Capítulo 21.
Maratona - (5/5)
POV Brunna Gonçalves
Sexta-feira, 12 de junho de 2015.
A tão esperada sexta-feira havia chegado. A festa de comemoração da Oliveira Enterprise aconteceria hoje e eu não poderia estar menos ansiosa.
A noite passada foi difícil para dormir. Depois de tomar um banho bem relaxante, comer algo leve, e separar previamente alguns equipamentos assim como a roupa que usaria no evento, deitei em minha cama e esperei o sono chegar, o que não aconteceu.
Incontáveis foram as vezes em que me revirei na cama durante toda a noite em busca do sono necessário para que eu pudesse descansar.
Eu simplesmente não desligava.
Acabei acordando por volta das nove da manhã com o som do despertador que havia programado e implorei internamente para ganhar cinco minutos a mais. Parecia que eu havia literalmente acabado de pegar no sono.
Lutando contra todas as tentações possíveis, levantei-me da cama e preparei um café da manhã bem reforçado, afinal o dia seria cheio.
Depois de me alimentar fui até meu quarto e peguei minha bolsa fotográfica, onde estavam todos os equipamentos que utilizaria a noite, e voltei para a sala.
Organizei todos os equipamentos em cima da mesa por ordem de tamanho: lentes, flashes, cartões de memória, pilhas reservas para os flashes, o cordão que encaixava na câmera e a mantinha presa ao meu pescoço e por fim, mas não menos importante, a câmera em si.
Com muito cuidado, limpei as peças pela segunda vez, deixando-as prontas e adequadas para o uso, voltando a guardá-las na bolsa depois de terminar.
Deixei a bolsa em cima do sofá, e enquanto voltava ao meu quarto para pegar meu celular senti algo estranho, como se fosse um pressentimento, me alertando para que eu não a deixasse exposta.
Estranhei, mas resolvi me ouvir.
Voltei até a sala, peguei a bolsa e levei-a de volta para o quarto, guardando-a na minha parte do guarda-roupa. Abri a parte de Matthew e olhei para suas roupas por alguns minutos.
Eu precisava dar um jeito nisso.
Ouvi meu celular tocando e corri em direção a ele, sorrindo involuntariamente ao ver o nome no visor.
— Bom dia, Srta. Oliveira! — falei em um falso tom profissional.
— Bom dia, Srta. Gonçalves! — ela me respondeu no mesmo tom.
— Gostou? — perguntei. — Estou treinando para hoje a noite.
— Está perfeito! — ela riu. — E aí, nervosa?
— Muito! — respirei fundo e me joguei em minha cama. — E você?
— Tremendo igual a um pinscher.
Não aguentei e ri alto de seu comentário.
— Conseguiu ao menos decorar o que vai falar? — perguntei.
— Sim, mas estou morrendo de medo de não lembrar nada na hora e entrar em pânico. Odeio multidões. — ela respondeu.
Fiquei em silêncio por alguns segundos.
— Tive uma ideia! O que acha de quando nos encontrarmos mais tarde eu te ensinar um truque?
— Por que você não pode me ensinar agora?
— Porque pessoalmente é melhor. — respondi e pude ouvi-la soltar um suspiro do outro lado da linha.
— Tudo bem. Mesmo morrendo de curiosidade vou confiar em você. — ela falou e ficou em silêncio por um tempo. — Agora que sei como você está posso ir direto ao assunto para o qual te liguei. Acabei de enviar um e-mail para toda a equipe pedindo que chegassem com uma hora de antecedência, então todos vocês devem estar presentes no teatro às 19h. Acha que consegue?
— Consigo sim. — respondi.
— Será que a Juliana também consegue?
— Ela vai comigo. Vou passar na casa dela para buscá-la já que a Júlia só vai poder entrar no horário para os convidados.
— Ótimo! Só um detalhe, quando vocês chegarem, entrem pela porta dos fundos, ok? Ela dá acesso direto ao camarim onde eu vou ficar, assim vocês podem se preparar de forma mais reservada, tendo contato com a equipe do Times só quando o evento começar.
