Capítulo 36.
Vim aqui avisá-los que a reta final já começou e que em breve chegaremos ao fim dessa estória. Por isso, caso haja alguma quebra no tempo durante os próximos capítulos, não se assustem. Faz tudo parte do roteiro inicial.
Agora vamos ao que interessa.
Boa leitura!
Atenciosamente, @intocamren autoria original e eu Fabi que estou adaptando.
☂️
POV Brunna Gonçalves
4 dias depois.
Os últimos dias haviam sido muito tranquilos.
Comecei meu estágio no setor de fotojornalismo do The New York Times e fiquei feliz ao ter sido recebida com tanto carinho pelos colegas de profissão.
Meu trabalho era muito parecido com o que eu fazia no estúdio com Juliana. Eu auxiliava na criação de imagens fotográficas, manuseava máquinas e lentes, retocava os negativos dos filmes e tratava de imagens digitais e, quando sobrava algum tempo ou entre um intervalo e outro, eu dava uma fugidinha até a redação, onde as notícias eram produzidas.
Aquele lugar era um mundo à parte.
Todos aqueles monitores com milhões de palavras escritas, as pessoas se comunicando umas com as outras, as matérias sendo criadas...
Tudo aquilo me encantava.
Acabei fazendo amizade com a chefe da redação, Hailee Steinfeld, que foi super gentil e receptiva comigo, tanto no meu setor, quanto em seu próprio.
A princípio seu sobrenome não me recordou muita coisa, apesar de eu ter sentido que o conhecia de algum lugar, porém em poucos dias acabei tendo minha resposta.
Peter Steinfeld.
Ou melhor dizendo, o diretor geral do The New York Times, pai de Hailee.
Eu havia começado com o pé direito em meu novo trabalho e estava orgulhosa disso.
Agora, no meu horário de intervalo, estava sentada na mesa do refeitório com Hailee e seus amigos da redação enquanto trocava mensagens pelo celular.
CheeChee alterou o nome do grupo para "Casais".
CheeChee: Piranhas, é o seguinte: hoje é sexta-feira e antes que vocês inventem de irem para barzinho ou balada, quero lembrar que estão CONVOCADAS para me encontrar depois do expediente para provarem seus vestidos.
CheeChee: Destaquei a palavra convocadas para lembrar que não é um convite e sim um mandato.
CheeChee: O endereço da loja vocês já sabem. Espero todas vocês lá.
Essa Juliana...
Olhei para as mensagens durante alguns segundos, assimilando o seu conteúdo, e não pude deixar de me emocionar.
Com toda a correria da minha vida, o término com Matthew e o início do meu relacionamento com Ludmilla, acabei esquecendo que o casamento de Juliana e Júlia estava cada vez mais perto.
As duas iriam se casar em Malibu, do outro lado do país, onde a família de ambas morava.
Confesso que estava animada. Seria a primeira vez que eu iria a um casamento na praia.
E além disso, era a minha melhor amiga que iria se casar.
Sorri ao imaginá-la caminhando de mãos dadas com Júlia entre os convidados jogando arroz sobre elas e quando vi algumas lágrimas já escorriam pelas minhas bochechas.
Eram lágrimas de alegria.
Alegria por elas, por estarem oficializando a união diante da família e amigos, por mais que sempre soubéssemos que elas estavam juntas.
Em meio a pensamentos, cheguei a me imaginar de branco correndo de mãos dadas com Ludmilla enquanto saímos da igreja e seguimos em direção ao carro que nos levaria para a lua de mel.
Seria fantasiar demais imaginar que estava casando com ela?
Eu a amava.
Amava Ludmilla como nunca sequer amei alguém antes.
E agora que estávamos namorando tudo parecia tão intenso e tão bonito que por algumas vezes me perguntava se tudo aquilo era realmente real ou apenas um conto de fadas.
— Bru? — a voz de Hailee me despertou dos meus pensamentos.
— Oi! — respondi olhando para a mulher que se colocava de pé.
