparecer na minha vida eu não pensava no amanhã. Apenas desejava morrer, me esquecer do mundo... então, você apareceu, estranha, petulante e tão linda... demonstrou uma coragem que eu nunca tive e que talvez nunca a tenha... e, acima de tudo, me deu algo que eu nunca conheci.
− E o que é?
− Esperança Livia. Esperança. Mesmo como apenas seu amigo, desde que a conheci, tenho vontade de acordar e viver o dia seguinte, seja para te reencontrar ou para apenas viver... e, mesmo com a sua doença, mesmo você tendo que lutar... eu sempre terei esperança. Por mim e por você. E terei esperança de descobrir se você é a mulher por quem tanto espero ou se estou tão enganado assim... porque eu não sei Livia, eu simplesmente não sei.
− Pedro, eu...
− Shhhh. Você vive falando em próxima vida Livia... quer deixar para fazer na próxima tudo o que deveria ter feito nessa? Como se apaixonar?
Ela estremeceu. Parecia que ele podia ler seu pensamento mais profundo, seu segredo mais íntimo... ele entrelaçou as mãos na dela e a segurou com força. Pedro fechou os olhos e aproximou o rosto do dela novamente.
−Acho que já está na hora de você ser feliz Livia... dure o tempo que durar.
E sem aviso prévio, ele a beijou, fazendo ela perder os fios do pensamentos e a angústia que a dominava.
Livia se sentiu protegida nos braços dele. O beijo era suave e delicado, mas ao mesmo tempo tão intenso que ela sentia desfalecer nos braços dele. Ela acariciava suavemente o rosto dele, com a ponta dos dedos, enquanto ele, com as duas mãos, a puxava contra si, apertando suas costas. O beijo terminara com a falta de ar, mas ele ainda mantinha o rosto perto dela. Ela abriu os olhos incrivelmente azuis e o fitou. Ele pode ver as lágrimas que começavam a se formar.
− Livia...
− Pedro, pare com isso. Eu... eu talvez não consiga mais te dizer não.
Ele acariciou o rosto dela com o polegar e sentiu que a lágrima cair sobre seu dedo.
− Pois então não diga.
− Você vai me odiar. Você está fazendo isso porque sente pena de mim, não entende?
−Você que não entende. Eu não vou te odiar. E eu não sinto pena de você. Você é forte demais Livia. Não precisa da minha pena. Precisa de outros sentimentos.
Ela fechou os olhos e escondeu o rosto no pescoço dele. Ele a abraçou com força, tentando interpretar a batalha interna que ela travava no momento.
− Você tem que me prometer... que não vai se arrepender. Eu não suportaria se você se arrependesse...
Medo. Não era apenas nobreza. Ela sentia medo de ser deixada quando o inferno fosse realmente começar. Ele tocou o rosto dela e a fez encará-lo.
− Não vou me arrepender. Eu te prometo.
A segurança com que ele falou aquilo a surpreendeu. Ele sentiu ela relaxar em seus braços. Mas ela ainda tremia. Aos poucos, o tremor passou e ela o abraçou de outra maneira. Com carinho, sem medo ou desespero. Pedro fechou os olhos e sentiu que começava a amanhecer. Os primeiros raios de sol já nasciam. Livia abriu os olhos.
− Está amanhecendo.
− Sim. Acho que conversamos mais do que previmos.
− Você não entendeu Pedro... está amanhecendo... a escuridão foi embora.
Ele não perguntou o que ela quis dizer. Apenas a virou de barriga para cima e os dois contemplaram o Sol que nascia no horizonte. Eles fitaram o espetáculo e quando Pedro se virou, para dizer algo para Livia, viu que ela havia caído no sono. Ele sorriu e ajeitou em seu corpo. Fitou o sol por mais um momento. Sim, amanhecera e a escuridão terminara. Para ele nascia a esperança... para ela nascia uma oportunidade.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro