Esteban
"Quando estiver chorando, pense em mim"
06/03/2023
Me chamo Esteban Kukuriczka tenho 28 anos e morri no dia quatorze de agosto, e hoje, 7 anos depois eu renasci acordando de um coma. Mas não me sinto renascido, não me sinto vivo..., pois me esqueci de tudo. Me lembro de poucas coisas, são memórias boas, mas não sei dizer quando e onde aconteceram. Quero gritar, quero fugir, quero correr.
Estou em um hospital, meu pai está ao meu lado, ele está diferente, não me lembro dele assim. As enfermeiras entram aqui o encaram e começam a rir umas para as outras, não entendo. Consigo escutar uma movimentação do lado de fora durante a tarde, meu pai disse que meu caso ficou famoso e estão todos desacreditados que acordei, dá pra ganhar dinheiro com isso?
08/03/2023
Aparentemente tenho um melhor amigo chamado Felipe Otanõ, ele disse que eu o chamava de Pipe. Ele ficou pouco tempo disse que tinha que trabalhar, mas que quando eu saísse do hospital iríamos sair pra vários lugares que gostávamos, ele citou várias baladas e casas de jogo que íamos, ressaltou que somos viciados em apostas, realmente eu não me conheço. Não deu tempo de eu perguntar sobre o que aconteceu foi tudo muito rápido, mas irei. Quando me abraçou ele chorou muito, disse que me amava e que estava muito feliz pela minha volta, queria sentir isso.
10/03/2023
Não suporto mais. O médico disse que amanhã estou liberado, que estranhamente eu acordei em um estado bom e aceitável. Como isso aconteceu? Como vim parar aqui por sete anos e por que tudo que eu pergunto para meu pai ele diz que não é hora de falar sobre o assunto? O que ele está escondendo? Pergunto onde está a minha mãe e ele se nega a responder. Estou nadando num mar de hipóteses e meu próprio pai tá me afogando!
Hoje uma mulher veio me visitar, disse que seu nome é Mariane e que namorávamos antes do coma, ou melhor do acidente, ela me disse que foi um acidente. Sinceramente ela é maluca demais não vejo a gente namorando, mas meu pai confirmou então deve ser verdade, disse até que estávamos noivos. Ficamos conversando a tarde toda e um pouco da noite, e assim como meu pai ela não me respondeu certas perguntas. Gostei dela, mas é tudo muito diferente, não me lembrei dela em momento algum então aquilo só foi uma conversa com uma estranha, falamos sobre filmes, series e coisas fúteis e nunca sobre o que acarretou o coma. O médico aconselhou os dois a conversar sobre minha vida antes do acidente e não sobre o que aconteceu, que assim eu iria lembrar das coisas mais rápido, mas não quero conversar com essa menina todos os dias pra saber o que aconteceu, meu pai nem me cumprimenta, minha mãe sumiu do mapa, o médico parece que se formou a um mês, e tenho memórias de alguns familiares, mas não me lembro nem o nome deles.
Amanhã eu finalmente saio daqui, e finalmente vou tentar descobrir algumas coisas.
11/03/2023
FRUTA QUE PARIU!
Muita gente me abordou quando eu saí do hospital, muita gente mesmo, uns adolescentes curiosos correndo atrás de mim, dezenas de jornalistas falando sem parar, fiquei desesperado me senti em um arrastão, e o caminho até o carro do meu pai (E que carro! Temos motorista) não era curto tivemos que caminhar muito.
Acabei de chegar em casa, tô assustado. Temos muitos empregados, muitos. A casa é enorme mora mais gente da minha família aqui além do meu pai e eu.
—Oi maninho!
Olho para trás e tem uma menina me encarando no fundo da minha alma, ainda bem que já me acostumei com isso.
—Você é? —Pergunto a cumprimentado.
—Sou eu Kuku, sua irmã caralho, Abby! —Ela diz jogando os cabelos castanhos para trás do ombro de uma forma esnobe, que menina é essa? Kuku?
—Ele passou por uma perda de memória Abby..., —meu pai entra na conversa. —vai ser difícil, mas com o tempo tudo se resolverá!
—Calma vocês tão zuando né?
—O médico disse várias vezes que isso poderia acontecer filha, não se faça de idiota!
