Capítulo 1
Wanessa estava sentado na sala do médico. Carregava uma criança no colo. A menina dormia tranquilamente no colo da mãe. Sérgio, o pai de Livia fitava o médico tenso.
Tudo começara quando Livia, de cinco meses de idade, começara a chorar violentamente de noite. A princípio acharam que era fome, mas a menina continuava chorando e se negava a se alimentar. Preocupados, os pais a levaram no pediatra, afim de diagnosticar o problema.
O pediatra a examinou. Seu semblante calmo ficou preocupado ao examinar o bebê. Rapidamente, ele recomendou um médico e ligou para o mesmo, afim de marcar a consulta com urgência.
Os pais não entenderam nada, mas agora estavam sentados na frente do médico, que olhava os exames feitos há pouco tempo atrás. Ele suspirou, guardou os exames e fitou a família. A notícia não seria fácil.
− Infelizmente minhas notícias não são boas.
− O que ela tem doutor? - Wanessa começava a se desesperar.
− Sua filha tem um tumor no cérebro. Ainda é benigno, mas com o tempo virará maligno e se converterá em um câncer. Não podemos operá-la, não há o equipamento necessário.
Wanessa começara a chorar. A filha estava com um tumor e nada poderia ser feito? Em que mundo essa desgraça poderia se abater sobre uma criança?
− Por que não podem operar?
− Ela morreria. Tumores como esse são morte certa na operação. Sinto muito senhora.
− Quantos anos... quantos anos ela têm de vida? - Sérgio entendia que precisava se manter forte por sua esposa, mesmo que em seu íntimo, tudo o que desejava era se unir em prantos à Wanessa. Uma injustiça sobre sua pequena Livia. Tão esperada. Tão milagrosa.
− Calculo eu que 21 anos. Quando ela atingir a idade adulta, o tumor já terá amadurecido e virado maligno. E ela morrerá pouco tempo depois. Eu... sinto muito mesmo.
− Não podemos aceitar isso. Tem de existir algo. Essa gravidez foi muito esperada por mim e minha esposa, não posso aceitar perder minha fila assim.
− Infelizmente nada poderá ser feito. Sua filha está condenada.
− Me nego a aceitar. Vamos procurar outra opinião. Minha filha tem que se salvar.
Sérgio saiu do médico decidido. Deveria haver uma esperança para a filha. Ele não podia aceitar que a sua menina morreria quando atingisse a idade adulta, sem poder desfrutar do mundo. Assim, ele e a esposa foram em outro médico, famoso por realizar milagres e todos os tipos de tratamento. O médico os recebeu. Assim como o primeiro, mandou realizar alguns exames. Quando obteve os resultados, os analisou e suspirou.
− Bem, não há dúvidas. Sua filha tem um tumor no cérebro. E como meu colega já lhes disse, ela morrerá na idade adulta, com cerca de 21 anos, quando o tumor se tornar maligno.
Wanessa chorou e apertou Livia nos braços. Sérgio escondeu o rosto nas mãos.
− Nada pode ser feito doutor?
− Nada é uma palavra grande demais. Agora, estamos desenvolvendo um novo método de cirurgia. Um método que nos permite operar o paciente, extrair o tumor. Em 45% dos casos, o paciente sobrevive a cirurgia.
− É um bom índice... bem melhor do que a morte certa.
− Consideramos o índice total dos que não morrem de fato na mesa de operação. Entenda Sr. Oliveira, para fazermos essa cirurgia, induzimos o paciente ao coma. Ele entra em coma profundo enquanto fazemos a operação. Depois dessa cirurgia, o paciente tem 100 dias para acordar. É o prazo máximo para o corpo conseguir se recuperar. O coma começa induzido e se torna natural. Então, o paciente deve acordar sozinho também. Se o senhor quiser operar sua filha, deverá fazer quando ela atingir a idade em que o tumor virará maligno, ou seja, aos 21 anos. E mesmo daqui a todo esse tempo, tenho certeza que nada mudará. O método é precário e continuará assim. Mas é uma chance. Pequena, mas é uma chance.
− O que acontece com os pacientes que não acordam em 100 dias doutor? Eles morrem?
O médico ficou quieto por um momento.
− Eles não morrem. Podemos dizer que os dias se tornam anos.
− O que quer dizer... os dias virariam anos?
− Que ao invés dela dormir 100 dias, dormiria 100 anos... dormiria para sempre. Se ela não acordar em 100 dias do coma, nunca mais acordará. Ficará para sempre ligada em tubos e aparelhos. E isso conta os 45% de sobreviventes. Apenas 20% dos que se submetem, acordam. E desses 20%, apenas 13% conseguem levar uma vida normal e sem sequelas. Querem arriscar mesmo assim?
Wanessa e Sérgio avaliaram as possibilidades. Livia morreria aos 21 anos. Aquilo era certo. Aos 21 anos, ao menos ela teria uma chance. No fim, eles só tinham a ganhar. A morte era inevitável. Valia a pena correr o risco.
Eles ficaram em silêncio. O médico esperou a resposta pacientemente. Apertando a mão da esposa, Sérgio disse as palavras que definiriam o futuro da sua filha.
− Queremos tentar. Nós vamos tentar.
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