Pincel
"Quando estiver chorando, pense em mim"
Pincel.
Ela ganhou algumas rodadas, continua me chamando de pincel, eu abro um sorriso todas as vezes. Não sei o que é mais bonito nela, seus olhos ou seus cabelos, isso está me intrigando muito, Pipe já me cutucou várias vezes para voltar a realidade e prestar atenção no poker.
Passaram-se alguns minutos e o jogo virou, ela está perdendo. Porra, ela está perdendo. Alina apostou todo seu dinheiro com confiança de que ganharia o triplo para a cirurgia de sua mãe. E agora está perdendo, seu dinheiro vai acabar. Preciso fazer algo. Preciso.
Desvio o olhar da mesa e procuro meu tio Adam nos bares ao redor. Ele está do outro lado do balcão verificando mercadorias. Espero ele me perceber o encarando e dou uma piscada com o olho direito. Enquanto isso Alina continua a perder.
Adam se aproxima de mim depois de um tempo e eu sussurro em seus ouvidos. Eu não perdoaria a mim mesmo, nunca em minha vida, se Alina perdesse tudo que colocou em jogo hoje e aqui nesta mesa de poker e eu não fizesse nada a respeito para impedir isso.
Avisto Adam sussurrar e falar códigos para o velho que além de mim, Pipe e Alina está jogando. Não sei no que e como ele pode intervir, mas eu disse que era urgente. Eu olho para Pipe, o encaro por alguns segundos, e sim, ele também percebeu.
Passam-se aproximadamente dez minutos e Alina começa a vencer, mas de forma disparada. Não sei como ela não está desconfiando, suspeito de estar um pouco alcoolizada sinceramente. Ela é linda, isso não pode ser possível, todas as vezes que ela me olha ou me chama de pincel de uma forma as vezes debochada e as vezes carinhosa meu corpo gela e paralisa.
Sua feição está mudando, seu cabelo ruivo parece estar brilhando ainda mais com sua felicidade. Alina debruça na mesa e sobe em cima dela, estou encantado. Ela começa a mostrar o dedo do meio para todos os ricos ao redor, pessoas que podem acabar com tudo que ela possuí em uma simples ligação, mas ela não se importa nem um pouco com isso. Ela ganhou. Alina ganhou e é isso que realmente importa para ela. Eu só consigo sorrir, me afastei alguns centímetros da mesa para conseguir a avistar melhor. Ela está perfeita. De uma forma estranha e única ela começa a dançar em cima da mesa de poker. Bom, com certeza ela está alcoolizada!
—EU GANHEI OTÁRIOS! —Ela grita.
Alguém da equipe de Adam a impede de continuar e ela desce para o chão.
Eu e Pipe acompanhamos Alina até ela pegar todo seu dinheiro acumulado na aposta.
—Eu ganhei garotos! —Ela nos encara com o sorriso mais sincero que já vi em toda minha vida segurando montes de dinheiro nas mãos.
—Parabéns dançarina, sabia que iria conseguir! —Digo enquanto me aproximo dela.
—Não me chame assim pincel! Deixe de ser bobo! Não é porque eu te dei um apelido que você precisa me chamar com um também. Me chama de Alina.
—E que graça teria?
Ela não diz nada e sorri me encarando.
—Bom, eu queria agradecer a companhia e o dinheiro de vocês que me foi recompensado comprando algumas bebidas para nós. Mas não aqui, quero me divertir. Vamos para o parque que fica aqui perto? Eu compro tudo aqui nem que seja caro e a gente leva.
—Você vai beber mais senhorita Alina? —Pipe pergunta de forma sarcástica.
—Eu estou sem uma gota de álcool no meu corpo, garotos! E isso me deixa excitada a perceber que ainda sou um completo enigma pra duas pessoas que tomei dinheiro. Por isso, estou implorando para que topem beber comigo! Qual é! Nunca mais vamos nos ver.
ELA NÃO ESTÁ BÊBADA?
—Eu topo! —Digo sem nem precisar pensar.
—Assim que se fala pincel!
—Bom, eu vou para vigiar o Kuku. —Pipe diz e em seguida Alina começa a comemorar.
—Certo, certo. Me Aguardem na entrada do cassino, vou comprar as bebidas.
Eu e Felipe saímos dali lentamente e começamos a caminhar até a saída.
