Capitulo 8.
POV Brunna Gonçalves
Acordei bem cedo naquela manhã.
Tentei fazer o menor barulho possível para não acordar Matthew e evitar possíveis questionamentos de onde eu iria e com quem estaria.
Coloquei minha roupa de treino. Estava com saudade de correr.
Tomei um café da manhã bem reforçado. Iria me encontrar com Sofi no parque e, provavelmente, ficaríamos algumas horas por lá.
Peguei meu celular, fones de ouvido e chaves. Tranquei a porta do apartamento e aguardei a chegada do elevador.
Já na portaria, Jamie acenou e me desejou bom dia.
Coloquei meus fones de ouvido e comecei a correr.
[...]
Pouco menos de 15 minutos depois eu já estava no parque. Guardei meus fones de ouvido e peguei meu celular para ligar para minha irmã, que atendeu na minha segunda tentativa de contato.
— Sofi? — perguntei.
— Oi, Bru. Já estou saindo de casa, estarei aí em 20 minutos. — sua voz estava abafada e lenta.
20 minutos? Ela com certeza havia acabado de acordar com a minha ligação.
— Ok, dorminhoca. Estarei te esperando em frente à barraquinha de cachorro-quente.
Encerrei a chamada e aproveitei para me alongar um pouco.
Fui andando até o local onde o Sr. Carter costumava ficar com sua barraquinha e sentei-me em um dos bancos vazios que ali estavam.
— Bom dia, Senhorita Brunna. Quanto tempo não a vejo por aqui! — o homem de cabelos grisalhos me cumprimentou.
— Bom dia, Sr. Carter! Pois é, minhas últimas semanas foram agitadas.
Ficamos conversando até Sofia chegar. Não sei dizer ao certo quanto tempo passou, mas foi rápido.
Nos despedimos do Sr. Carter e começamos a caminhar lado a lado.
O silêncio entre nós não era de todo modo ruim, mas estava me deixando inquieta, talvez pelo turbilhão de pensamentos que ocupavam minha cabeça.
— Sabe o que isso me lembra? — eu falei e Sofia me olhou, esperando pela continuação da frase. — De quando ainda morávamos em Miami e nós duas saíamos para caminhar juntas quando a mamãe e o papai brigavam.
Ela sorriu.
— E de como isso virou um hábito nosso para poder desabafar e falar sobre o que quiséssemos durante as caminhadas pelo nosso quarteirão. — ela completou.
— Bons tempos... Sinto falta de saber como andam as coisas. Como você está? — perguntei.
— Ah, Bru... estou na correria com a faculdade. Quase não tenho parado em casa e, quando paro, é pra fazer trabalho. Fiquei feliz em te encontrar esses dias, inclusive, Luane pediu para que eu te agradecesse de novo por ter nos ajudado com o trabalho.
— Eu fiquei muito feliz em poder ajudar vocês. A nota foi mais que merecida. Vocês foram incríveis! — abracei-a.
— Sinto sua falta. — minha irmã falou contra o meu peito. Senti sua voz falhar.
Soltei-a e notei que ela estava chorando.
— O que houve? — perguntei preocupada.
— Nada. Só senti vontade de te abraçar. — ela respondeu.
— Sofia... — chamei-a e ela me olhou. — Eu te conheço. O que está acontecendo?
— Preciso conversar. — ela falou.
— Eu também preciso. Vamos fazer como nos velhos tempos, então, ok?
— Ok. Você primeiro. — ela me respondeu.
— Nada disso. Você é a mais nova. Pode falar, estou aqui.
— Eu estou confusa, Bru. Muito confusa.
— Confusa em relação a quê?
— Você já se sentiu atraída por alguém que não deveria?
Ok, o que está acontecendo?
— Já. — falei e engoli em seco.
Sofia arregalou os olhos e olhou pra mim.
— Por quem? — ela perguntou.