— Tudo bem, entraremos pela porta dos fundos então. — falei enquanto anotava em um post-it "Porta dos Fundos" para poder lembrar.
— Conseguiu achar sua roupa? — ela perguntou.
— Consegui sim. — olhei para as peças penduradas no cabide preso ao guarda-roupa.
— E como ela é? — Ludmilla riu do outro lado da linha.
— Às 19h você descobre. — respondi.
— Bru, por favor!
— Sem chances, Ludmilla! Você me enganou e não me mostrou seu vestido na segunda-feira. Espere até a noite, assim como eu.
— Eu te odeio! — ela falou brava.
— Nós duas sabemos que isso não é verdade. — sorri e pude ouvi-la respirar fundo.
[...]
O dia correu de forma tranquila. Mantive uma alimentação leve para não correr o risco de acabar passando mal e acabei arrumando algumas poucas bagunças que estavam espalhadas pelo apartamento.
Agora, imersa na água da banheira, procurava relaxar enquanto brincava com as espumas formadas pelos sais de banho.
Pensei em todos os possíveis cenários que a noite de hoje poderia apresentar, desde os positivos até os mais negativos.
Eu estava pronta para enfrentar qualquer coisa.
Ao pensar em Ludmilla foi inevitável não lembrar de alguns momentos ao seu lado. Fechei os olhos e sorri ao imaginar que iria vê-la dentro de algumas horas. Tentei imaginar o estilo do vestido que ela usaria, mas era impossível.
Ela sempre surpreendia.
Senti a água começar a esfriar, o que indicava que já era a hora de sair, e com cuidado levantei-me, envolvendo meu corpo com um roupão de banho.
Fui até meu quarto, porém levei um susto ao deparar-me com Matthew mexendo em sua parte do guarda-roupa.
— Mas que porra? O que você está fazendo aqui? Quem te deixou entrar? — disparei.
— Ah, oi Brunna. — ele falou olhando-me rapidamente, voltando a olhar para o armário em seguida. — Eu vim pegar umas roupas para usar hoje. Não sei se você ainda lembra, mas hoje é a festa da Oliveira Enterprise. Eu ainda tenho a chave do apartamento e o Jamie liberou a minha entrada, como de costume.
— Você poderia ter ligado ou mandado uma mensagem. Não é nada agradável sair do banho e se deparar com um homem em seu quarto mexendo nas suas coisas.
— Eu não sou qualquer homem, Brunna. Sou seu noivo. E não estou mexendo nas suas coisas, estou apenas procurando algo que combine para que eu possa usar hoje a noite.
— Já achou o que precisa? — perguntei cruzando os braços em frente ao corpo.
— Já. Vou pegar essas camisas aqui mesmo. Obrigado. — ele respondeu. — Aliás, você vai sair? Tomou banho cedo.
— E eu só posso tomar banho quando vou sair? — rebati.
— Podemos conversar? — ele ignorou minha pergunta. — Andei pensando em algumas coisas durante essa semana.
— Outra hora. — respondi. — Tenho algumas coisas para resolver.
— Tudo bem. Vou indo então. — ele falou e se aproximou de mim tentando beijar minha boca.
— Tchau. — falei ríspida virando o rosto, fazendo com que ele beijasse minha bochecha.
Acompanhei seu caminho até a porta.
— Boa sorte no evento. — falei enquanto ele esperava o elevador.
— Obrigado! Boa sorte para resolver suas coisas, querida. — ele sorriu.
Fechei a porta, trancando-a com duas voltas na chave logo em seguida.
— Até daqui a pouco, querido. — falei sozinha dando ênfase na última palavra.
De volta ao meu quarto, a primeira coisa que fiz foi abrir meu lado do guarda-roupa, onde encontrei minha bolsa fotográfica e roupas intactas.
Suspirei aliviada.
Minha intuição estava certa. Ainda bem que eu havia as escondido.
Abri minha gaveta de lingeries e escolhi um conjunto branco detalhado com renda. Hidratei meu corpo e em seguida vesti as duas peças.