— Seu celular está tocando. — ela sorriu. — O intervalo está quase no fim, mas não se preocupe. Pode atender sua ligação.
Olhei para o visor e vi o apelido de Ludmilla na tela.
— É a minha namorada. — falei. — Eu já volto.
Peguei a bandeja com as louças sujas com uma mão enquanto com a outra atendi à chamada, deixando o celular preso entre minha orelha e meu ombro direito enquanto caminhava até a lixeira.
— Oi, amor! — falei.
— Oi, princesa! — ela respondeu com a voz animada do outro lado. — Como está aí no trabalho?
— Está tudo bem tranquilo! Meu intervalo acabou agora. Já estou voltando para o meu setor. — respondi.
— E você almoçou? — ela perguntou com certa preocupação.
— Almocei sim! E a senhorita? — ela fez silêncio. — Por favor não me diga que você ficou presa às pilhas de papéis como da última vez.
— Er.... — ela balbuciou.
— LUDMILLA! — elevei meu tom de voz.
Deixei a bandeja com a louças em seu devido lugar e comecei a caminhar de volta para o setor de fotojornalismo.
— Eu prometo que já estou indo, Bru. Também não quero tomar muito do seu tempo, ainda mais porque seu horário de intervalo já acabou.
— Eu sempre tenho tempo pra você, Ludmilla. Entenda isso. — sorri enquanto caminhava.
— Você não vai falar isso quando levar uma bronca do seu chefe. — ela riu.
— Saudades quando você era a minha chefe. — brinquei.
Passei por entre as portas de metal e adentrei a sala da redação onde o silêncio era absoluto.
— Eu liguei pra te fazer um convite. — ela falou.
— Qual? — sussurrei.
— O que você acha de irmos comprar o presente das nossas noivas preferidas essa tarde? Podemos ir depois que sairmos da loja de vestidos. — ela sussurrou de volta.
— Você sabe que não precisa sussurrar, não sabe? — perguntei ainda sussurrando, segurando o riso.
— Eu sei, mas é muito mais legal falar assim, porque parece que você está aqui pertinho.
Ri de sua lógica.
Passei por outra porta grande de metal e dessa vez o barulho já se fazia presente.
Havia chegado ao meu departamento.
— Eu acho uma excelente ideia, amor. — voltei a falar normalmente.
— Ah... — ela fez um som triste e eu pude imaginá-la fazendo um biquinho com os lábios. — Eu gosto quando você sussurra.
— Então acho que nos vemos daqui algumas horinhas. — sussurrei.
Ouvi sua risada do outro lado da linha.
— Se cuide aí, gatinha. Até daqui a pouco. — sua voz quando sussurrada quase desaparecia. — Beijos.
[...]
Depois de mais algumas horas de trabalho desci até o estacionamento do gigantesco edifício e entrei em meu carro, seguindo em direção à loja de vestidos onde Juliana estava me esperando.
Por ser sexta-feira o trânsito estava um pouco mais caótico que o normal, porém nada com o que eu já não estivesse acostumada.
Liguei o rádio bem alto em uma das minhas rádios preferidas e sorri quando a melodia conhecida ressoou pelos alto-falantes.
(Inicie: End Of The Day - One Direction)
Parada em meio ao trânsito novaiorquino, deixei os pensamentos fluírem pela minha mente enquanto esperava os semáforos voltarem a ficar abertos.
Estávamos na metade de julho.
Mais da metade do ano já havia ido embora, porém a sensação era de que eu havia vivido uma quantidade muito maior de tempo dentro desses seis meses.
A começar por Ludmilla, não parecia que nós nos conhecíamos apenas há alguns meses.
Não sei explicar se era a nossa sintonia, se era o seu jeito apaixonante de ser ou se simplesmente era apenas o destino unindo aquilo que traçou para acontecer, mas eu sentia que a conhecia há anos.
Em compensação, aquele que eu jurava ser o único, e que eu realmente conhecia há anos, mostrou-se perfeitamente ser o contrário daquilo que eu achava que era, o que só prova que quando o assunto é amor, não existem regras.