— Estamos falando sobre você, mocinha. — estreitei meus olhos.
— Chata. — ela bufou. — Mas então, é basicamente isso... Eu me sinto atraída por alguém que eu não deveria, e o pior é que não sei o que fazer.
— Mas por quê não deveria se sentir atraída por essa pessoa? É algum criminoso? Assassino em série? Mafioso?
Sofia começou a rir.
— Não, Bru. É uma pessoa comum, só é... complicado. — minha irmã agora olhava para as árvores.
— Então deixe-me te ajudar a descomplicar.
— Nah, vamos falar disso depois. Sua vez. — ela me empurrou levemente com seu corpo.
— Não pense que você escapou dessa conversa, viu? — olhei para minha irmã e a vi revirar os olhos. — Você acha possível se desapaixonar por alguém?
— Desapaixonar? — Sofia parecia confusa.
— Sim.
— Mas do nada? Tipo, estou apaixonada e de repente não estou mais?
— Não exatamente. Uma junção de coisas te leva a pensar que talvez você não se sinta como antes.
— Não estou te acompanhando, Bru.
Eu respirei fundo. Teria que ser honesta com Sofia.
Mas como ser honesta com ela, sem contar minha realidade para não preocupá-la?
— Suponhamos que, em uma situação hipotética, exista uma mulher que namora um homem e, depois de algum tempo juntos, eles ficam noivos. Tudo bem por enquanto? — perguntei para ter a certeza de que ela me ouvia.
— Por enquanto sim, prossiga. — ela me olhava atenta.
— Ok. Então, depois de noivos, eles se mudam e começam a morar juntos. A família inteira da mulher adora o noivo dela e eles se dão super bem. Porém, esse homem trabalha em um lugar importante e por isso está sempre muito ocupado com o trabalho, viajando de um lugar ao outro com frequência e sem tempo para ficar em casa. Por esse motivo, as brigas com a noiva se tornam cada vez mais frequentes.
— A mulher está se sentindo sozinha? — Sofia perguntou.
— A mulher está revoltada, porque ela é a única que se preocupa com o relacionamento dos dois, e, além disso, ela sente falta do homem pelo qual ela se apaixonou, já que atualmente seu noivo anda tendo algumas atitudes estranhas.
— Estranhas?
— Sim. Viajando muito, chegando em casa tarde e com cheiro de bebida, estar agressivo quando brigam... Coisas nesse estilo.
— Certo, continue.
— Bom, essa mulher acaba conhecendo alguém, com quem acaba criando um vínculo. Porém, toda vez que está presente perto dessa pessoa a mulher se sente diferente.
— Diferente como?
— Com um frio na barriga e o coração na boca.
— Hmmm... — minha irmã levou a mão ao queixo, como se estivesse pensando. — Continue.
— Lembrando que estamos em uma situação hipotética, ou seja, baseada em suposições, o que você acha que essa mulher deveria fazer?
— Essa mulher ainda gosta do noivo?
— Ainda não há respostas hipotéticas para essa pergunta.
— Então eu acho que essa mulher deveria procurar entender o que está sentindo. O que ela sente quando está com o noivo e quando está com essa outra pessoa. Ela deve perceber por quem o coração bate mais depressa, com quem se sente melhor... Quem a faz se sentir completa.
— E se a resposta levar até essa outra pessoa? Hipoteticamente falando.
— Se isso acontecer... — Sofia parou de andar e virou-se para mim. — A mulher deve escolher a felicidade dela em primeiro lugar.
Engoli em seco. Pisquei algumas vezes processando o que minha irmã havia acabado de dizer.
Andamos por mais algum tempo em silêncio, mas meu cérebro, inquieto, não parava de formular perguntas que pareciam ser impossíveis de se responder.
— Mas e quanto ao casamento, que, hipoteticamente, já está marcado e os convidados, hipoteticamente convidados?