Fui até o cabide e peguei a calça social preta que estava pendurada, vestindo-a logo em seguida, mantendo-a desabotoada. Voltei até o cabide e dessa vez peguei a parte de cima do meu visual: uma camisa social branca.
Caminhei até o banheiro e olhando meu reflexo no espelho, consegui fechar os botões.
Mas ainda faltava um detalhe.
Suspensórios pretos.
Coloquei a camisa branca por dentro da calça, fechando o único botão no cós dela no instante seguinte. Com o auxílio do espelho, prendi os suspensórios na calça e encarei meu reflexo.
Nada mal.
O próximo passo era a maquiagem. Optei por algo básico, mas que trouxesse destaque para meu olhar: uma sombra um tom mais escuro que minhas pálpebras, lápis e rímel pretos, um batom levemente avermelhado e para finalizar um delineado simples.
Para o cabelo escolhi fazer uma trança embutida, afinal, fotografar com o cabelo caindo no rosto não era nada agradável.
Quando me dei por satisfeita com meu visual peguei meu celular e liguei para Juliana.
— Oi, loira aguada. — falei.
— Chancho, pelo amor de Deus não me diga que você está vindo. — ela respondeu ofegante.
— Tecnicamente ainda não. Preciso levar minhas coisas para o carro e calçar um salto.
— Demore o máximo que você conseguir, por favor!
— Aconteceu alguma coisa? — perguntei preocupada.
— Nada grave, só a Júlia que resolveu se aproveitar de mim antes do evento. Você acredita que estamos transando desde às...
— Juliana! Poupe-me dos detalhes, por favor! — interrompi.
— Ih... — ela falou. — Você está precisando transar, Brunna. Aquela branquela ainda não tirou as teias daí?
— Tome um banho e fique pronta. Estarei aí em 45 minutos. — falei ignorando-a completamente.
— Meu Deus, como você é chata!
— Anda logo, Juliana! Tchau! E manda um beijo pra Ju. — falei antes de encerrar a chamada.
[...]
Depois de exatos 30 minutos em que havia falado com Juliana, desci até a garagem do prédio e segui em direção ao seu apartamento.
Acabei acrescentando outras peças em meu visual: uma gravata feminina preta e um blazer da mesma cor por cima da camisa social.
Agora, parada em frente ao prédio de Juliana, me permiti pensar em outras coisas, na tentativa de relaxar e aliviar o nervosismo.
Assim que fechei os olhos e me recostei no banco do carro, a primeira coisa que surgiu em minha mente foram as íris verdes de Ludmilla.
Eu ainda não conseguia acreditar no que havia acontecido durante a última semana.
Nós havíamos nos beijado.
Não uma, não duas, mas três vezes.
Já havia beijado outras mulheres no período em que eu ainda estava me graduando na faculdade, mas nunca havia sentido algo tão intenso igual ao que senti ao beijá-la.
Seus lábios eram tão macios, suaves...
Doces.
Não me sentia nem um pouco culpada por tê-la beijado, mas confesso que ao reencontrar-me com Matthew hoje mais cedo me senti um pouco estranha...
Querendo ou não ele havia sido a única pessoa a quem eu havia beijado nos últimos três anos.
Porém, não mais.
— Posso saber por que essa cara de apaixonada no rosto? — Juliana falou após entrar no carro feito um furacão.
— Boa noite pra você também, CheeChee! — falei.
— Boa noite, Chancho! — ela se aproximou e me abraçou. — Você está muito gostosa!
— Eu sei. — respondi sorrindo enquanto ligava o carro.
— Convencida, aprendeu direitinho comigo. Mas e então, não vai falar de como eu estou? — ela perguntou.
— Está arrumadinha. — respondi depois de olhar rapidamente para ela.
— Como é que é? — ela me ameaçou com o olhar.
— Estou brincando! Você está divina, ok?
— Muito melhor. — ela respondeu. — Foi o máximo que pude fazer em 45 minutos.
— Se não tivesse transado o dia inteiro não precisaria se arrumar tão depressa. — falei.