Não existe certo ou errado.
Só existem duas pessoas que se amam e que querem estar juntas, independente de todo e qualquer obstáculo que possa aparecer no meio do caminho.
— You're the one that I want at the end of the day...
Cantarolei a letra da música e sorri ao pensar em Ludmilla.
Os últimos quatro dias proporcionaram uma experiência completamente diferente da que estávamos experimentando nos últimos meses.
O fato de não trabalhar mais no mesmo local em que Ludmilla permitia que nos encontrássemos apenas no final da tarde, quase a noite, no apartamento de uma das duas, onde cozinhávamos juntas e compartilhávamos as novidades do dia.
Diferente de todas as pessoas com as quais já havia me envolvido, ela me escutava.
Escutava todas as histórias repetidas e ria como se fosse a primeira vez.
O seu jeito me encantava.
Em meu escritório no Times, eu perdia a conta de quantas vezes encarava o relógio no visor do computador, contando as horas para poder vê-la de novo.
Se eu via algo que me lembrava ela eu fazia questão de enviar alguma foto ou lembrar-me mentalmente para contar a ela quando chegasse em casa.
E ela fazia o mesmo.
A sensação de estar perdidamente apaixonada por alguém é definitivamente uma das melhores que o ser humano é capaz de experimentar.
E quando se é recíproco, as coisas ficam ainda melhores.
Percebi que os pensamentos haviam ido longe demais quando me dei conta de que já estava na rua da loja de vestidos, e avistei Juliana acompanhada de Júlia e Ludmilla no lado oposto da calçada onde agora eu estacionava.
Assim que atravessei a rua, Ludmilla foi a primeira a vir ao meu encontro.
Seu sorriso preencheu os lábios rosados e suas mãos seguraram delicadamente meu rosto, permitindo com que ela se aproximasse e unisse nossas bocas em um breve selinho.
— Oi. — ela sussurrou.
— Oi. — respondi no mesmo tom, rindo contra sua boca no instante seguinte.
— Já chega, pombinhas! — Juliana chamou nossa atenção. — As piranhas disseram que vão se atrasar, então acho que podemos começar sem elas.
— Oi pra você também, CheeChee. — me aproximei da mulher e a abracei.
— Oi, bunduda. — ela respondeu enquanto me abraçava de volta.
Assim que nos soltamos olhei para Júlia ao meu lado e puxei-a para perto, envolvendo seu pescoço com meus braços.
— Saudade de você. — falei.
— Saudade de você também, Bru!
Depois que cumprimentei minhas amigas entramos todas na loja de vestidos, onde um jovem rapaz já nos aguardava, guiando-nos até o andar de cima.
— E aqui nós nos separamos. — Juliana falou assim que terminamos de subir as escadas.
— Boa prova para vocês, meninas. — Júlia falou.
— Pra vocês também! — desejei.
Ludmilla e Júlia seguiram para a esquerda acompanhadas do jovem que havia nos conduzido até ali enquanto Juliana e eu fomos para a direita, onde uma moça nos acompanhou.
Eu seria a madrinha de Juliana e Ludmilla seria a madrinha de Júlia.
— Irei pegar o vestido de vocês lá dentro, ok? Fiquem à vontade. — a moça falou.
Sentei-me na poltrona estofada que havia na enorme sala e fitei meu reflexo no espelho que ocupava praticamente a parede inteira à minha frente.
Júlia estava inquieta, andando de um lado para o outro enquanto massageava as têmporas com o auxílio das mãos.
— Posso saber por quê o nervosismo? — perguntei.
A loira parou de andar e me olhou.
— Como assim por quê, Brunna? EU VOU CASAR! — ela gritou a última parte.
— Eu sei. — respondi tranquilamente. — Mas ficar nervosa não vai adiantar em nada.
— Ai Chancho, eu sei disso, mas é inevitável. Ela é a mulher da minha vida! E se ela não for? — seus olhos arregalados encontraram os meus.