— Foda-se eles! — olhei-a surpresa por ter falado um palavrão. Ainda não havia me acostumado com a ideia de que Sofia já era uma mulher adulta. — Volto a repetir, Bru: a mulher deve escolher a felicidade dela em primeiro lugar.
Sorri com sua resposta.
— Quando foi que você cresceu tanto assim? — perguntei, envolvendo meu braço direito em volta de seu pescoço e voltando a caminhar.
— Eu não conto meus segredos pra ninguém. — a garota mais nova me olhou. — Mas saiba que eu tive uma irmã incrível que me ajudou demais nesse processo.
— Eu te amo, sabia?
— Eu também te amo, Bru.
Nós caminhamos por mais meia hora, falando besteiras e fazendo piadas.
Paramos de volta na barraquinha do Sr. Carter e comemos dois cachorros-quentes sentadas na grama, enquanto olhávamos as pessoas passando por nós.
Quando terminamos de comer, fomos até a entrada do parque. Abracei Sofia e nos despedimos.
Ela iria virar para a esquerda e seguir seu caminho até a cafeteria, enquanto eu viraria para a direita e iria voltar para o meu apartamento, mas Sofia parou no meio do caminho e se virou para mim.
— Eu só queria dizer que acho, hipoteticamente falando, que a mulher da história se enganou com uma coisa.
Senti meu corpo gelar.
— Com o quê? — perguntei.
— A mulher disse que a família inteira dela adora o noivo, mas isso não é verdade.
Olhei-a confusa.
O que ela estava tentando dizer?
— Eu nunca fui com a cara do Matthew, Bru. — ela sorriu e virou-se, continuando a seguir o seu caminho, me deixando estática em frente ao portão do parque.
Droga...
Sofia era esperta demais para acreditar em uma história inventada.
Ri da minha própria situação e me lembrei de um antigo lema da nossa família, enquanto voltava para casa:
Nunca subestime o poder dos Gonçalves's.
[...]
Quando finalmente entrei em casa, percebi que tudo estava muito calmo e silencioso.
Fui até meu quarto e Matthew não estava mais deitado na cama, tampouco estava no banheiro.
Fui até a cozinha e lavanderia.
Nada.
Abri a cortina da porta que levava à sacada e ele também não estava lá.
É...
Eu estava sozinha mais uma vez.
Tomei um banho gelado e lavei o cabelo.
Já em meu quarto, passei hidratante em meu corpo e coloquei uma roupa básica para poder sair.
Iria passar na loja de vestidos para ajeitar algumas coisas no estúdio. Pensei em deixá-lo um pouco mais com a minha cara, então resolvi levar alguns equipamentos meus e alguns acessórios de decoração.
Coloquei tudo em duas caixas grandes e, com muito cuidado para não derrubar tudo, consegui chegar sã e salva em meu carro.
[...]
Já na loja de vestidos, estacionei o carro no subsolo. Agora que eu fazia parte da equipe de funcionários, tinha direito à uma vaga com meu nome.
Peguei as duas caixas e segui em direção ao elevador, que não demorou para me levar até o último andar da loja.
Abri a porta do estúdio e tudo estava como da última vez.
Branco e organizado demais.
Eu adorava organização. Sempre fui muito organizada com as minhas coisas e não seria agora que eu mudaria esse hábito, porém, aquele branco todo me deixava um pouco tonta. Por isso resolvi decorar algumas partes do estúdio do meu jeito, trazendo mais vida e cor para aquele lugar.
Coloquei as duas caixas que estava segurando anteriormente no chão, e comecei a tirar tudo que eu havia colocado dentro delas: pincéis, alguns potes de tinta, recortes de papel de parede, caixinhas menores para guardar os cartões de memória e pendrives, entre outras coisas, até mesmo uma escada portátil.
Não planejava fazer algo muito grandioso, apenas queria deixar o estúdio um pouco mais aconchegante.
De frente para o plano fotográfico havia uma parede inteiramente branca. Iria começar por ela.