— Consegue sentir? — ela aspirou o ar. — O cheiro da inveja.
— Me poupe, Juliana!
— Vou aproveitar que a Ludmilla estará no evento e ter uma conversinha com ela.
Freei o carro com uma certa pressa, fazendo com que ambas fôssemos para frente.
— Você não é nem louca! — falei.
— Louca é você de frear o carro desse jeito! — ela respondeu.
— Já chegamos!
Juliana olhou ao seu redor enquanto eu desligava o carro.
— Cadê o teatro, Brunna? — ela perguntou.
— Não posso parar o carro perto dele, parei uma quadra antes. Vamos a pé.
— O quê?! Eu não vou andar uma quadra a pé!
— Você vai sim, a menos que você queira que o Matthew descubra antes da hora que estamos aqui.
— Às vezes eu me pergunto por que ainda sou sua amiga. — ela respondeu saindo do carro emburrada.
[...]
Aproximadamente 10 minutos depois Juliana e eu estávamos na porta dos fundos do teatro onde aconteceria o evento.
Bati três vezes na porta e depois de alguns segundos um senhor a abriu.
— Boa noite, senhoritas! Vocês devem ser Brunna e Juliana.
— Somos nós! — respondi.
— A Srta. Oliveira pediu para que eu as acompanhasse até o camarim.
Caminhamos por um corredor um pouco estreito até chegarmos em frente a uma porta de madeira que estava entreaberta.
— Fiquem a vontade! — ele respondeu e continuou seu caminho pelo corredor até desaparecer no final dele.
Abri a porta e encontrei duas figuras femininas: uma sentada em uma cadeira reclinável e outra de pé próxima a primeira mulher, maquiando-a.
Assim que entramos a mulher que estava de pé se afastou e olhou para a que estava sentada, analisando seu rosto.
— Perfeita! — reconheci a voz de Emily.
Olhei para a cadeira e vi que a mulher que estava sendo maquiada era Ludmilla, que ao olhar-se no espelho enxergou-me parada no fundo da sala ao lado de Juliana.
Ela se girou na cadeira até estar de frente para mim.
Mesmo não estando tão perto pude ver quando seus olhos se arregalaram um pouquinho, analisando-me dos pés a cabeça no instante seguinte. Sua boca se abriu e pude ouvi-la suspirar, para em seguida voltar a fechá-la, sem ter o que dizer.
Bingo!
— Oi, Emily! — Juliana falou indo até a morena. — Será que você consegue arrumar um copo de água para a Brunna? Depois dessa secada acho que ela precisa se hidratar.
— Com certeza, Juliana! — Emily concordou. — Você quer me ajudar a pegar? A água fica lá fora.
Dito isso as duas saíram do camarim, deixando-me sozinha com Ludmilla.
Coloquei minha bolsa fotográfica no chão e me aproximei dela.
— Oi. — falei tímida ainda sendo observada por ela.
— Você está muito linda! — ela respondeu ficando de pé. — E da minha altura!
— Gostou? — perguntei abaixando o olhar para meus pés, que estavam cobertos por um salto alto preto.
— Muito! — ela respondeu. — Fica melhor pra fazer isso...
Ludmilla se aproximou de mim e selou nossos lábios.
Senti meu rosto esquentar.
— Boba! — brinquei. — Onde está sua roupa? Achei que já estaria pronta quando eu chegasse.
— Vou me vestir daqui a pouco, mas infelizmente você só vai me ver na hora em que eu for discursar.
— O quê?! Não! Por quê?
— Porque a área em que você e a Juliana vão ficar não é a mesma onde eu vou estar recebendo os convidados. — ela fez um biquinho.
— Eu não acredito que não me coloquei perto de você no planejamento. — falei. — Está tudo errado!
— Bru, está tudo bem! Nós vamos nos ver antes da meia noite, eu prometo. — ela segurou meu rosto. — E na verdade acho que será até melhor ficarmos separadas, porque sinceramente? Eu não conseguiria me controlar perto de você.