— Ao casamento? — comecei a rir. — Juliana, a Júlia é tão boiola por você quanto você é por ela. Há quanto tempo vocês estão juntas? Isso não é nem uma possibilidade. É óbvio que ela vai estar lá!
— Nossa cabeça começa criar teorias que parecem reais, ok? — ela falou nervosa.
— Nunca pensei que fosse te ver assim por alguém. — ri. — Júlia realmente é uma grande mulher.
— Você trate de parar de encher o meu saco antes que eu comece a falar da Ludmilla. — ela ameaçou.
— Ai, CheeChee... — respirei fundo enquanto passava as mãos pelo meu rosto.
— O que foi? — ela se aproximou de mim, sentando-se ao meu lado.
— Acredita que enquanto eu estava vindo pra cá acabei escutando uma música na rádio que me fez lembrar dela? — perguntei.
— Ah, mas você lembra dela toda hora, Brunna. — ela respondeu.
— Isso é verdade. — sorri. — Mas eu quero dizer que acabei pensando nela de outra forma.
— Que forma? — ela perguntou, claramente não entendendo onde eu queria chegar.
— Quando você mandou a mensagem no grupo falando para nos encontrarmos, por alguns minutos eu pensei no casamento de vocês e fiquei super emocionada... — comecei a falar, mas fui interrompida.
— E o que isso tem a ver com a Ludmilla? — ela perguntou.
— Se você me deixar concluir, você descobre. — respondi.
— Ouch! Grossa! — ela me deu um tapinha no braço, o que me fez revirar os olhos.
— Como eu ia dizendo... — continuei. — Fiquei emocionada em imaginar minha melhor amiga casando com o amor da vida dela, e por alguns segundos me imaginei no seu lugar.
— CASANDO COM A JÚLIA? — ela se alterou, levantando-se da poltrona onde estava sentada.
— Deixa de ser lerda, Juliana! Eu me imaginei casando com a Ludmilla!
— Ah sim! — ela voltou a se sentar. — Brunna, eu não sei se você já percebeu, mas você está apaixonada por ela.
— É mais do que isso, CheeChee. — virei-me de frente para ela. — Ela me faz sentir coisas que eu nunca senti antes. Ela me faz querer estar com ela a todo momento, entende? E quando eu não estou, sinto falta. Eu quero apoiá-la nas suas escolhas, decisões e projetos, assim como quero compartilhar os meus com ela. Quero conhecê-la cada vez mais e quero que ela me conheça também. — Eu a amo!
Os lábios de Juliana se curvaram em um sorriso de orelha a orelha.
Suas mãos me puxaram para um abraço e eu pude ouvi-la puxar o ar com certa dificuldade enquanto sua voz saía abafada em meu ombro.
— Essa é a Brunna que eu conheço, Chancho. Seja bem-vinda de volta!
Nos afastamos e eu pude ver que seus olhos estavam avermelhados.
— Você é a minha melhor amiga, Brunna. Eu sempre quis que você encontrasse alguém por quem o seu coração batesse tão depressa que te fizesse enlouquecer em meio a tantos sentimentos, desejos e vontades, assim como aconteceu comigo e com a Ju. — ela sorriu. — E agora eu vejo que você encontrou. Não deixei-a escapar, Chancho. É ela. Sempre foi. Vocês apenas demoraram para se encontrar.
Abracei a mulher sentada ao meu lado de novo, relaxando enquanto seus braços me apertavam.
— Eu te amo demais, CheeChee. — falei abafado.
— Eu te amo, bunduda.
Ouvimos alguém coçando a garganta e quando nos viramos percebemos que a moça já havia retornado com nossos vestidos.
— Vamos lá? — a mulher perguntou.
[...]
Depois de termos experimentado nossos vestidos e feito os ajustes finais já que essa era a última prova antes do casamento, saímos da loja e caminhamos pela calçada até chegarmos em nossos carros.
Nos despedimos em meio a gargalhadas e observamos nossas melhores amigas indo embora.