—Ela é louca, completamente maluca! —Pipe diz após bufar.
—Sim. —Solto uma risada. —E isso me instiga de forma brutal. Ela é linda Pipe, não viu? Seu cabelo, seus olhos, sua pele, ela possuí um rosto angelical, não dá para descrever a beleza dela em palavras!
Pipe para de andar e me encara fixamente com um olhar suspeito.
—Cuidado Kuku, você teve consequências radicais dos seus relacionamentos antigos, e só de olhar para esta garota ruiva, a sensação de que tudo seria pior me rebate várias e várias vezes! Cuidado irmão.
—Ah Pipe. Me dê um tempo!
—Um tempo para vocês transarem ne? Sei que tempo é esse. Mas é sempre assim, eu te conheço a anos, você se apaixona e tudo dá errado. E essas coisas acontecem no ensino médio, mas você acabou de se formar cara! Somos adultos agora.
Fico em silêncio e desvio o olhar dele. Eu entendo e compreendo o que Pipe quer dizer. Completei dezoito anos a pouco tempo, muitas responsabilidades me descem a cabeça.
—Você burlou as regras do poker para que ela ganhasse, e quando ela souber disso?
—Ela não vai saber, ela não precisa saber! —Digo em tom de voz elevado. Eu o encaro, agarro a gola de sua blusa e falo lentamente. —Cuida da sua vida, que eu cuido da minha. Tá de boa Pipe!
—Ei, o que é isso hein? —É Alina se aproximando. —Os melhores amigos vão dar uns pegas?
Solto Felipe e imediatamente me afasto.
—Não, só estava limpando uma sujeira da blusa dele! —Digo quase gaguejando.
—Oh..., entendi! Comprei as bebidas, vocês veem?
Nós dois concordamos com a cabeça e em seguida começamos a seguir Alina. Caminhamos por alguns minutos até chegar a um parque magnifico, gigante e esplendoroso.
Nunca vim aqui, mas sempre passei por fora. Ao passarmos por uma placa em arco escrita "Sunrise Park" seguimos em um caminho de ladrilho até chegar a um grande gramado com elementos encantadores, como árvores floridas, esculturas de monumentos, uma ponte que interligava um lago feita totalmente por rochas e pedras e animais que piscavam no escuro.
—Aqui, vamos ficar aqui. É meu lugar favorito. —Alina diz, e em seguida se assenta no chão tirando de algumas sacolas as bebidas que comprou.
—É lindo! —Digo me assentando ao seu lado.
—Tenho um carinho por este lugar. E essa ponte, ela tem um significado forte para mim. Foi nela que eu aprendi a andar, dei meus primeiros passos quando bebê. Minha mãe me trazia todos os dias aqui, ao ar livre, para me fazer perceber que este é o verdadeiro mundo, que esta é a verdadeira beleza de viver, e não os grandes prédios, os diversos shoppings e estabelecimentos de lazer! Hoje ela está acamada, e tudo que estiver no meu alcance para fazer com que ela melhore..., eu não hesitarei em fazer, sabe?
—Bom, você conseguiu o dinheiro necessário para a cirurgia dela, vamos comemorar! —Abro um sorriso e seguro a mão de Alina.
—Vamos sim pincel!
Acho que já se passou uma hora e meia, não sei ao certo, o álcool está começando a fazer muito efeito. Estamos bebendo e conversando a um bom tempo. Alina é uma pessoa incrível para conversar, mas ao mesmo tempo que nos parecemos tanto, ela se destaca como um ser pensante totalmente diferente do resto do mundo, várias vezes.
—Seu cabelo é lindo Alina! —Digo da boca pra fora. Estou bêbado.
—Você já disse isso pincel. Obrigada! —Ela diz e de novo abre aquele sorriso lindo e apaixonante dela.
Vejo Pipe levantar-se.
—Bom, preciso ir. Se divirtam. Boa sorte com tudo Alina, e Kuku, não demora para voltar para casa, se não achar taxi me liga que eu te levo. Te amo Irmão.
—Também te amo Pipe!
Meu melhor amigo se despede e sai do local, deixando Kuku (eu) e Alina sozinhos.
—Me diz...
Meu deus, ela se levantou por poucos centímetros da grama e se arrastou para mais perto de mim. Calma Esteban...., CALMA!