— Eu me identifico com a última parte. — sorri fraco. — Mas tudo bem, eu entendo! Acho que agora é uma boa hora para te ensinar o truque que comentei mais cedo, então.
— Sim! Estou curiosa para saber que truque é esse.
— Vamos lá: o truque é não ter truque. — respondi e ri da expressão confusa em seu rosto.
— Como assim?
— Eu te fiz esperar até agora para te contar algo, não fiz?
— Fez.
— Então, e o que exatamente você fez durante toda a tarde? — perguntei formando uma linha de raciocínio.
— Tentei não pensar sobre o tal truque e foquei minha atenção em outras coisas.
— Exato! Você não pensou sobre ele em momento algum, pelo contrário, se ocupou com outras atividades. É isso que você deve fazer quando estiver em cima daquele palco: focar em outra coisa além do mar de pessoas à sua frente. Você sabe o que tem que dizer e além disso, sabe como dizer. Eu estarei lá ouvindo cada palavra e registrando cada segundo do seu discurso. Foque em mim. Esqueça que existe outras pessoas ali. — segurei seu rosto. — Olhe pra mim. Eu estarei lá com você.
— Você não pode me fazer borrar a maquiagem, an Emily vai me matar! — ela respondeu com os olhos cheios de lágrimas.
— Estou aqui, ok? Está tudo bem! — a abracei.
— Obrigada, Bru! — ela me abraçou de volta, apertando-me contra ela.
— Não precisa agradecer. — sussurrei e ela riu.
— Te vejo antes da meia noite. — ela falou próxima a minha orelha.
— Te vejo antes da meia noite.
☂️
Lyric Theatre, Nova Iorque - 10h00 P.M.
Depois de colocarmos os pontos eletrônicos, cada dupla foi direcionada à sua área de cobertura e enquanto seguíamos para o nosso local, Juliana e eu acabamos interagindo com outros fotógrafos do Times, que foram super simpáticos ao perceberem que também fazíamos parte da equipe.
A primeira parte do evento era uma das mais importantes: a recepção dos convidados. Infelizmente eu não fazia parte da equipe que cobriria a área da entrada, então não pude ficar perto de Ludmilla e muito menos vê-la.
O saguão de recepção era enorme! No projeto que fiz com Ludmilla dividimos toda a extensão do saguão em três partes: começo, por onde os convidados entravam; meio, onde eles socializavam; e o fim, que na verdade era a entrada para o teatro entre si, tendo acesso às cadeiras e ao palco onde os discursos e apresentações iriam acontecer.
Dessa forma, as cinco duplas ficariam divididas em: uma para o começo, uma para o meio e uma para o fim de toda a extensão do saguão em sua parte inferior, enquanto as duas duplas restantes ficariam no andar de cima, que apesar de um pouco menos movimentado, também receberia convidados importantes, além de dar acesso para as cadeiras superiores do teatro.
Juliana e eu ficamos responsáveis pelo piso superior junto à outra dupla, com quem havíamos feito amizade, e confesso que Ludmilla não poderia ter me colocado em uma área melhor.
As fotos estavam ficando impecáveis!
Daqui de cima era possível observar cada pessoa no andar debaixo, cada uma das diversas celebridades e artistas espalhados pelo saguão, com seus vestidos rendados e ternos perfeitamente alinhados. Eu conseguia ter uma visão completa até mesmo dos próprios fotógrafos, que se destacavam entre a multidão devido aos flashes disparados a cada segundo.
A estrutura do saguão era surpreendente e encantadora. As colunas eram feitas de mármore e possuíam alguns detalhes dourados, que julguei serem banhados a ouro. As escadas eram feitas do mesmo material, porém as grades do corrimão eram escuras e contorcidas em arabescos. Um tapete vermelho se estendia desde a entrada até o final do percurso: as portas ainda fechadas do teatro.
— Acredita que já se passaram duas horas desde o começo do evento? — Juliana perguntou enquanto se aproximava de mim.
— Mentira?! Nossa, está tudo indo tão rápido. — falei.
— Sim! Mas felizmente até agora não encontramos com quem não deveríamos. — ela falou e eu ri de seu comentário.
Até o presente momento as únicas pessoas do New York Times com quem eu havia feito contato eram John e Peter, os fotógrafos que estavam no mesmo andar que nós.
Saber que eu não havia esbarrado em Matthew mesmo durante todo esse tempo me trouxe um alívio enorme!
Queria vê-lo somente na hora dos discursos.
— Temos que ficar atentas ao horário. Daqui a pouco iremos abrir as portas. — falei.
— Tem razão, Bru. Vou voltar para a minha posição. Nos vemos daqui a pouco! — ela falou e eu pisquei em resposta.
Ao virar-me para continuar meu trabalho acabei esbarrando em um garçom que caminhava apressadamente enquanto segurava uma bandeja cheia de taças com champanhe.
Reprimi um gritinho ao sentir o líquido gelado entrar em contato com a minha pele e tentei proteger a câmera como pude. Algumas taças caíram no chão e o barulho do vidro quebrando chamou atenção de alguns convidados que estavam ao redor.
— Perdoe-me, senhorita! — o garçom falou.
— Onde fica o banheiro? — perguntei angustiada sentindo o líquido se espalhar pela minha roupa.
— Fica no andar de baixo. — ele respondeu. — Eu não a vi, desculpe!
— Está tudo bem, eu só preciso ir me secar. — falei. — Chame alguém para poder te ajudar.
O jovem rapaz me olhou e pude ver certa culpa em seu olhar.
Sem parecer desesperada e contendo-me para não correr, caminhei da forma mais elegante e rápida possível até o banheiro no andar inferior.
Tive que desviar de algumas pessoas no meio do caminho e procurei ficar atenta a todos os garçons que caminhavam entre os convidados até finalmente encontrar a porta de entrada do banheiro feminino.
Ao entrar encontrei um ambiente bem espaçoso e iluminado, e claro, o que eu mais esperava: uma pia. Notei também a presença de uma mulher loira, que retocava seu batom vermelho enquanto se olhava no espelho.
Tirei a câmera do meu pescoço e deixei-a sobre a pia após me certificar de que a mesma estava devidamente seca.
— Droga! — falei depois de tirar o blazer preto e ver que ele estava completamente molhado do lado esquerdo, onde o champanhe havia caído.
— Tudo bem? — a mulher loira perguntou me olhando.
— Tudo sim, eu só tive um imprevisto, mas... — ao olhar para a mulher logo a reconheci como fotógrafa, já que a mesma estava com o ponto eletrônico no ouvido e uma câmera também apoiada sobre a pia. — Você também está trabalhando aqui essa noite?
— Estou sim, trabalho para o New York Times! Você também? — ela perguntou. — Confesso que não me recordo do seu rosto nas reuniões que tivemos.
— Ah, sim! Eu não trabalho para o Times, sou fotógrafa particular. — respondi.
— Achei que a Srta. Oliveira só fecharia contrato com o jornal, mas que legal ver colegas de outras áreas! Seja bem-vinda!
— Obrigada! — respondi.
— Prazer, me chamo Margaret! — a mulher loira se aproximou de mim.
Nos cumprimentamos com um breve abraço e enquanto ela se aproximava de mim foi impossível não sentir seu perfume fortemente adocicado.
Franzi o cenho.
Aquele cheiro não me era estranho.
— Me chamo, Gonçalves! — respondi por impulso.
— Bom, Gonçalves, muito legal te conhecer! Espero que consiga resolver o problema com sua blusa. Agora tenho que ir, porque você sabe... Daqui a pouco as portas serão abertas. E além disso tenho que me encontrar com meu namorado. — ela sussurrou a última parte. — Esse evento está nos deixando loucos!
— Seu namorado também está trabalhando aqui hoje? — perguntei curiosa.
— Está sim! Não sei se você o conhece, mas o pessoal costuma o chamar de Huss.
Impossível.
— Infelizmente não o conheço, mas tudo bem! Nos vemos pela festa então! — falei e sorri para a mulher, que sorriu de volta ao sair pela porta.
Ainda processando as informações dadas por Margaret, voltei a encarar meu reflexo no espelho e percebi que minha camisa social estava — por incrível que pareça — seca. O champanhe só havia atingido o blazer.
Usei a parte interior do blazer para poder secar a lente da câmera, que também acabou sendo atingida por alguns respingos da bebida.
Quando me dei por satisfeita saí do banheiro, levando o blazer até o camarim onde havia me preparado para em seguida retornar para a minha área.
— Brunna! Onde você estava? — Juliana perguntou preocupada.
— Esbarrei com um garçom e todas as taças de champanhe que ele estava segurando foram parar no meu blazer. Estava no banheiro me secando. — respondi.
— Que droga! Mas o importante é que não manchou sua camisa.
— Ainda bem! Não sei o que faria se ela estivesse manchada. As portas já abriram? Não faço ideia de quanto tempo fiquei no banheiro.
— Era sobre isso que eu iria falar. Ainda não, mas precisamos abri-las agora! Já são quase onze horas.
— Vou dar o sinal para o John. — falei.
— Perfeito! — Juliana falou enquanto eu pegava o rádio para me comunicar com o fotógrafo. — Bru...
— O que foi? — perguntei encarando sua expressão de dor.
— Eu sei que supostamente seria eu quem abriria as portas, mas você pode fazer isso por mim? Estou muito apertada e se eu não for ao banheiro nos próximos 10 minutos minha bexiga vai estourar e eu vou morrer!
— Meu Deus, Juliana! Vai no banheiro agora! Eu abro as portas, não se preocupe.
— Você é a melhor! — ela respondeu se aproximando de mim para beijar minha bochecha para logo em seguida sair disparadamente até o banheiro.
Balancei a cabeça negativamente.
Doida.
(Inicie: Rolling In The Deep - Adele)
Peguei o rádio para avisar John sobre a abertura das portas e em seguida segui em direção a elas.
As portas eram feitas de madeira e, assim como a estrutura do saguão, também continham alguns detalhes em dourado acompanhados de arabescos esculpidos por toda sua extensão.
Com ajuda do meu corpo empurrei uma das portas, tendo acesso a parte de dentro do teatro no instante seguinte.
Ao entrar, o palco enorme chamou minha atenção. As cortinas vermelhas, que estavam completamente fechadas, eram iluminadas pelas luzes da ribalta. O piso do palco, feito inteiramente de madeira, brilhava conforme a luz batia sobre ele.
As cadeiras estofadas, também na cor vermelha, me chamaram atenção. Chegava a ser engraçado vê-las totalmente vazias.
Uma das vantagens de se trabalhar nos bastidores de um grande evento é ter a oportunidade de conhecer o lugar por inteiro antes dos convidados o ocuparem.
Isso me fascinava.
Depois de me encantar com toda a estrutura interna do teatro, virei-me para poder abrir a outra porta, porém algo me chamou atenção.
Mesmo estando no andar de cima do teatro, ainda haviam cadeiras mais acima, como se fosse um "terceiro andar". A única diferença era que o acesso até elas se dava por dentro do próprio teatro. Elas ficavam envoltas por uma mureta.
Eram os balcões.
O que vi estava justamente em um desses balcões. Era a silhueta de duas pessoas se beijando calorosamente.
Um homem e uma mulher.
As portas ainda não haviam sido abertas para o público e as únicas pessoas que tinham acesso a elas eram os próprios fotógrafos, o que significava que aquelas duas pessoas só poderiam ser parte da equipe.
Estreitei meu olhar para as duas silhuetas e pude reconhecer o cabelo loiro da que estava sendo pressionada contra a mureta do balcão.
Era Margaret.
Por mais estranho que pudesse parecer, continuei a observar a cena. Algo dentro de mim me impedia de mover-me até as portas e abri-las.
Seguindo meu instinto observei a cena por mais alguns segundos, tempo suficiente para reconhecer o homem o qual Margaret beijava com tanta euforia.
Era ele.
Huss, seu namorado.
Matthew Hussey, meu noivo.
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