— E então...? — Ludmilla virou para mim com as sobrancelhas balançando e com um sorriso sugestivo no rosto. — Como você ficou com o vestido?
— Gostosa. — brinquei.
— Isso você é sempre. — ela sorriu.
Revirei os olhos para o seu comentário e comecei a rir.
— Você nunca perde o costume de me cantar, não é? — perguntei.
— Eu não posso perder minhas oportunidades. — ela piscou pra mim.
Ludmilla contornou o carro até estar do lado da porta do passageiro enquanto eu ia para o lugar do motorista.
— Para onde vamos? — olhei-a.
— Vou colocar o endereço no seu GPS, posso? — ela apontou para o painel do carro.
— Claro que pode!
Assim que se inclinou para poder mexer no aparelho, o perfume de Ludmilla subiu pelo ar, se espalhando pelo pequeno ambiente até chegar às minhas narinas, as quais invadiu sem ao menos pedir licença.
Era tão suave...
Sinto que poderia ficar horas abraçada com a mulher ao meu lado, apenas deitada com minha cabeça apoiada entre seu ombro e seu pescoço, inalando o cheiro inebriante de sua pele.
Fechei os olhos e inspirei tudo o que pude, sendo invadida com a fragrância doce mais uma vez.
— Prontinho. — ela falou assim que concluiu.
— Então vamos!
O caminho até a loja foi surpreendentemente sem trânsito algum.
Deixei o carro no estacionamento e entrei no refinado estabelecimento ao lado de Ludmilla.
Ela havia escolhido o lugar ideal.
Era uma loja de móveis e decoração, porém a julgar pela qualidade dos materiais ali vendidos, percebi que se tratava de um lugar mais restrito à elite.
— Decorei meu apartamento com coisas daqui. — ela comentou enquanto passávamos pela seção da cozinha.
— Burguesa. — brinquei.
— Você fala como se não morasse em um apartamento chique. — ela respondeu.
— Eu não faço ideia do que você está falando. — segurei o riso. — Por que você não continua olhando as coisas por aqui enquanto eu vou até a seção de eletrodomésticos?
— Ótima ideia! Já te alcanço. — ela respondeu.
Aproximei-me da morena ao meu lado e selei nossos lábios, me afastando logo em seguida para caminhar no enorme corredor da loja, onde segui até o departamento de eletrodomésticos.
Enquanto caminhava pelo enorme corredor, acabei passando pela parte dos quartos decorados e acabei ficando encantada com a beleza dos stands montados como exemplares.
Minha atenção se voltou para um deles em específico.
Era um quarto para crianças.
A parede ao fundo possuía um papel azul com o desenho de várias nuvens branquinhas, e, fixados na mesma parede, havia a presença de quatro nichos coloridos, que guardavam bonecos dos filmes Toy Story e Monstros S.A.
A cama, que ficava no centro do quarto, estava forrada com um edredom também azul, só que bem escuro, com desenhos de foguetes e planetas. Em ambos os lados da cama havia um móvel de madeira: um servia como suporte para o abajur em formato de pac-man, enquanto o outro apoiava alguns livros de histórias para dormir.
No chão, um tapete felpudo na cor cinza abrigava uma legião de almofadas com as cores primárias e alguns bichos de pelúcia.
Na parede ao lado havia o adesivo de uma girafinha colado como um medidor de altura e, logo ao lado, um quadrado preto, que servia como uma pequena lousa de giz, e embaixo dela um baú, que julguei como lugar de abrigo para todos os brinquedos.
Eu facilmente dormiria ali.
Porém, em meio a tantos objetos bonitos, a presença de uma garotinha loira de no máximo cinco aninhos parada em frente a cama, me chamou a atenção.
Caminhei até a criança e dobrei meus joelhos, ficando na altura dela.
— Oi. — falei.
A garotinha me olhou e assim que o fez pude notar os olhos castanhos me acertarem em cheio.
— Olá! — ela respondeu.