Com a ajuda da escada portátil, pacientemente fui colando um papel de parede florido por toda a extensão daquele branco que parecia não ter fim. As flores eram todas pequenas e coloridas. Azuis, rosas, amarelas, vermelhas, roxas. Tinha flor de praticamente todas as cores ali.
Quando terminei de colar o papel de parede, prendi alguns quadros por cima dele. Todos eles estampavam frases retiradas dos meus livros e filmes preferidos.
Aproveitei para organizar a mesa onde o trabalho pós-ensaio era feito. Coloquei alguns potinhos com canetas e marca-texto. As caixinhas também ficaram organizadas ali.
Para terminar, peguei um fio de sisal e prendi-o em formato de meia lua na parede onde a mesa ficava encostada. Depois acrescentei algumas polaroids que havia tirado em momentos importantes da minha vida. Com a minha família, com amigos e até mesmo de algumas paisagens.
Tudo demorou pouco mais de três horas para ser feito. Eu estava orgulhosa do resultado final.
Olhei para as duas grandes caixas no chão e procurei algum lugar para guardá-las. Acabei encontrando um espaço vago no alto de uma estante que guardava parte dos equipamentos fotográficos.
Resolvi prender meu cabelo em um coque frouxo para não correr o risco de ser atrapalhada por ele e peguei a escada portátil, montando-a em frente a estante. As duas caixas eram grandes, mas por estarem vazias, decidi que iria carregar as duas ao mesmo tempo.
Coloquei uma caixa sob a outra e com um pouquinho de força peguei as duas. Tentei encontrar a escada, afastando meu rosto das caixas para poder enxergar melhor.
Quando encontrei, subi o primeiro degrau. Ainda estava inteira, o que indicava que meu plano estava funcionando.
Ao todo tive que subir 4 degraus para alcançar a parte vazia da estante. Com cuidado, guardei a caixa que estava por cima, e, quando eu estava terminando de ajeitar a segunda caixa, ouvi uma voz feminina:
— Precisa de ajuda?
Apesar de já saber a quem pertencia a voz, virei-me para poder olhar para a mulher de olhos castanhos.
Péssima ideia.
Senti minhas pernas tremerem, virei-me de volta para a estante na tentativa de me segurar nela e perdi o equilíbrio. Fechei os olhos.
Eu iria cair.
Porém, a sensação de queda juntamente do baque no chão duro não aconteceu. O que eu senti foi um leve e preciso aperto em minha cintura.
— Calma, estou te segurando. — Ludmilla falou próxima ao meu ouvido.
Senti minha pele arrepiar com o ar quente que saiu de sua boca. Engoli em seco.
— Devagar e com cuidado, desça um degrau. Estou bem atrás de você. — ela continuou.
Eu não conseguia responder algo coerente, então olhei para baixo para ver onde iria pisar.
Ludmilla havia subido um degrau para poder me segurar e agora já estava no chão. Suas mãos ainda estavam firmes em minha cintura.
— Ótimo, agora mais um. — sua voz ainda estava próxima demais.
Repeti a ação. Estava cada vez mais próxima do chão.
— Okay, o último.
Os arrepios em meu corpo ainda estavam presentes. Ter sua voz tão perto deveria ser considerado crime.
Virei-me para poder encará-la e agradecer pela ajuda, mas ainda não havia descido do degrau.
Mais um erro.
Ao virar, acabei escorregando e quase caindo de cara no chão.
Mas, mais uma vez as ágeis e habilidosas mãos de Ludmilla me livraram da queda, apertando minha cintura com um pouco mais de força.
Oh céus...
Já no chão, levantei meu olhar e encarei os olhos verdes.
Próxima demais, Brunna. Próxima demais.
Ludmilla me olhava. Sua respiração estava um pouco alterada, como a minha. Suas mãos ainda me seguravam.