—Qual a sua cor favorita? —Alina pergunta me olhando.
—Suponho que verde! Todos os tons de verde. E a sua?
—Azul.
—Escuro? Claro? Marinho? Fluorescente? Todos os tons de azul?
—Não, apenas azul.
—Misteriosa você, dançarina!
—Já disse que...
—Linda! Eu quero te chamar assim, e vou chamar!
Ela apenas sorri e me ignora.
—Você joga algo além de poker? —Pergunto.
—Hoje foi minha primeira vez jogando poker!
—O que?
Nós dois damos risadas simultâneas.
—Sim, acredite! Eu pesquisei tutoriais na internet de como jogar e vim esperançosa. Bom, deu certo né?
—Tô feliz por você.
—Obrigada pincel!
Alina respirou bem fundo, soltou o ar e deitou se escorando em uma árvore.
—Como é sua vida? Digo..., eu tive que apostar todo meu dinheiro que juntei por meses com chances de perder tudo, acreditei no fundo no meu coração que ganharia o triplo para ajudar na cirurgia da minha mãe. Você não precisa disso, o que você quer você consegue, o que você pede você ganha, o que você almeja você conquista! —Ela diz de uma forma triste. Consigo ver algumas lágrimas escorrendo seu rosto. —Isso não é justo! Não é!
Aos poucos, de forma lenta, me aproximo dela, até que nossos corpos se colem um ao outro. Depois, deito e me escoro na mesma árvore. Viro para ela e a olho diretamente nos olhos, bem perto.
—Por que está tão perto? —Ela sorri.
—Quero te ajudar.
—Você não vai me beijar Esteban. Não vamos nos beijar!
—E quem disse que é isso que eu quero?
—Seus olhos. —Ela sussurra e passa a mão em meu rosto. —Seus olhos dizem!
—Então os seus estão dizendo a mesma coisa! —Digo enquanto acaricio a mão dela em mim.
—É..., eles estão!
—Me passa seu número.
Ela ri e se afasta.
—Não posso.
—Por quê?
—Não posso pincel! Primeiramente não tenho um telefone, tive que vender para pagar medicamentos, e mesmo se eu tivesse não passaria meu número. Segundamente minha vida não é igual a sua, tenho muitas preocupações, que são muito mais importantes do que se apaixonar.
—Não estou pedindo que se apaixone.
—E não precisa, não é necessário! Eu me conheço, mas não te conheço, e é aí que mora o problema! Você é só um estranho loiro meio calvo que conheci em um cassino! Para te conhecer eu começaria a sentir coisas, sentimentos, por mais baixos e irrelevantes que sejam, eu começaria a senti-los, você é lindo! Não posso sentir nada! Nada! Nada além do foco que preciso ter para que minha mãe sobreviva ao meu lado. Mas a noite foi boa Esteban, obrigada por isso! Foi uma boa distração!
Ela se levanta, junta algumas coisas e começa a ir embora. Estou calado, não sei como reagir, ela é perfeita, a garota, a mulher dos meus sonhos e eu acabei de conhece-la.
Quando começo a me preparar para ir, escuto passos de Alina voltando. Ela se aproxima rapidamente, se agacha à minha frente e me dá um beijo na testa. Com as duas mãos segurando meu rosto e o acariciando, ela me encara.
—Boa noite, meu pincel!
Ela diz de forma lenta e em tom baixo, quase sussurrando, com seu sorriso lindo no rosto, logo após, me deixa, desta vez sem retorno.
Alina desaparece do meu campo de visão.
"Meu pincel"
17/03/2023
O vento bate sob minhas cortinas e ao ressoar aquele som estrondoso eu acordo. Minha cama está bagunçada e permanecerá bagunçada, sinceramente. Ontem consegui me lembrar da primeira vez em que eu e Alina nós vimos, de quando nos conhecemos, foi lindo. Ela passa a ser mais encantadora a cada vez que me recordo de momentos dela. Estou intrigado em descobrir como continuamos a conversar depois daquele dia. Me pareceu que nunca mais iriamos nos ver.
Me arrumo e desço para o salão principal, mais uma vez me surpreendo. Uma movimentação assustadora de empregados está acontecendo aqui embaixo.
—Esteban, querido! —Escuto Reginne me chamar.
—Olá mãe.
Ela se aproxima, me abraça e me puxa para acompanhá-la.
—Lembra da festa de que disse? Que comentei de organizarmos?
—Claro.
—Bom hoje será um almoço especial, convidei Mariane e seu amigo Felipe para almoçarem conosco e juntos discutirmos a organização da festa! Desculpa avisar em cima da hora querido, você não se importa né?
—Não me importo, está tudo bem.
Claro que me importo. Quero conversar com Pipe sobre o Fernando e esse almoço pode ser a oportunidade, mas a louca da Mariane?
—Bom, como você acordou tarde, suponho que já devem estar chegando. —Ela diz e começa a se afastar, logo após retorna. —Ah, já ia me esquecendo. Vamos tirar outras fotos com sua noiva, então se arrume docinho!
Calma..., mais fotos? Fernando? O Fernando vai voltar aqui? Merda. Aquele rapaz fez meus pelos arrepiarem. Acho que talvez, mas bem talvez, eu precisarei focar em descobrir sobre ele e não sobre Alina.
Já se passou uma hora e os empregados continuam correndo de um lado para o outro, me estabeleci aqui embaixo no salão principal. Aqui é lindo, prefiro o jardim, mas a beleza dessa entrada me encanta, me faz querer desenhar, pintar.
Escuto alguns barulhos vindo da porta, alguém chegou. Consigo perceber uma voz feminina, deve ser a fugitiva do hospício.
—Muito obrigada Wlliam, pode colocar esta mala em algum lugar? —Ela diz para o mordomo. Mala? Tá de sacanagem né?
Tento me esconder atrás de um pilar, mas ela rapidamente me avista e começa a gritar e correr em minha direção. Quando eu pisco ela já está me agarrando e me dando selinhos.
—Esteban meu amor! Você está lindo, lindo não, perfeito! Perfeito não, esplendoroso! Divino!
Será que ela é medicada?
Ela é bonita, sabe? Seus cabelos são pretos e ondulados, não tão pequenos, mas não tão longos, ela está usando um vestido colado à pele de cor vinho com vários acessórios dourados e um salto alto vermelho. Dá primeira vez que nos vimos, ela não estava tão elegante quanto agora.
Eu a cumprimento e logo em seguida ela me arrasta para subir as escadas, mas pelo azar dela e pela minha sorte, ela se esbarra com Abby.
—Esqueci meu casaco na sala, já volto. —Digo e começo a sair dali. Obrigado irmã, você foi útil pelo menos uma vez.
—Olá Mariane! Pensei que se arrumaria mais elegantemente para nos visitar! —Escuto a voz de Abby e paro de andar, fora da vista delas.
—Não estou bonita o suficiente para você, Abby? Afinal, seus padrões de beleza de roupas não são tão convincentes, convenhamos!
—Você está olhando para a modelo mais bem paga da cidade. Enquanto eu estou olhando para uma vadia interesseira! Eu te conheço muito bem Mariane, você pode enganar a todos, mas a mim não! Faça o que tiver que fazer e livre-se do meu irmão logo, piranha!
Uau! Elas parecem ter um embate de tempos. Depois de aguardar alguns minutos retorno para o salão na esperança de Mariane não estar mais lá.
Ela está. É sério?
—Não encontrei. —Minto.
—Que pena. Com uma casa deste tamanho vocês devem perder muitas coisas mesmo! —Ela diz abrindo um sorriso. Abby não está mais aqui.
—Mariane! Querida! —Reginne grita enquanto desce as escadas.
—Oh Reginne, deslumbrante como sempre! —Mariane diz a abraçando.
—Calma querida, você não irá se casar comigo e sim com meu filho!
—Oh, que mundo injusto!
As duas riem e me encaram, sou obrigado a sorrir de forma falsa, odeio estar nessa posição.
—Bom, como eu disse a vocês dois, hoje o nosso fotógrafo irá tirar algumas fotos profissionais de vocês para o casamento, certo?
Nós dois concordamos com a cabeça. Reginne continua falando baboseiras, mas não estou prestando atenção. Só consigo pensar em Alina e Fernando, tem aquele garoto Blas que por algum motivo minha mãe quer matá-lo. No fundo sinto que Fernando é uma peça-chave no que aconteceu no passado, mas ninguém além de mim reconhece ele, ou estão todos fingindo ou apenas eu o conhecia!
Acho que me perdi na conversa, Reginne e Mariane estão subindo sozinhas para algum lugar. Devo seguir elas?
—KUKU!
Acho que não mais! Pipe chegou e nem percebi. Ele rapidamente corre até mim e me abraça. Tem um fardo de quatro cervejas na mão dele.
—Eai Kuku como você está?
—Melhor do que aquele dia.
—Inclusive me perdoe, acho que te metralhei com muitas informações e você ficou abalado.
—Considerando que você foi o único que me ajudou a recuperar memórias, acho que foi necessário! Tô de boa, relaxa. —Digo sorrindo para ele, mas não de forma falsa. —Eu confio em você Pipe, na verdade, a cada dia tenho mais certeza de que só tenho você ao meu lado.
—Pode contar comigo para tudo irmão! Eu jamais te decepcionaria. Pode confiar em mim, vou ajudar no que eu puder para que tudo volte ao normal. Inclusive já tenho planos de como começar a investigar o desaparecimento da Alina.
—Acho que primeiro preciso saber dela né?
—Aos poucos irei contando o que sei. Mas já disse, você a amava muito!
—Você sabe quem é Fernando? Cabelo médio escuro, fotógrafo, ele virá aqui hoje. —Pergunto diretamente.
—Fernando? Não me lembro de nenhum Fernando, sinto muito. —Pipe conclui.
Que merda. Esse homem é um mistério.
Conversamos um pouco ali, e sem perceber o tempo passar, o almoço começou. É de fato um banquete, uma cerimônia para comemorar uma futura cerimônia, rico realmente gasta com qualquer coisa.
Comemos muito e conversamos pouco, sempre sobre meu passado, mas logicamente, nada sobre o acidente ou sobre Alina. Foi um bom momento, por mais que a maioria que estava ali sentado comigo escondem tudo de mim, depois de muito tempo me senti confortável com eles, e não tive vontade de chorar. Percebi que meu pai e Reginne estão bem estranhos um com o outro depois daquela briga. Durante a noite passada escutei gritos distantes, pareciam ser deles.
Fingir o tempo todo é difícil. Estou sendo verdadeiro apenas com Pipe, com todo o resto ainda estou adotando essa personalidade de coitado, quando na verdade quero explodir a qualquer momento, minhas veias pulsam de ódio por essa família!
O almoço acabou após discutimos decorações, comidas e bebidas da festa totalmente desnecessária que minha mãe está organizando para mim, em seguida fomos para o salão principal. Chegando lá nos deparamos com Fernando, sim o Fernando, conversando com William, nosso mordomo. Mas de uma forma estranha, eles estavam muito próximos, conversando em sussurros e escrevendo em papéis, que ao perceber nossa presença os esconderam rapidamente. Suspeito.
Cutuco Pipe para que ele tente reconhecer Fernando, ele me retribui com um movimento de negação. Estou fudido.
—Olá Fernando, vamos começar as fotos! —Reginne diz o cumprimentando.
E assim foi por sei lá, as próximas duas ou três horas. Diversas fotos, poses, roupas, fundos e lugares diferentes da mansão. E durante todas elas eu encarava Fernando sem dizer nada, na tentativa de lembrar de algo, mas sempre falhava com aqueles flashs exagerados e os gritos de Mariane me distraindo.
Não demorou para que depois das fotos Fernando fosse embora, e de novo, avistei ele conversar com William antes de ir. Tudo bem, não podia confrontar aquele homem hoje, com todo mundo aqui.
Eu e Pipe passamos o resto do dia jogando um tal de PlayStation e bebendo as cervejas que ele trouxe, enquanto Mariane assistia sentada ao nosso lado. Eles não trocaram uma fala com o outro desde que chegaram, Pipe já tinha dito de Mariane, me confirmando com certeza que ela não era minha noiva e que ela era obcecada por mim no ensino médio. Cada vez mais fico curioso com tudo isso. Será que se eu os deixar a sós eles conversam sobre alguma coisa? Preciso tentar tirar proveito deste dia de alguma forma.
—Vou ao banheiro, já volto. —Digo me levantando.
Mais uma vez, me afasto e me escondo atrás da parede que leva a um corredor, sou quase um investigador policial. Consigo escutar os sons do jogo então devo conseguir escutá-los.
—Você é corajosa né? —Escuto a voz de Pipe.
—Perdão?
—Mentir e criar tudo isso de ser noiva dele? Você não tem vergonha?
—Não sei do que está falando garoto.
Pipe gargalha e consigo escutar movimentos dele.
—Porra como alguém pode ser tão sínica? Se você quer dinheiro me diga quanto e eu te dou! Larga o Kuku e o deixa viver em paz, ele está passando pelo pior! E quando ele lembrar do verdadeiro amor dele e a encontrarmos você vai sofrer muito mais, acabe com isso agora caralho!
—Sínica? Eu? —Ela ri. —Oh queridinho por acaso você, o intitulado melhor amigo dele, contou o que fez? O que fez com ela?
Calma...que? O que o Pipe fez?
—Se de alguma forma eu minto, como você acha, você mente o dobro Felipe! Se quer jogar sujo, eu jogo idiota! Eu sou noiva dele e não deixarei de ser por dúvidas suas. Agora me responda você, o que fará quando ele souber o que fez com Alina?
Estou assustado e em choque. Por alguns segundos a conversa fica em silêncio.
—Eu..., eu não queria, nunca quis...
—Não queria, mas fez! E foi o motivo para vocês brigarem. Se quer que ele nunca saiba disso, nos deixe em paz! Você sabe que tenho provas. Pela sua cara, você lembra, não é? Pro seu azar eu estava lá. Diga mais algo sobre mim ou sobre essa vagabunda para ele e eu conto tudo que você fez. Temos um acordo? —Ela diz com um tom firme e ameaçador.
Escuto Pipe levantar-se e rapidamente corro para outro cômodo. Acho que ele foi embora, o escutei correndo para o salão.
Meu coração está disparado. Começo a arranhar meus braços sem perceber. Não quero chorar, não vou chorar, não posso chorar, não posso. Pipe..., Felipe é o único em que eu confio. O que ele fez? O que ele fez caralho? O QUE ELE FEZ?
—Esteban? Esteban —Mariane está me gritando pelos corredores. Preciso me recompor. Preciso agir normalmente.
A cada dia, a cada minuto que se passa cada um ao meu redor se torna parecer o pior vilão disso tudo, o principal responsável. Não tem uma pessoa sequer em que posso confiar. Preciso encontrar Alina, preciso sabe ronde ela está, acho que ela sim é única que pode me ajudar!
—Estou aqui. —Digo saindo para o corredor.
—Oh, você desapareceu meu amor. Está bem? Seu amigo foi embora. Disse que estava atrasado para algo e não podia se despedir.
O tom de voz dessa mulher é a mais repleta definição de cinismo. Me dá até arrepios.
—Estou bem sim.
—Bom, acho que vou indo também!
—Ok te acompanho até a porta!
Nós dois seguimos para o salão com ela à minha frente. Estou me segurando para não entrar em crise e começar a chorar, espero de verdade que Mariane esteja mentindo sobre aquilo. Cenários horríveis se passaram pela minha mente, e se Pipe tiver matado Alina? Ou desaparecido com ela de alguma forma, e tudo o que me disse até agora seja mentira?
Depois de um tempo, o resto da família, menos Abby, se aproximam para se despedirem de Mariane. Pipe sumiu, acho que realmente fugiu em desespero.
—Tchau meu amor, nos vemos na festa! —Mariane diz carinhosamente e me beija. Odeio esses beijos pra ser sincero. E odeio essa festa.
—Eu te acompanho querida! —Reginne diz.
As duas caminham até a porta, que não está muito distante e se despedem. Estranhamente, Mariane se aproxima do ouvido de minha mãe e sussurra algo, mas eu consigo entender vagamente.
—Cuidarei de Polidori agora mesmo. Não se preocupe.
Polidori? Polidori.... POLIDORI!!!!! BLAS POLIDORI!!
Foi isso que elas conversaram a sós, Mariane irá matá-lo. Reginne disse que iria assassinar esse Blas Polidori e que ele que falsificou os documentos. Que documentos? Eu preciso impedir isso, de alguma forma não posso deixar isso acontecer.
Vou seguir ela e salvá-lo. Que se foda as consequências, preciso impedir!
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