— Você está perdida? — perguntei.
— Eu estava andando com o meu papai, mas ele foi ver alguma coisa e até agora não voltou. — ela piscava os olhinhos rapidamente.
— Você quer ajuda para encontrá-lo?
A garotinha olhou para mim e abriu um sorriso, revelando os dentinhos ainda crescentes em sua boquinha enquanto acenava com a cabeça, afirmando minha pergunta.
Estendi minha mão para ela e me coloquei de pé.
Assim que sua mãozinha segurou a minha tive vontade de mordê-la.
Então essa era a sensação de ter filhos?
— Como o seu pai é, anjinho? — olhei para baixo.
— Ah... — ela levou a mãozinha livre até o queixo. — Ele é bem alto, tem o cabelo marrom, uma barba que coça bastante quando eu abraço ele e um nariz beeeem grande. — ela riu com a última parte.
Ri da sua fala.
— Tudo bem. E você lembra como ele está vestido?
— Ele está com uma camiseta xadrez vermelha e preta. — ela respondeu.
— Ótimo! Nós vamos achá-lo, então. — olhei para a pequena e sorri.
Enquanto andávamos pelos corredores da loja, tentei fazer algum contato visual com Ludmilla, porém não a encontrei.
Andamos por aproximadamente uns cinco minutos até eu avistar um homem de costas com as roupas que a garotinha havia descrito.
— Será que é ele? — apontei para a figura do homem a poucos passos de nós.
A garotinha soltou minha mão e correu até o homem, puxando sua calça preta com as mãozinhas.
— Megan! Onde você estava?! Estava te procurando por todo canto e... — assim que me viu o homem parou de falar.
Não pode ser.
— Brunna?! — ele perguntou.
— Matthew?! — respondi no mesmo tom.
— O que você estava fazendo com a minha filha?
— O que você estava fazendo que não estava cuidando da sua filha? — rebati. — Que aliás, é muito linda. Não sabia que você a tinha.
— Escuta aqui, Brunna, eu... — ele começou a falar em um tom alterado.
— Algum problema por aqui, amor? — a voz rouca tão conhecida por mim soou próxima a nós.
Senti sua mão envolver minha cintura, puxando-me contra ela de forma delicada.
Olhei para o lado e os olhos castanhos encontraram com os meus.
— Nenhum, vida. — sorri. — Só ajudei uma pequena garotinha a encontrar seu pai.
Voltei meu olhar para frente e percebi que Matthew nos olhava, intercalando o olhar entre nós.
— Então quer dizer que você me trocou por ela? — ele perguntou soltando um riso sarcástico. — Inacreditável.
— Eu não troquei nada por ninguém. Apenas escolhi ser feliz. — olhei para Ludmilla e sorri. — E acho que você deveria fazer o mesmo, Matthew.
— Engraçado que... — ele começou a falar, porém foi interrompido por Megan.
— Mamãe! — ela gritou e saiu correndo na direção de uma mulher loira que se aproximava.
— Oi, querida! — a mulher respondeu enquanto afagava o cabelo da pequena. — Está tudo bem por aqui? — ela perguntou ao olhar para Matthew, Ludmilla e eu.
— Tudo ótimo! — respondi. — Eu só ajudei a garotinha de vocês a encontrar o pai. Ela estava perdida na seção dos quartos infantis.
— Oh, meu Deus, Matthew! Como você perde a menina desse jeito? — a mulher olhou brava para o homem parado à minha frente.
— Eu não perdi, só virei por alguns segundos e quando eu vi ela já tinha sumido! — ele respondeu.
A loira olhava para ele com desdém enquanto balançava a cabeça negativamente.
— Muito obrigada por ajudar minha filha, moça. — ela me olhou.
— Imagina! — sorri. — Bom, agora nós precisamos ir andando. — olhei para Ludmilla. — Muito bom conhecer vocês!
— O prazer foi nosso! — a mulher respondeu.
Virei-me com Ludmilla no corredor ao lado e assim que estávamos suficientemente longe, ambas caímos na gargalhada.
— As aulas de teatro te ensinaram muita coisa. — ela brincou.
— Sempre achei que elas seriam úteis algum dia. — continuei. — Eu não acredito nas coisas que acontecem comigo às vezes. Ele tem uma filha! Uma família! Ele é doente!
— Ainda bem que eu te salvei das garras do dragão. — ela riu.
— SIM! E eu serei eternamente grata por isso. — sorri.
☂️
POV Ludmilla Oliveira
Depois de caminharmos por mais algum tempo na loja, Brunna e eu decidimos que não levaríamos nada, já que não havíamos encontrado nada que realmente fosse a cara de Juliana e Júlia.
Agora, já de volta ao carro de Brunna, eu estava a ponto de entrar em pânico.
O motivo era simples: enquanto saíamos da loja, Mirian ligou para Brunna convidando-a para sua casa acompanhada da minha presença alegando que queriam jantar.
— Eu não sei por que você está tão nervosa. — a mulher ao meu lado começou a rir. — Não é como se você não os conhecesse.
— Brunna. — olhei-a. — A última vez que fomos até a casa dos seus pais eu era uma mera amiga. Agora eu sou sua namorada.
— Minha mãe já desconfiava de nós ali, sabia? — ela questionou.
— Não importa! Eu ainda era uma amiga. — falei nervosa enquanto começava a chacoalhar minha perna para cima e para baixo.
— Amor, relaxa. — sua mão encontrou a parte de cima da minha coxa a qual ela começou a alisar. — Vai dar tudo certo, assim como da última vez.
Uni minha mão a sua e entrelaçamos nossos dedos.
— Eu espero que sim... — olhei para ela tentando me acalmar.
[...]
Assim que chegamos à casa dos pais de Brunna, Mirian veio nos receber na porta.
— Que bom que vocês chegaram! — a mulher sorriu ao nos ver.
A primeira abraçada foi Brunna e assim que os olhos de Mia encontraram os meus, o sorriso em seu rosto dobrou de tamanho.
— Ludmilla, querida! Venha cá! — ela me puxou para um abraço.
De todas as vezes que Mia havia me cumprimentado, essa definitivamente havia sido a mais intensa.
Seus braços me apertaram forte contra o seu corpo e suas mãos afagaram minhas costas.
— Vamos! Fiz uma lasanha deliciosa para nós! — ela falou.
Assim que Mirian cruzou a porta de entrada eu olhei para Brunna, que me olhava com um sorriso no rosto.
— Eu falei que ia dar tudo certo!
Entramos na casa e seguimos em direção à cozinha depois de termos tirado nossos casacos e os deixado atrás da porta.
Quando chegamos no ambiente, o cheiro delicioso da massa preencheu meus pulmões.
A mesa estava posta com os pratos, taças e talheres alinhados sobre a toalha de linho branco forrada na superfície plana, e, em seu centro havia a travessa com a lasanha.
Sentei-me ao lado de Brunna, deixando Mia e Sofia de frente para nós e Jorge na ponta da mesa.
Enquanto comíamos o silêncio se fazia presente e minha perna continuava a costurar embaixo da mesa, movendo-se rapidamente para cima e para baixo.
Eu conseguia sentir o olhar de Jorge sobre mim, porém não abri a boca para falar em momento algum.
O que eu iria dizer?
Senti a mão de Brunna encontrar minha coxa por debaixo da mesa e quase dei um pulo com o contato.
Olhei-a discretamente enquanto cortava o pedaço de lasanha em meu prato em um pedaço menor e notei que ela bebia vinho tranquilamente, como se não estivesse acariciando minha coxa com a mão no meio do jantar com sua família.
Cínica.
Levei o pequeno pedaço da massa até minha boca e depois de tê-lo saboreado, resolvi quebrar o silêncio.
— A senhora é maravilhosa quando o assunto é cozinha. Essa lasanha está deliciosa!
Ouvi a risada da mulher preencher o ambiente.
— Deixe disso, menina! Obrigada pelo elogio. Fico feliz em saber que está de seu agrado. — ela respondeu.
— Como foi o dia no trabalho, Ludmilla? — Jorge me perguntou.
Olhei para Brunna e depois olhei para seu pai.
— Foi muito bom! Eu fiquei na parte do financeiro resolvendo algumas papeladas, mas finalmente consegui terminar tudo. — respondi animada.
— Que bom! Você é muito responsável! — ele sorriu. — Obrigada por aceitar jantar com a nossa família essa noite, ficamos muito felizes em recebê-la.
— Quem deve agradecer sou eu pelo convite! Sempre que eu puder estarei aqui. — sorri.
— Eu deveria ter feito isso no começo do jantar, antes de começarmos a comer, mas ainda acho que estamos em tempo. — o homem falou se colocando de pé e erguendo sua taça. — Por favor fiquem em pé.
Nos colocamos de pé e pegamos nossas taças.
— Queria oferecer esse brinde à Ludmilla, por fazer nossa menina feliz e por cuidar dela como ela merece ser cuidada. — o homem me olhou. — Se vocês estão felizes, é isso o que importa! Obrigada por compartilharem a felicidade de vocês conosco. Seja muito bem-vinda a nossa família!
Meus olhos se encheram de lágrimas enquanto eu fitava o olhar do homem do outro lado da mesa.
Aproximamos nossas taças e o tilintar dos vidros ressoou pelo ar, me fazendo sorrir.
Levei a taça de vinho até minha boca e ingeri o líquido doce com o final levemente amargo, sentindo-o preencher meu interior.
Meu corpo estava quente. Não de tesão ou desejo, mas sim por ter sido tão bem recebida pela família da minha namorada, que sorria abertamente ao meu lado.
E essa era uma das melhores sensações do mundo.
[...]
Depois de ajudarmos com a louça, Brunna falou que queria me mostrar algo no andar de cima e agora ela estava me puxando pela mão enquanto subíamos as escadas.
Caminhamos pelo corredor até chegarmos em frente a uma porta branca com alguns adesivos e pôsteres colados.
— Seja bem-vinda ao meu quarto de solteira. — ela falou ao abrir a porta.
Assim que entrei no quarto pude observar que aquele ambiente era definitivamente a cara dela.
A cama no centro do quarto estava forrada com uma colcha de florzinhas azuis bem pequenas e o travesseiro próximo à cabeceira possuía uma fronha com o mesmo desenho.
Nas paredes, alguns pôsteres de bandas antigas e citações de livros e filmes.
Por alguns segundos me senti no estúdio de fotografia da loja de vestidos, o qual Brunna havia decorado há alguns meses.
Do lado esquerdo do quarto havia um enorme guarda-roupa. Suas portas eram de madeira e deslizavam pelo trilho localizado logo abaixo dele. Já do lado oposto havia uma escrivaninha repleta de post-its, canetinhas e marca-textos, e uma cadeira giratória.
Acima da escrivaninha ficava o que julguei ser a biblioteca particular de Brunna.
Dividido entre nichos e prateleiras estava sua coleção de livros, organizados por ordem de tamanho.
— Seu quarto é lindo! — falei.
— Obrigada, meu amor. — ela riu.
Observei-a caminhar até as gavetas de sua escrivaninha, de onde ela tirou um pedaço enorme de papel, como se fossem duas folhas de sulfite juntas.
— Vem cá. — ela pediu.
Caminhei até onde ela estava e me apoiei sobre a escrivaninha.
— Não é tão organizado quanto o seu. O meu tem muito mais rosa e glitter e lacinhos... — ela riu. — Mas aqui está. Meu mapa de lugares que quero conhecer antes de morrer.
Inclinei-me o suficiente para conseguir observar seus desenhos no papel e percebi que alguns lugares combinavam com os que eu havia colocado em meu mapa.
— Espero poder conhecer ao menos metade deles com você. — sorri.
☂️
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