— Não sabia que viria aqui hoje. — ela falou em um tom baixo.
— Eu não viria, mas tomei a liberdade de decorar um pouco as coisas. Gostou? — perguntei, encarando seus olhos.
Ludmilla levantou a cabeça e olhou ao redor.
— Ficou perfeito. Bem melhor do que antes.
Sorri em resposta ao que ela havia acabado de dizer.
O silêncio se instalou no ar, deixando o clima um pouco desconfortável. Eu não sabia o que dizer, mas ao mesmo tempo não queria dizer nada.
Queria apenas ficar ali.
Olhei para Ludmilla e pude acompanhar quando sua língua molhou seus lábios.
Repeti a ação sem me dar conta do que estava fazendo.
— Querida, a sua sócia... — a mulher mais velha nos encarou. — Estou atrapalhando alguma coisa?
Ludmilla me soltou assim que ouviu a voz de sua mãe. Me afastei dela dando alguns passos para trás.
— Não, mãe. Eu só estava ajudando a Brunna a descer da escada.
— Halsey está lá embaixo te esperando. Ela disse que é urgente. — Clara avisou. — Olá, Brunna, bom te ver!
— Oh sim, já estou descendo. — Ludmilla me olhou. — Tudo bem se conversarmos depois?
— Não se preocupe com isso, podemos conversar mais tarde. — sorri. — Olá, Silvana!
— Então até mais tarde! — Ludmilla me olhou pela última vez e saiu pela porta do estúdio acompanhada de sua mãe.
— Até! — falei já sozinha dentro da enorme sala.
[...]
Abri a porta do meu apartamento e notei que as luzes da sala estavam acesas.
Matthew estava em casa.
Tranquei a porta e tirei os sapatos, levando-os até a lavanderia.
Ao me aproximar do quarto, percebi que a porta estava encostada e pude ouvir o que imaginei ser o final de uma ligação:
— Eu sei, mas preciso mesmo desligar agora, já já ela chega em casa.
Com quem ele estava falando?
— Tudo bem, então. Depois eu te ligo pra combinar o lugar. Também te amo, beijo.
Combinar lugar? Também te amo? Beijo?
Sem pensar duas vezes, abri a porta do quarto com tudo. Matthew pulou de susto.
— Amor? — ele sorriu amarelo. — Você chegou cedo!
— Com quem você estava falando? — perguntei, o sangue fervia em minhas veias.
— Com ninguém, Brunna. Era a televisão. — ele riu.
Respirei fundo. Olhei para a parede onde a televisão ficava fixa e notei que a tela estava apagada.
— Se for pra mentir, minta direito. Não era a televisão, porque nem ligada ela está!
— Amor, não é o que você está pensando! — ele se levantou.
— Matthew, para de mentir, por favor. — pedi usando o restante de sanidade que ainda tinha.
— Tá bom, eu vou ser sincero com você. — ele fez uma pausa. — Eu estava falando com a minha mãe.
— Sua mãe? — ri sem vontade. — E você espera que eu acredite nisso?
— Brunna, por favor, acredite em mim. Eu estou falando a verdade!
— É por isso que você tem viajado tanto? Chegado em casa tarde e com cheiro de bebida? — senti meus olhos marejarem. — Deus! Como pude ter sido tão burra?
Senti ele se aproximar de mim e segurar em meu rosto, fazendo com que eu olhasse em seus olhos.
— Brunna, olhe bem pra mim. Você acha que eu seria capaz de trair você? — ele perguntou.
Tirei suas mãos do meu rosto e fui em direção ao banheiro. Ele me seguiu.
— Eu quero você fora daqui agora, preciso ficar sozinha.
— Você vai ficar assim por conta de uma ligação boba, amor?
— Não me chame assim. Saia logo da porra do meu apartamento.
— Você é inacreditável, Brunna! — ele voltou para o quarto.
— Inacreditável é você achar que eu vou cair nesse seu papo furado. Vai embora.