Tento esconder o nervosismo, mas minhas pernas tremem muito.
—Vamos, vou te apresentar seu quarto senhor Kukuriczka, lá você talvez se lembre de algumas coisas. —Um dos empregados me aborda, minhas pernas começam a tremer ainda mais. —Ah, perdão me chamo William.
—Prazer William.
No momento que ele disse seu nome algo veio em minha cabeça.
—Eu quero ser feliz William!
—Você tem tudo do bom e do melhor Kuku! O que te faz pensar isso?
—Dinheiro não compra felicidade.
—O que aconteceu?
—Pedi ela em casamento, ela disse não, um não seco rude na minha cara, não soube o que fazer e só corri!
—Oh..., você planejava uma vida ao lado dela?
—Sim, até minha morte. Eu a amo.
—E você acha que só conseguiria ser feliz ao lado dela? Pessoas vem e vão Esteban, você é jovem! Eu com dezenove anos também pensava que minha felicidade só iria ser eterna se fosse ao lado de alguém, hoje estou aqui servindo sua família a quase trinta anos, sem ninguém ao meu lado e sou feliz!
—Não quero ter que superar ela.
—Não pense nisso, o tempo fará todo o trabalho e logo logo ela será apenas passado!
—Este é o problema, desde quando conheci a Alina, sempre quis que ela fosse meu futuro!
Alina? Mas minha noiva se chamava Mariane. Me lembro deste nome de forma forte, Alina.
Alina...., Alina? Alina!
—Esteban que porra é essa? —Escuto a voz de Abby.
Quando minha mente se estabiliza e retorna a realidade percebo que estão todos me encarando, TODOS. Esquece..., eu não tô acostumado!
—Só estava distraído, só isso.
—Meu deus você já está sendo falado no twitter! —Abby diz olhando para um celular. —Voltou dos mortos famoso maninho!
—Twitter?
—Desisto só converso com ele quando essas memórias voltarem, deve ter um remédio pra isso pai só compra!
Não entendo o que é um twitter, se for uma pessoa esse nome é horrível. A conversa se encerra e eu subo as escadas seguindo William.
—William! —O chamo enquanto andamos.
—Pois não?
—Quem é Alina?
Ele para de andar e fica de costas para mim.
—Depois conversamos sobre isso Esteban.
Por que? POR QUE?
Por que ninguém me fala o que aconteceu...., eu não vou conseguir viver assim!
Depois de caminhar um longo corredor eu chego no meu quarto. Consigo me lembrar. Lágrimas escorrem do meu rosto, eu finalmente estou lembrando. Minha cama elevada com escada porque eu amava descer por ela pelas manhãs, as paredes de cor cinza com detalhes azuis, não detalhes, não são detalhes, são borrões de tinta azuis e verdes. Calma, eu pintava?
—O que são esses borrões de tinta William? —Me torno para ele.
—Cada um nessa família possuí seu jeito de ser famoso nessa cidade, você é pintor Esteban! Quando completaram quatro anos de seu coma houve um evento, uma exposição, com todas suas artes! Muita gente te ama, e ama suas pinturas.
—Onde elas estão?
—Seu pai e sua mãe as queimaram, não suportaram ver obras suas sem você por perto!
—Minha mãe..., onde ela está? —Pergunto diretamente.
—Sua mãe, ela..., bom, abandonou sua família e desapareceu, não manteve mais contato. Ela ficou muito abalada com o que aconteceu e não conseguia viver nessa casa, ela te ama muito!
—Se ela me ama por que não está aqui? Eu acordei depois de sete anos e minha própria mãe não está ao meu lado não vejo amor nisso.
—Em instantes ela vai descobrir, e tenho certeza de que entrará em contato! —William disse sorrindo. —Bom tenho afazeres, precisa de mais alguma coisa?
—Você vai me responder o que foi o acidente ou não adianta perguntar?
—Presumo que não adiantará!
—Imaginei. Pode ir, obrigado.
William sai do quarto e eu volto a analisar os borrões. Não acredito que minhas obras foram queimadas, não acredito que eles fariam isso então prefiro acreditar que elas estão em algum lugar.
Preciso encontrá-las tenho certeza de que me ajudará a lembrar do passado.
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