— Querida, eu já disse que...
— VAI EMBORA AGORA! — gritei.
Ele balançou a cabeça e saiu do quarto. Em poucos segundos pude ouvir a porta do apartamento ser fechada com uma forte batida.
Olhei meu reflexo no espelho. As lágrimas em meus olhos distorciam um pouco minha imagem.
O que tem de errado comigo?
Eu sou feia? Não sou atraente o suficiente?
Aonde foi que eu errei?
Sentei-me no chão e encostei meu corpo na porta. As lágrimas caíam violentamente dos meus olhos.
Estava me sentindo suja.
Depois de algum tempo encostada na porta do banheiro, juntei minhas últimas forças, levantei-me do chão e fui até a sala. Procurei meu celular e encontrei-o no balcão da cozinha.
Joguei-me no sofá e desbloqueei o celular. Iria ligar para Juliana.
Disquei o número da minha melhor amiga e após alguns minutos esperando, a ligação caiu na caixa postal. Tentei ligar mais uma vez e aconteceu a mesma coisa.
Droga, CheeChee!
Eu não conseguia conter meu choro. O volume de lágrimas parecia aumentar cada vez mais.
Pensei em ligar para Sofia, mas não achei que fosse uma boa ideia, afinal, ela nem sequer sabia da história toda.
Joguei o celular no sofá e me encolhi.
O silêncio no apartamento permitia com que o barulho do meu choro se espalhasse como um eco.
Eu sempre achei que Matthew fosse diferente, que ele nunca seria capaz de fazer algo assim comigo, mas eu estava errada.
Ele era só mais um.
Me permiti ficar naquela posição por alguns minutos. As lágrimas e soluços aos poucos foram ficando mais fracos.
Procurei pensar em outras coisas e acabei lembrando da conversa com Sofia pela manhã.
A mulher deve escolher a felicidade dela em primeiro lugar.
Suas palavras ecoavam pela minha cabeça.
E como um estalo, levantei meu corpo do sofá, ficando sentada. Procurei meu celular e encontrei-o próximo ao meu pé.
Abri minha agenda de contatos e deslizei até encontrar o sobrenome de Ludmilla.
Alguns toques depois e pude ouvir a voz rouca do outro lado da linha:
— Brunna?
— Oi, Lud... — minha voz saiu um pouco falha devido aos resquícios do choro.
— Você está bem?
— Você está ocupada? — perguntei.
— Não muito, acabei de entrar em casa. Aconteceu algo? Você está bem?
Sorri com seu tom preocupado.
— Vai ficar se você puder vir aqui em casa. Aconteceu uma coisa e eu não quero ficar sozinha.
Ouvi alguns ruídos do outro lado da linha, acompanhado de um "Merda!".
— Ludmilla? — chamei-a.
— Desculpe, meu celular escorregou da minha mão e caiu com tudo no chão. A tela rachou.
— Oh meu Deus, cuidado! Eu... — fechei os olhos. — Tudo bem se você não puder vir, ok? Só pensei que...
— Estou a caminho. Uma tela rachada não vai me impedir de te ver. Chego aí em menos de 20 minutos.
— Mesmo? — me ajoelhei no sofá.
— Mesmo. Estou saindo de casa agora.
Fui levantar do sofá e acabei me enrolando na minha própria perna, resultando em uma mini queda no chão.
— Porra! — falei, levando minha mão direita até meu pé.
— Tudo bem por aí? — Ludmilla perguntou.
Droga, ela ouviu.
— Sim. — menti. Meu pé estava doendo. — Eu só tropecei aqui.
— Tente se manter viva até eu chegar, ok? — ela riu.
— Não posso prometer nada. — acompanhei seu riso.
— Até daqui a pouco, Brunna.
— Até!
Encerrei a chamada e me estiquei no chão com um sorriso no rosto.
Ela estava vindo pra cá.
☂️
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro